quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

A PALESTRA



O  Caboclo Ubirajara já estava para começar sua breve palestra à todos que se encontravam naquela casa de Umbanda, tanto a assistência quanto o corpo mediúnico, antes de se iniciarem os trabalhos espirituais pertinentes a gira.                                                                                                      
A entidade possuía praticamente dois metros de altura, face enrugada, olhos castanhos, sinceros,bondosos, mas que despertavam ordem e denotavam imensa autoridade moral.
Vestia-se como se fosse um silvícola de terras brasileiras, entretanto possuía um cocar em sua cabeça formado por penas douradas e possuía incrustado na fronte, na região correspondente ao terceiro olho, um cristal de cor azul-escuro no formato de um losango.
Calei minhas observações e procurei abrir meu coração para escutar a prédica do Senhor caboclo Ubirajara que se iniciaria naquele exato momento.
Boa noite meus filhos! Este caboclo os saúda e se alegra com vossa presença nesta tenda de caridade que é de vocês mesmos.
A palavra deste caboclo é curta, mas antes preciso relatar a vocês um certo costume existente na tribo a que pertenci quando fui um índio brasileiro em minha última encarnação, há seis séculos.
Em nossa tribo, quando recebíamos a visita de alguma tribo vizinha, nós usávamos as “panelas” mais velhas para cozinhar e emprestávamos os nossos ”pratos” mais velhos para eles cearem conosco, enquanto que nós ficávamos com os mais novos.
A assistência entreolhou-se espantadamente pensando que este costume era um tanto quanto esquisito e devo confessar que o corpo mediúnico entreolhou-se da mesma forma, mas a entidade continuou sua preleção dizendo:
Aos olhos de vocês este parece um costume um tanto quanto estranho se comparado aos tempos modernos, não é verdade?
Todos esboçaram um sorriso na face como se respondessem afirmativamente à pergunta da entidade.
Mas este caboclo vai tentar explicar a vocês a lógica por trás deste procedimento que, à primeira vista, parece mesmo “de outro mundo”:
Na nossa tribo as “panelas” e “pratos” mais velhos eram aquelas que haviam sido mais utilizadas por nós ao longo do tempo; ou seja, eram os nossos utensílios culinários mais queridos; e ofertá-los às tribos que nos visitavam era uma demonstração de respeito e afeto.
Sorri ao perceber na fisionomia de todos os presentes naquela casa de caridade a compreensão de que uma mesma situação pode ser interpretada das mais diversas maneiras.
A entidade também esboçou um sorriso no canto direito dos lábios e continuou:
Hoje em dia, nos lares brasileiros, vocês se comportam de uma forma bem diferente do que quando esta caboclo estava encarnado, não é verdade?
As melhores louças,as mais lindas vestes de cama, mesa e banho vocês só costumam usar, de fato, quando recebem uma visita, não é assim?
Quando a casa de vocês está sem visitas vocês não vestem trapos e nem cozinham em panelas furadas, mas, de forma geral, não usam o que têm de melhor, não é assim? Ou este caboclo está errado?
Todos balançaram a cabeça afirmativamente concordando com a argumentação da entidade.
Este caboclo não está falando estas coisas para vocês com a intenção de que procedam em suas casas como nós agíamos há pouco mais de seis séculos, pois os tempos são outros, as regras de etiquetas são outras.
Na realidade, é natural que tudo na vida evolua, até mesmo os hábitos e costumes; mas este caboclo não pode deixar de ressaltar uma observação importante neste costume moderno de vocês encarnados no que diz respeito a recepção das visitas em vossas casas: vocês procuram ornamentar as vossas residências com objetos que lhes pareçam mais bonitos e preciosos quando recebem visitas e isto é muito nobre aos olhos deste caboclo; mas vocês admiram tanto este hábito praticado com a casa dos vossos corpos que acabam estendendo-o para a casa dos vossos espíritos.
Todos os que escutavam a prédica do caboclo arregalaram os olhos e não conseguiram esconder o sinal de interrogação que brilhava na face de cada um de maneira reluzente.
O reluzir era tanto que a entidade perguntou a seus ouvintes:
Qual é a casa dos vossos espíritos?
A maior parte dos ouvintes, então, respondeu:
─ O nosso corpo físico.
─ E como vocês cuidam desta casa tão preciosa? Vocês a higienizam diariamente?
Muitos ficaram estupefatos com a pergunta, entretanto, a entidade amiga prosseguiu em seu colóquio:
─ Este caboclo não está falando de vocês tomarem banho e nem de escovarem os dentes diariamente. Falo é da verdadeira atitude higienizadora da residência dos vossos espíritos: a oração.
─ Vocês usam da oração com regularidade ou somente quando recebem visitas?
Os ouvintes daquela palestra permaneciam a entreolhar-se como se a entidade amiga estivesse “falando grego”.
 ─ Este caboclo não está falando das visitas que vocês recebem em vossos lares apenas quando são requeridos ou as requerem; caboclo fala é da visita que vocês recebem sem requisição direta de nenhuma das partes.
 ─ O que vocês costumam fazer quando recebem a visita daquilo que vocês chamam de injustiça?
Uma pessoa da assistência levantou a mão e o caboclo consentiu que ela respondesse:
─ Nós oramos.
─ Muito bom filha, esta é uma atitude muito formosa aos olhos de Tupã! Mas vocês oram sempre? A oração é um prato que vocês devem usar para procurar se nutrir diariamente com os alimentos da fé, amor, evolução, vida, justiça, lei e conhecimento. É um prato que quanto mais usado, mais renovado fica. Vocês usam-no diariamente, em todos os instantes, ou somente quando recebem visitas?
A platéia estava tocada com as palavras do caboclo. Muitos até possuiam o olhar marejado, mas a entidade continuou:
─ E é isto que caboclo quer pedir a vocês meus filhos: orem mais! Cuidem melhor da casa do vosso espírito, pois como disse um sábio há tempos: “mente sã, corpo são”.
─ Tudo aquilo que vocês chamam de situações de injustiça são, na realidade, oportunidades únicas para vocês exercitarem a oração. No entanto, seria muito importante para a evolução de vocês que a prática da oração fosse um exercício diário e constante.
─ Um desportista não espera uma competição se iniciar para que venha a treinar; muito pelo contrário, ele se prepara para ela meses e meses antes de seu início, para que se encontre devidamente preparado quando houver de fornecer testemunho dos efeitos de seu treinamento. Um desportista não procura oferecer o seu melhor apenas nos dias de competição: o seu melhor é oferecido a cada dia de treinamento.
 ─ Em relação a prática da oração este caboclo pede que vocês procurem agir como o desportista, treinando a vossa mente, a vossa razão, a vossa emoção e o vosso espírito diariamente com o exercicio da prece, pois assim agindo estarão sendo devidamente preparados por Tupã para oferecerem testemunhos de vossa fé quando forem visitados pela necessidade de reajuste cármico denominados por vocês como injustiça.
─ Orem meus filhos! Orem dia-a-dia em espírito e verdade, pois somente assim vocês terão condição de desenvolverem a sabedoria: o divino sentimento imprescindível para a evolução e que se desenvolve com muito mais naturalidade se houver a prática da oração.
─ Que Tupã-Nosso-Pai abençoe a todos vocês!
E eu que ali desdobrado estava em tarefa de aprendizado, já com o coração transformado por palavras tão lindas, só pude responder em conjunto com toda a assistência e corpo mediúnico: “ Que assim seja!” 


Mensagem do Sr. Caboclo Ubirajara recebida por Pedro Rangel por autorização do Sr. Caboclo Miracy


quarta-feira, 29 de setembro de 2010

MULHER INVISÍVEL

 Mensagem da Sra. Pomba-Gira Sete Rosas 


Maria era possuidora de uma beleza raríssima, sendo provavelmente um dos mais belos seres humanos já criados por Deus.
Ela caminhava a passos rápidos por uma das ruas que margeavam a beira-mar na bela cidade de Vitória.
Já era noitinha e ela precisava retornar ao lar para tomar um bom banho antes de ir para a faculdade.
Chegando às proximidades do portão de entrada da sua residência Maria avistou uma senhora maltrapilha e com vestes mal cheirosas. Esta senhora aproximou-se dela e pediu um trocado para inteirar um valor a fim de comprar uma passagem de volta ao seu lugar de origem.
Maria então retirou do bolso uma nota em dinheiro e entregou à senhora, sendo agradecida por esta de maneira bastante calorosa.
Algumas horas depois Maria já estava retornando com o seu automóvel da faculdade para a casa quando, em um destes semáforos da vida, um homem apareceu à janela do seu veiculo pedindo dinheiro para se alimentar com alguma coisa.
Ela, assim, olhou para o lanche que havia comprado na cantina da faculdade e depositado no banco do carona e, sem pensar duas vezes, entregou-o ao homem dizendo:
— Dinheiro eu não tenho, mas o senhor aceita este lanche?
— Mas é claro dona, quem tá com fome não escolhe o que comer!!! Muito obrigado!!! Obrigado mesmo!!!
O sinal de trânsito abriu e Maria tornou a guiar o carro em direção a sua residência.
Chegando ao seu local de destino ela fez um mexido com as sobras do almoço, tomou uma ducha e foi dormir.
Maria dormiu e seu espírito desprendeu-se do invólucro carnal. Quem pudesse ver a sua fisionomia aparentando serenidade no corpo carnal não conseguiria acreditar que, em espírito, ela pudesse estar tão transtornada.
Maria chorava e chorava muito, chorava tanto que chegava a soluçar. Sentindo uma angústia terrível em seu intimo ela se pos a correr ritmadamente como se estivesse correndo em um calçadão a beira-mar.
Maria corria, corria e corria, mas alguma coisa estranha acontecia por que ela não conseguia se cansar e nem suar: o único líquido que escorria do seu corpo eram as lágrimas que desciam sem cessar dos canais lacrimais pertencentes aos seus belíssimos olhos azuis.
Maria não estava cansada de correr, mas estava cansada de chorar e talvez tenha sido justamente por isto que ela estancou os seus passos nas proximidades de uma encruzilhada.
As lagrimas ainda deslizavam desenfreadamente dos seus olhos quando ela avistou uma mulher ao longe que caminhava em sua direção. Maria achou curioso, mas a medida que a mulher se aproximava, as lágrimas começavam a diminuir dos seus próprios olhos na mesma proporção.
Quando estava a uma distância de três passos de Maria a mulher em questão perguntou a ela:
— Boa noite moça! Tudo bem?
Maria não soube o que responder, mas demonstrando honestidade, disse:
— Mais ou menos.
— É difícil ser invisível, não é?
— Você me desculpe discordar, mas penso que, talvez infelizmente, eu seja visível de uma maneira até exacerbada!!!
— A invisibilidade a tem feito sofrer bastante. No corpo de carne você até que consegue disfarçar bastante o seu sofrer, mas aqui neste plano o espírito não consegue usar máscaras de forma alguma.
— Máscara? Desculpe, mas não entendo nada do que você está me dizendo!
— Quando a mulher tem uma excessiva beleza física, como é o seu caso, é difícil fazer-se visível, não é verdade?
— Como assim?
— Os homens, que vivem no seu mundo cada vez mais materializado, não conseguem vê-la por que têm, de forma geral, os seus olhares fixos nos seus atributos físicos como se visibilidade fosse essencialmente questão de fartura de carnes bem distribuída ao longo da estrutura corpórea.
—Já as mulheres, geralmente, devido à intensa competitividade, não conseguem lhe ver como você realmente é pela excessiva fixação na sua beleza externa, fixação esta que por muitas vezes chega a ser maldosamente invejosa.
— Entendo o que você me diz.
— As belas mulheres geralmente têm que fazer um esforço terrível para que possam ser vistas pelos homens não por aquilo que têm como atributo físico, mas por aquilo que realmente são: simples, verdadeira e poderosamente mulheres.
Maria sentiu o coração bater descompassadamente quando ouviu aquelas palavras que tanto falavam verdadeiramente do que ia em seu intimo e procurou chorar, mas as lágrimas não vieram.
— Não adianta tentar produzir lágrimas dos seus olhos moça.
— Por que não?
— Por que a produção destas está momentaneamente desestimulada por mim.
— Isto que você me diz é estranho! Como assim?
— Estou aqui para estimular sua razão por meio da renovação de suas emoções.
— Desculpe, mas por quê?
— Para que os seus níveis de razão possam ficar equiparados aos níveis de emoção ou não é verdade que você está com o emocional instável?
— É verdade sim!
— Esta invisibilidade está ficando perigosa.
— Perigosa?
— Sim, Ela a está restringindo do seu convívio social, por que você não sabe se as pessoas se aproximam de você pelo seu interior ou pelo seu exterior.
— Eu só tenho atraído pessoas desagradáveis para a minha vida.
— Ultimamente você tem até mesmo considerado sua beleza física como uma maldição a cada vez que se olha no espelho.
— É verdade.
— A beleza é algo lindo de se ver, mas para se enxergá-la verdadeiramente é muito importante a religiosidade.
— Então quer dizer que terei de esperar que a religiosidade dos outros seja despertada afim de que, assim, eles vejam a mim verdadeiramente?
— Não, você terá somente que despertar a sua própria religiosidade.
— O despertar da religiosidade em mim fará com que os outros me vejam como sou? Não vejo como isso possa ser possível!!
— Eu sei que você conhece o significado do termo religião.
— Sei sim. Significa religar, tem a função de ligar o ser humano a Deus.
— Você sabe como o ser humano pode realizar este religar?
— Freqüentando uma religião?
— Não necessariamente.
— Então como?
— Amando ao Divino Criador acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.
— Fazendo isto eu deixarei de ser invisível aos olhos de todos?
— Você não é invisível aos olhos de Deus, mas a realização destas ações dará a você visibilidade aos olhos do próximo.
— Você me desculpe, mas será?
— Você quer mesmo descobrir?
— Com toda a certeza do meu coração!
— Eu lhe disse que desestimulei a produção de suas lágrimas, certo?
— Certo.
— Disse também que, aqui neste plano, a produção de lágrimas por suas glândulas está exacerbada por conta do desequilíbrio emocional dentro de ti que, por sua vez, é conseqüência de sua condição de invisibilidade aos olhos do próximo, correto?
— Correto.
— Então agora pedirei forças ao Divino Criador para fazer com que sua condição lacrimal volte a ficar como antes.
Assim, lagrimas incontidas, caudalosas e incessantes voltaram a brotar dos belíssimos olhos de Maria.
— Suas lágrimas estão rolando Maria; será que gestos caridosos podem fazer com que este fluxo lacrimal diminua? Se você quer de fato descobrir, então feche os olhos.
Maria obedeceu prontamente.
— Colocarei minha destra em sua fronte para permitir que você veja, com os olhos espirituais, os efeitos balsamizantes dos gestos de amor ao próximo.
E foi assim que Maria pôde ver o que pensou e sentiu tanto a senhora maltrapilha que estava de frente ao portão de sua casa quando recebeu um apoio financeiro para viajar, quanto o homem que dela recebeu um lanche saborosíssimo para aplacar sua fome.
Eram sentimentos de uma pungente gratidão associada à beleza física de Maria: “ Meu Deus o senhor fez este anjo tão lindo de sua criação de forma perfeita, por que se ela é linda por fora, também é belíssima por dentro!!! Obrigado por sua bondade meu Deus!!! Guie os passos desta moça pelos caminhos da bondade onde quer que ela vá!!!”
A moça tirou a mão direita da testa de Maria e as visões cessaram com este gesto; Maria então abriu os olhos e, surpresa, descobriu que as lágrimas haviam cessado de seus olhos. A moça, então, disse a ela:
— E então, você foi invisível aos olhos destas duas pessoas que a misericórdia divina lhe permitiu auxiliar?
— Não, de forma alguma!
— Reconhecer-se como verdadeiramente visível aos olhos do próximo, mostrando sua beleza interior, trouxe paz ao seu emocional e fez com que as lágrimas cessassem.
— É verdade, mas eu não precisei estar como membro de nenhuma religião para poder praticar tais gestos.
— E, como lhe disse antes, isto não é obrigatório.
— Por quê?
— Por que pertencer a alguma religião não faz necessariamente com que um ser humano ame ao próximo como a si mesmo, pois é a essência divina dentro dele que faz com que este gesto seja possível; entretanto, à medida que esta essência vai se ligando mais fortemente ao Divino Criador este gesto vai sendo cada vez mais praticado de forma natural como, aliás, deve realmente ser praticado. A religião torna a religiosidade mais prática e funcional.
— Prática e funcional?
— Sim! Você dedica um tempo da sua vida para dormir e se alimentar?
— Sim!
— Para higiene, estudo e lazer?
— Sim!
— E para realizar gestos sistemáticos que demonstre o seu amor a Deus e ao próximo?
— Agora entendi o que você quer me dizer.
— A religiosidade não está somente dentro de uma casa de religião, mas esta ajuda a desenvolver aquela de maneira impar.
— Entendo.
— Buscando desenvolver sua religiosidade você ganhará a visibilidade que traz paz e reconforto, atraindo para si pessoas que possam vê-la como verdadeiramente é.
— Entendo.
— E é assim, de caridade em caridade, que você há de encontrar, quando for da sua hora e merecimento, homens que a verão essencialmente com os olhos do espírito, com a visão do genuíno amor.
— Nossa você me emociona falando assim!
— Procure ao senhor teu Deus e a Sua obra que todas as demais coisas vos serão acrescentadas.
— Puxa, mas você fala desta questão da invisibilidade feminina com tanta propriedade que me faz até pensar se você também não é uma mulher invisível!!!
— Sim moça! Eu, assim como você, também sou uma mulher invisível.
— Olha, em termos de beleza física, eu sinceramente não sou nada perto de você: a tua cintura consegue ser mais afinada que a minha: teus cabelos negro, sedosos, ondulados fazem com que eu me sinta calva; tuas roupas são de uma beleza que nunca pude encontrar em minha vida e o seu rosto, com destaque para teus olhos fascinantes, misteriosos, e insondáveis, parece que foi minuciosamente criado por Deus.
Será que eu poderia saber o que há para ser trabalhado dentro de ti para que o ser humano possa enxergá-la verdadeiramente?
— Olha moça perfeito mesmo só Deus, mas não é por nenhuma imperfeição minha que grande parte dos seres humanos não me vê como realmente sou.
— Verdade?
— Certamente.
— Então isto se dá assim por quê?
— Primeiramente por que cada um só dá do que tem para oferecer.
— Como assim? Do que você está falando?
— Dos sentimentos das pessoas que vivem a atacar a religião que servimos e a nós por meio do desconhecimento, despropósito e desrespeito.
— Verdade?
— Sim. Muitos dizem que somos mulher de sete maridos, que servimos para desfazer matrimônios, promover adultérios, induzir a prostituição, amarrar sexualmente uma pessoa a outra e muitas outras barbaridades que prefiro nem falar!
— Credo, mas isso é muito triste!!!
— Não moça, triste mesmo é ver centenas e centenas de pessoas que se dizem pertencentes à religião que servimos falarem, elas próprias, que fazemos tudo isto que a Lei Maior, a Justiça Divina, nosso estado consciencial e evolução espiritual não nos permitem realizar.
— Todos os conselhos, assertivas e apontamentos que ouvi de ti esta noite fazem com que eu tenha a plena convicção de que você não faz nada destes absurdos que lhe querem atribuir.
— Fico integralmente feliz e satisfeita moça!
— E eu poderia saber o por quê?
— Por você ser mais um espírito esclarecido e menos ignorante sobre nossas atribuições que são essencialmente estimuladoras não do ódio, da separação e da discórdia, mas da renovação de todo sentimento de amor virtuoso aos olhos do Divino Criador.
— Puxa, você me auxiliou tanto consciencialmente para que eu venha a sair da minha condição de invisibilidade que eu gostaria de poder fazer o mesmo por você! Teria como?
— Certamente.
— Verdade? E o que eu poderia fazer?
— Fale sempre o que você escutou sobre nós a toda pessoa que se mostrar aberta a nos conhecer como realmente somos.
— Por que você vem falando tanto em “nós”, se eu só estou vendo você!
— Você só vê a mim, mas saiba que represento uma coletividade!
— Mas eu poderia saber quem é você?
— Na religião que servimos, a Umbanda, não existe o “eu”, então eu só posso falar de nós: Nós somos uma parte da luz de Deus que ilumina as trevas, somos a sexualidade divinamente aplicada, somos mantenedoras do relacionamento sexual sadio e fraterno, nós somos amor, somos mulher, somos pomba-giras.


Mensagem recebida por Pedro Rangel


segunda-feira, 2 de agosto de 2010

AMARRAÇÃO???



Josué jamais pisara em um terreiro de umbanda, mas o seu sofrimento estava sendo sentido de uma maneira tão imensa e perturbadora que o desejo de alcançar um alívio para sua dor tornou-se muito maior do que o temor pelo desconhecido.
E é assim que podemos percebê-lo, em uma noite de sexta-feira, a estacionar o seu automóvel em frente daquele pronto-socorro espiritual de nome: CASA DE UMBANDA NOSSA SENHORA DA LUZ.
Josué entrou no terreiro, fez o seu cadastro, pegou sua ficha de atendimento e sentou-se no banco da assistência aguardando sua vez de ser atendido.
Ele ficava a olhar àquelas entidades com semblantes firmes e charuto na mão a realizarem suas tarefas sem nada entender de todo aquele estalar de dedos; ainda assim, a medida que o tempo foi passando ele começou a sentir um que de familiaridade com tudo aquilo que não sabia explicar.
Uma cambone chamou o seu nome: seria a sua vez de ser assistido.
Ao colocar os seus pés na área espiritual daquele terreiro uma emoção incontida tomou conta de todo o ser de Josué de tal forma que quando ele se sentou na frente da entidade esta só lhe disse:
— Dá cá um abraço nessa véia zifio!!! Faz tempo que Nêga tá te esperando!!!
Josué, sem nada entender, mas sentindo todo o seu intimo em comunhão com aquela entidade, abraçou-a emocionadamente. Lágrimas incontidas e fartas desciam da sua face: era como se estivesse matando saudades de uma amiga de longa data.
A entidade aguardou que ele serenasse as emoções e só então lhe disse:
— Suncê veio aqui fazer amarração não é zifio?
— É sim vovó, seria possível?
— Claro que sim zifio! Nêga precisa mesmo fazer uma demonstração de amarração que faça suncê realmente feliz.
— Obrigado vovó!!! Eu preciso mesmo que a minha ex-noiva seja amarrada a mim por que eu tenho que casar-me com ela de qualquer forma!
— Zifio, este é um tipo de amarração que só traz tristezas e aborrecimentos para suncês.
— Não entendi vovó!
— Suncê quer mesmo entender zifio?
— Sim senhora!
— Então feche os olhos e concentre-se por que já está na hora de suncê ver algumas coisas importantes para o seu crescimento interior.
Ele fechou os olhos e a entidade colocou a destra na região correspondente ao terceiro olho. Depois de alguns instantes, e após remover a destra, a entidade perguntou a Josué:
— E então zifio o que suncê viu?
— Eu vi três seres com olhar duro e energia altamente libidinosa.
— Suncê ainda continua a ver eles?
— Continuo, só não sei onde estão.
— Não se preocupe com isto!!! Apenas continue a observá-los e diz pra Nêga se em instantes suncê não ficará terrivelmente excitado.
— Deus do céu que terrível!!!
— São pensamentos poderosíssimos que evocam sensual e fortemente a lembrança de sua ex-noiva, não é verdade zifio?
— É verdade!!! Mas como é possível? Como a senhora poderia adivinhar?
— Zifio, não se preocupe por que neste instante estes três seres acabaram de ser aprisionados pelos manos Exus.
— Exus?
— Sim, são espíritos que trabalham por Deus nas trevas.
— Mas por que os Exus os aprisionaram?
— Para que deixassem de amarrar a sua vida.
— Amarrar a minha vida?
— É zifio! Ou não é verdade que sua ex-noiva terminou o relacionamento com suncê a três semanas?
— É verdade.
— Também não é verdade que desde quando isto aconteceu suncê não consegue ter mais paz de tanto que pensa nela?
— Deus, é verdade!!!
— Também não é verdade que foi toda esta ausência de paz que fez com que suncê viesse até aqui pedir pra Nêga amarrar esta filha a suncê, a fim de suncê ter paz?
— É verdade! Mas penso que toda esta lembrança que eu tenho dela é derivada do amor que devoto a ela.
— Amor???
— É !
— Hahahahahhahahahahaha!!!
— Por que a senhora ri?
— Isto num é amor zifio!
— O que é então?
— Efeito de um forte feitiço que a sua ex-noiva preparou para suncê há três anos, quando suncês fizeram três meses de namoro.
— Ah é?
— Sim zifio!
— Mas se ela chegou a fazer isto é por que ela tem amor por mim!
— Amor???
— É!
— Hahahahahhahahahahaha!!!
— Por que a senhora continua a sorrir vovó?
— O amor que esta filha tinha era por seu dinheiro, seus bens, seu carro do ano!
— Mas se isto é assim, por que então ela resolveu me deixar?
— Por que a filha arranjou alguém com muito mais dinheiro e bens materiais que suncê!
— Nossa, a senhora está sendo tão dura!
— Não zifio!!! Duro é o coração de suncês neste mundo de terra que vive a querer procurar felicidade na matéria perecível!
— Mas minha ex-noiva não é matéria perecível, é um ser humano e eu a amo!
— Quanto suncê a ama zifio?
— Eu a amo tanto que seria incapaz de viver sem ela.
— Então suncê não a ama, suncê foi viciado a ela!!!
— Como?
— Amar é querer bem ao próximo zifio!!! Amar é não fazer ao próximo aquilo que não gostaríamos que ele nos fizesse!!! Amar é torcer incondicionalmente pela felicidade do outro, mesmo que ele não esteja conosco!!! Suncê está é viciado zifio!!! Suncê tá amarrado e seu chacra genésico absurdamente desequilibrado!
— Vovó, mas eu não consigo ter paz! Não consigo parar de pensar nela!
— Isto por que suncê tá magiado zifio!!!
— Vovó eu gostaria tanto de acreditar nisso que a senhora me fala, pois ai seria muito mais fácil para eu esquecê-la! A senhora poderia me dar alguma prova de que o que me diz é verdade?
— Zifio, Nêga vai lhe dar esta prova não por que suncê quer ou pelo querer de Nêga, mas por determinação da Lei Divina.
— Sim senhora.
— A prova é a seguinte: quando suncês fizeram três meses de namoro seus pais ofereceram um almoço para ela lá na casa de suncês, certo?
— É incrível como a senhora sabe destas coisas!
— No dia posterior a este almoço suncê deu por falta de uma das suas peças intimas, não é verdade?
— Meu Deus, eu me lembro, é verdade!!!
— Nêga precisa dizer mais alguma coisa?
— Não senhora!
— Suncê quer ser desamarrado ou quer continuar sofrendo?
— Mas a senhora disse que iria fazer uma amarração para mim e eu pensei....
— ....Um passo de cada vez, né zifio?
— A senhora tem razão!
— Suncê quer ser desamarrado?
— Sim senhora!
— Então feche os seus olhos!
Minutos depois a entidade disse a Josué:
— Pronto zifio, pela graça de Deus suncê tá desamarrado no amor!
— Puxa, obrigado!
— Como é que suncê tá se sentindo?
— Meu pensamento parece que está mais livre, um peso saiu das minhas costas e parece até mentira mas....
—....suncê num tá nem pensado mais em sua ex-noiva com todo aquele ardor terrível, não é?
— É verdade e isto é incrível por que não tem nem três minutos que a senhora me “desamarrou”.
— Zifio,nas forças de Deus, a cada dia suncê há de se sentir cada vez mais livre.
— Se Deus quiser!
— Zifio?
— Diga vovó!
— É que todo este pesar que suncê estava sentindo foi causado por uma amarração que aquela zifia lhe fez.
— É verdade!
— Suncê viu o quanto que suncê sofreu?
— Vi sim senhora!
— E então, mesmo assim, suncê vai querer fazer uma amarração pra ela?
— Não senhora, pensando melhor, eu quero mais é ser feliz!!!
— Nêga fica feliz por suncê zifio!
— Por que vovó?
— Por que se suncê quisesse fazer uma amarração, Nêga não ia poder!
— Ah é? Por quê?
— Por que este templo religioso em que suncê ta na noite de hoje é uma casa de Umbanda.
— Como?
— Umbanda é religião zifio, então num tem como nóis, que suncês chamam de entidades, fazer o mal a quem quer que seja!!!
— Mas assim que eu me sentei de frente a senhora, você disse que iria fazer uma amarração para mim, não estou entendendo!
— Hahahahahhahahahaha!!!
A entidade amiga sorria a valer enquanto piscava o olho para sua cambone e foi quando Josué perguntou:
— Por que a senhora está sorrindo vovó?
— Por que suncê num entendeu Nêga zifio!
— Entendi sim vovó! A senhora disse que faria uma amarração!
— Não zifio, é que Nêga fala tudo embolado! Nêga disse que faria para suncê uma demonstração de “amar é ação”.
— “Amar é ação”???
— É zifio, quem ama deve agir para demonstrar este amor; senão como a outra pessoa vai saber que é amada?
— Mas como na noite de hoje a senhora demonstrou que “amar é ação”?
— Ora zifio, quando nóis trabalhou com suncê para limpar magia negra, não foi demonstração de como colocar o amor ensinado pelo cristo em ação?
— Sim senhora!
— Quando suncê disse que não gostaria de fazer amarração para sua ex-noiva também não colocou em prática este mesmo amor?
— Meu Deus, é verdade!!!
— Inclusive, quando suncê disse que não queria fazer uma amarração para sua ex-noiva um daqueles três espíritos que estavam aprisionados pelos Exus ficou tão surpreso e emocionado pela força do seu perdão após todo este tempo de sofrimento que o protetor espiritual que assiste a ele encontrou condições de libertá-lo e levá-lo para um local espiritualmente mais elevado.
— Meu Deus que lindo!!! Chego a emocionar-me em saber disto!!!
— Lindo é Deus zifio!!! Linda é a Umbanda!!!
— É realmente tão linda que, se a senhora consentir, eu gostaria imensamente de ser um membro desta religião e deste terreiro.
— Continue a freqüentar esta casa de caridade sentando na assistência e se familiarizando mais com a nossa forma de trabalho para que, em breve, suncê esteja de branco aqui dentro junto com nóis, certo zifio?
— Certo vovó, muito obrigado por tudo!!!
— Agradece a Nêga não zifio, pois ela é só mais uma preta-velha quimbandeira que trabalha para que a luz da Umbanda seja cada vez mais reluzente aos olhos e corações daqueles que se permitirem serem tocados pelos seus Sete Raios de Luz . Agradeça tão somente a Deus Nosso Pai!!!
— Sim senhora!
— Fique na força e na luz de Zambi Nosso Pai!!!
— Sempre com “amar é ação”, não é vovó?
— Sempre zifio!!!
— Então que assim seja!!!



Mensagem de uma Vovó Kimbandeira recebida por Pedro Rangel

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Os desígnios do amor



O que é amor?
Suncê já amou alguma vez?
Como começa o amor?
Estas três perguntas já se passaram na cabeça de muitos zifios com outras roupagens ou outras palavras.
O que é Deus?
Deus suncê não consegue enxergar, não consegue tocar, suncê acredita Nele?
Acontece que suncê pode sentir Deus, pois Ele pode te ver, te tocar e sempre vai te amar por que Deus é o amor mais puro que existe em todo o universo, é a força suprema de todo o mundo, é aquele que está sempre presente até quando suncê não acredita Nele, pois Deus é sabedoria....
Mas suncê deve de estar se perguntando por que não se falou de amor até agora e nem quais são os seus desígnios só que suncê está se esquecendo de uma coisa: se tudo aquilo que existe hoje nós podemos tocar, sentir e ver é por que Deus, de tão supremo que é, deu uma parte da sua essência para criar tudo o que existe, muito mais ofertou Jesus com todos os seus ensinamentos e exemplos para todos aqueles que precisavam se “redimir” dos seus pecados.
Suncê já entendeu o que é amor?
Então, se não entendeu, este preto-velho pode explicar: amor tem quatro letras e Deus tem quatro letras, então Deus é igual amor e amor é igual a Deus.
Agora suncê entendeu?
Se entendeu pode começar a praticar, se não entendeu eleve o seu pensamento a Deus para que possa sentir o que é o amor puro.
Que Deus abençoe todos aqueles que precisam e ainda não conseguiram sentir a magnificência do Seu amor, pois Zambi-Nosso-Pai em toda Sua bondade, sabedoria e amor nunca se esqueceu de nenhum dos seus filhos.
Desde o inicio de todos os tempos Zambi sempre se fez presente em todas as coisas criadas neste mundo de terra: do menor cisco de areia a árvore mais frondosa, do menor animal ao maior, da menor pedra até a maior montanha.
O amor está presente em todos os lugares a demonstrar a beleza da vida em toda sua plenitude.
Suncê já parou pra observar o nascimento de uma borboleta? As várias fases que a lagarta passa dentro do casulo até a abertura deste com a força da frágil asa da borboleta recém-nascida? A natureza é sábia, não é?
E se antes da metamorfose da lagarta em borboleta nós furássemos o casulo para tentar ajudá-la a sair de dentro dele o que aconteceria? Ela sairia com mais facilidade não é? Essa facilidade seria benéfica para a borboleta? Não zifio, esta facilidade não é benéfica para a borboleta!!! Pois a borboleta quando nasce precisa de asas fortes para voar e quando impomos a ela a facilidade do corte no seu casulo pensando que estamos ajudando, na verdade estamos atrapalhando, pois para ter asas fortes a borboleta precisa fazer força para sair de dentro do seu casulo, se não houver o esforço por parte da borboleta as asas dela serão fracas e não agüentarão o peso do próprio corpo impedindo-a de voar e fazendo com que morra de fome, pois ela precisa das asas fortes para poder voar até os lugares mais altos afim de encontrar o seu alimento.
Suncê já parou pra pensar que é igual a uma lagarta em metamorfose para virar borboleta?
A vida de suncês tem várias fases desde o nascimento ao desencarne e é necessário que em cada fase suncês vão quebrando os casulos das dificuldades e problemas que aparecerem na vida de suncês com resignação, sabedoria e humildade por que são estas dificuldades que fortalecerão as asas do espírito de suncês a voar para a próxima fase. E é assim, de fase em fase, que o espírito de suncês vai adquirindo força moral e sabedoria necessárias para fortalecer o par de asas que leva o espírito a angelitude: a asa do amor e a asa da razão.
Zifio,mas talvez até agora suncê deve de estar se perguntando: e o amor?
Suncê ainda não entendeu o que é o amor? Amor é vida, amor é plenitude.
O amor e seus desígnios, zifio, é tudo aquilo que suncê sentado na frente de um preto-velho pode sentir.
Qual é o amor maior? Não é o amor do pai pelo seu filho? Quem é o seu pai zifio?
Se suncê num sabe este preto-velho pede licença para dizer que é Zambi, O pai supremo que tem amor incondicional por todos os seus filhos.
Talvez, ainda assim, suncê até agora deve estar se perguntando: mas quais são os desígnios do amor?
Se suncê ainda não entendeu, então nêgo-véio também pede licença pra responder: é sua vida e tudo aquilo que está presente nela zifio.
Então zifio, agora que suncê sabe o que são os desígnios do amor é só fazer um bom proveito da oportunidade sagrada que é a sua existência.






Mensagem de um espírito amigo.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Oração como instrumento de cura – Parte Final

 Mensagem de um preto-velho canalizada por Pedro Rangel



Marineusa caminhava na direção do preto-velho com um sorriso que a fazia parecer a pessoa mais feliz de todo o mundo.
Ela fizera questão de chegar com bastante antecedência ao terreiro naquela noite com o objetivo de ser a primeira consulente com a entidade em questão: é que o tratamento a ela ministrado pelo preto-velho se encerraria ali, naquela noite e Marineusa estava bastante ansiosa para contar os ótimos resultados obtidos.
Após todo o ritual de abertura da gira chegar ao fim os atendimentos iriam começar e Marineusa foi chamada como a primeira assistência do referido preto-velho.
Ela adentrou a parte religiosa do terreiro e caminhou sorridente até a frente da entidade que, também sorrindo, disse-lhe:
— Pode sentar no toco zifia!
— Obrigado vovô!
— Como é bom sorrir, não é zifia?
— Demais!!!
— Mais bom do que sorrir, só quando a pessoa sorri entendendo verdadeiramente o por que do seu sorriso.
— É verdade!
— Graças a Zambi suncê descobriu zifia, e é por isto que este Nêgo está sorrindo junto com suncê, mas deixa esta prosa pra depois e conta pra Nêgo como foi o seu “conversê” com a filha Marineide.
— Sabe vovô, foi inacreditável!!! Eu roguei a Deus que me mostrasse a melhor forma de ter esta conversa com minha irmã e foi uma benção como tudo se resolveu.
Mostrando uma convincente surpresa, como se não fosse ele mesmo que houvesse atuado junto com outras entidades na resolução do problema de sua assistida pelos bastidores, foi que o pai-velho disse:
— Verdade zifia? Então sacia esta curiosidade de Nêgo e conta como foi porque Nêgo adora compartilhar alegrias.
— Foi assim vovô: certo dia, após minhas orações, senti um desejo incompreendido e muito forte de conversar com o esposo da Marineide sobre as dificuldades com minha mãe.
— Que bom zifia!
— Daí então eu fui até ele e perguntei se ele não poderia auxiliar a mamãe. Olha , falando assim parece até que foi fácil eu tomar esta decisão de procurá-lo, mas só que foi dureza vovô!!!
— Num tinha nem como deixar de ser, não é minha filha?
— É vovô por que a Marineide tem cinco anos de casada e sempre pintou o Paulo para mim como se ele fosse avarento, egoísta e mesquinho.
— Só que o que aparentava ser tinta-óleo pintada num quadro, na verdade era só tinta-guache que se desfez como mágica quando entrou em contato com a água cristalina que vem do poder de Deus: água que lava as mentiras, inverdades e incertezas.
— Pois é vovô e daí foi que o Paulo me disse que ele nunca, desde quando eles se casaram, deixou de passar uma boa quantia em dinheiro para que a Marineide me repassasse afim de que eu tivesse mais recursos para cuidar da mamãe, só que a Marineide não me repassava nada.
— E o que aconteceu depois zifia?
— Eu tive medo, mas enchi-me de fé e contei ao Paulo que os recursos financeiros que ele destinava para mamãe lamentavelmente não estavam chegando até ela.
— Suncê agiu certo zifia!
— O Paulo, mesmo sem ter motivos, desculpou-se comigo, pegou o numero da minha conta no banco e disse que mensalmente depositará a quantia citada anteriormente nesta conta.
— E depois zifia?
— Depois eu agradeci e já estava pronta para ir embora quando algo mais forte do que eu determinou que eu pedisse ao Paulo que não se desentendesse com a Marineide por conta do meu descuido.
— Verdade zifia?
— Verdade vovô! Algo mais forte do que eu me fez assumir a culpa pelo erro da Marineide e daí foi que eu disse a ele que houvera sido negligente até demais com toda a situação.
— E o que o zifio fez?
— O Paulo apenas deu um sorriso de muita sinceridade e, como ele não me pareceu uma pessoa desequilibrada eu acreditei na sinceridade daquele sorriso, despedi-me e fui embora.
— Suncê fez o mais correto zifia Marineusa e “coincidentemente”, três dias após este encontro, as suas dores na região estomacal desapareceram, não é?
— Foi sim vovô e este também é o motivo desta minha felicidade, mas vovô?
— Pode falar zifia!
— É que eu tenho uma curiosidade; na verdade é um quebra-cabeça em que eu não consigo encaixar as peças.
— Então mostra estas peças pra Nêgo zifia por que daí quem sabe nóis dois juntos num acaba conseguindo encaixar estas peças?
— Vovô, se eu não tinha nada no meu estômago por que eu sentia dores neste órgão?
— Zifia, primeiramente, este Nêgo Véio só tem a dizer que a dor não é ruim não! A dor, na medida em que é um sinal de alerta, também não é boa: a dor é ótima!
— Credo!!! Por que vovô?
— Por que é sinal de que algum órgão do corpo não está bem. Suncê já imaginou zifia, se suncês fossem incapazes de sentir dor, como suncês fariam para serem avisados não por exames médicos, mas pelos seus próprios órgãos de que eles não estão bem?
— É vovô, faz todo sentido.
— Antes de um órgão ser o porta-voz do desequilíbrio que um ser humano está causando a ele, suncês escutam esta advertência de muitos outros mensageiros de Zambi-Nosso-Pai: anjos da guarda, protetores, entre outros.
— É verdade vovô.
— Daí, quando se esgotam todos os recursos de advertência , o próprio órgão fala com suncês através da dor.
— Vovô, só uma coisa: o senhor falou do órgão como porta-voz da dor em sentido figurado, não foi?
— Filha, o corpo humano é formado por milhões de seres-vivos que são as células, que por sua vez agrupam-se formando tecidos e que formam os órgãos, que se agrupam formando os sistemas que, por sua vez, podem ser didaticamente agrupados para formarem a complexidade orgânica que é o ser humano.
— Ainda não entendi.
— O estômago, por exemplo: quando ele dói é por que está sendo porta-voz das células estomacais, da mucosa gástrica, do suco gástrico, da cárdia, do piloro; enfim, de tudo que é pertinente a este órgão.
— Nossa, que análise incrível de fisiologia!
— Então zifia, quando Nêgo Véio falou com suncê que o órgão é porta-voz da dor foi no sentido real: ele é o porta-voz das células e dos tecidos.
— É verdade vovô.
— Nêgo Véio está falando estas palavras com suncê por que sabe que suncê faz “estudadô” para poder auxiliar aos médicos, não é isso?
— É. Estou no meu último ano do curso de Técnica em Enfermagem.
— Então, suncê devido a estes estudos consegue entender estes termos médicos que Nêgo Véio está falando.
— Entendo sim senhor. Só que o senhor está falando de problemas nos órgãos físicos, o que não era a causa da minha dor como o senhor mesmo me disse anteriormente.
— E suncê acha que o órgão perispiritual tem a fisiologia diferente do órgão carnal?
— Órgão perispiritual?
— Todo espírito encarnado tem uma “cópia espiritual” do corpo físico denominada perispirito.
— Então o meu estômago perispiritual estava com problemas,é isso?
— Exatamente zifia Marineusa. Suncê alimentou ele muito mal, engolindo inadvertidamente todo o descaso que sua irmã lhe ofertava nos cuidados com sua mãezinha.
— Deus do céu!
— Os seus protetores pediram que suncê não aceitasse mais este tipo de alimento tão ácido e prejudicial a saúde dos seus órgãos, mas só que suncê não os escutava.
— É verdade!
— E eis que apareceu a bendita e sagrada dor como porta-voz do seu estômago perispiritual.
— Meu Deus vovô, agora eu compreendi tudo!
— Entendeu mesmo zifia?
— Olha vovô depois das nossas conversas anteriores eu comecei a pensar que se eu estava com dores na região do estômago é por que eu estava com algum problema.
— Isto mesmo zifia.
— Pensei também que se os exames médicos não detectaram nenhum distúrbio no estômago era porque minha alimentação não estava incorreta.
— Raciocínio correto zifia.
— Daí eu conclui que se o problema não estava no plano físico, só poderia estar no espiritual e que eu mesmo o teria provocado.
— Muito boa lógica zifia Marineusa.
— Daí, apartir desta conclusão que tirei, eu comecei a fazer preces pedindo a Deus que me ajudasse a resolver este problema causado por mim, ainda que eu não soubesse qual seria este.
— E foi daí, num é zifia, que suncê descobriu a oração com santo remédio.
— Desculpe, mas como é vovô?
— Oração como santo remédio não é só pedir cura a Deus, mas também pedir a Ele que auxilie suncês a encontrar a razão destas dores terem sido geradas em suncês.
— Deus, que coisa mais linda!!!
— Suncê descobriu a oração como santo remédio e só assim, com o medicamento mais adequado para o tratamento da sua moléstia prescrito por Zambi, foi que suncê pôde tornar-se ótima enfermeira de si mesma,de sua própria dor.
— É verdade vovô!
— E toda esta benção só pôde ser recebida a partir de quando zifia?
— Quando?
— É zifia!
— Não me recordo vovô!
— Então Nêgo ajuda suncê a lembrar: desde quando suncê entendeu que a onisciência, onipresença e onipotência de Zambi não eximia, não exime e jamais eximirá suncê de abrir o seu espírito, o seu coração e a sua consciência para Ele no momento da prece.
— Estou entendendo.
— Suncê agindo assim libertou o seu espírito de pensamentos formatados pelos julgamentos de valor.
— Como assim?
— Suncê desde criança se permitiu ser menosprezada por sua irmã: se achava menos inteligente, menos bonita e menos capaz.
— É verdade.
— Suncê cresceu fisicamente, tornou-se adulta.
— É verdade.
— Mas o seu sentimento em relação a sua irmã continuou o mesmo: inferiorizado.
— É verdade.
— Reconhecer a onipotência, a onisciência e a onipresença de Deus é uma desculpa muito utilizada pelos seres humanos para que não busquem desenvolver a prática das orações enquanto santo remédio, por que se Ele é Todo-Poderoso, pra que rezar?
— É verdade.
— Mas na verdade filha, cada um destes zifios que assim procedem tem o espírito preso na formatação dos julgamentos de valor.
— Entendo.
— No seu caso era o seu sentimento de inferioridade em relação a sua irmã, como se só ela merecesse ser feliz e suncê não, como se Zambi só quisesse pra suncê as dores.
— Meu Deus é verdade! Era assim que eu raciocinava mesmo!!!
— Muitos zifios neste mundo de terra não sabem o quanto seriam abençoados se realizassem a oração como santo remédio: doenças seriam curadas, sofrimentos seriam sanados, lágrimas seriam enxugadas e consciências seriam esclarecidas.
— É verdade vovô!
— Zifia, Nêgo está vendo que suncê não tem mais nada a dizer.
— É verdade vovô.
— Mas antes de liberar suncê Nêgo pode pedir um favor?
— Claro vovô!!! Com certeza!!!
— Zifia, toda vez que uma pessoa que estiver com problemas chegar até suncê para pedir ajuda, suncê pode falar pra esta pessoa sobre os benefícios de se buscar a oração enquanto santo remédio e da importância da busca desta descoberta?
— Com certeza vovô!
— Suncê fez a oração enquanto remédio e a luz do sol banhou o seu espírito, refletindo neste sorriso lindo que está no seu rosto.
Os olhos de Marineusa marejaram de agradecimento a Deus, mas a entidade prosseguiu:
— Nunca permita que nenhuma situação, pessoa ou suncê mesma possa retirar esta luz do seu espírito e este sorriso dos seus lábios!!! Vá na força e na luz de Zambi-Nosso-Pai!!!
— Que assim seja!!!



Fim