quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

A VIAGEM





Estava diante de um hospital. Na realidade acabara de ser colocado na porta de entrada de um hospital.
Não sei por que havia sido levado até ali, mas alguma coisa moveu toda minha vontade para adentrar o mesmo e assim eu fiz.
Não entendia muito bem o que estava acontecendo, mas sentia como se alguém guiasse os meus passos.
Eu queria parar de andar para raciocinar um pouco sobre o que ocorria, mas estava tomado por uma determinação muito grande dentro de mim e por ela fui impelido a continuar andando.
Quando cheguei  frente à porta do apartamento 156 alguém determinou que eu parasse e obedeci prontamente.
Parei e nem tive muito tempo de pensar no motivo por que senti alguém tocar-me no ombro, por trás. Era um homem de estatura mediana, calvo, magro, olheiras profundas e aparência bem debilitada que disse a mim:
— Ajude-me!
Eu só o respondi:
— Senhor?
— Ajude-me, por favor!
Procurei mentalizar em quem me levara até ali para entender qual procedimento tomar, mas não obtive resposta. O homem pediu-me novamente:
— Ajude-me!
— Como poderia ajudá-lo?
— Não sei! Só me pediram para vir procurá-lo.
— Quem pediu?
— Ajude-me!
—Senhor?
— Ajude-me, por favor!
Pensei: o jeito vai ser rezar um Pai-Nosso e uma Ave-Maria para ver se ajudo este homem. Assim eu fiz, mas ele prosseguia em minha frente a pedir ajuda.
Comecei a pensar que estava em algum tipo de pesadelo e pedi licença por alguns instantes; no entanto, a minha intenção era seguir andando em direção à porta de entrada do hospital para fugir daquela situação.
Contudo, ao chegar em frente do local desejado, observei que a cruz vermelha pintada na porta brilhava como se possuísse vida própria; então, imediatamente lembrei-me de um mistério de Obaluayê: o mistério das passagens!
Percebi que o pedido de ajuda poderia estar relacionado com este fato e retornei para frente do apartamento 156.
O homem que solicitava ajuda tinha os olhos banhados por lágrimas, mas, ainda assim continuava a pedir socorro.
Olhei profundamente nos olhos do transtornado homem e perguntei:
— O senhor precisa de ajuda com espíritos desencarnados?
— Espíritos? Isto é coisa do demônio! Você tem parte com o demônio?
Tornei a pensar que estava em um pesadelo, pois não entendia o que ocorria, no entanto, voltei a olhar nos olhos do homem e disse:
— Não senhor! Não tenho parte com nenhum demônio!
— Ah bom, por que preciso de ajuda, só que não estou tão desesperado assim! Quando morrer não quero ir para o inferno!
Parei de pensar que estava louco por que não sou louco! Se estava ali havia alguma finalidade e se não sabia qual Deus, onisciente, com certeza saberia.
Tornei a fechar os olhos e rezei novo Pai-Nosso e nova Ave-Maria só que desta vez sem o sentimento de querer livrar-me de um incômodo: meu pensamento era só ajudar por que o homem precisava e pedia por ajuda.
Ao descerrar os olhos o homem ainda estava à minha frente pedindo ajuda. Assustei-me com a situação, mas procurei manter a serenidade de minhas emoções.
Alguém, enfim, disse em minha mente:
— O que você viu, seu coração sentiu. Siga o seu coração e faça o que tem de fazer!
— Como assim?
Um silêncio interminável e incompreensível foi a resposta , então eu me pus a pensar: “ A única coisa que vi e que mexeu com o meu coração foi o estranho brilho na cruz da porta de entrada do hospital e que me remeteu à Obaluayê, sendo assim...... Já sei, acho que entendi! Obrigado meu Deus!!!”
Ajoelhei-me no corredor do hospital e procurei fazer o que sentia que deveria ser feito. Poucos instantes depois um portal luminoso abriu-se diante de mim e de dentro dele saíram dois seres que emocionavam todo o meu ser tamanha era a vibração de amor irradiada por eles.
O senhor que estava a me pedir ajuda, quando viu estes seres, exclamou:
― Deus é fiel! Obrigado pelo  arrebatamento meu pai! Os senhores são anjos que aqui estão por parte do Alto do Altíssimo?
Sorrindo eles responderam que sim e o homem, assim, fez outra pergunta:
― Os senhores vão me levar para me mostrar como é o céu?
Sorrindo, outra vez, eles responderam que sim e, instantes depois, todos atravessaram o portal que se fechou por detrás deles.
Alguém, então, tornou a dizer-me mentalmente:
― Aprendeu filho?
― Sinceramente não! Não existe aprendizado sem entendimento e eu não entendi nada que aconteceu aqui!
― Se você quisesse, de fato, entender de maneira mais fácil, bastaria ter feito uma prece antes.
― Antes? Mas eu fiz preces e estou certo que o senhor viu estes momentos!
― Antes, filho!
― Antes? Como assim?
― De onde você veio antes de entrar neste hospital?
― Não sei!
― Pense Jorge, vamos!
― Não consigo recordar-me!
­― Você estava dormindo Jorge!
Estava dormindo, mas agora estou acordado, qual o problema? Não entendi a relação!
― Você não está acordado: está desdobrado, entretanto seu corpo físico está em repouso em seu leito lá no apartamento onde você mora!
― Como? Agora eu estou dormindo? Como isto é possível? Eu posso me tocar, sentir meu coração bater, como pode ser isto?
A porta do quarto 156 se abriu e de dentro dela saiu um médico com o semblante pesaroso; entretanto, quando a porta estava semi-aberta, Jorge viu o corpo do homem que lhe pedira ajuda anteriormente deitado em cima de uma cama.
― Está entendendo filho?
― Acho que agora tudo ficou claro: Deus me trouxe até este hospital para auxiliar no encaminhamento do espírito do senhor que aqui me pedia ajuda e que faleceu recentemente. È isto?
― Continue!
― O senhor recém-falecido não tem afinidade alguma com a teologia espírita e afins.
― Perfeitamente!
― Deus! Mas se o senhor houvesse aparecido antes e me esclarecido todas estas coisas eu não teria passado por tanta aflição! Por que o senhor não se apresentou antes, para ajudar-me?
― Se você souber que ao viajar para certa localidade deve levar quarenta peças de roupa e, no entanto, leva apenas vinte peças passando, por conta deste equivoco, por momentos de aflição durante a viagem, de quem é a responsabilidade pela aflição?
― Minha somente!
― Pois então, foi isto que você fez esta noite antes de dormir e tal é a justificativa para sua aflição.
― Ainda não consegui entender!
― As entidades do centro que você freqüenta já lhe explicaram sobre sua mediunidade, certo?
― Sobre o desdobramento a que posso ser submetido antes de dormir?
― Exato!
― Já sim senhor!
― E qual foi a principal recomendação das entidades a você?
― Rezar sempre e todas as noites antes de dormir, predispondo-me a servir aos desígnios divinos onde me for determinado.
― Você fez a prece esta noite, antes de dormir?
― Com certeza! Nunca deixo de fazer!
― Tem certeza?
― Bom ,na verdade posso ter dormido pouco antes do término da oração.
― Então, você acha que orou, ou não, antes de dormir?
― Orei pela metade.
― Tua viagem exigia quarenta peças de roupa e você só trouxe metade; sendo assim, só pôde receber exatamente do que trouxe como bagagem.
― É verdade!
 ― Jorge, Jorge, Jorge! Não olvide da importância de uma boa prece ao divino Criador antes do sono refazedor. Oração é sempre importante e não só por que você é portador desta forma de mediunidade, mas por que o senhor Jesus ensinou: “ Orai e vigiai “. Jamais se esqueça de que se cada um só dá do que tem, só poderá receber exatamente daquilo que ofertou.