sexta-feira, 5 de junho de 2015

Pai Joaquim e o banho de ervas

Fábio tornara-se um adepto da Umbanda há três meses. Cambonava Pai Joaquim de Aruanda.
Quando a gira estava quase no seu término ele perguntou a entidade:
- Pai Joaquim, porque eu estou me coçando todo? Será que peguei alguma carga? Já tem quase vinte minutos que isto começou e só está aumentando de intensidade; se continuar não sei se consigo participar do ritual de encerramento da gira.
- Senta aqui na frente de Véio, zifio!!!
Pai Joaquim deu várias baforadas com seu cachimbo em direção ao cambone e, após, estalando os dedos, fez a limpeza energética necessária. Com o fim dos procedimentos disse-lhe:
- Zifio, nóis conversa mais pra frente, pois a gira já tá no finzinho, mas este nêgo só pede uma coisa a suncê: tome seu banho de descarrego antes de cada reunião!!!
Fábio voltou para casa surpreso em como a entidade descobrira que ele, de fato, não tomara o banho de descarrego. Ele achava tal procedimento não muito relevante, pois já havia participado de algumas reuniões sem tomá-lo e nada demais acontecera.
Os dias se passaram e foi numa noite de quarta-feira que, ao deitar-se e adormecer, vira seu duplo transportado para fora do corpo físico. Era a primeira vez que ele tinha consciência daquele acontecimento.
Um homem vestindo branco surgiu a sua direita e disse:
- Vamos filho?
- Não lembro de lhe conhecer, mas sinto que já o conheço. Vamos!
Volitaram até uma localidade do plano astral onde existiam alguns prédios.
Entraram no prédio central e caminharam até uma sala.
Fábio foi acomodado em uma cadeira e teve dois fios plugados em suas têmporas. Seu acompanhante massageou a região do terceiro olho e pediu que firmasse o olhar numa espécie de mini-tablado que havia em sua frente.
Aos poucos surgiu a imagem tridimensional do terreiro freqüentado por ele. Pouco tempo se passou e ele notou que observava o andamento da última gira que participara. Foi quando seu acompanhante disse a ele:
- Procure observar a si mesmo durante toda a gira, pois depois conversaremos!
Fábio observou que com o passar da gira seu perispírito passou a acumular larvas astrais. No final da reunião estava praticamente coberto destas criaturas.
As imagens cessaram depois dele assistir o passe magnético que recebera do Pai velho. Ficou impressionado como simples baforadas e estalar de dedos fizeram com que aqueles seres fossem desagregados e dissipados de junto dele.
Olhou para seu acompanhante e disse:
- Por que isto ocorreu comigo? No terreiro não tem proteção?
- O terreiro tem proteção meu irmão! Era você quem estava desguarnecido dela!
- Mas por quê?
- Antes, responda-me você: com que elemento as larvas astrais foram dissipadas de você?
- Com a manipulação da fumaça!
- A fumaça foi produzida com o que?
- Com o calor que aqueceu as folhas.
- Muito bem! O calor aqueceu as folhas e fez com que suas moléculas pudessem acelerar continuamente até que seus princípios vitais pudessem dela ser desprendidos e utilizados em seu favor.
- impressionante!!!
- O que você acha que acontece quando é feito um banho de descarrego?
- Acho que o princípio é parecido: as folhas entram em contato com a água quente, que desprendem sua energia.
- Então uma pessoa que toma banho de descarrego, na verdade está realizando uma profilaxia contra possíveis ataques de criaturas astrais perniciosas, não é verdade?
- É, digo sim senhor, é isto mesmo!!!
- Preciso dizer mais alguma coisa?
- A importância do banho de descarrego então é esta? Profilaxia?
- Também, mas a profilaxia foi a finalidade que me determinaram lhe explanar nesta noite.
- Então quer dizer que se eu tomar o banho isto não acontecerá mais?
- Exatamente!
- Puxa! O senhor me desculpe, viu!? Agora que entendi a importância vou tomar banho de ervas antes de todas as giras.
- A importância do banho você já sabia por participar das reuniões de estudo no terreiro em que freqüenta você só não conseguia acreditar e aceitar como um fato. Ficou sem tomar o banho em algumas giras anteriores e como nada de desagradável lhe ocorrera, você julgou o banho ineficaz. Precisou ver para crer! Espero que isto não se torne uma constante em sua caminhada espiritual, pois senão você vai arranjar muitas coisas para se coçar: coisas piores do que a própria sarna.
- Procurarei não esquecer desta lição em minha vida! Muito obrigado por tudo!!! 
- Luz e força em sua jornada espiritual que, nesta encarnação, está só começando.

quinta-feira, 30 de abril de 2015

Pai Sebastião



Nêgo véio lembra até hoje o primeiro dia que conversou com a zifia Carla.
De longe este nêgo já via que o semblante de zifia indicava tremenda tempestade interior.
A zifia chegou na frente de nêgo, pediu licença para sentar e disse:
- Pai Sebastião, a minha vida precisa mudar!
E mais zifia num conseguiu dizer por que começou a soluçar de choro. Então, nêgo pegou as mãos da zifia e disse:
- Se é para começar a mudar zifia, então na força de Deus-nosso-pai, vamos começar agora! Este nêgo pede simplesmente que suncê chore minha filha!!! Chega de prender estas lágrimas! Chega de prender esta dor! Se nóis dois vamos trabalhar com Jesus pra sua vida começar a mudar, então suncê tem que compartilhar sua dor.
Zifia Carla continuava num chororô sem fim e Véio viu sério problema no chacra cardíaco dela. Peguei a vela que tava no ponto, pedi a cambone pra acender meu pito e procurei dar um passe bem butado* na zifia.
Aos poucos os soluços foram parando, as lágrimas diminuíram e, quando finalmente cessaram, disse a ela:
- Com o poder de Zambi*, zifia, não existe tempestade que não cesse!
- É verdade vovô! Parece que tudo ficou mais leve, apesar do problema continuar.
- De qual problema suncê fala, zifia?
- Ah Pai Sebastião nos últimos anos parece que existe um complô de inimigos espirituais para atrapalhar toda minha vida!
- Não só a sua zifia, mas a de todos os zifios criados por Zambi-nosso-pai.
- Sério?
- Mas num tá escrito no livro sagrado que os adversários espirituais andam em derredor, rugindo como leão e procurando a quem possa tragar?
- Também num tá escrito que a luta não é contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra as hostes espirituais da maldade?
- É verdade vovô! Mas por que eles me perseguem?
- Zifia Carla, nêgo veio observa que suncê tem certo conhecimento sobre as coisas do espírito, certo?
- Sim senhor!
- Estes, que suncê diz serem seus inimigos, são adversários de outras eras, outras encarnações zifia.
- Mas o que fazer para me livrar deles?
- Também tá escrito no livro sagrado: “ faça sua parte que o céu te ajudará”.
- Como assim?
- Suncê num deve viver sua vida pautada pelo medo, mas pela fé em Deus!
- Mas eu tenho muita fé! Só que esta fé não está impedindo estes adversários de me atrapalharem a conseguir um emprego.
- Zifia, na verdade, é suncê que tá atrapalhando a si mesma.
- Eu? Mas o senhor não falou que estou sob atuação de adversários espirituais?
- Sim! Mas a pergunta é: Como eles chegaram até suncê? Qual porta suncê abriu pra que o leão pudesse entrar? Tá entendendo zífia?
- Agora sim!  Mas não saberia dizer qual foi a porta que abri! A única porta que está aberta há três meses em minha vida e que não consigo fechar é a porta do desemprego!
- Mas seus adversários não adentraram por esta porta! A porta pela qual eles entraram foi aberta bem antes dessa.
- Ah é?!???
- Zifia a mim tá sendo mostrado, pelos seus próprios mentores espirituais, que há sete meses suncê se frustrou com sua ex-chefe por não haver recebido certa promoção no emprego, não é verdade?
- Sim, mas o que isto teria a ver? Frustração é comum quando você está mais preparada para exercer uma função e a pessoa promovida para exercê-la não tem metade de sua qualificação.
- Zifia, num cai uma folha da árvore se num for da vontade de Deus! Suncê já parou pra pensar que não é possível conhecer os desígnios de Deus? Que aquela não era sua hora não por falta de qualificação, mas, pelo menos naquele momento, por falta de merecimento?
- É duro reconhecer tal possibilidade, mas acho que é isso mesmo! Então esta foi a porta que eu abri?
- Não.
- Não?
- Não zifia. Suncê num é zifia de andar com a crista baixa! Com o ocorrido suncê num ia ficar se lamentando e se auto-depreciando, muito pelo contrário; orgulhosa que suncê é, após o ocorrido suncê passou a querer demonstrar, de todas as formas, que sua chefe tinha promovido a pessoa errada.
- Passou a agir com altivez em relação aos colegas, começou a executar tarefas que estavam acima de seu cargo, até que quatro meses depois um grande negócio não foi fechado e suncê foi responsabilizada! Daí suncê foi demitida, num foi assim?
- Foi Pai Sebastião, foi assim mesmo! Concordo quando o senhor diz que sou orgulhosa. Passei a viver com muita raiva e foi aí que abri a porta não é?
- Não!
- Não?
- Não zifia! Aí foi quando suncê a deixou entreaberta!
- Sério? E quando foi que a abri?
- Por que suncê não contou ao esposo que tá desempregada?
- Por que é um direito meu! Estou ajudando em casa com o dinheiro do seguro! Não tem problema nenhum!
- Todo santo dia suncê sai de casa dizendo ao esposo que tá indo trabalhar enquanto, na verdade, tá procurando emprego.
- E qual o problema vovô? Não estou entendendo?
- Qual dificuldade suncê teria pra dizer ao esposo que tá desempregada? Ele é um mau esposo? Poderia maltratar suncê com algum tipo de violência?
- Não vovô, é muito pelo contrário!
- Suncês não juraram fidelidade um ao outro?
- Pensei que fosse coisa boba.
- Orgulho é coisa muito séria zifia! São três os pilares que mantém suncês em harmonia: religião, família e trabalho. A religião suncê num professa há algum tempo, o trabalho suncê perdeu há alguns meses e o relacionamento com seu esposo também não vai muito bem, logo zifia, suncê chegou aqui hoje em grande desarmonia interior.
- Então quer dizer que se contar ao Paulo sobre o desemprego, eu vou conseguir ser recolocada no mercado de trabalho?
- Zifia, acho que num devo ter conseguido explicar direito: o orgulho zifia é uma enfermidade da alma! Ele corrói as defesas psíquicas, atrai parasitas astrais que corroem a aura, alcançam os centros de força* fazendo suncês padecer no corpo físico e podendo até levar suncês ao desencarne.
- O silêncio de zifia com o marido não é a causa da enfermidade que provocou a abertura da porta, mas um sintoma dela, desta enfermidade tão perniciosa conhecida como orgulho.
- Então falar com ele não vai adiantar de nada?
- Vai atuar como porta de entrada para o tratamento da moléstia.
- E os adversários espirituais?
- Também são sintomas da doença.
- Existe tratamento para esta doença?
- Claro zifia Carla! Suncê veio ao mundo para isto!
- Ah é?
- Claro zifia! Foi sua conduta orgulhosa em vidas pregressas que atraíram tais adversários para sua vida.
- Seu tratamento zifia deve ser realizado com um santo remédio: o amor! O amor é um santo remédio e cobre uma multidão de pecados!
- E onde eu consigo deste remédio?
- Está dentro de você, só que praticamente inerte, é preciso movimentá-lo!
- E como faço isto?
- Amando a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo!
- Como assim?
- Reaproxime-se de Zambi-nosso-pai! Ele vai aquecer seu coração e fazê-la encontrar o amor Dele que habita o seu interior.
- Entendi.
- Também está na hora de retomar sua jornada na Umbanda, fazer a caridade, dar o pouco que se tem aos que tem menos ainda! Fazendo isto a porta tornará a se fechar e os adversários não terão como lhe alcançar.
- Entendi, mas e o emprego?
- Faça sua parte que o céu lhe ajudará!!!
- Tenho fé em Deus que sim!!! Vou fazer como o senhor pediu. Muito obrigada por tudo!!!
- Agradece a Nêgo não zifia, só a Zambi nosso pai!!!
Zifia Carla se foi e demorou um ano pra tornar a conversar com este Nêgo Véio. Estava freqüentando a Umbanda em um Terreiro bem mais próximo da casa dela, e isto já há um ano. Conseguira emprego para exercer função de mais responsabilidade do que aquela que queria antes. Apareceu grávida de sete meses pra conversar com este nêgo.
Disse que tinha vindo ali não para agradecer, já que este Nêgo tinha pedido pra ela agradecer só a Deus quando recebesse alguma benção, mas que tava ali pra dizer que o nome do filho dela seria Sebastião, para homenagear a este preto-velho.
Nêgo tentou de todas as formas tirar esta idéia da cabeça da zifia pedindo que ela colocasse o nome de Jesus no curumim*, a fim de homenagear ao nosso amado mestre; ou então com o nome de Marcos, Mateus ou algum evangelista, pois homenageando a eles aí sim, este Nêgo estaria se sentindo homenageado.
Mas aí a zifia declinou justificando que cada vez que olhasse para o curumim de nome Sebastião se lembraria do compromisso que fizera de ser uma pessoa mais humilde e se sentiria incentivada a continuar se esforçando a amar a Deus e ao próximo com mais ímpeto; enfim, disse que sempre se lembraria de cuidar em educar o curumim para ser um indivíduo mais humilde do que ela, talvez, pudesse ser um dia.
Este nêgo véio nunca deixa de se impressionar com a infinitude do amor de Deus. Uma zifia que reencarnara amiga do orgulho agora se esforçava ao máximo para manter estreitos laços com a companheira humildade e, mais do que isso, teria o compromisso firmado em apresentá-la ao seu curumim desde o seu primeiro sopro de vida!
Salve Zambi-Nosso-Pai!!!
Salve o perdão! Salve o amor! Salve a humildade!!!

*Butado = bom
*Zambi = Deus
*Centro de força = chacras
*Curumim = criança

terça-feira, 31 de março de 2015

Na gira de esquerda






Edu estava ansioso em participar de uma gira de esquerda. Seria sua primeira vez e ele estava aflito em pedir auxílio para suas questões.
Foi mostrada a ele a lista de quais entidades prestariam consultas naquela gira. Edu escolheu o nome que para ele mostrava mais força: Exu Tiriri.
Após certo tempo seu nome foi chamado e ele foi conversar com a entidade.
- Boa noite, cabra!
- Boa noite Sr. Exu Tiriri!!! Escolhi consultar com o senhor, por que senti muita força em seu nome.
- Você teve a sensação errada cabra!!! Exu é tudo igual, só muda a forma de atuação!
- É que seu nome me pareceu forte. Parece que tem poder.
- No nome de Deus é que reside todo poder!
- Estou com a sensação que o senhor não gosta de elogios!
- Nem de bajulação!
- Mas não o estou bajulando!
- E nem eu disse que estava! Apenas lhe esclareci em sua própria dedução!
- E por que você não gosta de elogio e nem de bajulação?
- Por que nenhum elogio ou bajulação é capaz de fazer com que alguém receba aquilo que não tenha merecimento para receber. Ou dar aquilo do que não pode oferecer.
- Não entendi!!!
- Não se preocupe, cabra! Faça seu pedido!
- Gostaria de subir de cargo no meu local de trabalho!
- Vejo que você gostaria de outra coisa.
- Outra coisa? E o que seria?
- Na sua linguagem?: “Calar a boca de seu pai e de sua irmã!”
Edu engoliu seco, mas disse:
- É isto mesmo o que eu quero. Eles precisam aprender a não me menosprezar! Fica ele adulando a ela e ela se achando melhor do que eu.
- Pelo que posso perceber você tem uma maneira distorcida de enxergar as coisas.
- Distorcida?
- É cabra! O que seu pai diz é que as atitudes de sua irmã são mais responsáveis que as suas.
- Mas não sou obrigado a ver as coisas como ele! Nós temos profissões diferentes, mas ela é sub-gerente tanto quanto eu! Só por que ela trabalha de carteira assinada e eu não o meu “velho” vive enchendo minha paciência. Só porque ela tem curso superior e eu terminei no ensino médio, ele também me aporrinha. Que saco!!!
- É cabra, somente quando você descobrir sua real força interior conseguirá sentir o amor a sua volta. Quando isto acontecer você vai querer sentar em minha frente só para dizer uma palavra: Obrigado! Mesmo que seja absolutamente desnecessário, uma vez que só o Divino criador é que é digno de toda gratidão!
- Já vi que não vou receber o que vim pedir, então, se você puder me dar licença, gostaria de ir embora.
- É o contrário, cabra! Você, por ter merecimento, receberá o que veio buscar!
- Puxa, que bom! Obrigado por me ajudar!
- Eu não vou lhe ajudar e nem prejudicar, pois sou Exu! Só vou executar aquilo que a Justiça divina me pede e ponto! Espero que faça bom proveito do que lhe disse, pois só assim poderá usufruir com sabedoria de tudo aquilo que receberá.
- Obrigado!
- Não me agradeça ainda! Tome, conserve isto no porta-luvas do seu carro!
- o que é isto?
- Uma semente conhecida como olho de boi. É para sua proteção!
- Muito obrigado!
Edu foi para a casa. O tempo passou e ele recebeu a promoção que esperava: tornara-se gerente. Passou a receber uma maior renumeração. Passou a andar com vários amigos e, como gostava de dizer, arranjou uma “deusa” para namorar. Passou a ingerir bebida alcoólica em muita quantidade e com mais freqüência que o habitual.
O tempo passou e em uma madrugada quando dirigia de volta para a casa, após passar a noite em uma boate, um carro surgiu a sua frente em uma curva bem fechada. Ele tentou desviar-se, mas como seguia em alta velocidade, um leve toque foi suficiente para jogá-lo ribanceira abaixo. O carro capotou diversas vezes e ninguém poderia dizer que, naquele acidente, alguém poderia haver sobrevivido.
Mas foi o que aconteceu com o Edu, contudo não sem deixar seqüelas, pois ele perdera o movimento das pernas e só conseguiria retomá-lo, talvez, com muita fisioterapia.
Foi demitido de seu emprego sem benefícios a que teria direito se tivesse a carteira assinada.
Ficaria sem ter como arcar com despesas para sua recuperação se não fosse o apoio financeiro do pai e da irmã, sendo esta, inclusive que realizou o tratamento fisioterápico, uma vez que tinha formação para tanto.
Seu dinheiro acabou, seus amigos sumiram e sua “deusa” desaparecera.
Edu nunca imaginara que poderia suportar tamanha falta de consideração, mas não se deixou abater. Com o apoio do pai e da irmã, e com o passar dos meses, Edu passou a recuperar lentamente o movimento dos membros inferiores.
Jamais pensou que pudesse receber tanto apoio e afeto de sua família. Refletiu bastante em sua vida e implorou o perdão a eles, que não tiveram nenhuma dificuldade em concedê-lo.
Mais alguns meses correram e Edu já conseguia andar quase que “ normalmente”. Resolveu, assim, buscar sua participação em nova gira de esquerda.
Voltou ao Terreiro e escolheu consultar-se novamente com Exu Tiriri.
Aguardou a sua vez e foi chamado para a consulta.
Diante do Exu ele recordou-se de tudo que vivera até ali e seu olhar mareou. Foi com o brilho de lágrimas em seus olhos que Edu disse a entidade:
- Não sei como, mas eu sei que você sabe tudo que aconteceu comigo nos últimos meses. Quando cheguei no hospital, após haver sido retirado das ferragens, os médicos disseram que tiveram muita dificuldade para tirar alguma coisa que eu segurava com toda a força em meu punho esquerdo: era a semente de olho de boi! Nem sei como ela foi parar comigo, por que ela estava dentro do porta-luvas.
- Hoje entendo o que você me disse quando estivemos juntos da última vez. Sei que meu pai me ama e que minha irmã me tem amor, mas talvez o mais importante de tudo isto é ter a consciência que hoje em dia eu só consigo sentir isto por parte deles, por haver aprendido a amar a mim mesmo.
- Foi meu desamor, meu sentimento de inferioridade, que quase tirou a minha vida.
Edu já não conseguia mais impedir que as lágrimas gotejassem de seus olhos e nem que sua emoção lhe embargasse a voz, na realidade seu pranto já era incontido, mas reunindo todo fôlego que ainda lhe restava, foi que ele disse a entidade:
- Sei que da outra vez o senhor disse que não era necessário, mas eu só vim aqui esta noite para dizer uma coisa:
- Muito obrigado!!!!
  

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Amando com Preta-véia

Saravá zifia! Preta-véia aqui chegou não para julgar, mas para entender a sua dor, aquilo que lhe faz chorar.
Seu relacionamento acabou e suncê diz que tá incompleta, que sua vida acabou e que a alegria é incerta.
Suncê sofre, chora, se culpa e não entende o que pode ter feito de errado.
Diz que daria tudo que possui só para tê-lo de novo ao seu lado.
Não chore tanto assim zifia, na vida tudo é aprendizado!
Suncê deve aprender não só com o que dá certo, mas principalmente com o que dá errado.
Aprender não para errar novamente, mas para não errar de novo.
Buscar entender os padrões repetitivos que tem te levado ao malogro.
Renovar-se vibratoriamente, transcender a si mesmo, transmutar.
Serenar, refletir e entender a origem de suas lágrimas.
Mergulhar fundo em si mesma para que esta fonte possa secar.
Suncê não foi feita pela metade! Zambi lhe fez completa!
Suncê não precisa de um companheiro para se sentir inteira, basta amar verdadeira e profundamente a si mesma.
Descobrir-se enquanto criatura, mulher e uma força da natureza,
auxiliará suncê a entender o amor e toda a sua beleza.
O verdadeiro amor não está fora, mas dentro de suncê,
busque tão somente encontrá-lo e descobrirás um novo sentido em viver.
Cada um só dá daquilo que tem e sempre é tempo de refletir e descobrir o que se tem pra dar,
Por que suncês só conseguirão receber daquilo que conseguirem doar.
Tire do amor o véu da ilusão para suncê conseguir ser feliz na realidade,
pois só quem ama a si mesma consegue amar de verdade.
Fique na paz de Zambi zifia e sempre, sempre com o amor de Jesus!
Que mamãe Oxum lhe abençoe e agregue ao seu amor muita luz!!!!