quinta-feira, 22 de maio de 2008

Correndo gira - Uma canção de amor

Por Pedro rangel T. de Sá


Ditado pelo Sr. Caboclo Sete Estrelas


Certo dia ao me deitar, e já era tarde da noite, senti alguém a me pedir que fizesse uma prece: agradecendo primeiramente pelo dia que tivera e, posteriormente, pelas bênçãos que eu queria em minha vida e por uma ótima noite de sono.
Assim eu fiz e tomei um enorme susto ao acordar e perceber que me encontrava em algum terreiro de umbanda. Quando digo susto eu quero dizer susto mesmo: Eu estava apavorado por perceber que me encontrava sozinho e em um terreiro que eu nunca estivera na vida.
Mas o que mais me apavorava era o fato de que eu estava em um terreiro, onde uma gira estava prestes a se iniciar, sem ter sido ao menos convidado e, para piorar, NENHUM MÉDIUM CONSEGUIA ME VER!!!!. Eu não sabia se estava morto ou vivo e já estava começando a me descontrolar quando uma voz em minha mente pediu que eu me acalmasse.
Na verdade era uma voz bastante familiar para mim e, devido a este fato, eu fiz uma prece a Deus e pedi que acalmasse os meus nervos. Instantes depois escutei a mesma voz a dizer em minha mente:
— Gostei de ver companheiro, a fé é a mãe de todas as virtudes, mas ela só pode se manifestar plenamente se houver equilíbrio.
— Obrigado meu irmão, mas a sua voz não me é estranha, por acaso o Senhor não é o preto velho.....
— .... Desculpe lhe interromper companheiro, mas é que, na verdade, o meu nome é o que menos importa. Prioritário mesmo é a tarefa que você tem a desempenhar esta noite.
— Eu !?!?!?
— E por que não? Sente-se indigno ou não crê na magnitude de Deus?
— Não é isso não; é que estou em um templo desconhecido e não posso nem mesmo Lhe ver.
— Bem companheiro, esta é uma casa de oração composta por cinqüenta médiuns, todos hoje aqui presentes, contando com o auxílio de Jesus para a prática da caridade, pois foi ele mesmo quem disse que onde houvesse duas ou mais pessoas reunidas em seu nome ele estaria presente, certo?
— Sim senhor.
— Então, neste templo, neste exato momento, há a presença de Jesus, certo?
— Sim senhor.
— Sendo assim você não está sozinho e por isso a nada deve temer. Quanto a me ver eu posso lhe dizer que os olhos às vezes podem pregar muitas peças e lhe peço, portanto, que possa me enxergar através de seu coração tudo bem?
— Tudo bem, acho que entendo o que o senhor quer dizer. Mas você poderia me informar que tarefa eu poderia realizar aqui neste terreiro se nenhum médium pode me ver?
— Perfeitamente. Sua tarefa é observar o desenrolar desta gira desde o seu início até o seu término.
— ??????????
— Pode dar inicio a sua tarefa companheiro!
— Olha o senhor queira me desculpar até a ousadia, pois se me disse que aqui neste terreiro os médiuns vivenciam as lições de Jesus, com certeza deve ser porque aqui é um terreiro exemplar; mas é que eu já visitei outros templos que também são bastante valorosos e não consigo entender o que este possui de diferente dos outros aos quais me referi.
— De diferente? Nada.
— Mas então por que....
— ....Acalme-se companheiro, emudeça a sua curiosidade e você observará nesta noite situações claras onde falar é prata e calar-se é ouro.
— Sim senhor.
Disse isso ainda um tanto sem entender nada e comecei a observar a abertura da gira que já estava para começar. Os médiuns começaram a cantar os pontos de abertura e só por esse inicio já dava para perceber que havia uma sinergia muito grande naquela casa de caridade; entretanto, excetuando-se este fato, não observei nada de inédito no inicio da gira; a maioria dos pontos, inclusive, eu conhecia. Mas, lembrando do recado do amigo espiritual eu procurei calar a minha curiosidade e minha impaciência e pus-me a observar a gira com todo respeito que merece toda casa de oração.
Tudo ocorria naturalmente em minhas observações quando de repente eu vi algo mágico: um cordão dourado de mais ou menos cinco centímetros de espessura foi conectado nas costas do sacerdote da casa, na região do coração, e imediatamente após a ocorrência deste fato ele incorporou a entidade responsável pelos trabalhos espirituais.
Instantes depois eu pude observar esta Entidade bater três vezes as duas mãos e todos os médiuns de incorporação também terem seus corpos conectados por um cordão de mesma espessura que, de uma forma incrível, fez com que todas as entidades que os acompanham incorporassem.
Já não agüentava mais de tanta curiosidade quando a voz amiga veio em minha mente para me esclarecer:
— Por que este espanto companheiro? Você não acreditava que na incorporação o espírito, literalmente, entrava no corpo do médium, certo?
— Não senhor, eu sabia que não era assim, só não sabia que o processo da incorporação poderia se dar desta forma que eu acabei de ver. Agora o Senhor poderia me dizer o porquê de cada um dos médiuns de incorporação ter os cordões conectados em partes diferentes de seus corpos e nas mais diversas cores?
— Sim companheiro. Isto é algo que eu posso lhe informar, veja bem, cada cor representa o orixá a qual cada uma destas Entidades serve no plano espiritual, ou seja, aos quais ela esta fatorada; assim o cordão conectado ao sacerdote deste templo é dourado porque a Entidade que o acompanha pertence à falange de Oxalá e assim por diante, entende?
— Sim senhor.
— Já no que diz respeito ao local de conexão do cordão eu só estou autorizado a lhe dizer que as Entidades só acessam no corpo do médium os chacras em que estão autorizadas a trabalhar para realizarem sua ligação mental, emocional, energética e até mesmo física com os mesmos; assim, no sacerdote desta casa, o cordão está conectado em suas costas por que o chacra cardíaco é aquele que a entidade que lhe acompanha está autorizado a trabalhar, entendeu?
— Meu Deus, isto é impressionante!!! Entendi sim senhor!!!
— Muito bem, continue a observar.
E foi assim que eu me aproximei de uma roda de descarrego para observar, com todo o respeito, o trabalho das Entidades e o que eu vi me deixou muito, mas muito, assombrado por que o que eu pude ver era tão incrível que talvez eu não consiga nem mesmo descrever: havia cinco Senhores caboclos participando desta roda de descarga a qual me refiro e na região exata acima de onde se encontrava a roda de descarga havia um portal aberto do tamanho exato da mesma.
A dinâmica do trabalho dos Senhores Caboclos na roda se dava da seguinte maneira: os passes cada um Deles dava da sua forma, mas o que era invariável é o fato de que com o estalar dos dedos da mão direita Eles jogavam sobre os assistidos várias formas de energias que provocavam naqueles um enorme bem-estar; já com a mão esquerda Eles absorviam destes uma espécie de gosma que desaparecia por encanto quando Eles estalavam os dedos desta mão.
Procurei saber do amigo espiritual que estava fazendo companhia para mim o porquê daquela gosma terrível desaparecer quando os Senhores Caboclos estalavam os dedos, mas dele só ouvi a resposta de que aquela gosma retirada das pessoas eram energias negativas que os elementais cuidavam de eliminar.
Perguntei, então, a ele por que eu não conseguia ver os elementais, foi quando ouvi sua resposta:
— Você não consegue ver porque isto não lhe é permitido e antes que me pergunte o porquê eu lhe peço encarecidamente que não se prenda a detalhes e continue a observar o desenrolar desta gira.
Entendi o recado velado do amigo espiritual e procurei continuar a observar o trabalho das entidades na roda de descarga e considero importante ressaltar que no preciso instante que as Entidades fechavam o trabalho na roda, do alto do portal localizado acima desta, um enorme feixe de luz banhava a todos dentro dela ( tanto consulentes quanto Entidades) e logo após este portal se fechava para só se abrir novamente quando também era aberta uma nova roda de descarga.
Após observar estes fatos eu me pus a analisar como Deus pode ser tão perfeito e ao mesmo tempo manifestar esta Sua perfeição de forma tão simples e foi então que eu ouvi novamente em minha mente a voz do amigo espiritual que estava a me acompanhar:
— Realmente companheiro a simplicidade é uma virtude inerente ao Divino Criador, ou você acha que Jesus mentia ao dizer que o reino dos céus é dos simples e humildes? Agora cabe a vocês desenvolverem esta divina virtude cada vez mais em suas existências. No dia em que você perceber que está perdendo esta preciosa virtude procure sempre lembrar da Divina simplicidade dos Senhores Caboclos ao ministrarem seus passes energéticos: fazem-no por meio do ato simples e discreto de estalar os dedos e, no entanto, quantas maravilhas este ato gera na vida de seus assistidos não é mesmo?
— É verdade!
—Companheiro, estou notando que você está observando por aqui fatos realmente proveitosos, mas agora eu gostaria que você os escutasse, você me permite?
— Claro,digo, sim Senhor.
Dito isto eu fechei meus olhos por breves instantes e senti um leve formigamento em minha cabeça, foi ai que eu abri meus olhos e o que vi e escutei me fez sentir que estava ficando louco: os médiuns que não estavam incorporados cantavam pontos da linha de Xangô e as Entidades incorporadas estavam cantando o mesmo ponto só que, no caso destas, eu não estava escutando em nosso idioma que é o português, explico: estes médiuns incorporados estavam cantando em português, só que as entidades “ligadas” a estes médiuns cantavam os pontos em uma língua desconhecida e que só posso denominar de mágica porque os pêlos de todo o meu “corpo” estavam eriçados e não voltavam a seu estado normal de forma alguma; além disto, meu chacra umbilical começou a irradiar uma forte e fosforescente coloração alaranjada. Antes que eu perdesse o equilíbrio por tanta curiosidade clamei a Entidade amiga que me explicasse alguma coisa e, graças a Deus, ela veio em meu socorro.
— Está se sentindo confuso companheiro?
— É, o senhor sabe não é?
— Da sua curiosidade? Sei sim e posso tentar lhe esclarecer em algumas coisas. Primeiramente eu posso lhe dizer que você não está louco e sim com sua capacidade auditiva momentaneamente potencializada, entende?
— Sim senhor.
— O som que você está ouvindo as entidades firmarem e que não é da sua língua, na realidade, são mantras, entende?
— Agora que o senhor me explicou eu até entendo, mas por que Elas não firmam em português.
— Companheiro, os Senhores Caboclos firmam o ponto cantado em português, mas entenda que a linguagem original de pontos como estes, conhecidos como pontos de raiz, na verdade, é a linguagem mântrica; vocês aqui na terra podem até cantar em suas linguagens de origem, mas entenda que no plano espiritual estes pontos evocam mantras ancestrais que ativam as energias das linhas de umbanda a qual se refere o dito ponto e trazem estas energias para o terreiro em favor dos assistidos. Você só pôde ouvir os Caboclos entoando estes mantras a fim de que pudesse perceber auditivamente, mesmo que de forma ainda bastante imprecisa, que eles existem e que os efeitos das ações destes mantras são reais. Na realidade eu só dilatei sua capacidade auditiva para que aprendesse de verdade uma das formas como as entidades se utilizam da energia e poder de concentração de vocês quando estão a firmar os pontos cantados umbandistas com discrição, dedicação e desejo de ao próximo fazer o bem, e os pêlos eriçados do seu corpo e esta forte coloração alaranjada em seu chacra umbilical refletem isto, entendeu?
— Sim, agora eu entendi. Mas será que o senhor poderia me esclarecer uma outra coisa?
— Pergunte primeiro companheiro.
— É que depois que eu senti o formigamento na cabeça eu também comecei a perceber que a maioria dos médiuns que estão cantando os pontos estão irradiando em torno de si cores que são divinamente maravilhosas e eu gostaria de saber, se possível, o porquê disto.
— Isto eu posso lhe responder companheiro, mas eu devo lhe dizer que ainda estou esperando uma determinada pergunta de sua parte. Quanto a esta que você acaba de me fazer eu volto à pergunta anterior que era relacionada à questão dos mantras, lembra?
— Sim senhor.
— Eu havia lhe dito que o cantar dos pontos ativa energias da linha de umbanda evocada no ponto que está sendo cantado, certo?
— Sim senhor.
— Pois entenda companheiro que os sons destes pontos geram cores porque sete são as cores do arco-íris e sete são as notas musicais, está acompanhando?
— Sim senhor.
— Pois então, o divino Criador permite que as cores geradas através das notas musicais dos pontos cantados, que na realidade são bênçãos divinas ativadas para a caridade na forma de cores, também possam colorir, ou seja abençoar, aqueles que estão cantando os pontos e é por isso que você está vendo tantos médiuns “coloridos”, percebe?
— Sim senhor.
— Além deste motivo ainda existem outros que justificam a “coloração” dos médiuns e eu posso te revelar mais um destes que consiste no fato das entidades do templo também banharem os médiuns da casa com as cores das linhas de umbanda a que estão fatoradas, percebe?
— Sim senhor, agora o senhor poderia me dizer se eu devo justificar a ausência de irradiação de cores em certos médiuns que estou a observar pelo fato deles não estarem firmando os pontos?
— Graças ao Criador você fez a pergunta que eu passei esta gira toda querendo escutar de ti antes que ela chegasse ao seu fim, como está prestes a acontecer. E na verdade eu lhe respondo companheiro que a ausência de irradiação de cores por partes destes médiuns que você citou não se deve pela ausência do canto por parte deles; Entenda que cantar é meramente um ato externo, entenda que em uma gira o que faz o templo e a vida de vocês ficar “colorida” é a concentração no que está sendo cantado e o desejo que este canto possa fazer o bem ao próximo. Entenda que as entidades no plano astral,quando é fundamental, também estão a firmar os pontos cantados e você, na noite de hoje, está sendo testemunha disto, não é verdade?
— É sim Senhor.
— Agora o que jamais deve ser esquecido é o fato de que, por serem seres desencarnados, o canto das entidades tem efeito mínimo em uma gira de umbanda: vocês médiuns é que são a parte fundamental em uma gira de umbanda por que são vocês que estão no plano onde fisicamente acontecem as giras que é o plano material. Então vocês médiuns devem fazer a parte de vocês com perfeição para que nós possamos fazer a nossa. Entenda a maior e mais profunda verdade: em uma gira de umbanda, sem a firmeza e vibração de vocês, nós pouco podemos realizar em favor do próximo, entendeu?
— Sim senhor.
— Eu disse que estava ansiosamente esperando esta sua pergunta por que este é o recado que eu desejo que você, por obséquio, passe aos seus irmãos de fé, afinal de contas você não acha que foi trazido até aqui esta noite apenas para realizar “turismo espiritual”, não é?
— Não senhor. O senhor pode deixar que eu passarei agora mesmo este Vosso recado.
— Agora mesmo não companheiro, a gira vai se encerrar agora e eu, como disse anteriormente, gostaria que você ficasse até o seu término, tudo bem?
— Sim senhor.
E dito isto eu pude observar que enquanto no plano material os médiuns estavam todos de mãos dadas em volta do gongá a fazer as orações de agradecimento a Deus; no plano espiritual as entidades também estavam todas de mãos dadas só que cantando uma canção que, desde o momento que começara a ser entoada, serviu como um dispositivo para que um enorme feixe de luz com singela coloração rósea jorrasse do alto e banhasse a médiuns e entidades ao mesmo tempo que uma verdadeira cascata de pétalas de rosas vermelhas também banhasse a ambos. Sei que a gira já estava terminando e que eu deveria prezar pelo silêncio, mas a curiosidade e o desejo de saber foram maiores que a prudência e eu, respeitoso, perguntei:
— Irmão sei que não é a hora mais apropriada, mas o Senhor poderia me dizer que canção é aquela que as Entidades estão cantando?
— Companheiro, não se acanhe. Na verdade eu também estava esperando por esta pergunta; eu só gostaria que você, após a dúvida ter esclarecido, também passasse esta mensagem para todos os seus irmãos de umbanda, tudo bem?
— Sim senhor.
— Então companheiro, diga a seus irmãos de fé que em todo templo de umbanda onde a única meta é a caridade, ao término de cada gira, quando os médiuns dão-se as mãos e põe-se a orar em agradecimento a Deus pela oportunidade do trabalho a favor do próximo; nós, as entidades espirituais de cada uma destas casas de caridade também damo-nos as mãos e nos pomos a orar, através de uma canção, e a agradecer ao Criador, por meio desta, pelo fato Dele nos ter dado a benção de contarmos com a presença de vocês médiuns, apesar das dificuldades de cada um, para todos juntos realizarmos a caridade em favor do próximo em mais uma gira de umbanda. E o nome desta canção que todas as entidades de todos estes terreiros põem-se a cantar no final de cada gira para agradecer a Deus a presença, dedicação, amor e firmeza de todo filho de fé tem um nome que se representa em três palavras: CANÇÃO DE AMOR.



Salve Deus pai todo poderoso!!!!
Saravá as sete linhas de umbanda!!!!
Saravá a todas as linhas de trabalho da umbanda!!!!
Saravá a canção de amor!!!!

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Perfeiçao

Mensagem de um exu







Josiel retornava do centro umbandista que freqüentava há cinco anos para sua casa visivelmente transtornado.
Em sua forma de pensar continuar a freqüentar o terreiro tornara-se impossível, pois, segundo ele, em um local onde reina a fofoca e a maledicência Jesus e a caridade não poderiam se manifestar.
Não pensem que Josiel era um espírito desprovido de autocrítica. Não, era o oposto!!! Josiel criticava a si próprio de uma maneira até demasiada; tinha consciência que era um espírito em expiação para tentar sanar erros praticados em encarnações pretéritas.
Não possuía, assim como acontece com a grande maioria dos encarnados, a mínima noção dos erros que praticara em encarnações pretéritas, mas tinha a plena convicção que a prática da caridade seria a única forma de tentar corrigi-los.
Ah, meus amigos como era difícil para Josiel à prática da caridade!!! Mas não se espantem por que a dificuldade desta prática redentora não era devido ao orgulho e egoísmo exacerbados; muito pelo contrário, ele era um espírito até generoso.
Não meus irmãos, a dificuldade do exercício da caridade para Josiel se dava pela impossibilidade dele, assim como ocorre com qualquer pessoa, pratica-la sozinho. Não, por favor, não estranhem o comportamento de Josiel, pois poucos espíritos são mais tímidos e sensíveis à energia do próximo do que ele.
Fora o divino mestre Jesus quem ensinara que onde estivessem duas ou mais pessoas reunidas em nome Dele ele estaria presente; também fora Jesus quem escolhera doze apóstolos para auxiliá-lo a pregar a Boa Nova; ou seja, o mestre divino sempre ensinara que a caridade deveria ser praticada em beneficio ao próximo, pois seria somente dando que se teria a possibilidade de recebê-la de volta e evoluir junto a Deus.
Imaginem companheiros alguém ter a clareza da necessidade de se buscar a fraternidade em prol da caridade, mas sentir uma extrema dificuldade para tanto, seja por sua enorme timidez ou pela imensa facilidade de, apenas pela proximidade, sentir o que vai ao coração e na mente do ser humano.
Aliás, desde cedo, mesmo quando professara outras religiões, todas estas foram unânimes em afirmar que aquela extrema sensibilidade seria ou um problema neurológico ou um ataque do demônio; seus pais, assim, submeteram-no tanto às práticas médicas quanto à algumas práticas religiosas sem conseguirem resultado algum.
Foi somente quando se tornou umbandista que Josiel passou a enxergar sua extrema sensibilidade não como uma maldição, mas como um dom. Josiel descobrira-se não doente ou endemoniado, mas tão somente médium; descobrira também que somente utilizando o exercício da mediunidade em favor da caridade é que ele encontraria alguma luz que clareasse os seus caminhos na estrada que leva a evolução junto a Deus.
Josiel pensava que havia encontrado a religião perfeita praticada em um terreiro perfeito e por pessoas perfeitas.
Cinco anos se passaram desde a entrada dele no terreiro e é quando podemos vê-lo retornar para o conforto de sua residência totalmente convicto de que, no dia seguinte, pediria desligamento daquele centro umbandista e partiria em busca de outro.
Tomou um banho relaxante, deitou em sua cama confortável e não foram necessários muitos minutos para que seu duplo se desprendesse parcialmente do corpo físico.
Josiel não sabia, mas estava sendo guiado para junto de uma pedreira em mata aberta para receber instruções do seu exu de trabalho no ritual de umbanda.
Chegando ao local indicado, Josiel viu um ser de mais de dois metros de altura e roupas pretas que irradiavam um estranho magnetismo sentado em uma espécie de cadeira de cor prateada localizada em cima da pedreira.
Só de olhar para aqueles dois olhos grandes negros e penetrantes Josiel entendeu que deveria subir aquela pedreira e ficar diante daquele ser; então, sem pensar duas vezes, Josiel caminhou em direção a ele e ajoelhou-se respeitosamente diante daquele ser.
— Levante-se!
Josiel obedeceu prontamente.
— Sabe quem sou eu?
— Não senhor.
— Sabe o que faz aqui?
— Não senhor.
O guardião então soltou uma sonora e gutural gargalhada para depois dizer:
— Aquele que não sabe quem é e nem para onde vai me parece que está perdido.
— O senhor me desculpe, mas eu sei quem sou.
— Sabe?
— Sim senhor!
— Quem é você?
— Sou Josiel.
— Não. Esta resposta prova que você sabe qual é o seu nome, eu quero saber quem é você.
Vendo o silêncio pertubador de Josiel o guardião tornou a gargalhar:
— Ahahahahahahah!!! Complexa esta questão de identidade não é companheiro?
— Sim senhor, mas...
— Prossiga!!!
— ... pelo menos eu sei para onde vou!
— Tem certeza?
— Absoluta.
— Para onde você vai?
— Para um outro terreiro. Um terreiro que também pratique a caridade, mas onde não se julgue tanto o próximo.
— Você procura um terreiro perfeito?
Diante do silêncio de Josiel o guardião continuou:
— Companheiro, sou um exu e devo lhe perguntar: que terreiro você procura?
— Um terreiro com pessoas perfectíveis.
— Responda-me: Jesus quando encarnado viveu dentro de templos religiosos ou junto das imperfeições de prostitutas, ladrões e malfeitores?
— Mas Jesus convivia com estes malfeitores para levar a perfeição do amor de Deus até elas.
— Concordo, mas ele realizava esta tarefa sozinho?
— Não, ele era auxiliado principalmente por seus apóstolos.
— Os apóstolos eram perfeitos?
— Não, mas Jesus sabia que podia contar com cada um deles porque tinha certeza que nenhum falharia em sua tarefa.
— Você se engana companheiro: Pedro era impulsivo, Tiago esperava sempre mais ver para depois crer e eu poderia continuar tecendo comentários sobre as dificuldades humanas dos demais apóstolos só para que você entenda que Jesus não tinha a certeza de que cada um dos apóstolos não falharia em suas missões; Jesus tinha a esperança que o amor dos apóstolos à obra de Deus seria maior que suas imperfeições e que esse amor os auxiliariam a não falhar no desempenho de suas missões.
— Entendo.
— Jesus tinha esperança e não certeza.
— Entendo.
— A mesma esperança que tem em você e em cada um de seus irmãos que compõem a humanidade.
— Entendo.
— Esperança de que cada um de vocês não falhe na missão de praticar a caridade.
— Entendo o que o senhor quer dizer, realmente não devemos medir esforços para praticar a caridade e alcançar a luz.
— Luz? Que luz?
— Um mundo de luz.
— Ahahahahahahahahahahahaha!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
A risada do guardião foi tão profunda e pungente que tremeu até mesmo a pedreira sob os pés de Josiel, este, então, perguntou ao guardião:
— Por que o senhor deu esta risada tão forte?
— Para não chorar com a ilusão de tantos de vocês, os umbandistas.
— Ilusão?
— Sim, a ilusão de acharem que antes de encarnarem vieram de um plano espiritual elevado e que a ele retornarão quando desencarnarem se desempenharem a missão de vocês de forma satisfatória.
— ..................
— O teu silencio é revelador, entretanto a Lei não permite me calar. Entenda companheiro que o umbandista é aquele que procura, quando incorporado ou não, fazer a prática da caridade dentro dos templos religiosos por meio da prática da magia.
— Magia?
— É, a utilização de poderes mágicos em prol do próximo, afinal, a fumaça de um cachimbo, um charuto é ou não é magia?
— É sim senhor.
— O uso de bebidas é ou não é magia?
— É sim senhor.
— O uso de velas é ou não é magia?
— É sim senhor.
— Acho que não preciso continuar não é?
— Certamente que não.
— Agora me responda: Por que a grande maioria dos umbandistas não estranha o uso destes instrumentos mágicos, entre outros, seja por parte das entidades que os assistem, seja daquelas que incorporam nos demais médiuns da corrente mediúnica a que pertençam?
— Sinceramente não sei, agora o senhor me falando tudo isto me fez pensar que a primeira impressão que tive ao adentrar pela primeira vez um centro de umbanda era que tudo aquilo ali me era familiar.
— Perfeito. Tal familiaridade aconteceu contigo, como acontece com a maior parte dos umbandistas, por que em encarnações pregressas vocês também conheciam a magia; muitos até dela se utilizaram em algum momento da vida ou em vários, para prejudicarem o próximo, entende?
— Entendo sim senhor.
— Vocês, de forma geral, não estranham o uso e a prática da magia por que muito recorreram a ela em vidas passadas.
— É custoso crer que todos nós umbandistas fomos magos negros em encarnações passadas.
— Eu não disse todos, disse a grande maioria. De mais a mais a magia ( tanto para o bem quanto para o mal ) está no mental de cada ser humano assim, inveja é magia negra, maledicência é magia negra, cobiçar ardentemente a mulher do próximo é magia negra, odiar é praticar magia negra e assim por diante.
— Meu Deus do céu!!!
— Você não deve praticar a caridade esperando como prêmio por esta prática, após o desencarne, a passagem para um plano espiritual elevado. Trabalhe pela caridade tão somente para salvar a sua alma da ignorância acerca da lei de amor e pacificar sua consciência dos malfeitos praticados no passado.
— Pacificar minha consciência?
— Sim, veja o vosso caso, por exemplo. Você sabe por que é extremamente tímido e sensível?
— Não senhor.
— Devo lhe dizer que é porque a consciência do teu espírito não está em paz.
— Como?
— Eu lhe acompanho há muito tempo e sei que nesta encarnação você jamais cometeu atentado algum contra o bem estar do próximo, mas o teu espírito terrivelmente endividado vive a se culpar por erros de encarnações pretéritas. Quando esta consciência espiritual estiver em paz você não mais terá esses problemas manifestados de forma tão exacerbada.
— Mas a consciência de outras vidas não é apagada antes do espírito reencarnar?
— A sua consciência foi apagada, mas não a do seu espírito, tamanhos foram os erros das suas vidas pretéritas.
— O senhor me desculpe, mas fica difícil acreditar no que diz.
— companheiro você também me desculpe, mas não estou aqui para que creia em mim, haja vista que nada sou. A lei divina aqui me permitiu estar contigo para que acredites verdadeiramente em Deus.
— Mas eu creio em Deus!
— Então por que desejas sair do terreiro que freqüentas?
— Mas o meu crer em Deus nada tem a ver com o fato de eu desejar sair do terreiro.
— Ahahahahahahahahah!!!!!!!!!!!!
Gargalhou exasperadamente o guardião para depois prosseguir:
— Não? Então por que desejas sair do terreiro?
— Por que neste terreiro que freqüento sou acusado por meus próprios irmãos de fé de tudo quanto é coisa, muitos deles se consideram profundos conhecedores de meu comportamento e de minha consciência e julgam cada um de meus gestos e atitudes como se tivessem conhecimento de causa.
— Eles já lhe disseram isso?
— Não, mas penso que gestos valem mais do que mil palavras e eu também, de alguma forma, consigo sentir o que vai ao coração deles.
— E você, procurando a perfeição na Terra, começará a sua busca pelo terreiro perfeito?
As palavras diretas do exu fizeram com que Josiel olhasse duramente para ele que, assim, retomou o dialogo:
— A sua interpretação dos gestos e do que vai ao coração dos seus irmãos de fé não está equivocada; entretanto devo lhe repetir que você só consegue sentir o que vai ao coração deles e se intimidar cada vez mais devido ao seu sentimento de culpa em relação ao passado tendo em vista que somente aquele que deve pode sentir-se culpado.
— Não consigo entender suas palavras!
— Isto acontece porque você não entende a si próprio, mas como você mesmo disse “ um gesto vale mais do que mil palavras”, então sente-se nesta cadeira atrás de você!!!
Josuel estava extremamente desconfiado, mas a sincera autoridade que aquele ser lhe impunha fez com que ele se assentasse; o exu, então, retomou o diálogo:
— Não seja desconfiado! Não pense que foi trazido até aqui para ser demovido da idéia de deixar o terreiro que freqüentas, pois isto lhe faria prisioneiro de si próprio; na verdade você está aqui para conhecer um pouco mais a si mesmo a fim de que assim, quem sabe, possa se libertar da culpabilidade espírito-psicológica que o torna um ser tão escravo de suas culpas das vidas passadas. Feche os seus olhos e esvazie sua mente de todo e qualquer pensamento!!!
Foi após proferir esta determinação para Josiel que o guardião, ajoelhado na frente dele, segurou-lhe as mãos em forma de “X” e deu um grande suspiro.
A partir deste instante, sem saber como, uma série de imagens incontroláveis a sua vontade, passaram a desfilar na mente dele.
Josiel então se viu como um sumo-sacerdote do legendário império assírio na transição do reinado de Assurbanipal para o sucessor deste.
O nome de Josiel nesta encarnação era Sejernastides, um homem de letras que, não obstante ser o mais alto servidor do império com funções religiosas, foi o grande idealizador da grande biblioteca do império assírio, àquela cujos livros com escritas cuneiformes seriam o maior legado para posteridade da forma de viver dos povos da Mesopotâmia.
Entretanto, apesar de sua mente brilhante, Sejernastides fora um homem que após muitos anos usando de práticas de magia negra não apenas a favor do império, mas principalmente a favor de si próprio começou a ser sugestionado por poderosos entes trevosos que o manipulavam a tornar-se mais forte e poderoso através da desvirginizaçao e posterior sacrifício de crianças.
E foi assim que ele, após três anos na prática nefasta e cruel de violação sexual e assassinato de crianças, perdeu de forma completa o maior e ultimo dos poderes que o tornara tão imensamente famoso em todo o império: o dom oracular da premonição. Assurbanipal já não vivia mais quando este fato ocorreu.
Sejernastides ao invés de comunicar esta ocorrência ao rei preferiu se omitir e continuar realizando oráculos; acontece que em um dia, ao praticar o oráculo e dizer que todo o exército imperial deveria invadir um reino distante com posição geográfica estratégica para aumentar a extensão do império ele acabou atuando involuntariamente como o catalisador do principio do fim do grande império assírio, pois três meses após esta “premoniçao oracular”, enquanto a maior parte do exército imperial estava a léguas e léguas da capital Assur, esta foi violentamente atacada por caldeus e outros povos que já se encontravam por muito tempo oprimidos por este sanguinário império.
O tempo passou velozmente na mente de Josiel e ele pôde ver quando, enquanto Sejernastides, fora violentamente forçado a presenciar o assassinato brutal, esquartejamento e decapitação de cada um dos cento e vinte funcionários do templo e de seus tutelados mais diretos.
Sejernastides sabia que o grande império assírio não duraria por muito mais tempo e foi desta forma que ele, replete de arrependimentos, foi levado como prisioneiro e encarcerado. Um dia, cinco anos após estes fatos e ainda encarcerado, ao ver o império se desmanchando a passos largos, Sejernastides, numa terrível situação de remorso suicidou-se através do enforcamento.
Após a ocorrência destes últimos fatos se passarem em sua tela mental, Josiel queria chorar, mexer-se e abrir os olhos, mas não conseguia e o exu, assim, falou-lhe mentalmente:
— Concentre-se companheiro, pois minha tarefa ainda não terminou!
Josiel, também mentalmente, respondeu ao guardião:
— Pelo amor de Deus, pare com este castigo!!!
— Quando a Lei Divina faculta-me o direito eu certamente puno os devedores Dela, mas entenda que este não é o seu caso, eu não o estou punindo, mas exercendo a tarefa que me foi ordenada pelo seu anjo de guarda e que eu, sem queixumes e satisfeito por estar labutando em prol da Justiça Maior, devo exercer. Tenha humildade, paciência e concentre-se, pois minha tarefa está quase no fim.
Assimilando o sentido de ordem daquele guardião Josiel pôs-se a concentrar-se e a se ver em sua ultima encarnação como um escravo jamaicano do Brasil - colônia que ao invés de aproveitar a oportunidade redentora para auxiliar aos seus irmãos de sina e senzala com palavras e atitudes confortadoras e, principalmente, com a utilização de ervas e feitiços; fez exatamente o contrário e utilizou estes últimos para, em seus sessenta e cinco anos de vida, prejudicar terrivelmente quase uma centena de pessoas.
E após estes últimos fatos o guardião retirou suas mãos das mãos de Josiel, ordenou que ele abrisse os olhos e aguardou a visualização da cena que ele já se acostumara a presenciar:
Josiel, poucos minutos após abrir os olhos e retornar a si, caiu em um pranto convulsivo tão sentido e verdadeiro que levaria as lágrimas qualquer espírito que presenciasse aquela cena, no entanto, dos olhos do guardião a frente dele não havia o menor resquício de uma lagrima sequer e, se olhássemos um pouco mais abaixo na face do guardião, por mais estranho que possa parecer, veríamos até mesmo o esboço de um sorriso: é que poucas coisas trazem tanto contentamento a um exu do que quando ele vê um ser humano reconhecer a pequeneza de si próprio diante da infinita sabedoria e excelsa misericórdia do Divino Criador.
Após serenar as emoções, Josiel disse ao guardião:
— Então foi por isso que reencarnei umbandista, para expiar os meus erros crassos praticados com o uso da magia em vidas anteriores?
— Não apenas estes erros, mas principalmente.
— No terreiro que freqüento, o corpo mediúnico é composto daqueles antigos servidores assírios assassinados por conta de minha vaidade e imprudência?
— Isto não importa!!! Você não deve achar este tipo de justificativa para permanecer ou abandonar o terreiro que freqüenta, o importante é você entender que cinco daqueles seus antigos servidores trabalham no terreiro que você freqüenta como entidades espirituais.
— Meu Deus, eles evoluíram tanto!!!
— Evoluíram e querem que você e seus irmãos por paternidade divina também evoluam pela prática da caridade.
— Meu deus!!! Eu, um umbandista, que nesta encarnação nunca fiz mal a ninguém, jamais poderia pensar que sou um espírito tão imperfeito e devedor!!!
— Não só você companheiro. Já disse e repito: raros são os umbandistas que são de hierarquia espiritual elevada,; na verdade, quase todos ainda são espíritos em encarnações de provas e expiações, melhor dizendo, quase todos os espíritos sob a face da terra, independente da religião que professem, são espíritos ainda em encarnações de provas e expiações.
— Entendo.
— Agora Josiel seja honesto comigo e diga se não é verdade que você pensa em sair do terreiro que freqüentas por julgar que seus irmãos de fé têm a ingratidão para com você; ou melhor ainda, por vê-los praticar esta ingratidão contra ti na forma de gestos e comentários a seu respeito.
— Serei honesto: é verdade!
— Este exu que vos fala não é nenhum espírito perfeito, mas devo dizer que procuro executar o meu trabalho a favor da Lei Maior e da Justiça Divina de uma maneira surda tanto para a gratidão quanto para a ingratidão.
— Como?
— Sou surdo para a gratidão por que não trabalho para recebê-la, mas para evoluir. Só o Divino Criador é digno de toda gratidão, honra e louvor.
— Entendo.
— Também sou surdo para a ingratidão por que quem tem o dever de escutar cada um dos impropérios que me forem dirigidos e julgar a cada um conforme a sua obra também é o divino criador.
— Então quer dizer que o senhor trabalha para a caridade de uma forma surda?
— Surda para a gratidão e ingratidão, ouvinte apenas de minha consciência a me dizer que é praticando a caridade que terei cada vez mais paz no meu mental e emocional.
— Meu Deus, o senhor me disse que é um exu e quantas coisas lindas acabou de me dizer, o senhor é um sábio, obrigado por me ajudar!
— Como? Não ouvi!!!
— Obrigado!
— Como?
— Obrigado!
— Como? Bem não importa, pois se não estou escutando certamente deve ser por que você se esqueceu de que sou surdo a gratidões e ingratidões.
Josiel riu a valer e depois perguntou ao exu:
— O senhor tem mais algo a dizer para mim?
— A você devo dizer que quando despertar em sua cama esquecerá por completo dos fatos relativos a estas duas de suas vidas passadas que você presenciou esta noite. Sua consciência esquecerá de tudo, mas a partir do instante que você acordar seu inconsciente estará sempre a lhe cobrar que procure a perfeição dentro de si mesmo e não no próximo.
— Entendo.
— A você e a todos os seus irmãos umbandistas, a Lei Maior e a Justiça Divina só me permitem adverti-los que vocês, ao sentirem a ingratidão, não devem usa-la como dispositivo para esmorecerem na fé e na prática da caridade façam, antes, como os grandes mártires do cristianismo e procurem usa-la como bússola a lhes indicarem que estão no caminho certo da prática da caridade a fim de evoluírem em direção a Deus.
O guardião fixou ainda mais os olhos nos olhos de Josiel e continuou a dizer:
— Recordem todos vós que se sentem injustiçados por serem vitimas de ingratidão das vivificantes palavras de Jesus: “Bem aventurados sejam todos aqueles que forem perseguidos por amor ao meu nome”. Não reclamem de ingratidão, sigam os exemplos de Jesus, pois nenhum espírito na face da Terra sofreu mais do que ele pela má ação da própria humanidade que ele viera salvar e, mesmo assim, em nenhum momento de seu martírio Jesus sentiu-se vitima de ingratidão por toda humilhação e sofrimento a que foi acometido, muito pelo contrário Jesus, ao invés de ingratidão tinha era piedade daqueles que lhe maltratavam, por que era conhecedor de quantas provas e expiações eles deveriam passar em futuras encarnações para descobrirem que a verdadeira felicidade não está em humilhar e destruir aqueles que pensam diferente de você, mas dentro de cada um!!!
Josiel escutava aquele guardião falar com tanto vigor e verdade sobre Jesus que se encontrava imensamente emocionado em todas as fibras de seu ser e, enquanto isso, o guardião continuava a falar:
— Na verdade, desde àquela época até os dias de hoje, Jesus tinha uma incomensurável piedade pela ignorância humana. O ignorante é aquele que ignora as regras globais de funcionamento da vida como um todo para tentar, de uma forma ou de outra, fazer com que ela seja vista e interpretada de acordo com suas idiossincrasias. Muitos ignorantes fazem valer suas opiniões por meio das palavras, outros, um pouco mais severos, usam de coerção enquanto que ainda outros utilizam quaisquer tipos de violência para que muitos vejam as cores do arco-íris da vida pelo seu prisma.
Josiel só escutava emocionado e intimamente transformado as palavras daquele exu que continuava a lhe comunicar:
— E Jesus, um excelso espírito em humildade e amor jamais rebateu qualquer uma das criticas que sofreu, jamais violentou sua natureza dócil e simples para fazer com que qualquer pessoa aceitasse as verdades das idéias que constituem o Evangelho. A melhor resposta que Jesus ofertava aos críticos era o trabalho através de suas palavras e ações convocando-os para a prática da Lei de amor. Jesus é o bem e o bem jamais violenta a natureza intima de qualquer pessoa para afirmar suas convicções. Você quer ser um bom médium Josiel?
— Sim senhor!
— Então procure agir como Jesus e não sofra de ingratidão pelas criticas daqueles irmãos de fé que se sentem os senhores da verdade a cerca do seu comportamento ou de qualquer outra coisa, apenas trabalhe porque, como você mesmo disse a esse exu nesta noite, “um gesto vale mais do que mil palavras”; enfim, deixe que suas ações falem por você, está entendendo?
— Sim senhor!
— Uma ultima coisa a ser dita para a sua reflexão: se os terreiros são feitos por homens e estes são imperfeitos, como encontrar o terreiro perfeito?
Ao despertar em seu leito na manhã seguinte Josiel só tinha consciência de uma frase que escutara durante sua noite de sono: “se os terreiros são feitos por homens e estes são imperfeitos, como encontrar o terreiro perfeito?”.
Esta frase mudou a vida dele de tal forma que dez anos após este sonho Josiel ainda estava trabalhando no mesmo terreiro de que certa vez pensara em sair a descobrir, a cada gira que participava, que a perfeição é um ideal possível somente pela prática da caridade, pois somente ela aproxima cada filho de fé da perfeição absoluta que vem de Deus.