segunda-feira, 1 de maio de 2023

O AMOR NA FORÇA DO TEMPO (momentos)

 

ÍNDICE:

 

Prefácio…………………………………………………...2

Prólogo……………………………………………………4

Capítulo I (momento de despertar)…………………....7

Capítulo II (momento no mar)…………………………12

Capítulo III (um momento no tempo)………………....29

Capítulo IV (um momento de contrariedade)………..38

Capítulo V (momento para Levy)……………………..41

Capítulo VI (momento para Lílian)……………………46

Capítulo VII (momento para Efram)…………………..54

Capítulo VIII (o primeiro momento da jornada)……...66

Capítulo IX (o segundo momento da jornada.............71

Capítulo X (a jornada em seu terceiro momento)…...73

Capítulo XI (o quarto momento da jornada)………….77

Capítulo XII (o quinto momento da jornada)…………84

Capítulo XIII (o sexto momento da jornada)…………95

Capítulo XIV (momento de considerações sobre a jornada)…..................................................................99

Capítulo XV (momento de travessia)………………..118

Capítulo XVI (momento de reflexão)………………...127

Capítulo XVII (momento para uma análise sobre o tempo)…………………..............................................137

Capítulo XVIII (momento para o perdão)…………....147

Capítulo XIX (momento para exercitar  amor)……...155

Capítulo XX (momento para a umbanda)…………...160

Capítulo XXI (momento para esclarecimentos)…….177

Capítulo XXII (momento de preparação para o reencontro)………….................................................183

Capítulo XXIII (momento para conhecer Lucas)…...188

Capítulo XXIV (momento para reflexões adicionais)195

Capítulo XXV (momento para rever o mar)…………209

Capítulo XXVI (momento para o reencontro)……….218

Capítulo XXVII (momento para mais um reencontro)………….................................................224

Capítulo XXVIII (momento para descobertas e autoconhecimento)………….....................................240

Momento para o e epílogo……………………………253

Posfácio………………………………………………...264

 

 

 




PREFÁCIO:

 

Segundo a definição gramatical, o momento é um espaço de tempo indeterminado, a ocasião precisa em que sucedem ou se dão certas circunstâncias.

Em uma só encarnação passamos por inúmeros momentos ordinários, corriqueiros como, por exemplo, a hora de dormir, acordar, alimentar-se, trabalhar, higienizar-se, sorrir, pensar, sentir e agir.

Ao contrário do que possa parecer numa primeira análise, estes momentos são muito importantes e essenciais para nossa sobrevivência e aprendizado sobre qual a melhor forma para realizá-los a fim de que possamos otimizá-los, ensiná-los e evoluírmos.

Na verdade, estes momentos, comuns, servem de ensaio, preparação a moldar a nossa forma de pensar, sentir e agir quando nos depararmos com outra forma de momento: àqueles extraordinários.

Momentos extraordinários são ocasiões oportunizadas para que possamos colocar em prática tudo o que aprendemos sobre o proceder ético para com Deus, nós próprios e o nosso próximo.

Ao nos depararmos com tais momentos, devemos refletir bastante e eticamente antes de agirmos, pois todas as ações que semearmos produzirão frutos que serão, obrigatoriamente e em tempo certo, coletados por seus semeadores.

A grande diferença reside no fato de que o tempo da semeadura é o agora, mas o da colheita não nos cabe determinar, pois pode ser em uma encarnação, duas, três, séculos, milênios ou pelo tempo determinado por Deus.


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Plantar as sementes do bem envolve disciplina, foco, amor e muita paciência. Quem as planta, começa a entender que a pressa não fará com que brotem ou frutifiquem mais rápido, então este semeador encontra condições de desenvolver e ampliar o divino sentimento da fé em Deus.

Assim, gradualmente, semear os grãos da caridade, do perdão, da alegria e da esperança, tornam-se momentos ordinários para eles, assim como dormir e acordar; todavia também os prepara para os momentos extraordinários e que são justamente àqueles que servem de teste para sabermos se, com Cristo e seus divinos mensageiros, estamos domando as nossas más tendências e agindo, para conosco mesmos e com o próximo, conforme a lei de amor ensinada pelo mestre Jesus.

Tudo o que, hoje, coletamos de felicidade foi exatamente resultado destas mesmas sementes, por nós plantadas, outrora e assim também o é com os grãos dos infortúnios semeados.

A história que veremos a seguir, assim como a nossa própria vida, foi feita de momentos.

O seu objetivo é exultarmos a importância de sermos usuários de todo o tempo que tivermos disponível para plantarmos os grãos do amor, pois a coleta das sementes plantadas e de natureza oposta a estas produzem dor, tristeza e remorsos que só poderão ser resgatados ao entendermos a importância da prática da lei de amor, ainda que somente pela força do tempo.

 

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 PRÓLOGO:

 

Desde a infância, sem que soubesse explicar, sempre me vi envolto em pensamentos e sentimentos que me provocavam profunda tristeza. Apenas o que eu conseguia reparar era que em certos momentos, ocasionalmente, minha mente vagava para um tempo que não sabia definir, mas que me provocava intenso contentamento, todavia, quando minha consciência retornava para o momento presente, todo este júbilo virava imenso pesar, não porque eu não fosse extremamente feliz com minha família na atual encarnação, mas porque aquele contentamento não seria possível reviver.

Passaram a infância e a adolescência com a ocorrência destes fenômenos, mas sem que eu conseguisse explicá-los.

Somente na juventude, ha cerca de vinte e cinco, trinta anos atrás foi que em certo dia, de repente, acordei sem nunca mais sentir a mórbida saudade e a posterior melancolia.

Nesta época eu praticamente não possuía conhecimento sobre a umbanda e pouquíssimo sabia sobre o espiritismo ou qualquer doutrina que trate das coisas do espírito.

Todavia sempre tive fé em Deus, assim, em um destes momentos em que rogava a Ele, por meio de preces, uma explicação para aquele mistério, fui espontaneamente agraciado com a informação de que, a partir daquele dia, eu ficara livre das recordações e da melancolia.

Não recebi muitas informações e acredito que não possuía condições para recebê-las na época, todavia fui esclarecido que havia sido abençoado e que somente deveria ser grato a Deus, pois apenas em tempo certo eu conseguiria entender o que houve.


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Dito isto, preciso ressalta que a história contida neste livro não diz respeito a minha pessoa, mas que, sem dúvidas, fez-me entender como ocorreu a benção recebida por mim há tanto tempo atrás.

Pois somente Deus e meus familiares mais próximos poderiam testificar o tamanho da benção por mim recebida devido as consequências benfazejas deste ato de misericórdia divina, porque foi como se o divino criador, curando algo que causava intenso sofrimento psíquico, houvesse libertado a mim de minha própria prisão.

Na realidade, poucos dias após a conclusão desta experiência, eu fui assistir a um filme de animação que se passava justamente no período da história antiga em que se passa parte de nossa história. Antes de seu término, sem que soubesse explicar, estava muito emocionado e sensível com toda uma história que eu já conhecia completamente, mas que naquele dia tocara profundamente em minha sensibilidade. Fiz uma prece rogando a Deus para que serenasse minhas emoções e Ele a atendeu, além disto, como uma graça divina, algum amigo espiritual disse:" não se preocupe com o ocorrido, um dia você a tudo entenderá".

Também é importante dizer que as informações contidas nesta história também vieram a esclarecer o extremo e intrigante fascínio e respeito que sempre despertou em mim a figura do grande legislador hebreu, desde a infância.

A respeito disto, inclusive, não haveria como não mencionar um embate de ideias travado com meu pai (que fora seminarista durante a adolescência), quando eu tinha apenas nove anos de idade, a respeito do libertador do povo hebreu.

O embate deu-se porque eu defendia, com todas as forcas de uma pueril argumentação, a ideia de que a missão do grande legislador hebreu fora muito mais difícil, penosa do que aquela realizada pelo mestre Jesus.

Em minha infante consciência havia a noção de que, por ser filho de Deus e um só com o pai, Jesus pouco sofrera por já saber tudo o que lhe aconteceria. 


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Foi assim que meu pai apresentou para mim toda a história da vida de Jesus, esclarecendo o fato de que ter a habilidade de conhecer o porvir não o eximia do sofrimento em constatar a intensidade da maldade presente entre os seres humanos. Enfim, orientou que eu procurasse conhecer, a fundo, a história de Jesus da mesma forma que eu conhecia a história de Moisés. Recordo que ele encerrou o dialogo dizendo: " Saia dos gibis e vá estudar um pouco mais a bíblia, então nos voltaremos a conversar".

Depois que estudei sobre a história de Jesus, não foi preciso retomar o diálogo com o meu pai, por que pude compreender o que ele antes explicara. Após tal leitura passei a refletir no tamanho do sofrimento e do exemplo, ofertado por Jesus, para que todos nós tivéssemos condições de buscar nos libertarmos do mal por meio da prática de seus luminosos ensinamentos: amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como ele nos amou.

Mais de uma década depois, quando já estudava os textos espiritas, foi que compreendi, de fato, o imenso amor de Jesus pela humanidade. Um amor tão intenso, impoluto, sublime que o levara a preparar-se por dez séculos a fim de que pudesse encarnar entre nós, seus irmãos de jornada.

Atualmente, eu tenho o discernimento entre a missão de Jesus e a do grande legislador hebreu, pois este conduziu todo um povo até a liberdade, enquanto Jesus veio a nos ensinar os procedimentos para que toda a humanidade possa alcançá-la: praticando a lei do amor, primeiramente a Deus, mas também em relação ao próximo.

Foi desta forma que, desde a infância, entendi a importância de amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. 

Já há muito tempo entendo que Jesus é incomparável, todavia o meu amor ao grande libertador do povo hebreu, nesta encarnação, jamais precisou ser ensinado, uma vez que era nato, profundo e potente. Era algo sobre o qual nunca consegui compreender até que Deus abençoou-me com o esclarecimento dos amigos do plano maior.

Que a leitura desta história, ocorrida entre vinte e cinco a trinta anos atrás, também possa abençoar a sua vida imensamente, da mesma forma que me abençoou e vem abençoando até os dias de hoje!

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CAPÍTULO I - MOMENTO DE DESPERTAR

 

Estava bastante sonolento antes de deitar, ainda assim, já acomodado na cama, realizei uma prece e, instantes após, adormeci. Eis que, talvez por minha consciência haver recém-despertado do estado de vigília, acabei por sentir-me um pouco entorpecido, mas avistei a presença de alguém que, de prontidão, me aguardava.

Era o irmão Erasmo que, nos últimos meses, vinha me acompanhando e orientando na preparação de trabalhos a serem futuramente realizados.
Ele explicara, anteriormente, trabalhar na umbanda sagrada pela falange dos marinheiros. Possuía estatura mediana, aparentava ser uma pessoa de meia-idade, tinha uma aparência agradável e uma forma bem direta de dialogar e passar informações. Ele aguardava meu desprendimento parcial do corpo físico.

Observando o estado de leve torpor em que me encontrava, Erasmo solicitou que eu fechasse os olhos e aplicou um passe energético em meu benefício.Tal procedimento fez com que, em poucos instantes, a tontura fosse definitivamente embora. Ele, então, disse a mim:

—  Ainda sem realizar plenamente as preces e meditações a que foi orientado proceder momentos antes de deitar-se para dormir, não é mesmo companheiro?

— Não tenho como negar, irmão Erasmo, eu realmente não agi conforme orientado.

— Companheiro, nem as vicissitudes da vida ou as atividades rotineiras devem impedir-lhe ou alterar o seu propósito de firmar suas orações a Deus e a seus mentores antes de deitar-se. Se você assim o fizer, não será necessário a aplicação de passes energéticos, em seu benefício, para aclarar a tua consciência quando momentaneamente te afastares do invólucro carnal. Compreenda que realizo este procedimento, a teu favor, porque assim sou ordenado por minha senhora; assim você precisa entender que o que faço é devido à necessidade da execução da tarefa, não por que tenha o dever automático de auxiliá-lo, ou por que me compadeça do entorpecimento causado por tua imprevidência, pois o mais importante é a tarefa, então executo o meu papel para ela poder ser devidamente realizada.


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Devo confessar que me encontrava intimamente desconcertado com aquelas ponderações que, ainda que tão diretas, eram plenamente necessárias e justas. Talvez aguardando o finalizar de minhas reflexões a respeito do que me dissera, Erasmo continuou, ao perceber que o objetivo fora alcançado:

—  Da mesma forma que eu, você também deveria executar corretamente a função que foi a ti, designada. Orar e meditar é custoso para você? Entenda que também é custoso para mim, ter de realizar tarefas que seriam perfeitamente dispensáveis se você agisse com correção antes de deitar-se para adormecer, pois, enquanto aqui estou ministrando-lhe passes e proferindo palavras para aguçar, em ti, o processo de autorreflexão, saiba que existem pessoas aguardando tua presença na realização da tarefa desta noite, entende? O lenitivo a estas pessoas está sendo adiado não por um motivo de força maior, mas pelo teu desleixo. Até percebo que se encontra envergonhado com o que lhe digo e a vergonha é um bom sinal, pois mostra arrependimento, contudo sem um desejo de mudança e uma vigorosa troca de atitude, ela pouco lhe será útil, compreende?

— Perfeitamente, irmão Erasmo, você tem toda a razão. Procurarei modificar meu padrão comportamental com mais afinco.

—  Espero que assim realmente o faça companheiro, pois é você que tem atrasado seu aperfeiçoamento mediúnico para a seara da caridade, mas dito isto, vamos trabalhar?

— Vamos! Procurarei dar o meu melhor para a execução da tarefa que me for designada.


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— E eu não tenho como esperar menos de você, mas vamos, pois, já é chegada a hora.

Tocando com a ponta do dedo indicador de cada uma de suas mãos nas laterais do meu crânio, ele determinou que eu fechasse os olhos e fixasse o pensamento no mar sagrado, então, em questão de instantes, fomos transportados para a orla de uma praia. Ele, então, disse:

—  A tua tarefa o aguarda, assim como o beneficiário da misericórdia divina. A depender de mim, primeiramente executaríamos a tarefa e, somente após, procuraria esclarecer teus questionamentos conforme tua capacidade de compreensão, todavia, como disse antes, sou servo leal de minha senhora e é ela quem lhe permite que o contrário seja realizado, assim peço-lhe que apresente sua dúvida, mas sem olvidar os necessitados das bênçãos divinas.

— Irmão Erasmo, gostaria de entender como pudemos parar aqui se não volitamos.

— Simples, companheiro: a mola motriz de nossa movimentação esta noite foi a força do pensamento direcionado. Este é um procedimento pouco mais complexo que a volitação, mas você sabe fazê-lo.

— Eu?

— Perfeitamente! Teu espírito imortal sabe, mas ele, formatado que está em tua atual encarnação, precisa ser trabalhado para plena execução de tal atividade; desta maneira, orando e meditando antes de adormecer, facilitará em muito tal trabalho.

— Da forma como fala, irmão Erasmo, tenho a impressão de que estou retardando, vigorosamente, o desenvolvimento do meu procedimento de aprendizagem extra-corpórea.


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— Correta está a tua observação, companheiro, mas não sinta pesar, pois o processo de mudança está em suas mãos e, se é possível mudança, para que mesmo serviria qualquer pesar, não é mesmo?

Fiquei tão impressionado com a lógica direta daquele revigorante pensamento que disse:

—  Você tem toda a razão, irmão Erasmo! Com fé em Deus, eu vou mudar!

— Isto companheiro! É assim que se fala e percebo, em ti, focos iniciais de um despertar consciencial, mas eis que é chegada a hora. Vamos trabalhar?

Sorri com a espontaneidade resoluta daquele chamamento e respondi-lhe, sincera, mas somente:

—  Vamos!

Ele, então, aproximou-se de alguns seres que pela vestimenta, magnetismo e postura militar deduzi serem guardiões. Na realidade, Erasmo conversava com um deles, àquele que, pela insígnia anexada ao uniforme, deduzi ser o líder daquela guarnição. Foi justamente ele que, empunhando a destra em riste, deu o comando para que cada um ficasse posicionado em realizar a tarefa que lhes cabia àquela noite. Retornando para perto de mim, ladeado a ele, disse-me Erasmo:

—  Minha tarefa, por hora, está cumprida. Deixarei você ao cargo do meu chefe, Exu da Praia.

Ele, então, estendeu-me a destra e eu devolvi o gesto, dizendo:

—  Obrigado por tudo!

Erasmo sorriu e, logo após, entrou mar adentro, desaparecendo em frente aos meus olhos. O guardião, então, posicionou-se à minha frente e, sem dizer ao menos uma palavra, passou a fitar-me incansavelmente. Minha primeira reação foi um frio na espinha, pois aqueles olhos negros e resolutos pareciam perscrutar os segredos de minha alma, mas não desviei o olhar já que aprendi que Exu não faz o mal, dai então, mentalmente, observei que o que ele sondava em mim, eram minhas limitações e imperfeições no que diz respeito à mediunidade e ao seu desenvolvimento; a seguir senti meu corpo mais leve como se algo negativo houvesse sido retirado de mim e, nesse momento, ele deu uma estrondosa gargalhada para continuar a olhar-me fixamente e foi assim que, olhando em seus olhos, vi refletidos os meus equívocos desleixados no campo mediúnico: cada um deles! O guardião então, sem tirar os olhos de minha direção, passou a balançar a cabeça negativamente como se quisesse trazer-me autorreflexão. Não saberia precisar por quanto tempo este procedimento ocorreu, mas observei que, ao terminar, sentia-me ainda mais leve. Então cheguei a conclusão que aquele guardião, muito possivelmente, estaria aplicando alguma forma de magia mental desvitalizadora para me descarregar de energias negativas, provenientes de minhas faltas no campo mediúnico, preparando-me, assim, para os trabalhos da noite.


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Enquanto refletia a respeito, o Exu deu outra sonora gargalhada e parou de balançar a cabeça para tornar a fitar-me, porém, desta vez, seu olhar tornou-se um espelho de todas as minhas intenções e propósitos positivos no que tange à mediunidade. Aquele olhar foi fazendo-me sentir empoderado, forte e capaz. A cabeça do Exu passou a balançar positivamente e aquela sensação positiva foi aumentando em meu ser até que meu corpo sacudiu-se todo, então o Exu da Praia deu mais uma gargalhada. Foi então que pensei compreender a atuação daquele ser: primeiramente, manipulando magísticamente o fator desvitalizador, ele me descarregara para a seguir e, já empregando o fator vitalizador, poder fortificar em mim os bons propósitos.

Devo dizer que aquela atuação revigorava e reverberava em mim profundo sentimento de gratidão a Deus e a toda falange dos guardiões. Ainda que silenciosamente, eu parecia escutar e compreender tudo aquilo que aquela entidade queria que eu entendesse através de seus gestos. Foi aí que ela, como confirmando minhas confabulações, tocou-me o ombro e disse:

— Quase tudo!! Hahahahahahaha!!!!

— Cabra!

— Sim, senhor Exu da Praia!

— Senhor só existe um e está no céu. Eu sou tratado enquanto Exu da Praia ou Exu.

— Perdão.

— Não há o que perdoar! Há o que se entender! Você compreendeu o que eu disse?

— Sim.

— Então está tudo certo. Cabra?

— Sim, Exu da Praia.

— Sua preparação ao trabalho terminou. Assuma-o!

— Perdão, mas como assim?

— Teu trabalho o aguarda. É só isso.

— Qual trabalho?

— Tudo o que precisava ser dito e feito, foi feito: agora é com você! Só devo recordá-lo de que tudo o que você necessita encontra-se dentro de você. Eu e meus companheiros aqui estamos apenas oferecendo suporte para que você tenha condições de fazer tudo o que precisa ser feito. Boa noite!

E, com aquela explicação, ele calou-se.

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CAPÍTULO II -  MOMENTO NO MAR

 

Honestamente? Não havia entendido nada. O irmão Erasmo dissera que eu fora levado até o local para, com Deus, tentar auxiliar uma pessoa. Não vou nem falar da minha sensação de incapacidade em poder auxiliar alguém com todas as minhas imperfeições, até mesmo por que, para que alguém pudesse ser ajudado, eu primeiramente deveria vê-lo, mas onde estaria tal pessoa? Percebi que o guardião continuava a ouvir mentalmente minhas dúvidas e inquietações, mas seu olhar firme e inabalável em direção ao mar fez-me recordar de que tal ordem a ele fora dada, ou seja, caberia a ele, tal qual a mim, apenas obedecê-la.

Desta forma, passei também a observar o rebentar das ondas na areia. Em seguida, aproximei-me mais da água, mas somente até onde ela cobrisse os meus pés à altura do tornozelo, fechei os olhos e passei a realizar uma atividade de relaxamento que, curiosamente, trouxe à minha consciência, ensinamento já aprendido anteriormente e relativo à necessidade de abrir-se para o sagrado antes da realização de qualquer procedimento magístico e/ou religioso em campos de força da natureza.

Assim, pude perceber consciencialmente encontrar-me diante do mar, este espaço tão sagrado, como se estivesse a lazer. Envergonhei-me de meus pensamentos e imediatamente ajoelhei-me ao solo. Recordando-me de lições anteriores, tracei pequena cruz na areia e então, já de olhos fechados, roguei ao divino criador que em mim, fossem encerrados todos os pensamentos e sentimentos mundanos em relação àquele ponto de forças da natureza para que, a partir daí, eu pudesse apenas sentir e vivenciar todo o aspecto religioso daquele local à qual fora levado para fazer o bem. 

Não sei dimensionar quanto tempo permaneci nesta rogativa a Deus. Só sei que, ao descerrar meus olhos e levantar-me, notei que o espaço físico era o mesmo, mas que eu conseguia observá-lo de uma forma completamente diferente. A lua estava cheia e, não sei por qual motivo, passei a fitá-la indefinidamente. O luar, parecia clarear não somente o meu duplo, mas todo o meu ser. Indefinida sensação de paz e bem-estar inundou todo o meu interior. Aquele rastro de luz dourada refletido no sereno mar parecia como que trazer, do Alto, renovadas vibrações de força e esperança.


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Inundado por aquele amor divino, tornei a fechar os olhos e realizei sentida prece de gratidão ao Criador por estar vivenciando tal momento.


Sentindo-me completamente renovado, voltei a abrir os olhos e me virei de modo a retornar para próximo do guardião, no local onde anteriormente estava, todavia o que avistei estancou-me o passo, pois pude observar que um homem, de aproximadamente trinta e cinco anos e ligado a um cordão fluídico prateado, estava sentado em uma cadeira próximo de onde eu anteriormente me encontrava.

Não entendi como aquela pessoa aparecera ali e só pude concluir tratar-se de quem eu deveria procurar auxiliar naquela noite. Respirei profundamente em gratidão ao divino criador pela oportunidade de trabalho e aproximei-me da pessoa em questão, todavia enquanto andava em direção a ela, notei estranhamente que ela parecia não conseguir enxergar a mim e pude comprovar minha dedução quando, já de frente para ela, constatei ignorar minha presença.

Pensei bastante para tentar entender a razão daquela situação, já que o guardião ainda em nada deveria auxiliar-me, e só pude chegar a conclusão de que nossos níveis conscienciais estavam tão diversos que eu, vibratoriamente, estava invisível para ele.

Para que ele pudesse me ver, eu deveria densificar minha energia até que me tornasse perceptível. A grande questão é que eu não tinha a menor noção de como agir para transformar meus pensamentos em realidade. 

Olhei para o Exu da Praia e perguntei se ele não poderia ajudar, pelo menos, uma última vez, no que tive como resposta apenas o eco do que ele falara a mim anteriormente: a resposta está dentro de você.

Ocorre que dentro de mim, havia pensamentos que me fizeram chegar àquela conclusão a respeito do fato que ocorria, mas eu nunca recebi uma orientação sobre como proceder para resolver o impasse.


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Olhei para a lua cheia no firmamento e tal beleza, por um instante, parecia até mesmo haver levado a ansiedade de minhas preocupações. Pensei, pensei e pensei, mas intui que não chegaria até a resposta da equação somente pela razão, pela lógica, afinal, eu poderia até não saber, mas Deus, que sabe de todas as coisas, poderia intuir-me sobre como deveria agir para conseguir fazer o bem ao próximo. Ajoelhei-me ao lado do homem e, de joelhos, fiz uma prece ao divino criador:

“Senhor Deus, agradeço pela oportunidade de aprendizado que a mim, está sendo ofertada esta noite. Ainda que muitas vezes um tanto relapso seja com o aprendizado acerca das coisas do espírito, gostaria de saber um pouquinho mais do que agora sei para poder auxiliar este irmão aqui sentado ao meu lado, pois ele não consegue enxergar-me. Tenho uma dedução a este respeito para a solução deste problema, todavia não sei como concretizá-la, contudo ao senhor, que sabe de todas as coisas, ainda que eu não saiba como, rogo que me ilumine a este respeito, não em nome da vaidade, do orgulho e da presunção, mas em nome da caridade, senhor Deus. Aqui hoje estou apenas como instrumento de Tua vontade, assim aja como melhor Lhe aprouver, mas não permita que este nosso irmão, devido às minhas limitações, fique sem o lenitivo de que veio para receber de Ti. Que assim seja!!”

Descerrei os olhos e imediatamente me virei em direção à pessoa sentada, assim constatei que ela, ainda, não podia enxergar-me. Nisto, uma voz feminina disse a mim:

—  Nem poderá!

Levantei-me e, ao virar-me, vi uma mulher com aproximadamente 1,70 m, traços delicados, mas também firmes, em que se destacavam os olhos amendoados na mais perfeita coloração marrom clareada. Refazendo-me do susto, então disse a ela:


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—  Perdão, se eu me assustei, mas é que eu ainda não havia lhe visto.

— Nem poderia!

— Mesmo? Por qual motivo?

— Porque estava num nível vibratório diverso do qual me encontro.

— Entendi, então você densificou sua energia para fazer-se visível a mim. Foi isso?

— Exatamente!

— Se não for muita petulância, teria como você auxiliar-me a realizar este procedimento?

— Hoje não será necessário.

— Não? Como ajudarei, então, este nosso irmão aqui sentado?

— Por meio da prece!

— Mas se devo ajudá-lo por meio da prece, por que apareceu para mim?

— Você não orou a Deus, pedindo orientação para fazer o bem?

— Sim, isso!

— Estou aqui para te explicar como proceder para executar tua tarefa desta noite.

— A senhora esteve aqui este tempo, mas só consegui vê-la há instantes.

— Você deve aprender a ser mais responsável pelos seus atos, pois, como disse o companheiro Erasmo, uma boa prece, antes de deitar-se, faria toda a diferença para você.

— Entendo. Posso fazer uma pergunta?


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— Certamente.

— Pude ver instantaneamente o irmão Erasmo, assim que ele foi buscar-me esta noite. O mesmo ocorreu com o Exu da Praia, todavia apresentei certa dificuldade em visualizar o irmão que se encontra aqui sentado, mesmo estando ele, assim como eu, encarnado. Pude então deduzir que, se houvesse realizado preces corretamente antes de deitar, então não estaria tão distraído para realizar a tarefa que me foi incumbida esta noite, não é assim?

— Perfeitamente.

— Posso, depreendendo deste raciocínio, fazer uma nova pergunta?

— À vontade.

— Como avistei o irmão Erasmo e o Guardião da Praia instantaneamente, mas tive dificuldades em ver você que, até mesmo, teve que densificar sua energia para fazer-se visível a mim, então deduzo que sejas um espírito superior, é isto?

— Não percebo ninguém enquanto inferior a mim e, se não há ninguém inferior a mim, então não acredito ser superior a ninguém.

— Perdão, talvez não tenha me expressado corretamente. Refiro-me à categoria de classificação dos espíritos segundo as faculdades adquiridas e imperfeições das quais ainda precisam se libertar, entende?

— Certamente, meu irmão. Apenas digo não possuir capacidade de julgar se meu proceder ao longo das encarnações e no intervalo entre estas poderiam fazer com que eu fosse enquadrada nesta ou naquela categoria, compreende? Procuro apenas pautar os meus atos pelos ensinamentos do mestre Jesus.


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— Para assim fazê-lo, necessito calar o meu ego e deixar que Cristo viva em mim, isto não e nada fácil. Entender que a evolução espiritual é individual, mas que ocorre somente à medida que se expande a compreensão de que todos nós fazemos parte de uma coletividade, que somos também responsáveis por ela. Que o pouco que temos, será o suficiente para o bom desenvolvimento de um irmão que ainda não possua o grau de entendimento que você possa compartilhar. Que este mesmo irmão, quase sempre, também tem algo a contribuir para teu crescimento espiritual, justamente naquilo que ainda não te esforçaste o suficiente para aprimorar. Até hoje vejo que, ainda que tenha a ensinar, também possuo muito a aprender. Entende?

— Penso que sim.

— Hoje já aprendi que todas as relações que desenvolvi ao longo das jornadas reencarnatórias nunca foram para me dar a sensação de posse, assim nunca existiram, ao logo das encarnações, meu pai, minha mãe, meu irmão, minha irmã, minha família, minha vizinhança, minhas amizades e assim por diante. Todos foram oportunidades ofertadas pelo divino criador para que eu pudesse obter o aprendizado necessário para minha evolução espiritual e, ao longo das jornadas, tentar contribuir com a evolução deles e de outros. Todos devem ser nossos pais, nossas mães, nossos irmãos, nossas irmãs, nossos vizinhos, amigos, enfim nosso próximo. Para que isto seja possível, devemos dilatar a nossa percepção acerca do amor.

— Tenho procurado ampliar meu entendimento sobre este divino sentimento e a aplicabilidade desta compreensão a favor de nossos irmãos de jornada, mas compreendo que, com o amparo do mestre Jesus, posso ampliar, ainda mais, o alcance desta capacidade de amar, não para ser melhor que ninguém, mas para ser melhor que eu mesma, pois foi para isto que todos nós fomos criados: amar, amar e amar indistintamente.

— Todos somos um, todos temos Um, mas só iremos aos braços de Um, quando amarmos a todos como um, ou seja, com Um. Um é o senhor Deus, nosso pai e um é a unicidade que só pode ser desenvolvida ampliando-se a noção de amor.


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As informações que passava para mim, como eram passadas, além da vibração de amor intensa que conseguia captar daquele ser, traziam uma sensação de alegria, paz e confiança na providência divina tão grande que mareava meus olhos de emoção e apenas fortaleceram minha crença de que estava diante de um espírito superior, ainda que ele, provavelmente pela genuína humildade, assim não se reconhecesse. Respirei profundamente, para serenar as emoções, e indaguei:

—  Você emana uma gigante energia de paz e bem-estar, sabia? Poderia saber o seu nome?

— Bondade sua, meu irmão. Estes sentimentos benfazejos que você consegue sentir e captar são provenientes tão-somente do amor de Deus materializado neste ponto de força da natureza e potencializado por Sua luz misericordiosa a nos iluminar, na noite de hoje, com o brilho irradiado dos astros no firmamento. Quanto a minha identidade, posso dizer que somos indistintamente Maria.

— Somos? Mas consigo ver somente a ti.

— Outras de nós estamos aqui, mas eu fui a designada a auxiliar-te na tarefa desta noite. Nosso nome não importa, apenas o trabalho em nome do Cristo e de Nossa Mãe divina. O que realmente importa é sermos um com o Um, entende? Levar o bem-estar e amor ao próximo é que deve ser nossa única identidade.

— Entendo que você seja uma irmã pertencente à falange de Maria. Compreendo também o tanto de abnegação, altruísmo, benevolência e caridade que praticou e continua a praticar com devoção tamanha que te fez meritória em estar agregada nesta corrente de intensa luz a favor do Cristo e da humanidade e, honestamente, não me vejo, em absoluto, enquanto merecedor de estar diante de um ser divino como você.


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— Você, quase sempre, manifestando este menosprezo por si mesmo, não é meu irmão? Sou um ser tão divino como você, como qualquer ser humano, pois todos viemos de Deus. A vaidade é um perigo, a falsa humildade também, contudo, não o observo emanando tais vibrações ao dialogar comigo, todavia tenha muita atenção a desvalorização que você possui acerca de suas potencialidades e qualidades enquanto ser humano, filho de Deus e irmão em Cristo, pois é ela que te faz julgar-se imerecedor das bençãos de Deus e, deduzindo deste autojulgamento, se não te sentes merecedor das bençãos do Alto, para que fazer preces, não é mesmo? Para que meditar e fazer tua parte no papel que lhe cabe enquanto mediador dos amigos espirituais, não é verdade?

— Custa-me crer que a senhora me conheça a tal ponto!

— Senhora, só a nossa Mãe no céu. Pode chamar-me de você.

— Tudo bem. Imagino que vocês devam ter tanto trabalho, que me vejo surpreendido com a análise acertada que você acaba de realizar em relação a como tem sido meu proceder com as coisas do espírito.

— Esta tua surpresa também diz muito deste menosprezo, entende? Entre os encarnados é comum o uso de máscaras tanto para não perceberem quem vocês sejam, mas também para continuarem na comodidade de serem quem vocês são, entretanto, na pátria espiritual estas máscaras não funcionam em absoluto. Em você, por exemplo, é notória a transparência e retidão em querer seguir o caminho trilhado por Jesus, mas para continuar a andar por esta estrada, você precisa trabalhar, com Deus, a respeito destes pensamentos e sentimentos perniciosos a respeito de si próprio, compreende?

— Entendo sim.

— Então vamos agir?

— Certamente. O que devo fazer?


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— Vamos colaborar para o bem-estar deste nosso irmão.

— Se for possível, de modo a auxiliá-lo da melhor forma, teria como você explicar o porquê dele encontrar-se estático, paralisado como uma estátua? Parece que ele se encontra aprisionado na cadeia de seus próprios pensamentos.

— Muito bem observado, meu irmão! Esta tua percepção é fruto do desejo de fazer bem ao próximo. No caso deste irmão, ele assim se encontra devido a estar em estado comatoso.

— Ele encontra-se em coma, no leito de um hospital, é isso?

— Exatamente.

— Todo mundo que se encontra comatoso fica neste estado?

— Nem todos, pois muita coisa depende dos aspectos mentais e emocionais.

— Interessante você dizer isto, pois consigo captar nele muito sentimento de culpa.

— Tua sensação está correta.

— Verdade?

— Certamente. Nosso irmão Lucas sente-se extremamente responsável por desastre causado a sua família.

— Meu Deus! 

— Após muito haverem tentado, Lucas e a esposa seriam pais de uma menina que já possuía até um nome: Laura. A esposa estava no último mês de gestação quando eles saíram, em um automóvel, para a realização dos últimos exames antes do parto. Por motivo fútil, o casal passou a discutir e nosso irmão Lucas, com temperamento mais impulsivo, cedeu às influências das baixas vibrações e começou a agredir Catarina, verbalmente, de maneira tão pungente que a companheira passou a sentir dores lancinantes na região uterina. No desespero de chegar brevemente ao hospital, Lucas acelerou deliberadamente o carro, assim que a sinalização do semáforo permitiu, todavia, no cruzamento em que estavam, outro veículo avançou o sinal vermelho e colidiu, em cheio, com o veículo dele. Como lastimável resultado, Lucas perdeu Catarina e Laura no mesmo acidente. Ele sobreviveu, sem nenhuma sequela física, mas psicológica e emocionalmente estava consumido em culpa. Tamanho abalo fez com que ele, três semanas após a desdita, sofresse um aneurisma cerebral que o levou a entrar em estado comatoso.


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— Meu Deus!

— No plano físico ele encontra-se comatoso devido ao aneurisma, contudo no plano espiritual ele encontra-se neste estado devido à culpa.

— Deus do céu! Há quanto tempo isto ocorreu?

— Cinco anos.

— Cinco anos! Ele encontra-se neste sofrimento há cinco anos?

— O tempo passa diferente entre o mundo terreno e o espiritual e, nisto, a relatividade não é só teoria, mas uma realidade e, ainda que esteja junto a matéria pelo cordão fluídico, a imersão no sentimento de culpa perturba ainda mais a percepção da passagem temporal.

— Meu Deus!!! Tudo isto é trágico e muito triste.

— Verdade, meu irmão, mas em tudo está presente a misericórdia divina, inclusive nas tragédias.

— Disto não tenho dúvidas, mas é muito difícil entender, sabe?

— Meu irmão, nós necessitamos que você utilize suas habilidades em benefício do nosso irmão Lucas. Para que isto ocorra conforme planejado pelos mentores dele, será necessário que você compartilhe o necessário dos sentimentos e pensamentos presentes nas memórias akashicas relacionadas a certa encarnação de nosso companheiro.

— Desculpe-me perguntar, mas isto não seria invasão de privacidade de minha parte?


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— Teu respeito pelas coisas do divino é justa e real, mas a realização de tal procedimento só seria antiético se não houvesse a permissão do Alto, por meio dos mentores espirituais de nosso irmão.

— Entendo, mas é que não sei fazer o que me disse e creio que deva ser um procedimento bastante complexo para ser aprendido em uma noite.

— Teu raciocínio possui bastante coerência, até mesmo por que vocês dois encontram-se encarnados, mas é por isto que utilizaremos a tecnologia.

— Como é? Tecnologia?

— Perfeitamente. Você sentará ladeado a nosso irmão Lucas, então nós plugaremos um conector em seu crânio. Antes de sua chegada ao mar sagrado, eu já plugara tal dispositivo no crânio de Lucas, para que um mentor espiritual realizasse todo o procedimento junto ao corpo mental dele e com ele pudesse dialogar, o que já estão fazendo há algum tempo, inclusive Lucas foi informado de que, em instantes, você também participará do diálogo junto a eles, após haver aceitado a realização do trabalho para que foi designado esta noite.

— Antes de começar, teria como você falar um pouco a respeito de tal aparelho?

— Pouco, sim. Somente o necessário para o bom andamento da tarefa, até mesmo por que vocês, encarnados, ainda não têm condições de compreender tal tecnologia, mas para simplificar, posso dizer que este dispositivo permite o acesso e compartillhamento de memórias akáshicas. 

— Conduzido por mim, você irá até o €local em que eles atualmente se encontram e será lá, neste ambiente, que o mentor de Lucas conduzirá todo o procedimento. Resumindo, teu corpo astral aqui permanecerá, mas após plugar o equipamento em tua caixa craniana, eu te guiarei, já ao nível de corpo mental, até onde eles estão, para o início das atividades programadas para esta noite e que envolvem compartilhamento de certas memórias akashicas. Vamos trabalhar?


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— É surpreendente e, com certeza, aceito, sim, o convite.

— Então, sente-se, por favor!

— Sentei-me e aquele ser de intensa luz, então disse a mim:

— Feche os olhos, respire profundamente, sinta o relaxamento induzido pelo rebentar das ondas do mar e permita-me conduzi-lo ao caminho da prática da caridade.

Fechei os olhos e, após um tempo que me pareceu muito breve, passei a apresentar indefinível leveza no pensar e no sentir. Uma paz enorme invadiu o meu ser e levou-me a manifestar um profundo sentimento de gratidão. Foi assim que minha consciência despertou no local onde estavam Lucas e seu mentor espiritual a fixarem, em mim, o olhar.

A falangeira de Maria e o mentor de Lucas brevemente se cumprimentaram e se despediram.

A seguir, o mentor de Lucas, que possuía barba e cabelos grisalhos em uma cor quase acinzentada, olhar profundamente sereno e com uma energia carismática abundante, então saudou-me:

—  Olá, meu irmão! Sou conhecido como Carlos. Fez uma boa viagem?

— Parece que viajei para dentro de mim mesmo e foi tudo muito rápido, mas o nível de lucidez que estou manifestando e a grande sensação de bem-estar levam-me a afirmar que fiz uma ótima viagem.

Os dois sorriram diante de minha espontânea afirmação, então Carlos continuou:


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—  Eu e Lucas estávamos conversando sobre a chegada de um irmão encarnado que se predispusera em estar conosco, na noite de hoje, para atuar em prol de seu bem-estar.

Nisto, Lucas, então, disse:

—  Exatamente, irmão Carlos! Graças a Deus! Após o tempo em que estou sendo preparado, hoje será possível o início do meu processo de cura

.— Nossa, meus amigos. Estou sentindo-me como se estivesse sendo ansiosamente aguardado enquanto, na verdade, nem mesmo sei como posso colaborar, inclusive tenho até mesmo uma dúvida, mas não sei se posso manifestá-la.

Carlos, então, respondeu:

—  Antes do início dos trabalhos você não pode, mas sim deve esclarecer qualquer dúvida, para que tudo possa fluir naturalmente.

— Irmão Carlos, é que espanta-me ver o nível de lucidez do Lucas aqui onde estamos, enquanto em seu corpo astral seu grau de consciência é praticamente inexistente. Ele tem noção a este respeito?

— Certamente que sim, mas vamos deixar que ele mesmo possa respondê-lo:

—  Então companheiro, como o irmão Carlos disse, eu tenho ciência de que meu corpo físico encontra-se comatoso em leito de hospital e que meu corpo astral, por ser o mais próximo deste, em muito reflete o coma, no entanto também fui esclarecido de que, aqui onde estamos, depois que forem trabalhadas em mim as moléstias mentais decorrentes de um profundo sentimento de culpa, conseguirei liberar um real perdão a mim mesmo por tudo que aconteceu a Catarina e Laura, todavia existem outras etapas a serem percorridas até que meu corpo  seja beneficiado pelos tratamentos que aqui vem ocorrendo e eu possa, enfim, despertar.


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— Muito bem explicado, Lucas. Após o trabalho da noite de hoje, acreditamos que você estará plenamente curado do sentimento de culpa em todo o aspecto mental. Certamente que, no aspecto emocional, as benesses recebidas por aqui surtirão efeito; mas o próximo passo será a complementação deste processo no campo emocional para que, então, tua consciência reassuma o seu corpo astral de forma mental e emocionalmente saudável e, mais adiante, este processo se repita em teu corpo físico. Portanto, meu irmão, nós ainda temos, em Cristo, um pouco mais de trabalho à frente.

Preciso fazer uma observação e dizer como é espantosa a complexidade de todo o mundo interno que existe no ser humano. Vejamos em relação ao Lucas, por exemplo, pois se no corpo físico encontrava-se comatoso há cinco anos e, no corpo astral, existia todo o reflexo da enfermidade no plano físico aliado a uma perniciosa enfermidade psíquica alimentada pelo sentimento de culpa, bem aqui, na dimensão mental, ele encontrava-se perfeitamente lúcido e isto para mim, é incrível, extraordinário, sabe? A perfeição de Deus manifestada na criação do ser humano em toda sua complexidade, sim, mas também em todo o potencial para ser e refletir Sua divina luz em todas as camadas de que é feito, pois, em cada uma delas está presente a manifestação de Seu amor e o poder de Sua misericórdia.

— Carlos sorriu em minha direção como se meus pensamentos fossem totalmente acessíveis a ele e disse:

—  Companheiro Lucas, o que acha de explicar a nosso o irmão sobre o procedimento que realizaremos hoje?

— Perfeitamente, irmão Carlos! Então companheiro, hoje eu terei acesso a memórias akashicas relacionadas a uma encarnação pela qual passei há certo tempo. Segundo o que a mim, foi esclarecido, o acesso a tais informações fará com que eu entenda certos aspectos da triste situação em que me encontro nesta encarnação e este despertar em minha consciência iniciará todo o processo de convalescença mental e emocional que, em tempo certo, acabará se refletindo em meu corpo físico.


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— Perfeito Lucas! Aqueles dispositivos conectados em seus corpos astrais permitirão com que, aqui, você compartilhe de suas recordações com o nosso companheiro, que também terá acesso a outras memórias akashicas a fim de que possa executar a tarefa a contento.

Sem sofrear minha curiosidade, perguntei ao irmão Carlos:

—  Como ocorrerá este processo?

— No aspecto mental, mas tudo ficará mais claro quando você o estiver vivenciando.

— Haveria a possibilidade de você explicar por que eu devo compartilhar de memórias que são íntimas ao Lucas?

— Escutar, não apenas ouvir, as pessoas compartilhando as dores em sua existência, contribuindo para que elas as superem e tenham uma vida mais saudável, especialmente nos aspectos emocionais e mentais, não é assim que você, um dia, pretende ganhar o pão nosso de cada dia?

— Sim, mas eu sou apenas um estudante!

— Permita-me complementar tua informação, hoje, no plano terreno, você é apenas um acadêmico que estuda as ciências psíquicas e que ainda está quase na metade do curso, mas o que você fará por lá, será apenas um reflexo do que você já exerce por aqui devido à capacidade adquirida em existências pretéritas. O compartilhamento mnemônico permitirá a você, em tempo certo, o auxílio ao companheiro Lucas.

— Tenha fé, companheiro, para que, de alguma forma, contribua com a saúde psíquica de seus irmãos de jornada assim na terra, como no céu. Aliás, aqui no plano espiritual isto já ocorre e, no plano terreno, acontecerá em tempo certo.

— Que assim seja!

Assim, foi com um sorriso que o irmão Carlos disse a nós:


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—  Vamos trabalhar, meus irmãos?

No que respondemos, pelo menos de minha parte, apenas um pouquinho temeroso:

—  Vamos!

— Então peço que se acomodem aqui, na mesma disposição em que seus corpos astrais estão sentados em frente ao mar, no plano terreno.
Lucas sentou-se à direita enquanto eu, à esquerda, em uma espécie de poltrona reclinável disponibilizada no ambiente. O irmão Carlos, de frente para nós, então disse:

—  Eu conduzirei todo o processo mnemônico. Lucas nos levará para uma de suas vidas passadas onde foi criada a situação que contribui para seu sofrimento na atual jornada terrena. Primeiramente, ele nos conduzirá ao local geográfico onde aconteceu tal situação, após, conduzido por mim, sua tela mental fixará em um ponto físico da natureza, existente naquela localidade, onde ele mais se sentia em paz. Esta paisagem ficará, um certo tempo, compartilhada em vossas telas mentais para ser realizada a calibração necessária à manutenção de uma saudável condição cerebral em todos os vossos corpos. Em seguida, Lucas estará em plena recordação da vivência desta sua existência passada. Durante este período, poderei comunicar-me com qualquer um de vocês dois, mas vocês não terão condições de se comunicarem entre si, compreendem?

— Sim, irmão Carlos!

— Então fechemos nossos olhos para que seja iniciada a primeira parte de qualquer atividade em nome da caridade: a oração.


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“ Senhor Deus, nosso pai, criador do céu e da terra, estamos aqui, reunidos em Teu santo nome, para que se cumpra toda a Sua vontade em nossas vidas, de modo a que, cada vez mais, sejamos instrumentos confiáveis, bondosos e misericordiosos de Seus desígnios. Que todas as atividades desta noite sejam realizadas pelos mais profundos sentimentos de caridade, equilíbrio, ponderação e amor. Cala em nós, senhor, todas as más tendências, para que o Teu querer possa falar, agir, cuidar e proteger a todos nós. Que assim seja!”

— Ainda de olhos fechados, meus irmãos, vamos iniciar os trabalhos desta hora.

— Irmão Lucas, agradeço por tua confiança e peço que permita-me conduzi-lo, pelo som de minha voz, a uma jornada para dentro de si mesmo.


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CAPÍTULO III - UM MOMENTO NO TEMPO 

 

Após a realização de todos os procedimentos, observei, para minha surpresa, que a referida encarnação de Lucas estava relacionada ao Egito de alguns milênios atrás e que o ponto de força por ele evocado era à sombra de palmeiras localizadas à beira de um rio que eu, sem saber o motivo, tinha convicção de que se tratava do rio Nilo.

A beleza daquela paisagem natural era deslumbrante e até mais bela do que qualquer expressão de arte que poderia conceber Monet em suas obras, todavia, não se enganem, a vibração que pairava no ar, àquela época, era extremamente carregada de pavor, tristeza, melancolia e apreensão como nunca sentira em toda a minha vida, pois o ar chegava a ser até mesmo pesado para respirar. Procurei reforçar minha confiança em Deus por meio da oração e conseguir concentrar-me nas cenas que se desenrolavam em minha frente.

Quilômetros distantes daquela paisagem, foi possível observar um homem que, ainda em outra roupagem corpórea, estranhamente soube tratar-se do companheiro Lucas. Seu nome era Efraim e ele preparava, com semblante carregado, um frasco do que poderia ser algum medicamento ou um possível veneno.

Após constatar que ninguém presenciara a cena que ali se desenrolara, Efraim, emocionalmente descompensado, retornou, a passos velozes, para junto de gigantesco acampamento, onde se encontravam dezenas de milhares de pessoas. Ele foi direto para junto de pequena tenda, onde o aguardava sua mãe, Maya.

— Filho, onde você esteve, que demorou por tanto tempo? Quase perde sua preleção com nosso irmão, Arão!

 

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— Estava resolvendo questões necessárias antes de continuarmos nossa jornada. De mais a mais, cheguei a tempo, não foi? Acalme-se!
Ela tentara abordar certa questão com o filho na manhã daquele dia, mas sem sucesso, assim, habilmente, tentou retomar o assunto dizendo:

—  Tenho andado preocupada com você, meu filho, pois a mansuetude que você deseja transmitir em palavras, não corresponde à tempestade emocional que sinaliza o seu olhar. Está acontecendo algo em que eu possa ajudar?

Preciso dizer ser incrível o tamanho da serenidade que exalava Maya; todavia, a candura na expressão vocal, a ternura expressa em seu semblante, destacado pela sua longa cabeleira grisalha e amor em seu olhar, não foram o suficiente para uma resposta compreensiva de Efraim, que apenas lhe disse:

- Está se preocupando à-toa. Agora cale-se, pois preciso ir até junto dos anciãos e do Conselho de nosso povo para escutar o que tem a nos dizer o nosso irmão Arão.

Homem generoso e proativo, mas totalmente mergulhado na inebriante, mas ilusória sensação de prazer das relações carnais, foi-se nosso companheiro Efraim em direção onde estavam concentrados os líderes daquela comunidade.

Foi em cima de pequena elevação, que Arão falou para àquela pequena assembleia:

 

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—  Irmãos amados, nosso líder solicitou que concentremos nossas orações ao Eterno e vivamos em espírito de oração em nossa jornada, pois nosso Deus esteve com ele e o informou de que, em breve, faraó partirá, com suas tropas, em direção a nós, por isso…

— ... Estamos próximos da capital e seguimos viagem a pé, deste jeito seremos dizimados pelos homens de Faraó.

— É verdade! O que será de nós?

— Valei-nos, ó Eterno! O que faremos quando o povo perceber a aproximação de Faraó e seus asseclas?

Com muito custo, Arão retomou a palavra:

—  Irmãos, tenham fé e busquem a paz que só vem do senhor, nosso Deus, pois a palavra Dele nunca fez e jamais fará curva. Ele prometeu nossa libertação e não a nossa morte, então, por que duvidarmos tendo Ele já feito tantos prodígios para que Sua palavra se cumpra em nossas vidas? O Eterno solicitou a Moisés que transmitisse a palavra para vocês de modo a serem o que são, ou sejam, líderes do nosso povo! Esta palavra ainda não deve chegar até as massas, a fim de que não desanimem, então sejamos incentivadores de sua boa vontade, de seu ânimo e de sua esperança rumo à liberdade!

Neste exato momento precisei ter mentalmente com o irmão Carlos, na intenção de esclarecer grande inquietação que passou a tomar conta de meu ser ao pressentir que o líder daquelas pessoas pudesse ser o grande legislador hebreu.

Então, ele disse a mim:

 

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—  Pois não, companheiro, externe as palavras que traduzem tamanha agitação interior.

— Irmão Carlos, preciso perguntar: este Arão que estou a experienciar no resgate mnemônico do companheiro Lucas, é o Arão bíblico? Arão, irmão de Moisés?

— Sim!

— Então o que Lucas está recordando são eventos relativos ao êxodo bíblico?

— Sim!

— Não entendo, porque sempre pensei que esta época houvesse sido de grande alegria para o povo hebreu, mas o que estou sentindo é um pesar, uma vibração tão negativa que talvez só haja algo similar no umbral e não consigo entender o porquê.

— Irmão, a psicoesfera que você consegue sentir em relação a este lugarejo tem sua motivação em duas razões: a primeira delas diz respeito ao sofrimento da comunidade egípcia em decorrência de todo o sofrimento das perdas de suas plantações, gados, residências, amigos e familiares provocados por eclipse, chuvas de enormes granizos, doenças, pestes e mortes; desta forma, o que ocorreu para que fosse fomentada a alegria de um povo, foi a causa da extrema desgraça de outro.

— Meu Deus, é verdade, você está falando sobre a ótica dos vencidos! Nunca havia parado para pensar desta forma! Mas isto me faz pensar em outra coisa, pois observe, irmão Carlos, vamos tomar como exemplo um juiz que sirva à qualquer comarca terrena, quando ele tem que deliberar uma sentença entre duas partes que estão em contenda, ele não vai agir buscando o estabelecimento da vingança ou da punição, mas sim o da reparação, por exemplo, se eu furto algo de alguém e vou parar em juízo, o meritíssimo não vai proferir uma sentença para que minha vítima seja vingada, nem para que eu seja punido, mas para haver uma reparação em relação ao prejuízo que causei a outrem, então como Deus, o juiz mais perfeito de todos, haveria de causar tanto mal ao povo egípcio para provocar o bem ao povo hebreu? Não consigo compreender, por mais que tente!

 

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— Você disse bem, companheiro, Deus não age por vingança ou punição, mas sim por Justiça proveniente do equilíbrio perfeito de todo o Seu amor com Sua razão, sendo assim Ele reparou todo um tempo de servidão com a liberdade. Voltemos ao exemplo que você trouxe ao diálogo: ainda que você tenha furtado a outra pessoa e o juiz tenha proferido uma sentença reparatória, você teria ficado ditoso com qualquer sanção reparatória proposta pelo juiz? Não se sentiria punido pelo ato cometido se lhe fosse imposta privação de liberdade, uma semi-liberdade, prestação de serviço comunitário ou mesmo uma reparação do valor indevidamente apropriado de outrem? Ou aceitaria tudo de bom grado?

— Deus que é Justiça, também O é em amor, assim antes que seja promulgada a sentença reparatória, Ele envia inúmeras oportunidades para que o infrator se arrependa e mude o rumo de sua jornada para um caminho de empatia, arrependimento e caridade, mas havendo a continuidade das infrações, será necessária a vinda da ação reparatória, uma vez que Ele criou Seus humanos filhos para a prática do amor incondicional na evolução de Sua obra.

— Então o senhor Deus realmente enviou às dez pragas ao Egito?

— Não! Foram os egípcios, em especial na pessoa de Faraó, que com sua soberba trouxeram as dez pragas até si. Companheiro, posso até mesmo dizer a você que o jugo dos egípcios em relação aos hebreus não era severo em todo o Egito, mas não posso omitir que o era na maior parte de seu território. Onde não havia esta severidade, o escravo hebreu nem mesmo escravo se sentia, já naqueles locais em que a extrema austeridade estava presente, uma parte dos hebreus encontrava-se acomodada pela ilusória sensação de dever cumprido que uma rigorosa administração autoritária provoca (muitas vezes à força da chibata), enquanto outra parte encontrava-se descontente, mas sem uma liderança a lhe indicar outro caminho.

 

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— Assim, o mestre Jesus, intermediando a vontade de Deus, nosso Pai, esteve com Moisés em vários momentos para guiá-lo em sua jornada, e isto bem antes de aparecê-lo enquanto uma sarça ardente

.— Meu Deus! Sério?

— Sim companheiro! A sarça ardente foi apenas uma forma física para que Moisés passasse a crer que Deus estava com ele, porque os vários sonhos em que recebera as orientações de Jesus, no que dizia respeito à sua tarefa, não foram suficientes para que Moisés calasse seus receios enquanto sentir-se o desafiador de todo um imenso império. Não um império qualquer, mas o maior império daquela época e um dos maiores que já existiu na história da humanidade. Quando Moisés O viu, em estado de vigília, enquanto sarça ardente, não teve mais como recusar ao Seu chamado.

— Estas coisas que você diz, são surpreendentes, irmão Carlos, mas fazem todo o sentido.

— Moisés, companheiro, entre outras coisas, foi um grande mago.

— Perdão em interromper, irmão Carlos, mas você está dizendo que Moisés foi um mago, quer dizer então que ele se utilizava de magia?

— Sim companheiro! Não compreendo teu espanto.

 

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— É que, sabe irmão Carlos, acho essa coisa de mexer com magia muito perigosa.

— Você acha?

E, dizendo isto, pude ouvi-lo soltar uma gargalhada tão espirituosa que até eu mesmo, sem que soubesse o porquê, passei a sorrir. Foi então que ele disse.

— Companheiro, magia tão-somente significa invocar poderes e propriedades divinas e acioná-los. O verdadeiro mago é aquele que encontra-se aliançado com as Forças Divinas através de intensa fé e em conformidade aos desígnios da Lei Maior e da Justiça Divina. Moisés foi assim, meu irmão, era um iniciado na origem, no meio e, certamente, um dos maiores que já houve, tamanha a intensidade de sua fé e de sua moralidade com as coisas divinas.

Na época, ainda sem entender consciencialmente os conceitos que estavam sendo a mim apresentados, conseguia compreendê-los emocional e espiritualmente por meio da transparente lógica de seu conteúdo. O irmão Carlos, assim, prosseguiu.

— Sabendo, Deus, desta intensa habilidade de Moisés, então o utilizou como um veículo para a manipulação de Seu poder e libertação do povo hebreu. As pragas presentes nos relatos bíblicos, então, são efeitos da aliança do Divino Criador com Moisés: Deus, em sua infinita misericórdia, explicava previamente `a Moisés sobre fenômenos da natureza que iriam ocorrer através de Seu comando, a fim de que ele, conhecedor dos fenômenos secretos da natureza, pudesse captá-los, manipulá-los e movimentá-los conforme prévia orientação do Onipotente, assim, através de uma espécie de contrapeso, tais fenômenos naturais eram potencializados.

 

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— Contrapeso? Como assim, irmão Carlos?

— Por exemplo, uma tempestade, em certas regiões, é algo corriqueiro e, às vezes, até prejudicial pelo intenso e ininterrupto volume de precipitação, assim, uma estiagem em tal localidade seria uma benção, certo?

— Certo.

— Agora pense em uma localidade inóspita, seca e desértica. Uma chuva seria uma benção, não é mesmo? Entenda que Deus sabe o que faz, sendo assim, vários fenômenos raros, naturais e sincronizados foram por Ele programados para ocorrerem no exato período em que ocorreram. Moisés, enquanto mago, atuou somente para manipulá-los em cumprimento aos desígnios divinos, para que todos, Nele, cressem.

— Enquanto no Egito choveu abundantemente, por dias, em meio a enormes e infinitos pedaços de granito, na mesma época, outra localidade, acostumada a altos índices pluviométricos, experimentou um benfazejo período de estiagem. Magia, companheiro, não é nada perigosa, mas sim coisa muito séria que deve ser estudada a fundo para que o mago não cometa equívocos que prejudiquem a si mesmo e/ou a outrem, todavia o que forma um mago valoroso não é o volume de conhecimento magístico que obtenha, mas sim a imensidão de sua fé e de sua moralidade, pois são estes os fatores que, respectivamente, o intensificam e polarizam.

 

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— O que escuto é surpreendente!

— A humildade, a obediência ao Pai e o amor a Deus e ao próximo foi que fizeram de Moisés um exímio mago. A intensidade de sua magia, vinha do esforço em ser um servo do poder de Deus. E foi Deus, o seu amor a Deus e experiência no uso da magia que o tornou intocável à fúria de Faraó, ou você pensa que o chefe supremo do império egípcio assistiu passivamente aos efeitos que as pragas produziam em sua nação e em seu povo? Não, meu irmão, pois Moisés foi preso algumas vezes, mas nelas todas escapou do cativeiro sem o derramamento de uma única gota de sangue. Soldados que intentavam contra sua vida eram prática, momentânea e literalmente paralisados com o uso de magia alimentada pelo amor de Deus, enquanto o povo conseguia ocultá-lo entre os seus. Inúmeras vezes ele estava, em secreto, em reunião com os anciãos, quando, repentinamente, ausentava-se, às pressas, do local para evitar ser preso por soldados que apareciam na intenção de aprisioná-lo, entretanto, companheiro, cá estamos na noite de hoje não para estudarmos a história de vida do grande legislador hebreu, não é mesmo?

— Certamente. Agradeço todas as informações já prestadas, mas, Irmão Carlos, antes que possa retomar a atividade colaborativa em prol do nosso irmão Lucas, preciso dizer o quão, para mim, é surpreendente saber que o próprio mestre Jesus, em várias oportunidades, guiou os passos de Moisés em sua tarefa, pois, sinceramente, eu pensei que ele houvesse sido guiado por seus mentores e mensageiros espirituais.

— Não se espante, irmão. Na maior parte do tempo, Moisés foi orientado por seus mentores e guias. O que eu disse, foi que, em vários momentos, ele foi guiado pelo próprio mestre Jesus, tamanha era a importância da tarefa que tinha a executar e, é claro, ao infinito amor do divino mestre.

 

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IV -  UM  MOMENTO DE CONTRARIEDADE

 

Agradeci ao irmão Carlos por todas as informações prestadas e, em espírito de oração, pude retomar a atividade em benefício do companheiro Lucas. Assim, instantaneamente vi que Efraim, horas após a escuta da preleção de Arão junto aos anciões e já no princípio da noite, andava, a passos largos, em direção a uma tenda que não a de Maya, sua mãe. Surpreso, fiquei, quando entrou secretamente em uma tenda onde o aguardava uma belíssima moça. Ela tinha a pele bronzeada com uma inigualável morenice natural, os cabelos negros, longos e sedosos combinavam perfeitamente com traços fisionômicos de rara beleza e cujas maiores expressões era os lábios carnudos e os olhos amendoados e hipnotizadores com um castanho-claro da cor de mel. Lilian era seu nome e ela, que aguardava por Efraim, disse-lhe:

—  Preciso ser rápida, pois Levy está prestes a voltar!

— Sim, sim, vim às pressas e esperançoso em uma resposta positiva sua à minha proposta; então o que me diz?

— Efraim, tenho muita estima por você, mas não posso voltar ao Egito contigo. Meu esposo, Levy, a quem muito amo, é um homem de fé e crê que nosso futuro está em outra terra, que nosso Deus necessita que sigamos outro caminho e é por isto que não tornarei com você ao Egito.

Efraim, pálido de surpresa pela inesperada resposta, falou:

 

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—  Lilian, meu senhorio, é homem de muitas posses e generoso. Tenho certeza de que se voltássemos para sua casa seríamos recebidos de braços abertos. Vamos voltar, Lilian! O caminho que há pela frente é muito incerto. Voltando, eu te trataria como uma rainha e não da forma abrutalhada como seu marido convive com você. Você é linda demais, carinhosa demais para viver desta forma. Eu nunca conseguirei olvidar àquela única noite em que estivemos juntos, pois o calor do teu corpo e a maciez dos teus lábios são inesquecíveis! Vamos ser felizes!

— Efraim, meu caro, você é o melhor amigo de meu esposo, por favor, aja como tal! Estivemos em intimidade uma vez, não nego, mas para você aquela vez deverá ser o suficiente, pois eu não tenho como lhe ofertar algo a mais. Sei que você me tem em grande estima, contudo àquela ocasião que para você é inesquecível em bem-estar, para mim, foi quase que infernal e já falei a você em como me senti logo após estarmos juntos e isto não por que lhe tenha aversão

Efraim disfarçou a contrariedade ao ouvir aquelas palavras, até mesmo por que sabia o nível do enfeitiçamento, que fora empregado, para conseguir concretizar sua intenção naquela oportunidade e que, em boa parte, fora as consequências deste sortilégio que provocaram mal-estar em Lilian, mas isto ela não poderia saber de forma alguma.

Lilian, por sua vez, retomou o diálogo finalizando:

—  Efraim, sempre serei grata pelo teu imenso carinho por mim. Para mim, a gratidão é um dos mais belos sentimentos que um ser humano pode manifestar a outrem e é isto, somente isto que posso oferecer. Espero que seja muito feliz no seu retorno ao Egito, mas eu não terei condições de lhe acompanhar.

 

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Efraim mordeu discretamente os lábios para tentar disfarçar a decepção e disse à sua amada:

—  Lilian, é como você disse, Levy, de fato, é o meu melhor amigo e o que sinto por você jamais cessará, mas saberei respeitar tua decisão e ser, tão-somente, o amigo mais leal que puder ser. Se você não vem comigo, não há por que retornar ao Egito com minha mãe, assim, também seguirei neste novo caminho.

— Então estamos acertados, Efraim, tudo bem! Mas precisamos encerrar esta conversa antes que Levy retorne.

— Tudo bem!

— Por favor, tome cuidado ao deixar a tenda, para não ocorrer comentários junto à comunidade.

Efraim saiu sorrateiramente da tenda com o coração ardendo em desapontamento. Afastou-se um pouco do agrupamento, sentou-se atrás de uma grande pedra e pôs-se a tremer em desespero, pois sua paixão febril por Lilian o fazia crer que para tê-la em definitivo, deveria sacrificar a sua mais leal amizade: Levy.

 

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CAPÍTULO V -  MOMENTO PARA LEVY

 

Levy, filho de Rebeca e Uriel, seria camponês por hereditariedade. Ele foi o único rebento de sua família devido a problemas ovarianos apresentados por sua mãe, após o seu nascimento.

Os pais de Levy serviam a um nobre da casta egípcia. Ele enquanto um competente lavrador e Rebeca como auxiliar dos serviços domésticos. Levy era dotado de imensa aura carismática e cresceu junto a Alim, filho de seu senhor, Radamés, que possuía grande apreço por ele. Quando Alim, por volta dos doze anos, faleceu após haver caído de uma montaria, na mesma época do óbito de Uriel por causas naturais, isto só fez com que aumentasse o afeto de Radamés por Levy.

Levy, de fato, cresceu como lavrador e exercia a atividade com a mesma habilidade de seu pai, mas usufruía de regalias que eram inimagináveis frente à maior parte dos camponeses daquela época.Ainda que ótimo lavrador, Levy era viril, possuía um corpo atlético e desde a tenra idade nutria o desejo de ser um guerreiro, assim, ao completar doze anos, Radamés a ele proporcionou o aprendizado de técnicas de autodefesa, luta e táticas militares.

Aos catorze anos Levy apaixonou-se por sua prima, Lilian, com dezesseis anos e que possuía até algum interesse afetivo pelo primo, mas não a ponto de fazê-la amá-lo inicialmente, já que apesar de ser pessoa deveras agradável aos olhos, não tinha muito tato para lidar com a sensibilidade feminina.

Aos quinze anos poderíamos dizer que Levy era um soldado pronto. Quem o olhasse a esta idade e a certa distância, poderia facilmente deduzir que se tratava de jovem soldado, não somente pela estatura e físico avantajado, mas também pela tamanha perícia no manejo de armas e no combate corpo-a-corpo. Levy gostava de desafiar-se constantemente, deste jeito não era raro encontrá-lo envolvido em brigas.

 

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Certa noite, quando contava dezesseis anos, observou, a distância, que três homens encurralavam um adolescente de praticamente doze anos de modo a lhe tomarem uma bolsa. Mesmo sabendo ser aguardado em casa para, a partir daquela data, tornar-se esposo de Lilian, ele partiu a passos largos em direção aos três malfeitores e disse:

— Deixem este menino em paz!

Os três olharam imediata e simultaneamente para Levy e, em um primeiro momento, pararam o que estavam fazendo, mas quando julgaram tratar-se apenas de outro adolescente disseram:

— Não temos nada contra ti. Mexa-se daqui agora ou vai sobrar para você.

— Levy os encarou de cima a baixo e somente respondeu:

—  Têm certeza?

Mas os três não responderam. Armaram-se em um semi-círculo, como já estavam acostumados, e avançaram em direção a Levy. A intenção era fazê-lo atacar o homem central enquanto lateralmente um dos dois tentaria agarrá-lo para derrubá-lo ao chão. O homem ao centro partiu com o braço levantado convicto de que sua destra acertaria ao rosto de Levy a ponto de tonteá-lo para que seus comparsas pudessem imobilizá-lo, mas Levy, com extrema agilidade, defendeu-se velozmente do golpe de modo que seu adversário teve que virar imediatamente para sua esquerda a fim de retomar ao equilíbrio e não tombar ao solo.

Neste exato momento, Levy o agarrou por trás e o jogou, com extremo vigor, em direção ao adversário em sua direita, derrubando-os ao chão. Espantado com tamanha agilidade e força, o oponente que ainda estava em pé nem viu o golpe que o fez tombar ao chão desacordado. Levy virou-se para os demais infratores com os punhos em riste, mas estes partiram em disparada do local. Somente, naquele momento, Levy respirou profundamente e virou-se em direção ao garoto que, com os olhos arregalados, disse:

 

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— Muito obrigado moço, o senhor acabou de me salvar daqueles homens. Acredito que eles estavam pensando que tenho comigo algo de valor, enquanto, na verdade, o que possuo são apenas frascos de medicamentos preparados por minha mãe e que precisam ser entregues na casa do ancião Gael.

— Vejo que aqueles malfeitores conseguiram golpeá-lo a ponto de danificar as suas vestes, mas diga-me, de onde você conhece o ancião Gael?

— É que frequentemente minha mãe prepara alguns medicamentos com ervas para ajudá-lo.

— Eu também conheço o ancião Gael. Estes medicamentos que ele utiliza já trouxeram muito lenitivo ao meu corpo, quando em recuperação dos exaustivos treinamentos. Ele, certa vez, disse que tais medicações eram preparadas por uma erveira muito hábil e de nome Maya, você a conhece?

— Conheço sim! Maya é a minha mãe! Ela sabe mexer com ervas tão bem que até os egípcios, algumas vezes, dela se utilizam para amenizar ou curar enfermidades que nem mesmo os sacerdotes conseguem.

— Sei bem quem é a sua mãe, garoto, mas ainda não sei quem é você.

— Meu nome é Efraim! E o seu?

— Eu sou Levy. O velho ancião que você procura reside perto de onde moro. Você quer que eu o leve até lá,  por precaução?

 

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— Certamente que sim, senhor, muito obrigado!

Naquele exato instante iniciou-se uma profunda amizade. Levy conduziu Efraim até a moradia de Gael, mas pelo caminho, enquanto passava em frente a residência do amigo, seu olhar cruzou, pela primeira vez, em direção aos de Lilian e foi a partir dai que ele, mesmo ainda adolescente, sem saber explicar porque, encantou-se por ela a ponto de jurar para si próprio que um dia seria sua.

Com o passar dos anos, aquela amizade só se fortaleceu, ainda mais quando Levy tornou-se órfão de mãe. Este foi um fato que o abalou profundamente, mas ele resignou-se pela fé em Deus e pela presença das cantigas ensinadas por ela e que sempre lhe fariam companhia, em qualquer circunstância.

Os anos transcorreram céleres. Levy já desposara Lilian e a amava profundamente, tratando-a com todo o desvelo que lhe era possível, mas a paixão exacerbada de Efraim só fazia aumentar e levá-lo ao despeito de pensar que poderia fazê-la bem mais feliz. Efraim cresceu e tornou-se um mago muito eficiente, todavia se a fé em sua magia o fazia um mago habilidoso, sua obsessão por Lilian e as práticas magísticas sucessivas, ao longo dos anos, para fazê-la submeter-se à vontade a dele, acabou por torná-lo um mago negativo.

Eis que dez anos após o início daquela amizade, Efraim, aproveitando relativa ausência de Levy, que cumpria atendimento a um obrigatório e temporário chamado para servir no exército, conseguiu conjurar um encantamento que, por algumas horas de uma noite, acabou por ativar confusão mental em Lilian e uma extrema exacerbação de sua libido, fazendo-o, levianamente, alcançar o sucesso em suas intenções.
Lilian levou dias para se recompor espiritualmente daquela noite fatídica e foi somente após muito benzimento e tratamento fitoterápico de Maya que ela conseguiu recuperar-se plenamente.

 

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Sendo um hábil manipulador das situações psicológicas, Efraim, assim, passou a argumentar com Lilian que estava muito arrependido pela conjunção carnal que ocorrera entre eles, que deveria haver pensado primeiramente nela uma vez que, com o grande caráter que possui, jamais conseguiria se perdoar e permanecer ao lado do esposo que, a propósito, também era o seu melhor amigo, assim propôs que se ela não conseguisse esta paz interior para continuar a viver ao lado de Levy, ele estaria sempre de braços abertos para acolhê-la e recebê-la como sua amada, contudo nunca obteve resposta a respeito de suas intenções.

Poucos meses depois, estava por iniciar-se na região o advento do fenômeno conhecido enquanto a décima praga sobre o Egito.
Observando que não lograra êxito em suas intenções junto à Lilian e tendo como certa a vitória do povo hebreu sobre Faraó, Efraim foi novamente ter com ela e lançou a proposta de, se o Faraó realmente confirmar a partida dos hebreus da terra do Egito, eles simularem estar em fuga por  três dias, mas ao fim do terceiro dia retornarem até o Egito implorando o perdão do amo de Efraim.

Devido a sua alta habilidade com a magia e ao constante emprego desta junto aos nobres egípcios, contava Efraim que seria perdoado, assim não haveria como Levy retornar ao Egito em busca da esposa sem correr risco de morte. Enquanto pensava em uma resposta, Lilian era frequentemente bombardeada por magia negativa de indução de sua vontade à proposta lançada por Efraim.

Um tempo após o fim da décima praga e já no terceiro dia de fuga das terras do Faraó, foi que Efraim buscou a Lilian para obtenção de uma resposta. Ocorre que, ao contrário do que esperava, a decisão de Lílian foi oposta ao que arquitetara seu desequilibrado estado emocional.
Reitero que Efraim era um homem generoso e proativo. Inúmeras foram as ocasiões que ajudara, com suas ciências ocultas, a quem buscava um alívio, um lenitivo para seu sofrer, todavia também foi um sem fim de vezes que se utilizara destas práticas, servindo aos nobres egípcios, para causar malefícios a outrem.

Sim, queridos companheiros, até aquele momento, em termos de prática magística, Efraim era a real definição do conceito de paradoxo, todavia a contar do terceiro dia conhecido como êxodo bíblico, a luz da bondade eclipsou-se em seu ser, na desesperada atitude egoica para satisfazer a ventura de ter a mulher amada ao seu lado, pois no dia anterior, já prevendo uma possível resposta negativa de Lilian, foi que ele preparou pequeno frasco de irrastreável veneno, junto a outros medicamentos, para livrar-se de Levy e, assim, conseguir sucesso em suas intenções.

 

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CAPÍTULO VI - MOMENTO PARA LÍLIAN

 

Lílian, que se casou, aos dezoito anos, com o primo Levy, era órfã de pai e mãe, assim foi criada por sua tia materna, Eloah. A partir dos doze anos, muitas de suas noites passaram a ser preenchidas por atividades de desdobramento e sonhos premonitórios. Sua tia não entendia estas manifestações e ficava muito aflita quando sua sobrinha relatava a ela os episódios que ocorriam. Como Eloah possuía problemas cardíacos muito graves, Lílian passou a ocultá-los dela. 

Notável era a lucidez das experiências extracorpóreas vividas por Lílian. Ao despertar destas vivências, possuía impressionante discernimento dos episódios ocorridos; desta forma, para ela, eram muito claras as orientações de seu mentor, Gamaliel. O que ela temia em relatar a sua tia, acabava por buscar esclarecimentos junto a ele.

Ao completar dezesseis, anos, Lílian obteve uma experiência com seu mentor e que muito marcou a sua vida. Nesta oportunidade, Gamaliel disse a ela que a maior importância em um espírito reencarnado era aproveitar, com sabedoria, as oportunidades de crescimento espiritual, ofertadas pelo divino criador, por meio das mais diferentes formas, mas que sempre ocorrem em ciclos cuja periodicidade é determinada por Ele, segundo o aprendizado de seus humanos filhos; assim solicitou que Lilian passasse a ver o desenrolar dos fatos que acontecessem em sua vida da mesma forma que ela, uma ótima lavradora, se utilizava dos ciclos lunares para plantar e colher, pois há tempo para tudo.

Há o tempo para semear e o tempo para colher, tempo para dormir e tempo para acordar, tempo para aprender e tempo para ensinar. Lembrou-lhe Gamaliel que uma lua mais indicada para a colheita de raízes, não é a mais indicada para a colheita de ramos e folhas, assim por mais que se tenha uma imensa vontade para se alimentar, por exemplo, com uma beterraba, deveríamos aguardar a chegada da lua minguante sem nenhuma forma de alarde ou desespero, pois quando fosse a hora certa da lua girar em torno da terra, modificando a incidência de raios solares que recebe, ela seria, então, minguante. Gamaliel recordou a Lílian que pouco adianta ter o conhecimento das coisas, dos fenômenos naturais e deles não se utilizar para plantar e colher nas horas mais precisas, da mesma forma, pouco resolve ter o conhecimento que estava adquirindo com os amigos espirituais e não utilizá-los para, por exemplo, falar, calar-se, ou escutar quando for o ciclo mais apropriado para a execução de tais ações.

 

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Disse Gamaliel que da mesma forma que devemos respeitar os ciclos da lua e dos astros para melhor plantar e colher, também devemos, com Deus, respeitar os ciclos para lidar conosco e com o próximo o melhor possível. Após muito dialogar com Lilian, naquela noite, e certificar-se de que ela aprendera sobre os conteúdos ministrados, Gamaliel esclareceu a ela que, em breve, uma bela semente seria plantada no terreno de seu coração e que ela deveria, com humildade, prudência e sabedoria, respeitar os ciclos divinos da vida para que ela pudesse crescer, naturalmente, e transformar-se em frondosa árvore.

No dia seguinte a esta experiência, Eloah, ao iniciar o entardecer, teve um mal súbito e desencarnou. Imenso foi o sofrimento de Lilian com o fenômeno que ocorrera com sua tia, pois ainda que natural e inevitável, ainda que tivesse plena consciência e provas da continuidade da vida em outro plano de existência, a morte sempre simboliza o fim de um estágio para que outro possa ser iniciado. Lílian tinha certeza que sua tia Eloah continuaria a existir em outro plano, mas não saberia se e quando poderia vê-la por mais uma vez que fosse e isto causava uma tristeza que, apesar de episódica, era bem profunda; contudo recordou-se das palavras de seu mentor e, com fé em Deus, creu que um novo ciclo se iniciaria em sua vida. Um ciclo criado pelo Divino criador que a tudo sabe, tudo pode e que quer sempre o melhor para os seus filhos. Esta certeza trouxe grande paz a Lílian e eis que, ao anoitecer daquele mesmo dia, em acordo de seu amo com um certo Radamés, vieram buscar-lhe alguns homens para que pudesse, a partir daquele instante, viver junto a sua parente mais próxima, que era sua outra tia materna, Roberta. Foi assim que Lílian conheceu Levy.

Lílian percebia em Levy um sujeito extremamente altruísta e generoso e isto fez com que facilmente criasse uma relação de forte proximidade com ele, ainda que, inicialmente, não fosse amor, já que paralelamente à sua bondade, o primo de Lílian possuía um tanto de imprudência no desejo de ser o melhor lutador da localidade, assim no auge da adolescência e da virilidade, constantemente chegava em casa com ferimentos pelo corpo devido a brigas. Lílian não conseguia entender como um homem de coração caridoso poderia parecer-lhe tão bruto; além disto, era um pouco estabanado em demonstrar seu afeto a ela, pois, ao abraçá-la, as mãos dele, sem que tivesse intenção, acabavam sempre por desmanchar o seu penteado. Nestas horas, muitíssimo espirituoso, ele sempre dizia que o despentear fora proposital, já que ela ficava sempre mais bela ao natural, no que ela, tão espirituosa quanto, passava as mãos pela vasta cabeleira do primo para desgrenhá-la, assim, quando a obra estava acabada, ela colocava as mãos na cintura e o olhava de baixo acima e fitava bem em seu rosto para, sem conter o riso espontâneo que lhe vinha à flor dos lábios, fitar o desarrumado em suas madeixas e, vendo o sorriso de sua amada, quanto também sorria seu primo Levy.

 

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Lílian tinha dificuldades em compreender as motivações da aparente brutalidade em Levy, nesta contradição com o tamanho de sua bondade. Em certa ocasião, quando andavam pelo mercado em busca de certos produtos, Lílian, bastante sensível, ficou horrorizada em ver como um jovem tratava um servo idoso pelo fato deste haver sido ludibriado por um mercador e adquirido certa mercadoria ao invés de outra, pois o estapeava e blasfemava na frente de todos os transeuntes. Levy, ao observar a cena constrangedora, intencionou partir em direção ao jovem, mas foi inicialmente contido por Lílian que lhe segurou, levemente, o braço. Levy, fitou ternamente o olhar daquela que tanto amava, mas disse-lhe:

— Amada prima, ainda que não entenda bem os fenômenos que lhe ocorrem não só enquanto você dorme, mas também quando meditas, em vigília, de forma para mim assustadora, pois me parece morta, respeito a ti e a estas ocorrências, pois compreendo ser um legado, um dever seu para com Deus; assim, da mesma forma, por favor, entenda os meus treinos de combate, minhas práticas e meu agir enquanto um meio de também estar servindo ao bem, pois é para isto que pratico: tornar este mundo um lugar mais justo e, desta forma, um lugar melhor. Não posso ver esta cena e fingir que não estou treinando para corrigir injustiças não através da força, mas que, se em última instância, ela for necessária, não furtarei de usá-la para repará-las. Confie em mim!

O ardor, a convicção e a serenidade ao dizer-lhe àquelas palavras foram tão sinceros, que Lilian apenas lhe disse:

— Vá, Levy! Eu confio!

Levy, então, beijou a destra que o segurava em apreensão e disse-lhe:

— Obrigado, minha amada "olhos de jaspe", prometo fazê-la não se arrepender.

Levy partiu, a passos largos, em direção a ocorrência e disse ao ancião:

 

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— Senhor, vejo que está com problemas. Seria de seu interesse que eu pudesse colocar-me à sua disposição para ajudá-lo?

Lílian encantou-se com a forma extremamente respeitosa com que seu primo colocou-se para tentar ajudar ao idoso, mas o jovem que com o ancião bradava vociferou a responder à pergunta de Levy:

— Esta besta não faz mais nada certo. Confiei nele para que trouxesse uma mercadoria e este imbecil trouxe-me outra.

No que Levy respondeu-lhe:

— Deixe que ele responda, pois foi para quem fiz a pergunta.

— Não interessa para quem perguntou. Este velho é meu e eu falo e faço o que e com quem quiser. Esta besta!

Proferindo esta última ofensa, o jovem ergueu a destra para continuar a esbofetear o idoso, mas teve a mão segura por Levy que, educadamente, disse-lhe:

— Não consentirei que bata neste homem enquanto não houver entendido toda a situação e, se não contiver sua fúria enquanto isto não ocorrer, serei forçado a imobilizá-lo, você entende?

O jovem mirou a Levy de cima a baixo antes de respondê-lo e, vendo que muito provavelmente sairia em desvantagem em um possível embate corporal, acabou por, a contragosto, balançar a cabeça positivamente.
Foi desta forma que o ancião confirmou as palavras de seu amo, mas esclareceu que tudo ocorreu por haver sido ludibriado pelo mercador. Após tudo escutar, Levy acabou por dizer ao comerciante:

 

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— Pelo que pude escutar, toda agressão que este idoso vem sofrendo é consequência de uma possível ação desonesta de sua parte. O que você tem a dizer?

O comerciante era um homem obeso, mas forte e de média estatura. Em segredo estava detestando a intervenção de seu interlocutor, pois intimamente sabia haver, de fato, agido com desonestidade, mas sem esta intromissão seria muito fácil escapar daquela situação imputando toda a culpa no ancião, ainda assim tentou fazê-lo dizendo:

— A culpa é deste velho desatento que não conferiu a mercadoria antes de levá-la.

Levy, então, disse a ele:

— Façamos, assim, então: você é comerciante, logo precisa vender suas mercadorias para conseguir mais clientes e prosperar, não é verdade?
Sem entender para aonde iria o rumo daquela conversa, ele apenas respondeu:

— Sim!

— Para você prosperar, seus clientes precisam acreditar em sua idoneidade, não é mesmo?

Ainda sem compreender, ele disse apenas um irrefutável:

— Sim!

— Pois bem! Você entregando a mercadoria correta para este jovem fará com que ele fique satisfeito, uma vez que não haveria prejuízo para ele. Você também ficaria satisfeito, pois esta história se espalharia muito rapidamente pela comunidade e o número de seus clientes tenderia a aumentar tamanha a honestidade. Este ancião também ficaria satisfeito em ser reconsiderado junto a seu amo em sua credibilidade. Todos tem a ganhar, mas você, o que diz?

 

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Enquanto discorria sua argumentação, Levy foi observando que várias pessoas passaram a aproximar-se da situação, assim astutamente esperou a aglomeração de muitas delas para que, enfim, pudesse terminar de lançar a proposta e aguardar a resposta do mercador.

O comerciante observou a estratégia e, vendo que decisão contrária seria prejudicial aos negócios, pesarosamente respondeu:

— Está bem! Aqui, meu jovem, eis o seu produto.

Ao apanhar a mercadoria, o jovem mostrou intenção de estapear o idoso mais uma vez, mas foi contido, somente pelo olhar de Levy, que lhe perguntou:

— Quem é este ancião?

— Um servo inútil de meu pai.

O idoso, então, disse a Levy:

— Cuidei do pai dele e dele, desde quando eram crianças

.— Meu pai gosta muito dele, mas não consigo entender o porquê, já que para mim é apenas um imprestável.

Levy apenas respondeu ao jovem:

— Sugiro que você converse com seu pai e solicite que troque as atividades deste ancião, restringindo-as somente para àquelas a serem realizadas dentro de sua propriedade, pois a idade chega para todos que dela precisam e merecem usufrui-la.

 

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— Não sei se farei o que me sugere, mas esta conversa já cansou, vou-me.

Todavia, Levy, cuidadosamente, o interpelou e advertiu:

—  Faça como melhor lhe aprouver, mas entenda uma coisa, se eu, em algum dia, avistar você esbofeteando este ancião de forma injusta, saiba que repararei a injustiça de toda a forma justa que me for possível.

— Quem você pensa ser para tecer-me ameaças? Saiba que sou filho de pessoa muito influente junto à nobreza.

— Sim, não sei teu nome, mas bem sei quem és! Tu és pessoa que não respeita àqueles que vieram antes de ti, aqueles que labutaram para que pudesses crescer com todo o conforto, aquele que não honra ao pai, já que despreza o tamanho apreço que ele possui por este ancião, todavia, não posso deixar de apresentar-me, eu sou Levy, filho de Rebeca e Uriel, servo na casa de Radamés e possuo treinamento em combate e estratégia militar para servir onde quer que seja chamado por Faraó, em defesa de suas terras, ou por meu Deus, nas situações em que Ele tocar o meu coração, assim saibas que não te fiz uma ameaça, mas sim uma promessa, não me deixe vê-lo tocar violentamente neste ancião de forma injusta, ou você experimentará o resultado de todo o meu treinamento.

O jovem retirou-se com seu anoso servo, as pessoas tornaram a realizar suas atividades no local e Levy foi ter com Lílian de modo a retornarem para casa, já que não haviam encontrado a mercadoria que necessitavam. Levy nem poderia supor que, a partir daquele instante, acabara por conquistar o coração de sua amada. Sim, pois após haver entendido a causa dos ferimentos provocados por brigas em que Levy se envolvia, a intencionalidade causada por um coração justo e bondoso, não houve como não se apaixonar.

 

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Levy deixou de ser para ela apenas um homem atraente, forte, bonito e caridoso, mas também justo, argumentativo e que usava a força apenas em última instância e para defesa. Bruto somente quando necessário e em prol de um mundo mais equânime, mas sempre caridoso e altruísta, ainda que deveras estabanado nos momentos de intimidade entre os dois.

A vida seguiu seu rumo e eis que, praticamente dois anos após se encontrarem pela primeira vez, os enamorados decidiram por casar. Em cerimônia simples, realizada em casa, Lílian aguardou a chegada de seu escolhido para que viessem a se tornar uma só carne. O horário marcado fora o o que hoje descrevemos enquanto dezoito horas, todavia Levy já estava atrasado em quase duas. Lílian preocupou-se e resolveu sair um pouco de dentro de casa para renovar o ar e foi quando viu Levy chegar roto, sujo, mas com um sorriso no rosto na presença de um adolescente, com aparência de doze anos. Lílian logo adivinhou que seu amado, para defender aquela quase criança, acabara por envolver-se em contenda com alguma pessoa, o que foi corretamente confirmado por Levy posteriormente.

Tudo se resolveu tranquilamente e o casamento foi concretizado, mas ao deitar-se, ainda que seu dia tenha sido repleto de bençãos e maravilhas, o que não saia do coração de Lílian foi a forma enigmática, persuasiva e cobiçosa com a qual àquela criança, de nome Efraim, estranhamente a fitou quando rapidamente trocaram um olhar enquanto ele se dirigia para a casa onde residia o ancião Gael.

 

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CAPÍTULO VII - MOMENTO PARA EFRAIM 

 

Se com sua mãe, Maya, Efraim aprendera a arte do benzimento e dos princípios básicos no manejo com as ervas. Com Gael ele aperfeiçoou estes conhecimentos, sendo iniciado na manipulação magística de todo e qualquer forma de vegetal.

A amizade entre ele e Levy estabeleceu-se, inicialmente, justamente por conta de tais conhecimentos.

Mesmo ainda, praticamente uma criança, Lílian percebia e sentia-se intimamente incomodada com o jeito com a qual Efraim a olhava de forma submissa, como se devesse a ela toda e qualquer forma de adoração, enfim como se fosse servo dela. Sentia-se terrivelmente abalada com àquele olhar a suplicar que ela fosse sua senhora para que ele pudesse servi-la em qualquer capricho.

Lílian não externava este incômodo ao seu esposo, pois nada de errado acontecera de fato, além disto era fácil observar a relação de extrema amizade entre ele e seu esposo.

Com o passar dos anos, Efraim tornou-se um grande manipulador dos princípios vegetais, talvez o maior de toda aquela região. Buscava auxiliar a todos, independente da posição social, todavia influenciado pelas facilidades obtidas nos vastos contatos que obtinha junto aos nobres e à bajulação e múltiplos agrados com que lhe dispensava as várias mulheres com quem tinha contato na ânsia de esquecer seus encantos por Lílian, Efraim tornou-se um mago vaidoso.

 

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De tanto escutar o quão era hábil e formidável em suas práticas magísticas, acabou por ceder à influência do baixo-astral e, secretamente, passou a realizar várias experiências na expectativa de encontrar uma fórmula capaz de submeter a vontade de seu objeto de adoração à sua, nem que fosse por uma única vez. Interessante notar que cada experiência que executava provocava terríveis efeitos na vida de Lílian que, nestas horas, sempre corria ao encontro de Maya para socorrê-la.

Mais alguns anos se passaram e Efraim ainda não desistira de seu plano obscuro em submeter outro ser humano à sua vontade. Certa noite, após haver recebido encomenda de terras longínquas, com a finalidade de concretizar seu sonho distante, ele chegou à conclusão de que, primeiramente, deveria fazer com que sua mãe se ausentasse por certo período de casa, pois era ela quem sempre socorria Lílian e anulava os efeitos de sua magia. Ao alcançar a primeira parte do plano, ele deveria provocar algum desentendimento entre sua amada e o esposo, contudo isto deveria acontecer estrategicamente dias antes dele ser convocado a servir a nação em alguma ação temporária, o que não era raro acontecer devido à sua alta habilidade em combate. Havendo ocorrido estas duas condições, para ele seria fácil concretizar a última etapa que seria submeter Lílian à sua magia para concretização de seu sórdido plano.

O contato entre Lílian e seu mentor, Gamaliel, só fez estreitar-se com o passar do tempo, assim como suas lições sobre as coisas do espírito que ela acabava por utilizar para trazer bençãos para si, sua família e sua comunidade.

 

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Em certa noite de sono, Gamaliel a informou sobre a importância que teria para sua evolução espiritual, se ela pudesse se decidir por acompanhar Maya em viagem que lhe seria comunicada em alguns dias. Lílian, que permanecia preocupada em cuidar de colaborar com as crianças da comunidade que estavam enfermas devido a um surto de enfermidade respiratória, foi orientada por seu mentor em confiar na providência divina e usar de seu livre arbítrio para agir no sentido do que mais pudesse provocar paz em seu interior.

Efraim conseguiu junto a certos membros da nobreza (e companheiros de certas depravações) que sua mãe fosse enviada a interceder em benefício de algum nobre que necessitasse de seus cuidados em localidade que distava, aproximadamente, quatro dias de viagem para ir e outros quatro para retornar.

Maya esteve com Levy para solicitar que permitisse a Lílian acompanhá-la em viagem. Logrou sucesso em seu pedido, mas Lílian, por sentir que teria mais utilidade em benefício do próximo se permanecesse junto às crianças, decidiu-se por ficar.

Efraim soube da notícia através de sua mãe e decidiu visitar o casal de amigos no mesmo dia de partida de sua genitora. Assim, estrategicamente, colocou pequeníssimas quantidades de certa erva, em certos locais da casa, enquanto realizava conjurações. Dois dias se passaram e Levy foi convocado a servir no reparo aos telhados das casas mais resistentes, mas que ainda assim foram terrivelmente danificadas durante a sétima praga sobre o Egito.

A força do amor entre Levy e Lílian foi suficiente para protegê-los de um desentendimento conjugal, o oposto do que tramara Efraim, todavia a dor causada pela partida do ser amado, aliada ao pesar que misteriosamente sentia ao não haver partido em viagem com Maya, fez com que seu coração fosse preenchido por imensa tristeza que, aliás, não deixava de estar relacionada com a conjuração realizada em sua casa por Efraim.

 

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Nesta mesma noite, cheio de amabilidades, Efraim apareceu para visitá-la. Vendo que ela não estava bem, ofereceu-se para utilizar sua afamada habilidade com ervas, para fazer um chá que pudesse ajudá-la a convalescer daquele mal-estar. Obtendo resposta positiva, preparou magisticamente o chá que Lílian bebria com o pó obtido de vegetais distantes que recebera na encomenda.

Sentou-se ao seu lado, ofereceu a bebida e aguardou pacientemente a manifestações de seus efeitos, que não tardaram a acontecer, pois Lílian, inicialmente, sentiu um terrível calor que lhe subia pelos pés e aquecia a todo o corpo, mas concentrava-se especialmente em suas partes íntimas. Ela passou a abanar-se e Efraim, vendo o efeito de seu preparo, secretamente continuava suas evocações para alcançar melhor resultado em seu plano. O rosto de Lílian tornou-se afogueado e ela, tal qual estivera em transe alucinatório, passou, estranhamente, a enxergar na face de Efraim o rosto de seu amado Levy, assim, disse-lhe:

—  Levy, você está aqui? Como pode ser? Você não voltaria só daqui a três dias?

Efraim sabia que não poderia responder a tais perguntas, pois era conhecedor do fato de que o som da sua voz anularia o efeito do encantamento que estava sendo produzido, desta forma, ao escutá-la perguntando se era ele mesmo quem estava ali, apenas balançou a cabeça positivamente e dela aproximou-se para roubar-lhe um beijo.

Conseguiu sucesso em suas intenções, mas teve que ouví-la dizendo o estranhamento que sentiu com aquele beijo, que diferia de todos os outros que já trocaram anteriormente. Engoliu o orgulho ferido, pois estava louco de desejo e queria consumar o seu ato antes que passasse o efeito da magia, assim tocou com as duas mãos em sua cintura e Lílian, já tomada pela alucinação, entregou-se a Efraim e, em seguida, desmaiou.

 

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Para que suas futuras intenções pudessem, em curto tempo, serem concretizadas, ele aguardou, despido, ao lado de seu objeto de adoração, o seu despertar que nem tardou a acontecer.

Lílian saltou do leito, assustada, quando viu àquela cena e perguntou o que ele estava fazendo ali e naquelas condições, assim, Efraim, ao invés de contá-la a verdade, disse que foi visitá-la e percebendo que ela estava passando mal, ofereceu-se então para fazer um chá. Ela o agradeceu com um beijo muito doce e quente, ambos não resistiram aos desejos da carne e acabaram por ficar juntos. Então, dissimuladamente mostrando-se arrependido, ele disse que ninguém nunca saberia o que ocorrera entre eles e pediu perdão a ela, mas jurou que nada teria ocorrido se ela não tivesse consentido.

Aqueles fatos ficaram em segredo no coração de Lílian, mas a culpa pelo ocorrido fez com que entrasse em estágio de depressão. O retorno de Maya e Levy não tardou a acontecer e ambos ficaram muito preocupados com o estado em que a encontraram. Nem mesmo Levy, que propositadamente desgrenhava os próprios cabelos de modo a obter ao menos uma risada de sua amada “olhos de jaspe”, conseguia fazer brotar o esboço de um sorriso no rosto de sua amada.

Passaram-se algumas semanas para que as orações, benzimentos, chás e preparos de Maya pudessem colaborar para sua convalescença.

Certa noite, enquanto dormia, Gamaliel foi ter com sua pupila:

—  Filha, percebo em ti um grande pesar. O que houve?

— Como assim o que houve, sábio Gamaliel! Você não vê como têm sido as últimas semanas de minha vida?

 

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— Decerto que sim e é justamente por isto que lhe pergunto o que houve, pois você, abnegadamente, optou por cuidar das crianças em sua comunidade ao invés de viajar com Maya, ou seja, você, em seu mais perfeito juízo, resolveu permanecer em apoio às crianças e, graças a sua ação, quase todas se encontram em período de melhora dos sintomas apresentados devido à enfermidade. Muito deste bendito resultado é fruto de sua decisão.

— Isto eu compreendo, mas hoje observo que, se houvesse viajado com Maya, a comunidade teria cuidado tão bem, ou talvez melhor do que eu, das crianças.

— Isto é fato, Lílian, mas você não haveria por receber, junto a Deus, os méritos pela boa ação que aqui foi praticada.

— Sabe mestre Gamaliel, parece-me que você está querendo ignorar a gravidade do problema que esta decisão tomada provocou em minha vida.

— Não, minha amada! Estou argumentando para que você perceba o tamanho do mérito que o resultado de sua decisão trouxe para a sua vida. Entenda, filha, que não existe estrada sem percalço. Cabe a nós orarmos a Deus pelo melhor caminho, confiar e seguir adiante, com fé. O melhor caminho, minha querida filha, é àquele que mais conseguir provocar paz à consciência pela sensação de dever cumprido.

— Mas hoje em dia vejo que deveria ter feito o que você aconselhou e partido com Maya.

 

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— Verdade, minha filha? E como estaria hoje sua consciência com o desencarne das crianças Esther e Micaela? Você estaria em paz por haver auxiliado Maya na convalescença de um idoso, mas qual seria o tamanho do dissabor em saber do óbito destas crianças e do possível sentimento de culpa que a consumiria em seus pensamentos de que, talvez se houvesse aqui permanecido, quem sabe poderia ter colaborado para salvar a vida delas? Este dissabor seria maior ou menor do que o que você carrega como consequência por haver permanecido?

— Sabe Gamaliel, até agora não entendo direito como posso haver me entregado para Efraim. Em nenhum momento eu o fiz em plena consciência. Eu estava confusa, sabe, parecia ser Levy, mas o beijo estava diferente, mas eu não teria como imaginar, enfim, parecia magia.

— Parecia não, minha filha, foi prática de magia.

— Deus meu, que baixeza! Efraim nunca me enganou, mas jamais poderia pensar que ele recorreria à magia para fazer-me mal.

— Contudo, ele o fez, minha filha. E, muito provavelmente, só o contar dos grãos de areia presentes no deserto conseguirá dar conta do tempo que ele levará para que possa reparar a consequência desta ação e ter paz na consciência.

— Sabe mestre Gamaliel, começo a perceber a lógica justa do seu raciocínio, pois realmente não tenho do que me culpar já que fui cerceada em meu livre arbítrio para poder fazer o que fiz. Eu estava sentindo-me muito mal por conta disto, mas vejo que realmente estaria sentindo-me muito pior se houvesse partido e descoberto, quando voltasse, sobre o falecimento de Esther e Micaela.

 

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Eu orei muito a Deus antes de tomar minha decisão e acredito haver agido segundo a vontade Dele. Como não segui em viagem, tenho como consequência o mal que foi provocado em meu corpo e sobre o qual não sinto pesar, já que fui ludibriada em minhas vontades, mas se tivesse partido estaria agora consumida em culpa de estar pensando, na verdade, ilusoriamente, de que, se ficado houvesse, poderia ter salvo a vida delas. Assim, querido mestre Gamaliel, posso dizer, de coração, que me sinto em paz com minha consciência e perdoo a Efraim.

— Teu perdão é importante, filha minha, e eu agradeço imensamente a Deus por haver tocado teu coração com todo o vigor de Sua paz misericordiosa, até mesmo por que fui incumbido, pelo Alto, de informar que, já há um mês, um novo ciclo iniciou-se em sua vida, assim é necessário que você se comporte conforme o desenvolvimento deste ciclo.

— Você teria como dizer alguma informação sobre este ciclo?

— Apenas que é um ciclo femininamente gestacional.

— Gestacional? Então quer dizer que estou grávida, Gamaliel?

— Sim, minha filha, você está e a importância de passar-lhe esta informação, do Alto, é porque ela será uma gravidez discretíssima, uma vez que seu útero passará a dilatar-se apenas ao fim do oitavo mês de gestação, todavia, ainda que discreta, será uma gravidez que exigirá em muito de seu corpo, sendo assim, será importante que evite atividades físicas e que se mantenha em repouso o quanto possível.

 

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— Se o senhor diz ser um ciclo feminino, isto quer dizer que será uma menina?

— Isto não tenho orientação para informar, mas você entenderá que um coração materno raramente se engana.

— Entendo Gamaliel, mas só tenho a dizer que, se for menina, o nome dela será Eloah, em homenagem a minha amada tia, até mesmo por que já verbalizei esta intenção a Levy anteriormente e ele concordou, prontamente, com a sugestão. Não veja a hora de contar para ele.

— Filha, seria importante que guardasse, temporariamente, tal informação e isto está ligado ao motivo pelo qual eu te peço redução das atividades físicas durante a gravidez.

— Não compreendo.

— Segundo planos traçados por Deus, em alguns meses você e seu povo seguirão em jornada de dias para outro local. Agora está sendo pedido o seu repouso para que, quando for chegada a hora da partida, você tenha condições de empreender o caminho sem riscos à criança. Após haverem chegado a este local, a longa caminhada prosseguirá, mas sem a necessidade de ser intensa.

—  E Levy?

— Filha, você tem o livre arbítrio para relatar a Levy todo o conteúdo de nossa conversa, ainda mais sendo ele seu esposo, mas se te passo, do Alto, a orientação para aguardar a transmissão de tal mensagem, é para que cada qual possa receber segundo às suas obras pela espontaneidade presente no agir de cada um.

— Acredito que entendo esta mensagem do Alto, Gamaliel, então quando será o melhor momento para contar a Levy?

 

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— Ao anoitecer do quarto dia de jornada.

— Tudo bem, então. Mas quanto a Levy, mestre Gamaliel? Sinto que não devo contar a ele sobre o que ocorreu entre mim e Efraim, porque o que ocorreu nunca foi entre mim e Efraim, mas sim porque eu via a Levy.

— Filha, é como disse antes a você, não há caminho sem percalços, assim, qual seria a estrada que mais traria paz a tua consciência?

— Sabe Gamaliel. Eu penso que se contasse a Levy e ele resolvesse abandonar-me, eu, a muito custo, conseguiria seguir por amor à vida que carrego em meu ventre, além disso, magiada por Efriam, ou não, eu realmente cometi adultério. A grande questão é que se eu contar a Levy sobre o ocorrido, ele nunca perdoaria ao amigo e, conhecendo seu temperamento, quiça, se talvez não intente contra a vida de Efraim. Com o abandono da pessoa amada eu conseguiria até sobreviver, mas jamais teria um dia de paz se fosse, mesmo que indiretamente, responsável pela morte de uma pessoa, assim penso ser melhor agir conforme o meu coração.

— Então ore a Deus, tenha fé e viva em paz.

— A cada dia de minha vida, mestre Gamaliel, até mesmo por que, pelo que percebo, mais de um ciclo está para iniciar-se em minha vida, não é mesmo?

 

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— Isto mesmo, minha filha, e, para cada um deles, solicito que ore bastante ao Eterno e tenha muita fé. Enfim, viva e conviva em espírito de oração, pois só Deus pode todas as coisas.

— Que assim seja!

O tempo foi passando e nem a invasão de inúmeros de gafanhotos ou dias de escuridão profunda fizeram com que o coração de Faraó cedesse às rogativas de Moisés e deixasse partir os hebreus. Efraim, em nenhum momento, deixou de rondar a presença de Lílian para, fazendo-se de bom amigo, sutilmente chantageá-la a fim de que contasse do envolvimento que houvera entre eles para Levy, pois se dizia a ela que estava consumido em culpa pela traição ao amigo, na verdade, tinha a esperança de que Levy, ao saber do fato, terminasse o relacionamento com ela, deixando o caminho livre para ele.

Somente após a morte dos primogênitos do Egito foi que Faraó, em certa noite, deu consentimento para a partida dos hebreus.

Efraim sabia que não seria fácil fazer com que Lílian cedesse à sua chantagem, foi exatamente por tal motivo que providenciou pequeníssimo frasco de potente veneno, junto a outros medicamentos, pois, se seu plano falhasse, ele poderia intentar contra a vida do amigo.

Ainda na noite anterior à partida, Efraim foi ter com Lílian em secreto e discorreu sobre todo o seu sentimento por ela, a forte amizade com Levy e a pretensa consumação em culpa que sentia por haverem estado em intimidade anteriormente, além do fato de que não conseguia viver mais com este sentimento a assombrá-lo e que, sendo assim, seria melhor que os dois seguissem por três  dias de caminhada em trajeto a ser mostrado por Moisés, mas que, findado este período, retornassem ao Egito para viverem juntos, porque ao findar este prazo, se ela decidisse por continuar viagem, ele acabaria por ter que contar tudo a Levy.

Lilian tentou dar sua resposta no mesmo instante, mas ele, habilmente, conseguiu demovê-la de sua intenção inicial e de fazê-lo somente três dias a frente.

 

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Poucas horas antes dos primeiros raios de sol tocarem o firmamento, após haver recebido as orientações de Moisés, Arão foi ter com o povo que, reunido, aguardava alguma informação.

Disse-lhes, então:

—  Irmãos, o Eterno ordenou a Moisés que partamos do Egito para uma terra onde possamos viver livres e sermos um só. O Eterno sabe onde está tal local e guiará Moisés durante toda a jornada.

A nossa saída daqui precisa ser um ato de fé não em mim, ou em Moisés, mas no Eterno, pois Ele tudo pode. Sabemos que as temperaturas, ao longo de nossa trajetória, oscilarão ao extremo, mas o Eterno disse a Moisés que estará conosco durante todo o tempo de nossa jornada a nos fortalecer e a indicar o caminho. Então sigamos o caminho da fé.

E foi assim, instantes após está fala, que incontáveis hebreus deixaram à terra do Egito para uma nova vida. A maioria deles estava temeroso e desconfiado, mas acabaram por ceder e seguiram viagem junto a seus irmãos de jornada. Moisés os guiava junto a Arão e ao conselho de anciões.

 

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CAPÍTULO VIII - O PRIMEIRO MOMENTO DA JORNADA 

 

Levy e outros poucos que possuíam alguma noção de combate e do território seguiam a frente da multidão junto a Moisés, Arão e aos membros do conselho, enquanto alguns outros, com tais habilidades, seguiam atrás de modo a permanecerem atentos a qualquer eventualidade.

Lílian e Maya também seguiam, praticamente atrás, junto às demais mulheres, crianças e àqueles que conduziam o rebanho, já Efraim seguia à frente pela popularidade e influência junto ao conselho.
Ainda antes que pudessem aparecer os primeiros raios de sol, devido ao clima extremamente seco e também devido àquela aglomeração de pessoas, a sensação térmica era de média para alta. O céu estava limpo e de um azul inocentemente atemorizante, pois era claro sinal de que o dia seria extremamente quente, todavia na direção de onde nasce o sol, estranhas e espessas nuvens passaram a despontar no horizonte como se fossem uma coluna horizontal para tornar opaco o efeito das radiações solares junto àquelas pessoas.

Levy estranhou aquele fenômeno, pois o azul reinava em todo o firmamento, exceto no local por onde espessas nuvens cobriam o astro-rei. Ele percebia ser uma nuvem que parecia possuir vida própria, pois à medida que as horas iam passando, ela se movimentava para precisamente bloquear os possíveis ângulos de incidência dos raios solares junto àquela população.

Moisés fazia daquela coluna uma forma de bússola, pois compreendia, em espírito, tratar-se de uma manifestação do Eterno a guiar o povo. Ao perceber estar sendo guiado para um caminho bem mais longo que o normal para chegar ao que deduzia ser o provável destino, Moisés estancou o passo, virou-se, solicitou que o povo o aguardasse, afastou-se algumas dezenas de metros e foi orar ao Eterno.

 

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Levy também achou estranho o caminho pelo qual àquela pilastra de nuvens estava guiando o povo, pois em ocasionais serviços prestados juntos às tropas de Faraó, sabia haver outro caminho, mais curto, a chegar ao destino. Era um território praticamente filisteu, com certeza, mas com guarnições de Faraó a guardá-lo. Os homens do soberano egípcio não ousariam atacá-los, já que o mandatário supremo deles ordenara a liberação do povo. Talvez o maior perigo fosse os próprios filisteus, mas apesar de poucos, quem sabe os homens valorosos e com conhecimento de combate não seriam suficientes para afastar qualquer inimigo, apesar de eventuais perdas.

Bem afeito a lutas e combates, Levy certamente escolheria atravessar o outro caminho, se tivesse este poder, contudo Moisés logo retornou junto ao povo, conversou brevemente com Arão e todos seguiram adiante pelo caminho indicado pela coluna de nuvens, afinal Moisés compreendera que trilhar qualquer estrada na presença de Deus é mais seguro e reconfortante do que caminhar pela vontade humana, inclusive a dele, aparentemente.

Minutos antes, enquanto ainda aguardavam as orientações de Moisés, Maya aproximou-se de Lílian e disse para a amiga:

—  Lílian, pode ser que eu esteja equivocada, mas sinto uma grande contradição em seu olhar, pois, enquanto ele apresenta um luminoso brilho de, para mim, inexplicável contentamento, também manifesta um pesar que quase ofusca esta luz dos teus olhos, assim, mesmo que talvez não seja pertinente, eu lhe pergunto: está acontecendo algo que a está preocupando? Se estiver, mesmo que você não possa contar, existe algo que eu possa fazer para ajudá-la?

 

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O passar dos anos daquela amizade nunca fez com que Lílian deixasse de se surpreender em quão boa leitora da alma humana era Maya, sua amiga, entretanto não teria como falar a ela, naquele instante, da ventura que carregava em seu ventre, até mesmo por que decidira seguir a orientação de Gamaliel e noticiar seu esposo a respeito somente ao quarto dia de jornada; além disto, não haveria como também conversar com sua amiga sobre o quão eram desprezíveis as ações de seu filho para com ela, assim respondeu apenas:

—  Nunca deixarei de admirar sua perspicácia, minha amiga, mas a causa do brilho em meu olhar é a mesma que causa-me aflição, a qual é a alegria de ser livre em uma nova terra e, ainda que tenha muita fé, a aflição por não saber como será nossa jornada até lá.

Maya percebeu que Lílian desconversava sobre o íntimo de sua alma e, respeitando seu momento, respondeu:

—  A fé, minha amiga! Alimentemos nosso ser com orações para que o Eterno fortifique nossa esperança a tal ponto que não reste outra alternativa para a aflição, a não ser deixar as nossas vidas.
E, dizendo isto, Maya sorriu em direção a ela, pegou-lhe, sutilmente, a destra com as mãos e disse:

—  Conte comigo para tudo o que precisar!

Com os olhos marejados, Lílian somente respondeu:

—  Obrigado por tua amizade, Maya! Ela é uma fonte de luz para minha vida.

 

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Orientando Moisés que todos tornassem a caminhar, as amigas seguiram silenciosamente naquela caminhada.

Maya, inexplicavelmente, tinha convicção que, ao contrário do que lhe dissera a amiga, o motivo de sua alegria e de seu pesar tinham origens distintas e, também sem saber como explicar, sabia que seu filho, Efraim, tinha algo relacionado com àquela tristeza, assim realizou sentida prece ao Criador e fortaleceu-se em seu coração a necessidade de, discretamente, tentar extrair de seu filho alguma informação a respeito.

As horas foram passando e o povo seguia o caminho indicado por àquela coluna de nuvens que Levy intimamente denominava de grande tampa-sol. Na realidade, parando para refletir sinceramente no fenômeno, era justamente isto que àquela manifestação divina parecia: um tampa-sol, pois o vento naquele primeiro dia foi escasso, então, teoricamente, não haveria como a pilastra ir se deslocando ao longo das horas exceto se, nas alturas, reinasse uma ventania imperceptível àqueles que estavam no solo.

 Levy era um homem temente a Deus e de fé então, ainda que não pudesse explicar, seu coração transbordava em alegria por, durante todo o dia, não haver enfrentado a fúria do sol, e também de gratidão ao Eterno por esta proteção, todavia, analisando o seu comportamento, era visível que ele encarava aquele fenômeno com a maior naturalidade.

Preciso fazer um pequeno parenteses e dizer que durante todo o tempo em que pude ter acesso a tais memórias, foi apenas quando vi àquela coluna de nuvens que tive uma pequena noção de quão grande mago era Moisés e o de quão grande era a sintonia entre Deus e ele. Foi só assim que pude compreender as explanações do irmão Carlos a tal respeito.

 

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Peço perdão pela intromissão, mas não teria como observar àquilo que a misericórdia divina oportunizou-me a ver e não compartilhar com vocês as impressões no registro do tamanho da misericórdia, do amor, da grandiosidade, da simplicidade e do poder de Deus.

Como dizia, era notória a naturalidade com que Levy passou a presenciar a tal fenômeno. Somente instantes antes de o dia virar noite foi que ele passou a se perguntar o que aconteceria quando a noite chegasse e as temperaturas caíssem drasticamente.

Moisés não possuía tais questionamentos. Ele, naquela época, poderia sim, ser ainda um tanto reticente e inseguro, mas tinha um altíssimo conhecimento em várias formas de magia (até mesmo por que era um iniciado na origem e no meio) e uma ampla confiança no Eterno, assim quando orientado pelo Eterno a realizar certos procedimentos em magia ígnea não hesitou um só instante e agiu conforme. Em instantes, um carrossel de fogo, que ia do solo até o céu, surgiu imediatamente diante daquele agrupamento de pessoas e foi-se desgovernado para trás de uma colina. Passaram-se poucos segundos e o carrossel retornou para diante daquele agrupamento, mas já não estava mais desgovernado e poder-se-ia dizer que possuía, até mesmo, vida própria.

Moisés ajoelhou-se, de pronto, agradecendo a Deus por Sua infinita misericórdia. Levy olhou para dentro daquela coluna de fogo e não viu, mas eu não pude deixar de observar: dentro daquele imenso redemoinho havia um ser e eu não pude deixar de notar que, pelos contornos corporais, parecia masculino. Ele segurava uma grande lança de fogo na mão esquerda e guiou a caminhada noturna de Moisés e de seu povo. A coluna de fumaça e de fogo também puderam ser avistadas ao longo do segundo dia de caminhada dos hebreus.

 

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CAPÍTULO IX - O SEGUNDO MOMENTO DA JORNADA:

 

Tal como no dia anterior, a manhã surgiu muito quente, mas a coluna de fumaça ainda perdurava no firmamento para reduzir intensamente a irradiação calorífera.

É importante dizer que a maior parte daquela massa em peregrinação pelo deserto não o fazia espontaneamente, mas sim pela sensibilização motivadora realizada pelos argumentos de Arão em fortalecê-los na fé em um Deus que tudo pode e, sendo assim, os guiaria até uma terra onde seriam uma nação livre e indivisível.

Em meio àquela multidão que no Egito levava uma existência humilde e sofrida, também caminhavam pessoas que, assim como Levy e Ibrahim, possuíam relativa liberdade de ação quando naquele país.
Os humildes, cansados de sofrer com o trabalho infindável e excessivo, enxergaram a proposta de migrarem do Egito muito mais como uma oportunidade de conseguirem sobreviver de uma maneira mais digna do que pelo entendimento da proposta de viverem uma vida em comunhão com Deus, enquanto uma grande nação.

Já os israelitas que no Egito viviam em condição não tão desfavorecida em direitos ambicionavam muito mais a possibilidade de participar na construção de uma nação independente do que a qualquer outra coisa,
Deus está em todos os lugares e podemos presenciá-lo em coisas grandiosas como o sol, mas sua presença também se faz notar nas menores coisas. Grande parte dos peregrinos ainda não entendia que sua futura nação teria o potencial não de ser o país mais bélico, mais poderoso e mais rico entre os reinos dos homens, mas sim no reinado das coisas do espírito, pois uma nação quando em comunhão com o Eterno, tem uma fé e um amor tão intensos que servem de poderosas armas para vencer todo e qualquer regimento das trevas, já que esta é a verdadeira luta a ser travada dia-a-dia, a luta contra toda e qualquer forma de presença do mal a existir no mundo, mas em especial àquela que estiver dentro de cada um de nós.

 

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Uma nação com este nível de compreensão percebe ser a mais rica quando seu povo entende que a presença diária da fé e do amor em suas vidas é a base de toda e qualquer riqueza material ou espiritual. Da mesma forma, entende ser a mais forte não necessariamente pelo poder bélico de seu exército, mas pela resiliência e sabedoria em saber travar o bom combate, em lutar contra si próprio para que o Eterno e Seus ensinamentos vençam em sua vida, pois é daí que vem o poder de uma nação verdadeiramente aliançada com Deus.

Cada um dos integrantes daquela enorme quantidade de pessoas caminhava com um propósito em seu coração, mas ainda não estavam maduros o suficiente para entenderem o real significado de virem a ser uma nação em aliança com Deus.

Possivelmente por tal fato é que, ao longo da jornada naquele segundo dia em direção à liberdade, boa parte daquela massa executava os seus passos em meio a murmúrios que pareciam intermináveis, em especial devido à sensação térmica que, com a presença da coluna de fumaça, estava reduzida em praticamente sessenta e cinco por cento. Observem que trinta e cinco por cento de um calor causticante do deserto ainda é muita coisa, mas certamente era cerca de cinquenta por cento mais fresco do que a temperatura com que tinham que exercer suas atividades quando no Egito, contudo, em atitude incrivelmente impaciente, a maior parte daquela numerosa quantidade de pessoas não conseguia compreender, em plenitude, o tamanho da presença e do poder de Deus por meio daquela coluna de nuvem, mas não seria justo desejar que plenamente tivessem no início da caminhada, uma compreensão que só poderia ser forjada ao longo de toda uma jornada.

A marcha só cessou poucas horas após o anoitecer, porque foi quando a coluna de fogo parou e permaneceu imóvel. Moisés, assim, entendeu ser a hora do povo acampar para descansar e foi justamente o que aconteceu. Aquele ser ígneo certamente era um mensageiro a trazer, do Altíssimo e em toda sua composição estrutural, a mensagem de direcionamento do povo sobre o caminho a seguir.

 

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CAPÍTULO X -  A JORNADA EM SEU TERCEIRO MOMENTO:

 

Na madrugada deste dia, em sonho, Moisés recebeu, por parte de Deus, a mensagem de que, em menos de dois dias, Faraó compreenderia que, ao contrário do que pensava, o povo não retornaria para as terras do Egito, assim partiria, em montarias e também carruagens, ao seu encalço. Desta forma eles deveriam aumentar os passos, mas sem desespero, para que pudessem alcançar o local de onde estariam definitivamente livres do exército egípcio.

Assim, ao amanhecer, Moisés esteve com Arão e solicitou a ele que posteriormente informasse ao conselho dos anciões e aos líderes de que, antes do entardecer daquele dia, necessitaria estar com eles para que fossem informados sobre mensagem que recebera do Eterno e, em seguida, contou a Arão sobre a mensagem, em sonho, que recebera Dele, já que seria o próprio Arão que a transmitiria para o povo.

A multidão seguia adiante e, durante todo o dia, não se apartou de diante do sol, a poderosa coluna de nuvens escuras que, como dissemos anteriormente, fora apelidada intimamente por Levy de grande tampa-sol.
Maya aproveitou ocasião propícia e foi ter com seu filho, Efraim, dizendo-lhe:

—  Bom dia, filho meu! Como você está?

Efraim não estranhou a pergunta, mas sabendo ser sua mãe uma perspicaz conhecedora da alma humana, entendeu que ela, muito provavelmente, viria indagar-lhe sobre alguma questão de foro íntimo, assim procurou desconversar dizendo:

—  Ótimo dia minha mãe! Com esta proteção do Eterno, a nos guiar dia e noite, eu só poderia estar muito bem, não é mesmo?

 

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— Certamente, meu filho! Percebo um brilho de alegria em seu olhar, apenas desconheço se seria fruto somente de genuína gratidão pelas bençãos com que o Eterno nos tem provido.

— Mas que outro motivo teria, minha mãe?

— Não sei meu filho, dizem que a alegria verdadeira, àquela que vem das coisas de Deus, é um lindo sol, todavia, em seu caso, tal qual o astro-rei estaria a aquecer a nossa pele, não fosse a coluna de nuvens, em seu íntimo esta alegria divina parece tampada por uma pilastra de nuvem composta por uma felicidade das coisas do mundo, àquela que pode nos levar para o perigoso reino das ilusões, o reino das forças demoníacas.

— Valei-me Deus, mãe, não estou gostando do rumo desta conversa! Acaso quer amaldiçoar-me?

— É o oposto filho amado. Quero justamente que não caia em maldição.

— E que maldição seria esta?

— A maldição que recai sobre a vida daquele que deseja o que não é seu por direito e que, pasmem, muitas vezes cede a tentação de se utilizar dos princípios divinos da magia para tentar se apossar daquilo que não lhe é próprio.

— Porventura está acusando-me de algo escuso, minha mãe?

— Pela educação que te dei, meu filho, eu jamais poderia pensar ago assim sobre você, mas é que te observo, há tempos, afastado de mim e, à medida que isto foi acontecendo, você tem agido, algumas vezes, em desacordo com esta educação, mas não se preocupe, filho meu, pois tudo o que estou a lhe falar vem somente do amor que existe no coração de toda mãe e na preocupação que tenho em que, por conta de uma ilusão, venha a se perder do caminho da real felicidade, àquela que vem das coisas de Deus.

 

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Procurando escapar daquela situação, disse Efraim à Maya:

—  Mãe, como você sabe, hoje, mais tarde, o irmão Arão falará conosco e com o conselho dos anciões, a respeito de mensagem recebida por nosso líder, assim, preciso preparar-me a contento e peço desculpas, mas nossa conversa terá que prosseguir em outro momento.

E foi-se em meio àquela grande multidão sem permitir que sua mãe pudesse dizer-lhe as últimas palavras para encerrar aquele diálogo. Ela queria pedir a Efraim que confiasse em Deus e seguisse viagem certo da providência, mas como lhe escapou seu filho, Maya apresentou esta aflição, em sentida oração, ao senhor Deus, pois Ele a tudo pode.

O tempo passou e, assim que o sol passou ao meio do firmamento, Efraim partiu, a pé, para um local bem afastado onde realizaria o preparo de potente veneno com o qual pretendia utilizar para eliminar a vida daquele que era, sem sombra de dúvida, seu mais leal amigo, mas também esposo daquela pessoa que ele acreditava verdadeiramente amar, Lílian, contudo isto só seria necessário se ela recusasse sua proposta em partir de volta ao Egito junto a ele. A resposta viria àquela noite e seu coração palpitava em ilusórias emoções desgovernadas a respeito da resposta a ser obtida, pois, ele não desejava ceifar a vida do amigo, mas o faria sem pestanejar se isto fosse realmente necessário.

Reconheci ser este o exato momento em que se iniciara o meu acesso às memórias akashicas.

Notei que ao discorrer sobre a mensagem que o Eterno revelara a Moisés, em sonho, para aquela pequena assembleia, Arão percebeu manifestação de significativa aflição por parte dos ouvintes, todavia ele os acalmou solicitando que confiassem na providência divina e que não alarmassem o restante da multidão sobre o que acabavam de escutar, pois em poucos dias todos eles poderão avistar, por conta própria e à certa distância, a aproximação de Faraó e suas tropas, todavia continuar a caminhar de forma mais rápida como a que faziam naquele dia, seria o suficiente para que não fossem alcançados.

 

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Muitos souberam disfarçar no semblante, mas carregavam, intimamente, intensa preocupação com o que haviam acabado de escutar. Efraim também trazia um que de preocupação na face, todavia era somente reflexo sobre a resposta que, em breve, obteria de Lílian.

Momentos após o anoitecer, o mensageiro na coluna de fogo parou e o povo acomodou-se para descansar de um dia de intensa movimentação.
Efraim aproveitou-se que sua mãe fora ter com outras mulheres para a organização do local e de que Levy encontrava-se junto aos líderes do povo para adentrar secretamente na tenda onde se encontrava Lílian. Ele tentou chantagear emocionalmente ao objeto de sua adoração e empregou vários argumentos e encantamentos para tanto, mas não obteve sucesso em sua intenção de retornar, com ela, naquela madrugada, para a casa de seu antigo amo no Egito. Vendo que não teria sucesso em sua empreitada e que uma possível insistência poderia fazer com que perdesse a oportunidade de, um dia, tê-la em definitivo na sua vida, Efraim concordou em não mais insistir com ela, todavia, secretamente, passou a planejar qual seria o melhor momento de livrar-se de Levy de maneira insuspeita.

 

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CAPÍTULO XI  -  O QUARTO MOMENTO DA JORNADA:

 

Gamaliel aguardou o adormecimento de sua pupila, durante a madrugada,  para conversar com ela. Vendo-o, seu coração encheu-se de contentamento e Lílian, então, disse-lhe:

— Irmão Gamaliel que alegria! Hoje, para mim, como sabe, será um dia muito especial, pois finalmente contarei a Levy sobre a vida que carrego dentro de mim, sobre nossa filha.

Vendo a esposa pronunciar o nome Gamaliel, de imediato Levy soube que sua amada encontrava-se em processo de desdobramento mediúnico. Ele nunca entendera, nem se envolvera nestes fenômenos, mas sempre respeitara a esposa ao observar as consequências benfazejas que tais comunicações provocavam em sua vida, de seus amigos e de sua comunidade, assim, ao escutá-la pronunciar o nome daquele que ela dizia ser o irmão Gamaliel, seu mentor, ele, com amor quase infinito, aconchegou-a em seu peito e tornou a dormir.

Já em plena atividade de desdobramento, Gamaliel respondeu a Lílian:

— Jamais poderia deixar de estar contigo agora, minha filha! E muito me alegra saber que enquanto muitos neste acampamento, inadvertidamente, carregam a pesarosa angústia da dúvida no coração, você descansa na fé ao Eterno. Saiba que, além de uma ordenação do Altíssimo, sempre foi um motivo de muita satisfação poder mentorear um ser tão altruísta e caridoso quanto você. Quando um ciclo se encerra parece o fim de toda uma história, mas é apenas uma nova oportunidade que o Eterno faculta ao aprendiz a fim de que, com novas bagagens, oportunidades e estradas, ele tenha condições de evoluir, em espírito e verdade, em direção ao único caminho que conduz à real felicidade, o caminho Dele, assim nunca vou poder deixar de agradecer a Deus por conduzi-la neste teu ciclo de vida, enquanto for a vontade Dele.

 

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— Sinto-me muito grata com tuas palavras, irmão Gamaliel, mas seriam elas um indicativo de que algum ciclo está para encerrar-se em minha vida?

— Observaste bem minha filha, mas como sempre digo a você, torno a repetir ser desnecessário e infrutífero trazer angústia, sofrimento e dor para dentro de sua vida devido à certeza do desconhecimento sobre o amanhã, pois se teu hoje, teu amanhã e toda tua vida for entregue aos caminhos do Eterno, Ele tudo o mais a ela acrescentará. Confia minha filha! Confia, pois em cada ciclo que estiver, se permitido pelo Alto for, lá eu estarei presente.

Como trazia paz para Lílian as palavras proferidas por Gamaliel! Se ao início do diálogo, conhecendo a índole de Efraim, ela temia pela vida de seu amado Levy, em especial pelo resultado de seu último diálogo com ele, ao seu término o seu coração estava inundado por imensa gratidão. Todo seu ser estava tão grato que ela apenas lhe respondeu:

— Que assim seja, irmão Gamaliel!

Amanheceu e quando observei, por mais um dia, uma coluna de nuvens no firmamento a tampar os primeiros raios solares que já começavam a despontar, não tive como não deixar de pensar no tamanho infinito do amor de Deus por sua criação, também manifesto na natureza e, em contrapartida, como nós, seus humanos filhos, estamos tão ensimesmados em nossas vidas que acabamos por nos tornarmos indiferentes a estes fenômenos e, quando não pior, sermos ingratos a eles, pois atentem, quem de nós, no dia-a-dia, está para observar o firmamento e tudo o que nele há em toda sua beleza e, assim o fazendo, agradecer a Deus por sua misericórdia? Quem de nós está para observar quando, sob o sol, uma singela nuvem aparece para obscurecê-lo momentaneamente e trazer um breve refrigério em nossa jornada? Ao invés de olharmos aos céus e agradecer a Deus pelo tempo que àquela formação de vapor líquido nos proporcionou frescor, passamos a reclamar, do tempo e até da vida por julgarmos breve o momento. Não sei, mas creio que se pudéssemos ser mais gratos pelo que Deus nos oportuniza e pelo tempo que Ele nos proporciona, então seríamos mais felizes em nossas vidas.

 

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Ao amanhecer, a maioria daquela multidão encontrava-se em plena gratidão por reconhecer, naquela nuvem, uma indubitável manifestação da presença de Deus. Esta gratitude era manifesta no agir e no falar, mas especialmente no olhar de cada um.

Enquanto isto e há vários quilômetros dali, Faraó, que considerava como fato consumado o retorno dos hebreus por os verem como incapazes em gerir as próprias vidas, foi comunicado que não retornariam e, pior, pareciam partir em fuga das terras do Egito, assim passou toda a manhã cuidando de procedimentos necessários para a manutenção da ordem no país ao longo de sua breve ausência, porque se sentindo extremamente indignado com o que ponderava enorme ingratidão daquela imensidão de pessoas, o mandatário maior do Egito, ao início do entardecer, partiu com seu exército, em carruagens e montarias, para alcançar os judeus, subjugá-los e trazê-los de volta ao Egito.

Por serem suas montarias as melhores do país, pela formidável qualidade de suas carruagens e experiência de seus homens, Faraó considerou que os hebreus seriam alcançados com extrema facilidade, assim ordenou que seus homens partissem vigorosamente em direção àquela multidão.

Certamente não haveria necessidade de que ele, o grande Faraó, participasse daquela empreitada, mas para calar o descontentamento do povo egípcio com o seu consentimento à partida dos hebreus, resolveu ele mesmo ir junto aos seus comandados, como forma a demonstrar o quão poderoso era ele, seu exército e seu povo.

Enquanto àquela hora, Faraó e seu exército sentiam o efeito de um calor causticante, lá pelo lado onde estavam os hebreus a coluna de nuvem permanecia a, praticamente, a anular poderosamente o efeito das ondas caloríferas.

 

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Praticamente ao final da tarde, com os pensamentos desalinhados pela tormentosa paixão, Efraim ponderou que, infelizmente, deveria eliminar Levy se algum dia quisesse ter a chance de ficar com Lílian, assim chegou à conclusão de que a melhor forma, àquela que seria mais discreta para envenená-lo seria colocando a quantidade necessária da substância junto à água em seu odre e oferecê-lo ao amigo. Ele assim o fez, todavia Levy fora muito requisitado, durante todo dia, junto ao conselho dos anciões, o que não o permitiu estar mais afastado, junto ao amigo, para que poucos pudessem testemunhar o seu ato.

O tempo passou célere e, ao anoitecer, junto ao local onde a coluna de fogo estancara como a indicar que os hebreus repousassem, Lílian, na tenda do casal, chamara ao esposo para contar-lhe as boas novas.
Assim que adentraram, Levy abraçou a esposa, beijou-a nos lábios e, acariciando-lhe a cabeleira, disse-lhe:

—  Diga-me, linda “olhos de jaspe”, quais são as boas novas?

Lílian segurou o marido pela cintura e levantou lentamente a cabeça para falar-lhe, mas ao encarar o esposo percebeu que ele tentava, a muito custo, controlar a risada, assim deduziu que ele, sem que tivesse a intenção, mais uma vez acabara por desarrumar seu penteado, então falou a Levy, que continuava a controlar o riso:

—  Sabe Levy, com o passar dos anos eu o observo tornar-se um homem, um ser humano, um filho de Deus cada vez melhor, mas tem uma coisa que nunca mudou em você.

Entendendo que a esposa preparava-se para tecer algum comentário jocoso, ele então perguntou:

 

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—  Verdade, minha amada? E o que seria isto?

— Tua beleza!

Levy envaideceu-se com o comentário e intencionou beijar sua amada “olhos de jaspe”, contudo ela rapidamente passou as mãos na vasta cabeleira dele e, mirando-lhe de maneira gracejosa, disse:

—  E você continua a ser, ainda mais belo, quando desgrenhado está!

Mais ela não conseguiu dizer, pois caiu em uma risada franca, espontânea, mas incontrolável e, vendo-a daquela forma, Levy, que já não aguentava mais segurar o sorriso, também permitiu-se gargalhar.

Era admirável observar o quanto o relacionamento daquele casal parecia inequivocamente tratar-se de um encontro de almas, mas após terminado aquele momento, Lílian chamou o amado para sentar junto a ela e então falou-lhe:

—  Descontração à parte, tenho algo muito importante para contar, Levy!

— Sou todo ouvidos!

— Sei deste fato já faz algum tempo, mas fui orientada por Gamaliel a relatar para você somente hoje.

— E o que seria isto?

— Levy, você vai ser pai!

— Como?

— Isto mesmo que ouviu, querido. Você vai ser pai!

Levy tornou a abraçar a esposa e, com os olhos marejados, disse:

 

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—  Esta é a melhor notícia que você poderia contar-me, entre todas as outras! Que alegria, meu amor! Foi por isto que você, por vários meses, ficou praticamente em estado de repouso antes de partirmos em viagem, não é mesmo?

— Isto! Fui orientada por Gamaliel a preparar-me para esta viagem que agora estamos fazendo junto a nosso povo.

— Mas está tudo bem com a criança? O seu ventre nem está dilatado!

— Gamaliel disse que seria assim, Levy, até o oitavo mês, quando a gestação será, a todos, perceptível.

— Mais alguém sabe desta venturosa notícia, querida?

— Decerto que não, Levy! Você é, com certeza, o primeiro a saber.

— Mas você saberia dizer por que Gamaliel solicitou este tempo de segredo para você?

— Levy, toda vez que tenho a oportunidade de estar com o irmão Gamaliel, ele sempre me instrui em relação a diversos assuntos, contudo um tema bastante recorrente que surge em nossas conversas é sobre a ciclicidade divina presente em toda a criação.

— Ciclos?

— Isto Levy! Ele conta que tudo na criação do Eterno ocorre em ciclos, por exemplo, temos a hora de dormir, que vem com o ciclo noturno e que é necessária para podermos descansar e recompor as energias dispendidas ao longo do dia.

 

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— Entendo querida, então seguindo a lógica presente na informação de Gamaliel, o ciclo do dia seria aquele necessário para gastarmos a energia armazenada durante a noite a fim de realizar as atividades que nos forem necessárias, não é assim?

— Exatamente! Então, saber ao certo o motivo que fez com que Gamaliel pedisse a mim para contá-lo sobre nossa filha apenas hoje, eu não sei, mas tenho a sensação que está ligado a esta questão cíclica relacionada a criação divina.

— Filha, minha linda "olhos de jaspe"? Ele disse que será uma menina?

— Na verdade, ele disse que eu estava em um ciclo femininamente gestacional. Sabemos que o fenômeno da gestação, pelo menos na raça humana, ocorre somente junto às fêmeas e o irmão Gamaliel não costuma ser redundante, então penso que foi uma forma sutil dele dizer que seremos pais de uma linda menininha: Eloah, tudo bem?

— Eloah? Claro que sim, querida! Em homenagem a sua amada tia, não é isto?

— Isso, meu amor exatamente!

Mais algumas palavras foram trocadas entre aquele casal de verdadeiros apaixonados, mas o mais importante é que fora daquela tenda, agachado e surpreso, Efraim escutara toda a conversa que deveria ser privativa ao casal. O único resultado positivo de tal indiscrição foi que, ao tomar conhecimento da informação, ele sentiu-se pressionado a não ceifar a vida de Levy, pois sabia o quanto Lílian era sensível e que se seguisse diante com seus planos, provavelmente colocaria a vida de sua amada em perigo, desta forma, a muito contragosto, ele concluiu que deveria adiar os seus planos, assim guardou o odre dentro de seu bornal e retornou para sua tenda.

Ainda naquela noite, mesmo desconhecendo as intenções de Efraim, Lílian, ao deitar-se, solicitou a Levy que redobrasse os cuidados com sua segurança.

 

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CAPÍTULO XII - O QUINTO MOMENTO DA JORNADA:

 

Orientada por Moisés, que do Alto e em sonho recebera mais uma mensagem àquela noite, toda a massa partiu em direção ao mar. Muitos daqueles que a compunham não conseguiam entender as motivações para seguirem na direção indicada, uma vez que nem embarcações possuíam, mas ainda assim seguiam viagem.

Lílian caminhava, mais falante que o normal, conversando com Maya. Quando indagada sobre o possível motivo daquela alegria radiante, Lílian confessou a amiga que estava grávida e ela exultou em preces ao Eterno como a agradecê-Lo por havê-la abençoado com tamanha graça.
Efraim, que seguia à frente com Levy, os líderes e o conselho dos anciões, também foi informado pelo amigo de que em breve seria pai, assim simulando genuína surpresa, congratulou ao amigo pela benção a ser recebida. Passaram então, os dois amigos, a dialogar sobre um novo mundo de esperança que os aguardava. Tanto conversaram que acabaram por esvaziar o odre de Levy.

Atordoado e cansado com a noite mal dormida, foi somente nesta hora que Efraim deu por falta de seu odre, que esquecera no bornal e que aquela hora muito provavelmente deveria estar sendo carregado por sua mãe. Tentou disfarçar o pânico com o equívoco cometido, mas saiu velozmente, em meio àquela multidão, em direção à Maya e dizendo a Levy que retornaria com mais água para eles.

Ocorre que aquele dia estava, estranhamente, bem mais quente que o normal. Àquela hora, por volta do horário que hoje conhecemos por onze horas (11h00), Lílian e Maya continuavam a confabular, esperançosas, pela nova vida que estavam prestes a iniciar e em todos os sentidos. Maya raramente tinha o hábito de hidratar-se com frequência, mas com Lílian o oposto ocorria, ainda mais naquele dia que exalava alegria por todos os poros e pelas inúmeras palavras trocadas junto a amiga. Maya, sabendo encontrar-se a amiga gestante e preocupada com que passasse mal por desidratação, também estava com seu odre vazio, mas carregava o bornal do filho e encontrou um odre que ofereceu à amiga.

 

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Ao conseguir aproximar-se das duas, Efraim flagrou sua amada a engolir doses generosas da água de seu odre, que estava preparada com veneno para ceifar a vida do amigo e que ele, ainda que pelo cansaço de uma noite extremamente mal dormida, levianamente esquecera de livrar-se.
Mal conseguindo disfarçar o assombro, Efraim apenas disse à Maya:

— Vim buscar o bornal, pois o dia está quente e eu e Levy acabamos por conversar mais do que o normal com a boa-nova recebida, aliás, no que diz respeito a isto, meus parabéns, Lilian!

Lílian apenas agradeceu a felicitação recebida, mas estranhou no fundo da alma o semblante de espanto e pesar que Efraim mal conseguia dissimular. Ainda assim, pediu-lhe:

— Efraim, teria como você pedir a Levy que, assim que for possível, venha falar comigo? É que preciso contar-lhe sobre algo estranho que aconteceu esta noite.

— Certamente, Lílian! Estou voltando para lá agora.

Com sua bolsa na mão, Efraim tornou a caminhar, em meio à multidão, para perto de Levy, porém, à cada passo, sabia que nunca mais tornaria a ver a luz nos olhos de Lílian. Ao invés de repassar, textualmente, o recado de Lílian, Efraim ponderou ser melhor dizer ao amigo que corresse em direção a amada, por ela ter algo urgente e inadiável a lhe dizer.

 

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Quando conseguiu chegar perto de Levy e transmitir-lhe o recado, ambos escutaram um bramido em desespero e reconheceram tratar-se da voz de Maya, Levy saiu em disparada e Efraim, a passos largos, seguia logo atrás.
A cena vista por Levy era terrível até mesmo para se descrever, pois sua amada, ao chão, se contorcia de dor em um esforço tremendo para aspirar o ar que lhe parecia diminuto. O coração de Lílian batia desenfreadamente e sua visão estava bastante embaçada. Levy colocou-lhe a cabeça sobre suas pernas, segurou-lhe as mãos e disse:

— Minha amada, o que você tem? Terá sido a caminhada um grande esforço para você e nossa filha?

Ocorre que Lílian não possuía forças para respondê-lo. Em todos os contatos junto ao irmão Gamaliel, Lílian sempre deduziu a existência de outra vida além da terrena. Pelos exemplos praticados no auxílio ao próximo e uma existência carnal pautada pela vivência da caridade, ela suspeitava que algo de positivo a estaria aguardando no dia em que desencarnasse, assim ela não possuía receio algum em realizar a grande travessia.

Ela somente gostaria de ter uma oportunidade de conhecer a vida que carregava dentro de si, de passar mais tempo ao lado do homem que a compreendia como poucos e que, ao contrário do machismo reinante àquela época, a tratava como uma igual em direitos, mas superior pela vivência compreensiva, empática e caritativa que ele, seu esposo Levy, dizia haver no contato dela com qualquer criatura, mas em especial com ele. Além disto, sendo uma pessoa de fé genuína, ela também desejava estar um tempo a mais com o seu povo, ao menos até que alcançassem a terra prometida.

 

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Mais pensamentos Lílian não conseguiu elaborar, pois seu coração batia aceleradamente como a tentar facilitar a sua respiração, que prejudicada estava pelos terríveis efeitos do veneno que circulava em sua corrente sanguínea. O ar continuava a lhe faltar e a dificuldade na realização das trocas respiratórias já começava a prejudicar a coerência de seu raciocínio.
Paralelamente a isto, Levy, extremamente preocupado com a esposa, olhou para Efraim e Maya, dizendo-lhes:

— Meus inestimáveis amigos, vocês são exímios no conhecimento e manejo com ervas, então, por favor, utilizem o extrato de alguma planta ou qualquer coisa que o valha para salvar a vida de minha amada!

— Levy, ela parece que está sofrendo um ataque cardíaco fulminante. Infelizmente não há tempo, nem condições para resolvermos esta situação.
Maya, olhando a Levy, aquiesceu com a cabeça em concordância com as palavras do filho.

— Lílian, minha amada, parece que você é pessoa tão preciosa que o Eterno a está chamando para perto dele, ainda na juventude. Quero dizer que eu te amo com todas as forças e de uma forma como jamais tornarei a amar alguém.

Lílian tentava, mas não conseguia responder ao amado, ainda assim, mesmo que a debilidade respiratória a impedisse de dizer o quanto amava o esposo ou quaisquer outras palavras, ela haveria de utilizar as últimas forças de seu ser para, ao menos despedir-se fazendo um gesto por ele tão apreciado, um gesto que sempre lhe provocava sorrisos.

Sua visão já estava bem turva, mas com muito custo ela conseguiu erguer a destra e tocar a cabeleira do marido. Percebendo que não teria mais forças para baixar o braço e com a visão já quase escurecida, ela esforçou-se e visualizou o leve desalinho que provocara no penteado do ser amado pela última vez e que conseguira fazer brotar traços de um tímido sorriso em sua face. Ele, então, segurando-lhe a mão, disse:

 

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— Desalinhou os meus cabelos, não é, meus "olhos de jaspe"? Percebo que não consegue falar, mas espero agora estar apresentável para reiterar o quanto te amo. Hoje e para sempre!

— Ao vislumbrar parcialmente, e com tremendo esforço, a cabeleira desgrenhada daquele que lhe conquistara o coração, Lílian intencionou esboçar um sorriso pelo canto dos lábios, como a endereçar-lhe todo o seu afeto, mas não teve forças para concretizá-lo, pois seus olhos se fecharam pela última vez.

Em pouquíssimo tempo o seu espírito, já liberto do invólucro carnal, levantou-se e encontrou Gamaliel a aguardá-la.

— Irmão Gamaliel, o que aconteceu?

— O ciclo de tua atual encarnação acabou de findar.

— E minha filha? Como está Eloah?

— Você crê no Eterno?

— Sim!

— Guardadas as devidas proporções, pergunto: você confia em mim?

— Certamente!

— Então acompanhe-me e tudo será esclarecido.

— E Levy, irmão Gamaliel? Eu não posso deixá-lo sozinho, ainda mais agora pelo período que estamos passando junto a nosso povo.

— Confie em Deus, minha filha, e não te preocupes com Levy, nem com teus irmãos de jornada, pois o que está para acontecer hoje ficará conhecido, para todo o sempre, como uma das maiores demonstrações de poder e do amor do Eterno, mas isto não caberá a você testemunhar.

 

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— E Levy, irmão Gamaliel? Ele vai ficar destroçado com o fato que não será pai.

— Levy já é pai, minha filha! A paternidade não é definida pela quantidade de tempo que um pai exerce sua função e nem pelo volume de experiências vivenciadas neste tempo, mas sim pela qualidade destas ao longo do tempo que por Deus for definido. Vejamos seu esposo, por exemplo, ele teve consciência da paternidade há menos de vinte e quatro horas, mas a forma como ele vivenciou esta função, durante este tempo, o torna mais digno do título de pai do que àquele ser humano que já é pai há muitos anos, mas pouco tem tempo para dedicar-se aos filhos e vivenciar tal experiência, com responsabilidade e dignidade, sim, mas em especial com atenção e amor. Além disto, quando uma pessoa desencarna, Deus, sendo o Pai primeiro desta, não perde esta nobre função por seu filho encontrar-se em outro plano da existência. Da mesma forma, Levy foi pai terreno por oito meses, mas não deixará de ser pai por Eloah haver desencarnado junto a você, não concorda?

— Concordo, sim, irmão Gamaliel e vejo que tens razão. Foi por isso que você orientou que eu contasse a Levy sobre a paternidade, somente ontem, não é isso?

— Também, mas não somente, pois Deus, em sua infinita misericórdia, aguardou até o último instante para que, por meio do livre-arbítrio de seus humanos filhos, as coisas pudessem desenrolar-se de outra maneira, todavia não atormente o seu coração, pois todos os caminhos pertencem a Deus, mas para que você possa entender melhor sobre estas e outras coisas, sugiro que me acompanhe.

Lílian virou-se e viu Levy abraçado a seu corpo, assim tornou a fitar Gamaliel e pediu-lhe:

— Irmão Gamaliel, irei contigo, todavia, antes, haveria a possibilidade de eu realizar uma prece ao Eterno em intenção de Levy?

 

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— Certamente, minha filha e eu não esperaria outra coisa de você.

Lílian ajoelhou-se e Gamaliel repetiu o gesto de sua pupila. Em sequência, ela baixou a cabeça, entrelaçou suas mãos, fechou os olhos e realizou sentida prece:

"Oh Pai Eterno, bem sabes que ainda gostaria de estar andando, em carne, junto ao meu amado, aos meus amigos e ao meu povo, mas se o senhor me quer junto de Ti, então que a Tua vontade se cumpra. Rogo-Lhe somente, senhor, que a força do Teu sublime e misericordioso amor sustente a caminhada de meu amado Levy e, ainda que seja ínfimo perante sua infinita amorosidade, se for de Teu querer, também peço que use a força de meu sincero amor para que fortaleças a toda caminhada dele. Além disto, ó Eterno, meu povo, em terra, continuará a ser guiado por Vós a um caminho que os possibilite viver em comunhão contigo, assim peço-O que também os abençoe nesta caminhada. Caberá a mim, senhor Deus, buscar seguir ao caminho que leva a Ti em outro plano da existência, desta forma, Pai, conforta-me também nesta estrada que traçaste para mim conforme os Teus santos desígnios. Que assim seja!!!"

Enquanto realizava esta prece, pude observar Lílian se metamorfoseando em rósea esfera de luz, com o amparo de Gamaliel que, também transfigurou-se em uma esfera dourada. Ao fim da prece, àqueles seres literalmente de luz, partiram em altíssima velocidade em direção às esferas superiores.

 

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Com o passar do tempo, Levy tornou-se menos aflito em relação a toda aquela situação. O que também o auxiliava a serenar as emoções era recordar-se das cantigas infantis entoadas por sua mãe, Rebeca, que parecia possuir uma canção encorajadora para cada situação difícil da vida.

Diante do que era possível, em meio ao deserto, Lílian foi sepultada conforme à tradição.

Logo após o sepultamento, Levy disse a Efraim que decidira não seguir com o seu povo, mas sim permanecer junto ao túmulo da esposa, aguardando a chegada das tropas de Faraó, pois dizia que para ele a vida havia perdido o sentido, mas que muitos dos responsáveis pela partida de sua amada,  também partiriam com ela.

O interior de Efraim era só tristeza profunda e arrependimento, pois sabia que, ainda que indiretamente, houvera sido ele o causador da morte de Lílian e de sua filha. Precisamente ali, naquele instante, nascia em sua alma a sombria mancha de um remorso que tantos dissabores lhe provocariam na inexorável força do tempo, entretanto curiosamente foi tal sentimento a força motriz para gerar os princípios de um sincero arrependimento que o fez comprometer-se com Levy como se fora o seu guardião. Também foi este o sentimento  que o fez responder à argumentação do amigo:

 

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— Levy, o que você está dizendo é um conclame ao suicídio e…

— …Desculpe-me interrompê-lo, leal amigo, mas não pedi tua permissão e nem a pedirei a ninguém. Ficarei por aqui e ceifarei a vida de quantos desgraçados eu puder e olha que eu posso garantir, à custa da minha própria vida, que não serão poucos. Sou treinado em preparar armadilhas atrozes. Aqui no deserto não há mão-de-obra suficiente para executar tudo o que aprendi, mas será o necessário para que eu faça com que algumas bigas egípcias tropecem uma sobre as outras e promovam um leve desastre, já que, muito provavelmente estarão a alta velocidade e não conseguirão, todas elas, pararem a tempo ou se desviarem do ardil por mim, preparado.

— Levy.

—  Ainda não terminei de falar. Na verdade, Efraim, vou usar de muita sinceridade para falar contigo. Veja, sei que Deus é verdadeiramente poderoso, que Ele tem estreita intimidade com nosso líder, Moisés e que nossa trajetória, desde a saída do Egito, está repleta de fenômenos que só tenho como chamar de sobrenaturais, mas ouça atentamente uma coisa, sei que Moisés conhece muito bem este território, ocorre que eu também não fico tão atrás neste nível de conhecimento, uma vez que realizei vários treinamentos ao longo dele e é por isto que te afirmo que para a praia onde estamos sendo conduzidos não há chance de possível fuga para toda a nossa gente, pois à nossa frente estará o mar, atrás estará uma formação montanhosa que, possivelmente, só eu, Moisés e pouquíssimos de nossos homens sabem como transpor, além disto, boa parte do caminho é estreito e íngreme em certos pontos, assim não conseguiríamos fugir a tempo, se necessário for, das tropas de Faraó, ou seja, nós estaríamos cercados e seríamos presas fáceis, pois não temos embarcações para atravessar o mar e é por isto que decidi ficar por aqui, perto do túmulo de minha amada, a utilizar-me deste deserto para preparar armadilhas a fazê-lo também de túmulo destes malditos.

 

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— Eu compreendo bem teu ponto de vista, Levy, sei que você é um grande guerreiro, mas o resultado desta tua ação será a perda de sua própria vida.

— Mas você ainda não entendeu, Efraim? Metade de minha vida acabou com a morte de minha amada e de minha filha, mas eu posso garantir que a outra metade, a qual é minha própria vida, farei questão de entregar ao destino para ceifar a de muitos destes miseráveis soldados.

Sendo um perspicaz entendedor do comportamento humano, logo, também daquele apresentado pelo amigo Levy, Efraim compreendeu que devido ao temperamento dele e a sua formidável habilidade em estratégia militar e formas de combate, não seria a argumentação a respeito da perda da própria vida que demoveria o amigo de sua intencionalidade, todavia se havia algo em Levy maior que esta sua característica, era o amor ao Eterno e aos seus caminhos, assim, após muito pensar, Efraim respondeu-lhe:

—  Levy, você lembra que se fosse por você e alguns do nosso povo, assim que saímos do Egito, teríamos seguido pelas terras dos filisteus?

— Sim, mas isto não tem relação com o que eu estou dizendo.

— Lembra-se que você resolveu aquietar o seu eu para seguir o caminho traçado pelo Eterno, por intermédio de Moisés?

— Sim!

 

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— Então, meu amigo. Olhe para o firmamento e veja que Deus, através de sua coluna de fumaça, quer que sigamos adiante, não que façamos armadilhas ou entremos em combate, então por que você contrariaria a vontade do Eterno?

— Efraim, confio em Deus, mas estamos sendo conduzidos para o caminho do mar! O que você pensa que acontecerá quando à nossa frente estiver apenas o oceano e logo atrás as montanhas e os soldados de Faraó a quererem o retorno de nossa escravidão? Acaso pensa que eu, você e toda essa imensidão que é nosso povo boiará pelas águas até alcançar o outro lado?

— Levy, o que ocorrerá, por enquanto, só é conhecido pelo Eterno, mas por que duvidar de Seu poder, se Ele até agora tanto nos mostrou? Pense, meu amigo!

— Efraim, compreenda que até farei o que me pede, mas tenha certeza que se o que eu prevejo realmente acontecer, você será o responsável pela perda inútil de uma vida que será a minha. Digo inútil por que eu, ao solo, diante de carros e montarias, serei destroçado sem ceifar a vida de um único egípcio, ao passo que se eu preparar as armadilhas, posso tirar a vida de muitos destes malditos, você conseguiria conviver com isto?

— Levy, nem eu ou você precisaremos conviver com isto, porque seguindo o caminho Dele, como agora estamos fazendo, o resto Ele proverá.

— Pois bem, veremos!

— Confiemos, Levy, confiemos!

Em seguida ao sepultamento, àquela comitiva de pessoas prosseguiu sua jornada pelo caminho da fé e em direção ao mar. Andaram, ainda, vários quilômetros até que, quase ao anoitecer, chegaram a frente da orla marítima e, por orientação de Moisés, armaram acampamento.

 

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CAPÍTULO XIII - O SEXTO MOMENTO DA JORNADA:

 

Durante a madrugada, o divino mestre Jesus esteve com o líder do povo hebreu e disse-lhe:

— Moisés!

— Eis-me aqui, senhor!

— É chegada a hora, filho meu! Orientei que você guiasse o povo para cá, porque Faraó, em atitudes de soberba, vaidade e orgulho, acabou por afastar-se da influência benfazeja de seus guias protetores. Todos os meios de amor, paz e compreensão foram empregados, por parte de meu Pai, para que ele acabasse por decidir-se em não sair em perseguição ao povo, ocorre que o Pai criou os seus filhos para que, através do livre arbítrio, possam escolher entre viver um caminho que lhe possibilite estar em harmonia com Ele, com si próprio e o próximo ou em estrada que os levem a vivenciar a desarmonia.

— O Pai criou o homem para ser instrumento de Sua boa-ventura em toda a criação, mas ao contrário das demais criaturas por Ele criadas, ele foi dotado de razão para ter a possibilidade de entender toda a paz reinante em Sua obra e escolher vivenciá-la, em fé e exemplos, de modo a alcançá-la ou dela abdicar para, pelo livre-arbítrio, seguir em caminho contrário. Foi exatamente este último o caminho seguido por Faraó.

 — Ele e seu exército estão vindo, meu filho, mas não os alcançarão.

— Senhor, louvada seja tua misericórdia! Eu guiei meu povo para cá em obediência a Vossa orientação, mas ouço muitos murmúrios e queixumes que, de certa forma, não tenho nem mesmo como pensar que sejam equivocados, pois a nossa frente há o mar, em torno de nós estão estas montanhas e atrás de nós, como o senhor acabou de confirmar, vem Faraó e seu exército. A sensação reinante é a de que estamos encurralados, assim seria possível que o senhor acalentasse essa angústia em meu coração, dizendo o que pretende, qual o próximo passo?

— Não, meu filho! Eu te amo, como a todos, e posso, mas não devo.

 

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— Puxa, mas por que senhor? Seria pedir muito?

— Não, filho meu, não seria e não é, mas entenda que meu Pai os guiou até aqui por que necessita que o povo creia Nele e Nele acredite através de vós, pois tu és um instrumento Dele para que isto ocorra, mas se tu duvidas, por um segundo que for, como o povo que guias acreditará?

— O que está para acontecer dependerá, primeiramente, de tua fé, porque as demais coisas que meu Pai necessitará de ti, você tem amplo conhecimento de como fornecê-las. Tenha fé e, por teu intermédio, o Pai realizará ainda mais prodígios. O que acontecerá aqui, em breve, fará com que povo tenha a oportunidade de, vendo, use seu livre-arbítrio para crer em Deus e na tua habilidade enquanto líder. Tenha fé, viva a fé e seja a fé, pois só assim tudo sairá exatamente conforme foi estruturado por meu Pai.

— Que assim seja, senhor! Farei tudo o que depender de mim, para que seja cumprido os desígnios do Pai.

Ao amanhecer e cerca de duas horas após os primeiros raios solares despontarem no firmamento, Moisés recebeu do Eterno a ordenação para que todo o povo passasse a manhã em oração e cânticos de louvor na temática da gratidão à infinita misericórdia do Pai. Ainda que muitas daquelas pessoas vissem a atitude de haverem sido guiados até àquela localidade como um ato de extrema insanidade de um homem e não de Deus, todos acabaram por seguir as orientações transmitidas por Moisés.

À tarde, por volta das dezesseis horas, e seguindo nova orientação do Eterno, Moisés solicitou que o povo, devagar e organizadamente, começasse a desmontar o acampamento e a organizar os pertences.

É preciso dizer que, neste instante, o céu estava totalmente tomado por nuvens espessas e escuras, como se um dilúvio estivesse pronto a precipitar-se do firmamento, todavia a mais impressionante entre elas, era a coluna de nuvens que se destacava no céu entre todas as outras e que permanecia no exato local onde poderia ser avistado o sol, àquela hora já se preparando para deitar-se ao longe, se não fosse a intensidade de nuvens no alto.

 

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Praticamente ao final da tarde era possível observar, ainda ao longe, uma imensa nuvem de poeira a sinalizar a aproximação de muitos egípcios. Vendo tal situação, a maioria das pessoas, que ainda desmontava o acampamento, passou a reclamar com Moisés pela morte certa que encontrariam quando seus algozes os alcançassem. Foi o estopim para que uma imensidão de murmúrios brotasse dos lábios daquelas pessoas. Muitos daqueles que prefeririam haver permanecido cativos no Egito do que partir, teoricamente a esmo para trilhar um caminho inóspito e desconhecido, passaram a proferir toda a sorte de lamúrias.

Ouvindo àquelas ingratas lamentações ao Eterno, Moisés, que não possuía tanta habilidade com as palavras, ainda assim disse ao povo:

— Irmãos, tenham mais do que calma, tenham fé! O que para vocês, agora, parece o fim certo, nada mais é do que o testemunho que o Eterno nos dará do tamanho de seu poder e de sua misericórdia. A partir de hoje e para ao longo dos séculos e séculos todos entenderão que para o Eterno nada é impossível. Deus atende a fé, não a lamentações, então poupem a Ele de suas lamúrias e também aos meus ouvidos, pois muito ainda precisa ser feito. Tenham fé e orem. Se não orarem, ao menos calem-se, pois um silêncio na presença do Eterno vale mais do que mil palavras ingratas a afastar-nos de Sua presença.

Arão olhou a Moisés como se desaprovasse esta sua última fala, mas ele, ao terminar o pronunciamento, disse-lhe apenas:

— Foi necessário.

Foi curioso observar o resultado daquele pronunciamento de Moisés, pois toda a multidão calou-se por completo.

Obtido o silêncio necessário para uma efetiva comunicação ao Alto, Moisés alcançou condições de orar ao Eterno. Como resposta de sua prece, ele entendeu o que deveria ser feito, assim a coluna de fumaça desceu do firmamento e passou a ficar atrás dos hebreus. A coluna de fogo também passou de diante daquela massa para a parte anterior, mas a uma distância necessária para que, acredito eu, provocar uma catalisação no processo de condensação dos vapores de água presentes na nuvem, tornando-a, talvez, mais negra que a noite. Em seguida, como se guiada por uma mão eólica, àquela enorme e espessa coluna horizontal, inacreditavelmente escura, partiu com extrema velocidade em direção de onde estavam os egípcios.

 

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Faraó e seu exército não contavam com àquele fenômeno que nem mesmo eu sabia ser possível existir. A coluna de fumaça foi velozmente ao encontro deles e, como vinham com toda a velocidade a fim de alcançarem aos hebreus quanto antes, não foi possível a todos reduzirem simultânea e imediatamente a velocidade de suas montarias, assim àquele terrível breu acabou por provocar um terrível acidente, em especial àqueles que estavam bem a frente, mas cujas quedas acabaram por provocar a perda de muitos carros e carruagens que vinham em disparada logo atrás. O efeito daquela ação foi tão sentida que mesmo no acampamento hebreu, a nem tantos quilômetros dali, foi possível escutar a inúmera quantidade de gritos, urros e impropérios.

Percebendo que àquela ação divina, produzida a partir de elementos naturais, acabaria por atrasar a jornada de seus perseguidores, Moisés afastou-se a certa distância do povo e partiu para a frente do mar. Ali, ajoelhado, proferiu sentida prece ao criador. Em poucos instantes, como se houvesse recebido uma resposta à sua oração, ele levantou-se e passou a caminhar pela orla, conversando com o Alto e aparentando buscar um local que fosse ideal. Na realidade, as vibrações superiores sentidas naquele momento eram tão poderosas que ele parecia dialogar com o próprio mestre Jesus.

Houve um momento em que Moisés estancou o passo e lágrimas passaram a brotar de seus olhos como se o seu coração humano não conseguisse suportar a imensidão da energia de paz que provinha daquele contato. Tomado pela incontida emoção, mas também em atitude de extremo respeito, ele ajoelhou-se e apoiou as mãos em seu cajado. Após certo momento, ele levantou-se e, proferindo algumas palavras, levantou-o ao Alto, assim, neste mesmo instante, um fortíssimo vento oriental passou a soprar por toda a noite, todavia, incrivelmente, era um vento que, praticamente, soprava somente em cima do mar.

 

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XIV -  MOMENTO DE CONSIDERAÇÕES SOBRE A JORNADA:

 

Presenciar fenômenos que eu nem sabia serem possíveis de ocorrer, tais como a descida de um enorme charuto de nuvens negras do firmamento até o solo e seu deslocamento direcionado, em terra, a um local específico provocava inúmeras perguntas em meu ser de tão incríveis que eram, mesmo eu os presenciando.

Posso até dizer que, observar o acontecimento de fenômenos climáticos decorrentes da atuação do plano espiritual, não seria necessariamente inédito para mim, uma vez que, em certa ocasião, ao participar de uma reunião umbandista na praia, Deus concedeu-me a oportunidade de presenciar um destes, pois o tempo estava nublado e uma chuva começou a precipitar do céu. Ainda que fosse quase verão, o vento também estava frio. Observando tais condições a entidade, que chefiava os trabalhos, afastou-se, momentaneamente, há poucos metros do local da reunião e passou a dialogar com o Alto de forma, guardada as devidas proporções, parecida com que a vi Moisés realizar. Passados poucos minutos, somente na região acima do local onde ocorria tal reunião, a chuva cessou e o sol apareceu entre nuvens durante toda a reunião, como se para amenizar os efeitos da friagem provocada pelo vento, enquanto isso, no resto do local, e em todas as direções, choveu de maneira moderada.

Quatro horas após, quando a reunião estava para acabar, esta entidade ainda orientou muita fé e concentração na realização dos procedimentos que seriam realizados pelos médiuns após seu encerramento, uma vez que em aproximadamente trinta minutos a chuva voltaria. Exatamente trinta minutos depois, a chuva retornou. Foi um tipo de fenômeno que nunca vou esquecer e que sempre serei grato a Deus por haver tido a oportunidade de presenciar, mas, ainda assim, nada se compara ao que eu presenciava tendo acesso àquelas memórias akashicas relacionadas a Moisés.

Observando tais interrogações, o irmão Carlos veio a me socorrer dizendo:

— Por que tantas perguntas, meu irmão, se a resposta, para todas elas, é a mesma e se já conversamos sobre isto?

— Como assim, irmão Carlos? A resposta para a descida da coluna de nuvens e seu direcionamento intencional é consequência da realização de procedimentos magísticos?

 

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— Não somente, mas também! Porque o espanto, meu irmão? Lembra quando conversamos sobre o fato de magia ser o ato de invocar poderes e propriedades divinas e acioná-los?

— Mas o vento, a chuva e as nuvens não são fenômenos naturais?

— Prezado irmão, a ciência tem o direito de classificar tais fenômenos da maneira que considerar a mais correta, todavia acima de qualquer coisa, estes são fenômenos puramente divinos, ou você pensa de forma diversa?

— De forma alguma! Deus criou a tudo, inclusive o vento, a chuva e as nuvens.

— Se fenômenos meteorológicos são divinos, propriedades divinas, então, pelo conceito de magia, podem ser invocados e acionados para a prática da caridade.

— Meu Deus! Isto é incrível!

— Irmão, o mestre Jesus não acalmou uma tempestade e, entre outros, alterou correntes marítimas para que peixes pudessem ser pescados?

— Meu Deus, é verdade!

— Jesus também não explicou, de forma bem clara, que quem acreditasse nele faria as coisas que ele fez e outras ainda maiores?

— Gente, mas esta lógica é extraordinária!

— Então, sendo Moisés um ser humano crente em Deus, seguidor das ordenações passadas por Jesus e, como já conversamos, um mago profundo estudioso da magia, mas alicerçado com as Forças Divinas através de intensa fé e em conformidade aos desígnios da Lei Maior e da Justiça Divina, qual seria o impedimento de ser ele um veículo capacitado por Deus para realizar todos os fenômenos que você tem presenciado por meio de memórias akashicas?

— Verdade, irmão Carlos, mas atualmente, milênios depois, esta ação ainda seria possível de ser realizada?

 

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— Havendo alguém que tenha amplo conhecimento das marés naquela região, com um alto conhecimento de magia, mas também com fé e moralidade suficientes para ser um instrumento de Deus no cumprimento de Seus santos desígnios em benefício do próximo, por que inexistiria tal possibilidade?

— Magia, meu irmão, é a utilização de propriedades divinas em benefício do próximo; ocorre que o ser humano está se direcionando para o caminho de satisfação exclusiva do próprio ego, olvidando a necessidade do outro.

— Você poderia falar um pouco mais sobre isto?

— Certamente. O que digo é que a criatura humana pode e deve sempre olhar para dentro de si mesmo, mas na perspectiva de uma autoanálise de suas ações, avaliando se têm acontecido para o bem-estar e progresso de si próprio, do próximo e da humanidade ou somente para a satisfação do ego, pois é justamente tal atitude que faz brotar e alimenta a semente do egoísmo.

— Penso que estou entendendo, irmão Carlos.

— Não digo com isto, meu irmão, que o ser humano não deva cuidar de satisfazer suas necessidades e buscar a concretização de seus sonhos, pois entendo tais ações enquanto potentes estimuladoras de alegria e motivadoras da satisfação de ser e estar no mundo, todavia o perigo parte do momento em que o ser humano passa a cuidar, cada vez mais, de satisfazer a si próprio e a olvidar as necessidades de seu próximo, criando condições que o condicionam a trilhar a ilusória e adoecedora estrada do egoísmo.

— Ilusória?

— Sim, porque o ser humano é criatura cujo sentido da existência ainda se encontra na satisfação de seus desejos.

 

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— Realmente, tenho visto na faculdade que a natureza psíquica do ser humano é a de ser um eterno desejante. É sobre isto que você está falando?

— Exatamente, companheiro e não há problema algum em desejar ou em querer satisfazer suas próprias necessidades. Quando falo em um caminho ilusório é justamente porque não existe satisfação plena na realização de um desejo, pois devido a esta natureza desejante do ser humano, a satisfação está em desejar e buscar realizar o próximo desejo, ou seja, olhando só para si próprio, a criatura humana sente-se sempre em incompletude, mas tem a ilusão de que com a concretização do próximo desejo, então tornar-se-a completa, todavia é uma quimera.

— Coisa diferente passa a ocorrer quando o ser humano olha o seu próximo da mesma maneira que olha a si próprio, pois este é um olhar amplo e fraterno, ou seja, totalmente oposto aos princípios do egoísmo. Também é um olhar esclarecedor, dilatador da realidade e que aperfeiçoa a capacidade de autoanálise.

— Mas como eu dizia, caro irmão, o olhar apenas para si mesmo faz com que o ser humano entre em um processo ilusório, mas também enfermiço, por que, veja bem, é fator adoecedor sentir-se vazio, alienado e incompleto. Vazio por que só a concretização de seus desejos não faz com que se sinta totalmente preenchido em seus anseios psíquicos; alienado por que não consegue entender o sentimento de falta que é existir e estar no mundo e incompleto porque a satisfação de seus desejos não consegue realizá-lo plenamente.

— Irmão Carlos, você poderia fornecer alguma explicação do porquê deste fato?

— Perfeitamente. Tudo está ligado a questões energéticas.

 

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— Energéticas? Você fala da questão dos cordões energéticos?

— Não. Cordões energéticos são estabelecidos naturalmente a partir do instante em que o ser humano cria emoções com uma determinada pessoa. Através deles produzimos energias que vibram, sejam elas benéficas ou não. Isto significa dizer que a criatura humana está em permanente e recíproca troca energética com cada pessoa a que tem contato e quanto maior a intensidade do afeto na relação, mais forte torna-se esta ligação energética, daí a importância de buscarmos sempre ter relações harmônicas com o próximo, todavia não é pelo fato de uma pessoa desenvolver atitudes egoístas que ela, necessariamente, estabelecerá cordões desarmônicos para com o próximo, entende?

— Acredito que sim. Então quais seriam estas questões energéticas?

— Prezado irmão, a questão é que toda a criação divina está energeticamente interconectada por meio de Suas sagradas irradiações que englobam a tudo e a todos. Você ainda verá, no tempo certo, as descobertas que serão realizadas no campo molecular. Pesquisadores terão o resultado que as vibrações que o ser humano projetam, por exemplo, nas proximidades da água depositada em um recipiente, fazem com que a estrutura molecular da substância sinta os efeitos destas vibrações. Àquelas que são frutos de pensamentos e sentimentos elevados, potencializam o equilíbrio presente na estrutura molecular da substância, enquanto pensamentos e sentimentos contrários a estes afetam negativamente tal estrutura. O mesmo ocorre junto às árvores dispostas em proximidade numa certa região e que conseguem sentir em suas estruturas moleculares o efeito da dor que sente uma sua companheira quando, por exemplo, é extraída do solo.

 

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— Impressionante!

— Agora reflita comigo. Se tal fenômeno vibratório ocorre em uma estrutura inanimada como a água e em seres vivos mais simples como as árvores, imagine o que ocorre entre os seres humanos, uma espécie dotada de raciocínio.

— Mas, porque as coisas dão-se desta forma, irmão Carlos?

— Pelo fato de Deus haver interligado toda a criação através de uma teia vibratória universal; assim, se alguém da teia é acometido pelo sofrimento, os demais são afetados, assim como vibrações positivas irradiadas em um ponto da teia repercutem em toda sua extensão. Então, aquele ser que frequentemente demonstra falta de sentimentos altruístas, buscando somente a satisfação de seus desejos em busca da felicidade, acaba por não alcança-la e sentir um profundo vazio, especialmente por conectar-se com vibrações malfazejas emitidas por espíritos inferiores que vivenciam e emitem energias afins a esta. Isto vai enfraquecendo seu campo energético e tornando-a mais suscetível a vibrações negativas, ainda mais sendo a terra um planeta de provas e expiações, ou seja, onde existe mais a prática do mal do que a do bem.

— Triste, irmão Carlos!

— Sim, mas o pior é que tal condição faz com que ele capte o sofrimento das pessoas enquanto uma dor que ele internaliza como um sentimento de vazio, de incompletude que tenta preencher na satisfação de outro desejo, mas que, nem de perto, consegue produzir o efeito almejado.

— Nossa, que complexo! É como um círculo vicioso!

 

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— Exatamente! Coisa diversa ocorre com a pessoa que é altruísta. O altruísta também cuida de satisfazer suas próprias necessidades, mas ao vivenciar a prática da caridade, acaba por se conectar com as vibrações superiores emanadas pelos seres de luz. Ele cuida do que lhe interessa, mas por também buscar satisfazer as necessidades do próximo tais quais as suas fossem, acaba por captar o sofrimento do próximo não como um sentimento de vazio, mas como um estímulo para bem agir na prática dos preceitos ensinados pelo Cristo divino.

— Impressionante!

— Daí a importância de emanarmos para nós mesmos e para o próximo apenas bons pensamentos, sentimentos e ações, pois a divina e justa lei de ação e reação só nos permitirá receber exatamente aquilo que ofertarmos.

— Enquanto os cordões energéticos são criados, estabelecidos, alimentados e retroalimentados pela própria criatura humana, conforme a qualidade das relações que estabelece com o seu próximo, a teia que interliga toda a criação foi estabelecida por Deus. Cada ser na natureza, conforme suas especificidades, tem sua atribuição em alimentá-la e fortalecê-la com a vivência do bem. Nela, a criatura humana tem papel fundamental, pois tendo a faculdade da razão, é a única que consegue avaliar os efeitos de suas ações nesta tessitura energética. O ser humano, por ancestralidade divina, foi gerado para nutrir esta teia energética que o interliga a toda a criação com a energia do bem. Tenha a certeza que toda a desigualdade, infelizmente, existente no mundo foi concebida pelo próprio ser humano e não por Deus, que a ele criou para, através de suas ações e através das várias existências, tornarem-se seres de luz, entende?

— Sim, irmão Carlos.

 

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— Toda a criação está particularmente ligada a Deus, mas interconectada por esta grande e divina teia vibratória. A finalidade do divino criador ao estabelecê-la é fazer com que o planeta possa gradativamente ir evoluindo na escala de mundos e tornar-se um mundo celeste, onde reine exclusivamente o bem. Todas as criaturas, mediante suas naturais atribuições, por estarem energeticamente conectadas, compartilham suas vibrações umas com as outras. O objetivo disto é promover o equilíbrio vibratório em toda a criação por meio de compensação energética.

— Como assim, irmão Carlos?

— Por exemplo. Suponhamos que a atuação do homem proporcione um desequilíbrio luminoso ao longo desta teia vibratória, fazendo com que em determinado ponto ela esteja, cem por cento, iluminada enquanto em outro esteja apenas quarenta por cento com a fração da luz, assim, por meio da compensação energética, as duas regiões ficarão iluminadas com setenta por cento de luminosidade.

— Mas isto não seria um pouco injusto, irmão Carlos?

— Injusto?

— Sim, por que se eu, por exemplo, contribuo com meu esforço para obter cem por cento de iluminação, seria injusto usufruir de menos luminosidade por conta daquele que se esforçou menos, não?

— Você ainda não compreendeu, meu irmão, mas vou tentar explicar melhor. Veja bem, a evolução espiritual é particular a cada criatura, certo?

— Certo.

— Se você, em uma encarnação, evoluir trinta por cento, então terá esta exata porcentagem como patrimônio evolutivo do seu espírito, mas se você conseguiu evoluir trinta por cento, então moralmente estará evoluído em fazer o bem nesta mesma porcentagem, certo?

 

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— Certo.

— O volume de boas ações que você fez ao longo da encarnação oportunizou a você evoluir em trinta por cento e isto é patrimônio seu, mas são os volumes de suas boas ações que também contribuem para levar salutar luminosidade à teia vibratória. Assim, suas boas ações, somadas com as de outras pessoas que também fazem a caridade, provocam, por exemplo, oitenta por cento de luminosidade em certa região da teia. Ocorre que em outra parte da teia existe apenas vinte por cento desta luz, então, por compensação energética, ambos os pontos da teia estarão iluminados em cinquenta por cento. O mérito de tua evolução espiritual será exclusivamente seu, ou seja, trinta por cento, mas o volume de boas ações praticadas por você, com outras pessoas, após a compensação energética, fará com que viva em região da teia iluminada em cinquenta por cento, compreende?

— Creio que sim.

— Se queres viver em teia mais iluminada que cinquenta por cento, então faça a caridade. Se te achas injustiçado por estar vivendo em teia de menos iluminação devido à inércia dos irmãos de jornada em praticar o bem, então incentivá-os a serem luz com o Cristo e por último, mas não menos importante, se sua sensação de injustiça for proveniente daqueles que agem no caminho contrário ao bem, então faça preces por eles, trabalhe por eles, seja um exemplo para que eles entendam as lições de Jesus e cerrem a porta larga para adentrarem à porta estreita, pois ai, sim, será possível vivenciarem e partilharem de uma teia muito mais iluminada.

— É irmão Carlos, acredito que acabo de ter mais um entendimento de pôr que fora da caridade não há salvação.

 

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— Isto é muito importante, meu irmão, mas posso concluir a explanação destes conceitos energéticos, permitidos a mim, trazer até você, dizendo que a boa ação praticada por alguém serve como um filtro consciencial e emocional aos apelos de ajuda que chegam vibratoriamente até ele por meio da teia energética que a tudo o conecta. Além disto, pela boa ação praticada, ele sente-se em paz consigo mesmo e com o próximo, enquanto o bom senso e a paz em sua consciência servem como parâmetros a informar que ele fez a parte que lhe cabia, em tudo que era possível, para fazer, deste mundo, um lugar melhor, um lugar de paz. A boa ação praticada também o conecta com os seus mentores espirituais a lhe emanar vibrações salutares de luz.

— Entendo.

— Resumindo, quem pratica o bem recebe uma tripla proteção: a de Deus, por parte de seus mentores, a de sua própria consciência e a do próximo, uma vez que a energia de gratidão que até ele chega, pela ajuda ofertada, serve como uma força do divino amor, que cobre uma multidão de pecados, e torna sutil as vibrações de ajuda que a ele chegam por meio da teia energética.

— Esclarecedor.

— Mesmo com tudo que digo, não posso relevar a informação de que, como você bem sabe segundo as cátedras terrestres, a sensação de incompletude e o sentimento de falta em ser e estar no mundo é condição psíquica inerente a todo o ser humano devido a questões estruturais da mente na tentativa de se adaptar ao mundo, mas nada além do que um bom psicoterapeuta possa tratar de cuidar, em caso de sofrimento psíquico nesta busca por tal adequação.

— Certamente que sim.

 

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— Ocorre que o egoísta, ao contrário do altruísta, tem tal sensação ampliada em sua consciência por três motivos. O primeiro deles é que, na ausência da prática de uma boa ação, ele perde a oportunidade de ter esta forma de paz na consciência. O segundo é que a ausência desta paz não produz o filtro que minimiza sobremaneira as vibrações por ajuda que chegam até a ele da parte daquelas pessoas necessitadas, o que acaba por potencializar o sofrimento que o egoísta já sente em não conseguir a paz proveniente da realização de seus desejos. Já o terceiro é que priorizar unicamente a satisfação de seus próprios desejos, faz com que ele não tenha condições vibratórias de captar as vibrações positivas emanadas de seus mentores espirituais no Astral superior.

— Nossa, impressionante esta explicação!

— Por isto é dito que o maior beneficiado, na prática da caridade, é aquele que a prática.

— Faz todo o sentido.

— Certamente, meu irmão. Agora imagine que além das orações e boas ações em benefício do próximo, também houvesse um grande volume de pessoas praticando a magia sagrada em benefício de todos os que sofrem no mundo. Pense no grande benefício que alcançaria aos famintos, enfermos, os arrependidos dos maus atos praticados, os egoístas, os soberbos, entre outros.

— De fato, irmão Carlos, mas esta questão da magia, pelo pouco que sei, é algo muito secreto.

— Secreto? Como assim, meu irmão?

— A prática da magia parece algo restrito a poucos. A aprendizagem é velada e poucos estão dispostos a ensinar.

— Por enquanto, meu irmão, pois o Astral Superior está em amparo a multiplicadores destes conhecimentos magisticos e que, muito em breve, passarão a disseminá-los, organizadamente, para todos que se predispuserem a aprender e pratica-los em benefício do próximo, mas não tenho autorização para estender-me sobre o assunto.

 

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— Você poderia esclarecer as motivações para o início deste movimento no Astral superior?

— Basicamente para que todos possam utilizar-se da magia como instrumento para que os mestres ascensionados possam auxiliar na evolução do espírito humano, amparando-o e preparando-o para o próximo estágio evolutivo pelo qual o planeta passará.

— Como assim, irmão Carlos?

— Meu irmão, não tenho permissão para alongar-me sobre o tema, todavia, já há algum tempo, iniciou-se nas esferas superiores um movimento para que a terra seja beneficiada das reações naturais que acontecerão, em especial nas próximas cinco décadas, em resposta a todos os sofrimentos que a criatura humana tem a ela impingido por meio do selvagem ataque a mãe natureza e ao seu semelhante. Muita coisa deverá ser expurgada para que o planeta possa, em tempo certo, tornar-se um mundo de regeneração.

— Verdade?

— Certamente.

— Da mesma forma que o corpo alerta em febre como para informar sobre a presença de enfermidade no organismo, o grande organismo vivo, quê é o planeta Terra, também reagirá naturalmente em fenômenos climáticos raros e adversos, em enfermidades com alto poder de mortandade, entre outros.

— Assim, tudo o que está contido no planeta também sentirá os efeitos desta reação, pois se em alguns lugares haverá um extremo e praticamente inédito calor, em outros ocorrerá períodos de extremo frio devido a altíssima queda de temperatura. Da mesma forma, algumas localidades passarão por extrema seca, ao passo que em outros a chuva cairá em abundância e por tempo prolongado.

— Meu Deus!

 

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— Isto não ocorrerá muito rapidamente, mas quando passar a ocorrer será com frequência e em partes diferentes do mundo.

— Então a prática da magia serviria como um auxílio, um apoio para a humanidade em relação à aflição a que será acometida com o advento destes fenômenos futuros?

— Não somente a estes fenômenos, já que em não muito tempo a evolução nos campos da tecnologia avançará a tal ponto que a criatura humana sentir-se-a compelida a adentrar no processo do individualismo.

— Mas o individualismo não é uma série de ideias e valores que guiam as ações das pessoas para satisfação prioritária de seus interesses?

— Sim.

—   Mas isto não equivale a dizer que, apesar dela se importar com qualquer outra coisa além de si própria, a pessoa acaba por priorizar o esforço para atingir os seus próprios objetivos? Por que, desculpe-me se estiver errado, mas se for realmente isto, então o individualismo não é necessariamente algo ruim, pois significa a pessoa valorizar a si própria e a seus desejos, isto não é positivo?

— Não há por que desculpar-se, meu irmão, pois você acaba de descrever o conceito de individualismo de maneira precisa.

— Então qual seria a questão?

— A questão, meu irmão, é que é muito tênue a diferença entre individualismo e egoísmo e o avanço acelerado da tecnologia fará com que esta linha se torne quase imperceptível.

 

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— Como assim?

— A pessoa estar atenta ao que ocorre ao seu redor, ser empática em relação ao sofrimento presente no mundo, agir para minimizá-lo, mas privilegiar o seu bem-estar em detrimento de outrem é o individualismo saudável e pode, até mesmo, ser uma porta de entrada para o desenvolvimento de uma vivência altruísta.

— Entendo.

—   No aspecto positivo, o individualismo facilita, até mesmo, o processo de autoconhecimento do ser humano, mas no aspecto negativo o conduz ao egoismo.

—  O que estou dizendo, meu irmão, é que o rápido avanço dos aparatos tecnológicos fará com que o ser humano entre em contato com tecnologias que fomentarão exacerbadamente sua busca por liberdade individual, facilitando a perda da visão de interdependência social e a ilusória crença de que é inatingível e independente de tudo e de todos, gerando a insensibilidade e o egoísmo.

— Mas este avanço será tão rápido assim?

— Meu irmão, tudo caminha para que, em pouco tempo, vocês utilizem, na palma da mão, aparelhos até cem vezes mais potentes do que os mais modernos computadores da atualidade. Aparelhos que em um único toque poderão conectar seu usuário com outra pessoa em qualquer lugar do mundo e que terão inúmeras utilidades.

— Nossa, irmão Carlos, mas isto seria incrível? Não consigo ver o mal na tecnologia.

— Meu irmão, magia e tecnologia não são, em si mesmos, processos bons ou maus. O uso que a criatura humana faz deles é que poderá ser para o bem ou para o mal.

 

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—   Acredito que entendo.

—  Permita-me dar um exemplo. O fogo é um elemento natural, certo?

— Certo.

—  A humanidade pode utilizar-se dele para agredir seu próximo, ou para se aquecer, cozinhar alimentos, etc. O fogo, em si, não oferece bem ou mal algum. Será a moral e a índole de quem o manipular que ditará sua finalidade em tempo e espaço adequados, entende?

— Perfeitamente.

— O mesmo ocorre com a tecnologia, assim a índole e a moral de quem entrar em contato com a tecnologia é que ditará se ela será utilizada para, por exemplo, ensinar a fabricar bombas caseiras ou para a alfabetização, e isto serve tanto para àquele que quiser ensinar, tanto para quem quiser aprender.

— Que responsabilidade, não é mesmo, irmão Carlos?

— A grande realidade, meu irmão, é que Deus tem os seus insondáveis desígnios, mas sua misericórdia alcança toda a criação, assim ainda que o avanço tecnológico tenha a finalidade primordial de facilitar o dia-a-dia, melhorando a qualidade de vida e de que seu mau uso possa potencializar o egoismo, provocando sofrimento psíquico e aumentando a ocorrência dos casos de doença mental, ele também fará com que, ao passar do tempo, o ser humano perceba a necessidade do cuidado nos aspectos de sua saúde mental e o incentivará a buscar as mais diversas formas de terapia que levem a um processo de cura por meio da autoanálise.

— Compreendo.

— Então, irmão, como disse anteriormente, a magia divina será um dos instrumentos que o divino criador se utilizará para que bençãos sejam levadas para todos os que sofrem, auxiliando-os no processo de cura, facilitando o acesso à transformação proporcionada pela reforma íntima e, desta forma, auxiliando o planeta em seu processo evolutivo.

 

113

 

— Além do processo natural de provas e expiações que cada criatura, em menor ou maior grau, necessita experienciar para evoluir espiritualmente, parte considerável deste sofrimento sera advindo dos processos naturais de reação do planeta ao flagelo imposto a mãe natureza pela mão do homem ao longo do tempo, potencializado pelo efeito natural e gradativo de seu processo de transformação vibratória na escala dos mundos criados por Deus e como consequência do processo de sofrimento psíquico ocasonado pelo uso desequilibrado dos aparatos tecnológicos.

— Como dizemos entre nós, encarnados, será como a bonança que sucede à tempestade, não é isso?

— Exatamente, meu irmão. Não será nada que se dará de modo instantâneo, mas o resultado destes processos será a transformação do planeta em um mundo de regeneração e a criatura humana, após criterioso esforço para conhecer a si própria, evoluir em inteligência emocional e tornar-se mais propensa a vivenciar e praticar o bem, da mesma forma que surge o sol ao final de prolongado período de chuvas.

— Oração incessante, a prática da caridade, das boas ações e o uso da magia serão os procedimentos básicos de que se utilizarão os seres ascensionados na preparação do planeta e da humanidade a estes momentos que virão.

— Olha, irmão Carlos, sinceramente não esperava esse protagonismo do uso da magia na construção do processo de transição planetária.

— Mas como poderia ser de outra forma, caro irmão, se um dos maiores benefícios da magia é movimentar energias, pessoas e situações estagnadas pelo conformismo, pelo medo e por uma Ilusória sensação de comodidade.

— Verdade?

 

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— Como não? Abaixo dos desígnios do divino criador, não foram os efeitos do uso da magia utilizadas por Moisés que fizeram Faraó sair da sua cômoda posição de líder da nação egípcia e liberar os seus escravos? Além disto, também não foi o bom uso dela que fez com que os próprios escravos pudessem amadurecer sua fé na crença em um Deus único e misericordioso, mas também justo e libertador?

— Nossa, é verdade!

— Então, meu irmão, havendo disciplina, educação, estudo, mas também fé, humildade e caridade, a prática da magia torna-se algo seguro e instrumento para obtenção de muitos benefícios para si próprio e ao próximo, proporcionando lenitivo para todos os que sofrem das mais diversas formas de dores: físicas, emocionais, psíquicas, etc.

— Entendo.

— Deus, por si só, mas também por meio da caridade praticada por seus filhos, suas orações e o uso da magia, fará surgir da dor, um mundo de venturas.

— Nossa, quanta esperança proporcionada por tuas palavras irmão Carlos!

— É a esperança presente em ditado bem lembrado por você: "após a tempestade, vem a bonança".

— É verdade, irmão Carlos!

 

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— Irmão, tudo o que conto a você não deve ser utilizado como instrumento de alarde e pânico, uma vez que serão fenômenos naturais e reacionais em relação à forma que o ser humano, ao longo do tempo, lidou e lidará com o planeta, as águas, as árvores, os animais, com o seu próximo, a tecnologia e consigo mesmo.

— Entendo.

— São também para desmistificar a prática da magia de modo a que, em tempo certo, possam estudá-la a sério e pratica-la em prol do planeta, do próximo e de si mesmos.

— Certo.

— São, ainda, para alertá-los sobre os efeitos nocivos do uso da tecnologia, tanto para si mesmos, quanto para o próximo e para que sempre se recordem de que toda a criação divina está interconectada vibratoriamente em uma teia, na perspectiva de que, por ser dotada de razão, a criatura humana tenha papel preponderante em inundá-la energeticamente com as vibrações do amor, do perdão, das boas ações e da caridade, auxiliando, com protagonismo positivo, na evolução.

— Irmão Carlos, entendo que não estou aqui para saciar minha curiosidade, todavia, se for possível, gostaria de fazer uma pergunta cuja resposta traria uma tranquilidade maior para continuar a experienciar os registros de memórias akashicas em prol da caridade. Seria possível?

— Faça, meu irmão.

 

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— Sendo o mar, diante de onde estava o povo hebreu, aparentemente igual em toda sua extensão, por que Moisés dialogava com o mestre Jesus e ele acabou por mostrá-lo um lugar que seria ideal para ocorrer aquilo que sabemos tratar-se da travessia do mar vermelho?

— Você disse bem, caro irmão, aparentemente.

— Então àquele, de fato, é o lugar ideal?

— Exatamente. É o local onde existe uma sobrelevação no fundo do mar, de quase um quilômetro de extensão, por onde você verá passar o povo hebreu. Em qualquer outro local a travessia seria impossível tanto pela profundidade, quanto pelos ventos que seriam necessários para erguer as duas paredes de água, uma vez que verdadeiros tornados teriam que ser formados para tanto, contudo tornados atingiriam a inúmeros hebreus, o que não seria indicado.

— Incrível irmão Carlos! Mas qual forma de magia seria esta a indicar para Moisés o local correto da travessia?

— Isso, meu irmão, não foi fruto de magia, mas de algo que podemos denominar enquanto misericórdia divina.

— Meu Deus, quanto amor de Deus! Muito grato por estas informações, irmão Carlos! Além do conhecimento, elas também trouxeram muita esperança. Precisava mesmo desta luz para continuar a presenciar, em equilíbrio, tudo àquilo que a misericórdia divina tem facultado, a mim, presenciar no acesso a tais memórias. Muito obrigado!

 

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XV - MOMENTO DE TRAVESSIA:

 

Instantes após, o irmão Carlos orientou que eu tornasse a me concentrar e, sem muita dificuldade, retomei ao exato ponto em que fortíssima ventania continuava a soprar, direcionadamente, sobre região especifica daquele grande mar.

Levy, que conhecia àquelas montanhas como a palma de sua mão, encontrava-se melancólico devido aos últimos acontecimentos e intimamente culpabilizava aos egípcios por sua desdita. Ele vislumbrava a imensa formação rochosa com o olhar perdido, mas, como a traçar a melhor forma de eliminar a maior quantidade de soldados egípcios que fosse possível. Seu momento de triste contemplação, contudo, foi interrompido por Efraim que, tocando-lhe o ombro, disse:

— Levy, o melhor vai acontecer, pois o Eterno já está agindo, você sente?

— Veja Efraim, conheço estas montanhas a fundo. Está vendo àquela região no cume? Por trás dela existem, soltas, pedras de médio e grande porte que poderiam, sem muita dificuldade, serem despejadas sobre aqueles malditos soldados. Quanto a sua pergunta, meu amigo, devo dizer que além deste vento forte que observo soprar sobre o mar, a única outra coisa que sinto é esta oportunidade de eliminar quantos daqueles miseráveis for possível!

— Acalme-se, Levy, pois o Eterno sabe o que faz.

— Efraim, o Eterno, certamente sabe, mas já começo a duvidar de nosso líder, Moisés.

— Mas por quê?

— De um lado temos este imenso mar e nenhum barco, do outro temos esta montanha intransponível para que todo nosso povo passe por ela, com os animais e, atrás de nós, vem um dos exércitos mais poderosos que já conheci e qual é a resposta de Moisés a este temor do perigo iminente? Ventania? Custa-me acreditar!

—  Mas porque a descrença Levy? O Eterno, através de Moisés, não tem feito tanto por nós?

— Mas este vento não nos fará voar, Efraim, você não percebe isto?

 

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— Não necessitamos voar para sermos livres, Levy. Só precisamos confiar no Eterno, pois Ele tudo sabe.

— Veja bem, Efraim, dei minha palavra a você e vou cumprir, mas saiba que se em algumas horas nosso panorama não mudar, eu subirei no mais alto desta montanha e rolarei pedras para ceifar a vida de todos os soldados que eu puder, assim que eles se aproximarem. Eu me recuso a ver o massacre de nosso povo sem, ao menos, uma reação.

— Não serão necessárias muitas horas, meu amigo, pois eu creio que em breve o Eterno agirá para nos livrar do mal. Eu entendo sua dor, Levy, mas não deixe que ela abale tua confiança Nele, pois sei que, ainda em sofrimento, você é um homem de fé.

— Vou esperar, Efraim, pois é só o que posso fazer.

— Tudo bem, amigo, mas não espere só com o tempo, mas também com fé, pois isto, sim, é esperança.

Ao dizer estas palavras, Efraim já exibia profundo remorso em seu ser, pois o efeito involuntário de sua ação foi ceifar a vida de Lilian, seu objeto de afeição. Ao ver o resultado de seu mau passo, ele jurou para si mesmo de que tudo faria para tentar compensar o seu ato, agindo, sempre, em tudo que lhe fosse possível, para auxiliar o seu amigo.

Levy subiu pequena formação rochosa e, extenuado, nela recostou-se para descansar.

 

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É preciso dizer que enquanto o vento soprava fortemente por sobre o mar, na orla, por mais incrível que possa parecer, os efeitos da ventania eram bastante atenuados a ponto de todo o povo hebreu haver terminado de desmontar acampamento sem maiores intercorrências. Ensimesmado em suas dores, sentado e encostado na pequena elevação rochosa, Levy sentiu um profundo torpor e adormeceu.

Enquanto Moisés retornava para junto do povo, Faraó e seu exército, mesmo conhecendo o local, tiveram que desmontar das carruagens e montarias devido à profunda escuridão provocada pela coluna de nuvem. Ainda que conhecessem o lugar, tal procedimento foi necessário para evitar outros acidentes, assim eles tiveram que seguir percurso levando, a pé, seus carros e montarias, já que não conseguiam avistar praticamente um palmo à sua frente porque as tochas não eram possíveis de serem acesas, tamanha à intensa umidade daquela nuvem. Tal fato retardou, sobremaneira, o avanço de Faraó e seu exército sobre os judeus.

Foram necessárias algumas horas para que o vento abrisse uma fenda no meio do mar. Não tenho muito talento em dimensionar espaços, mas, ainda assim, devo dizer que aquela ventania divina, imponente e direcionada separou as águas do mar em praticamente um quilômetro de distância, exatamente como dissera o irmão Carlos.

Necessito ressaltar que os hebreus não estavam em frente a um brejo, nem a um pântano, mas sim em frente a um mar cujas águas foram separadas em dois muros de, no mínimo, entre treze e dezoito metros de elevação.

O vento continuava a soprar muito forte sobre o mar. O céu estava repleto de densas e negras nuvens como se um novo dilúvio bíblico fosse despencar das alturas. Com certa frequência, raios rasgavam o firmamento, sucedidos por fortíssimos trovões que impunham tremendo respeito, todavia não precipitou uma gota d'água do alto.

 

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Um daqueles enormes estrondos do céu acordou Levy que, em um pulo, levantou-se pensando tratar-se de uma forma de ataque das forcas egípcias. Olhando diante de si e, sem acreditar no que enxergava, ele esfregou os olhos como para confirmar se estava diante de uma miragem. Quando certificou-se tratar-se da realidade, pôs-se de joelhos sem acreditar que a imagem pudesse ser real, pois havia uma vasta passagem por onde ele e seu povo poderiam atravessar seguramente.

A tristeza dos últimos acontecimentos abalou, afetivamente, todo o psicológico de Levy e olhar àquela inusitada passagem à sua frente, sem que soubesse explicar por que, fez com que derramasse um sentido pranto. Enquanto as lágrimas vertiam caudalosas de seus olhos e soluços sacudiam o seu corpo, ele, envergonhado, teve que confessar ao Eterno que preferiria mil vezes que isto não tivesse acontecido, pois seria uma justificativa para que, ao ser atacado por Faraó, pudesse perecer e acabar com todo àquele tormento. Ele pensara ser exatamente isto que Deus quisesse dele, ou seja, que ele pudesse empregar suas notáveis habilidades de combate para morrer heroicamente em defesa de seu povo.

Agora, com àquele mar aberto à sua frente, ele entendeu que o Eterno desejava outra atitude, outra postura dele diante da vida, queria que ele aceitasse os insondáveis desígnios do Eterno para sua existência. Naquele momento, Levy chorou profundamente pela perda de sua amada e de sua filha, mas também pela morte de suas ilusões.

Estranhamente ele recordou-se de sua infância quando sua mãe, Rebeca, contava-lhe curiosa história sobre os ventos e as folhas. Ela dizia que as folhas, quando nos galhos das árvores, estavam cumprindo sua missão de fornecer sombra. Ao despencarem das alturas, elas não ficavam perdidas, pois Deus, através do vento, acabava por dar destino a cada uma delas, conforme fossem suas obras enquanto vivas. Contava-lhe Rebeca que o ser humano, por possuir consciência, era uma árvore com duas formas de folhagem: a folhagem dos bons e a dos maus sentimentos; sendo assim, deveria sempre apegar-se com Deus, por meio da oração, tanto para nunca perder as folhas dos bons sentimentos, quanto para perder as dos maus sentimentos.

 

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As folhas dos bons sentimentos, quando estamos com Deus, nunca secam, ao contrário das folhas dos maus sentimentos que podem secar, até mesmo, a própria árvore, todavia ao desfazer-se das folhas dos maus sentimentos, a árvore deveria pedir a Deus que o vento pudesse levá-las para bem longe, pois eram tão venenosas que poderiam prejudicar o solo ao redor.

Ao perguntar à mãe como faria para pedir a Deus que soprasse as folhas dos maus sentimentos para longe de si, Levy a ouvia dizer que a árvore deveria fazer preces constantes ao Eterno, através da seguinte canção:


“Você já orou, a prece já subiu

O Eterno o atendeu, o mal já caiu

Fique em oração que o vento vai soprar

O mal vai embora para outro lugar.”


Levy sorriu ao recordar-se da história e as suas emoções começaram a serenar. O seu amor por Lílian e por Eloah nunca iria morrer, mas àquela tristeza e mal-estar precisavam acabar. Ele fechou os olhos, rendendo-se à sabedoria de Deus, e orou, recordando-se da infante canção, para que o Eterno, por meio daquele vento que ali soprava, pudesse levar todo àquele sofrer para outro lugar.

Em pouco tempo seu coração encheu-se de grata paz e ele compreendeu que a passagem à sua frente, aberta pelo vento divino, também era um claro sinal de direcionamento para novo caminho em sua vida. Ele tornou a levantar-se, desceu do local onde se encontrava e seguiu, com o restante do povo que já começava a realizar a travessia, em direção a uma nova jornada.

Os hebreus continuavam a ser perseguidos por Faraó, mas por volta do que parecia ser oito horas da manhã, quando alcançaram a outra margem, os egípcios estavam praticamente no meio do caminho, com várias carruagens danificadas e muitos homens feridos.

 

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É preciso dizer que a tenacidade e persistência dos egípcios produziram um rastro de sangue por onde passavam, tanto pelo ferimento das montarias, quanto dos homens. Ao chegar no meio do mar, o exército estava reduzido em quase trinta por cento.

Os espíritos de luz encontravam-se em oração para que nenhum mal sucedesse aos hebreus, assim como Moisés, mas também para que os egípcios escutassem a voz da razão e retornassem pelo mesmo caminho de onde vieram, contudo, tal qual estivessem possuídos por forças trevosas, eles teimavam em ir adiante.

Permanecendo no ritmo em que estavam, os egípcios alcançariam os hebreus em certo tempo. Já a ventania cessaria e as águas do mar retornariam ao seu estado de normalidade em tempo três vezes maior que este, caso fosse aguardado que tais fenômenos ocorressem naturalmente, ou seja, eles seriam certamente alcançados por seus perseguidores.
Moisés não sabia destes fatos e permanecia em oração para que os algozes de seu povo retornassem ao Egito, mas em pouco tempo recebeu, do Alto, a ordem para que erguesse seu cajado aos céus. Ele ainda abaixou a cabeça como a solicitar mais algum tempo para que os egípcios retornassem para seu lugar de origem, mas obteve como resposta somente a ordenação:

—  Faça!

Moisés então ergueu o seu cajado e, instantaneamente, o vento cessou. Em pouco tempo os muros d'água chocaram-se e provocaram um estrondo tão ruidoso quanto àqueles que ressoavam no céu.

 

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Todos àqueles que seguiam em perseguição ao povo hebreu sucumbiram de imediato, pois a velocidade do retorno das paredes de água ao ponto de origem, aliado ao comprimento destas, produziu um impacto fulminante e mortal.

A maioria dos soldados que não seguiram em tal empreitada devido aos ferimentos que o incapacitavam para tanto, acabou por vir a óbito. Foram os escassos sobreviventes que cuidaram de relatar toda a desdita ocorrida, todavia conforme o informado pelo irmão Carlos, a ciência jamais encontrará algum relato egípcio sobre o ocorrido, tamanha a humilhação sofrida, pois as forças militares daquele que, à época, era considerado um dos exércitos mais poderosos e bem treinados da humanidade, não sucumbiu para outra nação com igual poder bélico, mas sim para um agrupamento de escravos, orientado por um grande mago (na origem e no meio) que, submisso à ordenação divina, teve a seu favor incontáveis fenômenos da natureza produzidos por Deus em condução de seu povo rumo à liberdade.

Vinte anos após estes acontecimentos, enquanto os hebreus ainda estavam a caminho da terra prometida, Efraim e Levy seguiam como parceiros inseparáveis. Por várias vezes Efraim, com sua técnica e experiência na manipulação da energia vegetal, salvara a vida do amigo quando era picado por animais peçonhentos, o que não era raro acontecer, em especial, durante as rondas no deserto. Levy, por sua vez, socorrera ao amigo nas vezes em que se via alvo de malfeitores.

Levy, em sua essência, era um homem de fé e esta florescera em virtudes após a travessia do mar vermelho. Ele fizera um propósito com Deus de nunca mais voltar a duvidar de Seus santos desígnios e cumpria-o inabalavelmente. Efraim, também após atravessar o grande mar, nunca mais empregou a magia vegetal para fins escusos, apenas para promover a paz, a união e o amor, três dos fatores que o seu povo mais precisava para o estabelecimento da unicidade com Deus e entre si.

 

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Ainda que vinte anos, na prática da magia para o bem, seja um tempo considerável, intimamente Efraim via-se constantemente assombrado pelos maus atos praticados anteriormente. O arrependimento e o remorso consumiam-no dia-a-dia. Por várias vezes ele intencionava revelar toda verdade ao amigo, mas sempre retrocedia em suas intenções.
Certo dia, quando aprontavam a montaria com a qual fariam mais uma ronda no deserto, Efraim decidiu que no melhor momento do trajeto, custasse o que fosse, ele revelaria a dolorida verdade ao amigo. Durante o trajeto da ida, ele sentiu-se compelido a chamá-lo para conversar, mas não concretizou sua intenção.

Na metade do caminho de retorno para junto do povo, Efraim, enfim, agiu conforme suas intenções e Levy, parando a montaria, desmontou-a para conversar com o amigo.

Justamente ao tentar descer da montaria, Efraim foi acometido por lancinantes dores na região do peito e tombou ao solo, ainda com vida.
Levy agachou-se e disse:

—  O que foi Efraim? O que está acontecendo? Você tem algum remédio que eu possa usar para socorrê-lo? Ajude-me, pelo amor do Eterno, porque esta é sua área de conhecimento, por favor!

Como não obteve resposta à sua rogativa, Levy disse:

—  Amigo, por favor, não faça isto comigo! Você é a última ponte que eu tenho com o que era minha família.

Efraim esboçou um sorriso de alívio ao escutar o amigo proferir àquelas palavras, mas sentia uma dor aguda no peito que não o permitia falar para confessar o erro pretérito e pedir perdão. Ele sabia que não tinha muito tempo e a dor era tanta que mal conseguia respirar ou pensar direito, todavia em um tremendo esforço, ele acumulou fôlego e, com voz quase sumida, apenas disse:

 

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—  Perdão!

Sem entender as motivações daquela rogativa, ele apenas o respondeu:

—  Perdoar o que, meu irmão, não há o que perdoar! Você é o irmão que eu não tive. O que está acontecendo?

Mas Efraim já não tinha mais como responder, pois seu desencarne se completara.

O tempo correu célere em minha tela mental e cerca de dez anos apos os últimos acontecimentos, Levy também desencarnou vitimado por uma víbora. Minha tela mental se apagou.

 

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 XVI - MOMENTO DE REFLEXÃO:

 

O irmão Carlos veio ao meu encontro, mentalmente, e disse:

— O conteúdo que você, em nome da caridade, necessitava acessar e compartilhar com Lucas chegou ao fim, todavia é importante que nós possamos dialogar sobre o conteúdo revisitado, antes que você volte a ter com ele pessoalmente.

— Tudo bem, irmão Carlos.

— Então fale-me sobre suas dúvidas e conclusões em relação ao que por você foi observado.

— Irmão Carlos, primeiramente, eu gostaria de falar sobre a incrível semelhança que desde criança sempre senti em relação ao fenômeno da abertura do mar vermelho, pois ele é muito comentado como sinal de mudança de uma vida ruim, de escravidão para uma existência de liberdade, mas sem que eu saiba explicar, eu sempre senti, em relação a essa passagem, a mudança de algo que concretamente foi ótimo para uma aposta de fé para que fossem concretizados os desígnios divinos, mas não necessariamente os meus e isto para mim sempre causou estranhamento, mas sem que eu soubesse o porquê. Você poderia comentar algo a este respeito?

— Meu irmão, entendo que as imagens observadas por você esta noite, naturalmente tragam curiosas observações e lembranças sobre o tema, contudo nós estamos aqui para trabalhar em prol do nosso companheiro Lucas, então nos esforcemos em Cristo para que a prática da curiosidade não seja maior que a prática da caridade, até mesmo porque até o fim das atividades de hoje, muitas coisas lhes serão naturalmente esclarecidas.

— Tudo bem, irmão Carlos, desculpe-me se fui inapropriado.

 

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— Não ha por que se desculpar, meu irmão, pois se não houver a verbalização espontânea de suas curiosas dúvidas, então não seria você, não é mesmo?

Sorri com a observação do irmão Carlos e ele prosseguiu:

— Só o que lhe peço é que dê tempo ao tempo para que algumas de suas dúvidas sejam oportunamente esclarecidas.

— Tudo bem, irmão Carlos!

— Conversemos sobre outras dúvidas e observações a respeito do que você constatou hoje.

— Irmão Carlos, tenho uma dúvida: o que aconteceu com Efraim após o seu desencarne?

— Nosso irmão Efraim passou o tempo necessário nos vales trevosos, de modo a resgatar os maus atos praticados enquanto encarnado.

— Verdade?

— Certamente. O remorso que sentiu foi tanto que ele, além de decidir-se por não mais utilizar a magia para prejudicar outra pessoa, também passou a empregá-la, amparado por guardiões, em locais necessários no astral inferior.

— Bom saber que o arrependimento de Efraim foi genuíno, mas tenho uma pergunta para fazer a este respeito, irmão Carlos.

— Sinta-se a vontade.

— É que na presente encarnação Efraim encontra-se na roupagem carnal enquanto Lucas, mas Lilian, Eloah e Maya, como estão atualmente?

 

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—  Eloah tornou-se luz assim que desencarnou junto a sua mãe, Lilian. Foi um reencarne programado para que ambas pudessem superar o ciclo reencarnatório.

— Que felicidade, meu Deus! Então elas não passaram mais pelo círculo reencarnatório após encarnarem no Egito?

— Lilian, sim, por duas vezes, em prol da evolução espiritual de Efraim. Nestas duas oportunidades, ela teve como mentora espiritual, o espírito de Eloah.

— Que alegria, irmão Carlos! E Maya, como está?

— Atualmente encontra-se no plano espiritual preparando, junto a seus mentores, sua próxima reencarnação.

— Impressionante, mas irmão Carlos, se você disse que Lilian e Eloah não reencarnam mais, então quem são os espíritos de Catarina e Laura, esposa e filha de Lucas na atual encarnação de nosso irmão?

— Elas são espíritos sem ligações pretéritas com Lucas, mas que necessitavam passar por certas experiências, junto a carne, a fim de adquirirem condições de evolução espiritual.

— Entendi, mas Levy, irmão Carlos, o que aconteceu a ele após haver desencarnado?

— Sobre isto, meu irmão, não tenho autorização para informá-lo.

— Mas existe algum motivo específico para que esta informação não possa ser oferecida?

 

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— Nenhum, exceto a necessidade de aprendizado prático.

— Então terei a oportunidade de conhecê-lo, irmão Carlos? Ele encontra-se encarnado?

— Antes de abordarmos melhor este assunto, permita-me sondá-lo em alguns aspectos das memórias akashicas às quais você obteve acesso.

— Tudo bem, irmão Carlos.

— Diga, honestamente, como você avalia o comportamento do irmão Lucas quando encarnado enquanto Efraim?

— Não sei se possuo competência para realizar o que me pede, irmão Carlos.

— Mas por que, meu irmão? Não está sendo solicitado a você a elaboração de um laudo comportamental a respeito das ações de Efraim, apenas suas observações pessoais.

— Bem, irmão Carlos, então devo dizer que muitas das ações de Efraim, até o óbito de Lilian e Eloah, foram deploráveis e perversas, todavia após o ocorrido ele devotou-se, muitas vezes de maneira abnegada, em benefício do bem-estar de Levy e de seu povo.

— Tudo bem, meu irmão, e se fosse você? Você teria condições de perdoar o mal praticado por Efraim?

— Acredito que sim, irmão Carlos. Ainda mais tendo a capacidade que obtive nesta tarefa de hoje em poder observar as ações de todos os envolvidos sobre prisma ampliado.

— Você está dizendo que se houvesse perdido a mulher amada e a filha em único golpe, por conta das ações impensadas de quem você só cuidou, amparou, protegeu e estendeu a mão amiga, desde o primeiro encontro, ainda assim perdoaria tal pessoa?

 

130

 

— Irmão Carlos, não sei se é empatia ou o que é, mas ouvir você recordar estas ações que acabei de ter acesso por meio das memórias akashicas, traz-me profundo pesar pela desdita de Levy, mas ainda assim, eu entendo que o mal provocado por Efraim foi involuntário. Ele foi iludido por sua paixão e pela falsa sensação de poder enquanto um grande mago da magia vegetal. Quando sentiu, na própria pele, os efeitos nefastos de suas ações, ele arrependeu-se verdadeiramente, e isto é muito importante, então, sim, irmão Carlos, eu o perdoaria.

— Interessante, meu irmão, e muito importante, pois o perdão é sempre um santo remédio, uma vez que traz lenitivo tanto para quem o oferta, quanto para aquele que o recebe.

— Também entendo desta forma, irmão Carlos e até mesmo considerando esta sua fala, acredito ter mais uma pergunta a fazer em relação ao assunto.

— Prossiga, meu irmão.

— Após a encarnação dos espíritos de Efraim e Levy no Egito, Efraim teve a oportunidade de ser perdoado por Levy?

— Sim. Os mentores de nosso irmão Lucas o informaram a respeito deste perdão antes da atual encarnação.

— Graças a Deus! Então deve estar tudo bem, não é mesmo, irmão Carlos?

— Está quase desta forma.

— Verdade, mesmo após milênios? O que falta para tanto?

 

131

 

— O irmão Lucas, em encarnações pretéritas, conseguiu quitar o mal causado a Levy e sua família.

— Puxa, que ótimo!

— Certamente, contudo, o mal praticado por Efraim causou-lhe tristeza tão profunda que em várias encarnações ele se viu em luta diária contra a depressão.

— Verdade?

— Sim, todavia, o trabalho incessante em prol da caridade, ao longo das experiências carnais, facultaram-no a superar tal enfermidade na atual encarnação.

— Meu Deus, quanto tempo!

— Sim, meu irmão. Apesar do resgate alcançado com sucesso, dois fatores ainda faziam com que Efraim não conseguisse liberar perdão para si próprio.

— Nossa, irmão Carlos, que situação! Você poderia falar mais sobre isto?

— Com certeza, meu irmão! Um dos fatores que fazem Lucas sentir-se imerecedor de perdoar a si próprio é não haver sofrido o mal que causou a Levy.

— Meu Deus, agora entendo! Então foi por isto que nesta encarnação ele passou pela experiência de perder a esposa e a filha de forma abrupta, não é isto?

 

132

 

— Exatamente.

— Isto quer dizer que Lucas também tinha algo a resgatar em relação à Laura e Catarina?

— Não.

— Como assim?

— Meu irmão, tanto Catarina, quanto Laura, por conta de fatos relacionados às suas encarnações passadas, também trabalharam firmemente no propósito da caridade, para que tivessem a oportunidade de desencarnarem de forma abrupta.

— Entendo.

— Eis que a providência divina reuniu, na atual encarnação, três espíritos que necessitavam passar justamente por tal experiência a fim de conseguirem ter condições de evoluírem espiritualmente.

— Meu Deus, como o Pai é perfeito e sábio.

— É por isto que o acidente de Catarina e Laura abalou tanto a Lucas a ponto dele estar há cinco anos em coma, não é assim?

— Exatamente.

— Meu Deus, quanto tempo e quanto sofrimento, não é mesmo, irmão Carlos?

 

133

 

— Verdade, meu irmão e também é por isto que Jesus tanto recomenda a prática do amor incondicional, do perdão e da caridade.

— Então a razão principal da atividade desta noite realmente é proporcionar a Lucas o resgate de memórias desta vida passada, enquanto Efraim, para que ele possa se curar psicologicamente de suas dores e, em tempo certo, superar o estado comatoso em que se encontra, não é isto?

— Também.

— Qual seria o outro motivo, irmão Carlos?

— Proporcionar, através do resgate destas memórias, a oportunidade plena de execução do livre-arbitrio de nosso irmão.

— Mas por quê?

— Para conseguir, de fato, decidir se realmente quer pedir perdão a Levy, ou não.

— Mas ele não reencarnou atualmente, especialmente, para isto? Não entendo.

— Um juiz, para estabelecer sua sentença, sua decisão, necessita escutar as duas partes, quem acusa e quem é acusado, a fim de que possa chegar a uma conclusão.

— Compreendo.

— No grande tribunal da vida, cada ser humano é o juiz de sua própria existência. É ele quem delibera decisões a respeito de si próprio.

 

134

 

— Estou acompanhando seu raciocínio, irmão Carlos.

— Ocorre que em certos casos, quando o espírito faz-se meritório, ele precisa ter acesso a certas recordações de vidas passadas de modo a que tenha plena consciência na execução de seu livre-arbítrio.

—  Acredito que entendi. Não é somente o remorso que está facilitando a permanência de Lucas em estado comatoso, mas também a razão deste, ou seja, o temor de uma possível recusa, da parte se Levy, sobre seu pedido de perdão.

— Percebo que efetivamente compreendeu o que digo.

— Irmão Carlos, posso, a partir de hoje, aplicar-me em orações para que tudo dê certo no encontro entre Levy e Efraim?

— Certamente. Ainda mais sendo tal decisão fruto de seu livre-arbítrio.

— Desejo realmente agir neste sentido, mas posso fazer outro pedido?

— Faça-o, meu irmão.

— Quando for o momento de Levy e Efraim estarem frente a frente, haveria a possibilidade de minha presença enquanto uma espécie de intercessor em orações, para que o perdão possa ser liberado e recebido?

— Não se preocupe quanto a isto, meu irmão, pois com certeza você lá estará, mas não te preocupes com isto agora, pois tudo tem o seu tempo.

— Você tem razão, irmão Carlos, mas se bem entendi, o nosso irmão Lucas também não consegue liberar perdão a si mesmo pelo temor em possível recusa de Levy a um pedido de perdão, mesmo que seus mentores espirituais tenham informado a ele sobre este perdão, antes da atual encarnação. É isto mesmo?

 

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— Exatamente.

— Mas por que duvidar de si próprio a este ponto, irmão Carlos?

— Porque o remorso é adoecedor, meu irmão e, a este respeito, nosso irmão encontra-se em convalescença. Como nunca se sentiu meritório do perdão de Levy, então nunca solicitou a oportunidade de ter com ele, frente a frente, e fazê-lo tal pedido. Pelo menos até a atual encarnação.

— Irmão Carlos, você disse não ser possível revelar aspectos do desencarne de Levy quando de sua encarnação no Egito. Mas atualmente, você poderia dizer se ele se encontra encarnado, tal qual Lucas?

— Isto, sim, é algo que tenho autorização para informar. Sim, meu irmão, Levy encontra-se encarnado.

— Então Lucas precisará recuperar-se do coma para ter com ele?

— Não. É o oposto, meu irmão, se ele não se encontrar com Levy, quanto antes e mediante às possibilidades, dificilmente superará a situação comatosa.

—  Meu Deus! Por que tamanha dor e sofrimento tanto tempo depois, irmão Carlos?

— Porque o tempo é relativo, meu irmão, ele passa diferentemente tanto entre as dimensões terrena e espiritual, quanto para aquele que sofre e aquele que fez sofrer.

 

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XVII - MOMENTO PARA UMA ANÁLISE SOBRE O TEMPO:

 

— Mas é que se passaram séculos desde a encarnação de Levy no Egito até a atual.

— Não é a quantidade de tempo transcorrido que, necessariamente, traz evolução espiritual a um ser.

— Isto eu acredito até que entendi, irmão Carlos, mas é porque eu penso que realmente passou-se muito tempo.

— Prezado irmão, qual a definição de tempo para você?

— Nunca parei para refletir sobre isto, mas pensando agora, penso que o tempo, talvez, seja o agente causador de mudanças.

— Como assim, companheiro?

— Por exemplo, o envelhecimento da pele, nós só podemos observá-lo com o passar do tempo.

— Então, no caso de seu exemplo, o tempo seria o agente causador do envelhecimento da pele?

— Acredito que sim, pois nós só conseguimos perceber este envelhecimento com o passar do tempo.

— Entendo companheiro, mas o natural envelhecimento da pele não ocorre quando as células que a compõem entram em natural processo de deterioração, a ponto de aumentar a probabilidade de uma incorreta reprodução celular do epitélio?

 

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— Sim, irmão Carlos, mas isto só ocorre devido à quantidade de vezes que as células se duplicam ao longo do tempo.

— Exatamente, mas dai o causador do envelhecimento da pele seria o número de vezes que a célula se reproduz ou o tempo?

— Nossa! Muito complexa esta pergunta, hein irmão Carlos!!!

— Você teria outro exemplo para expor a sua definição de tempo enquanto um agente causador de mudanças?

— Não sei. Talvez a erosão de uma rocha!

— Mas um processo erosivo, em rochas, não acontece em consequência, por exemplo, do sol, do vento e da chuva?

— Sim, mas não de um dia para o outro. Isto só pode ocorrer com o passar do tempo.

— Mas o agente causador da erosão seria o tempo ou, como exemplifiquei, o sol, o vento e a chuva?

— Mas não há como desatrelar uma coisa da outra e isto nos dois exemplos que citei.

— Muito bem observado, companheiro! E com esta sua conclusão chegamos ao ponto necessário para que você possa compreender uma característica relacionada ao tempo, qual seja, a de que ele não existe por si só, mas sim se houver alguma significação atrelada a ele?

 

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—  Significação?

— Sim, companheiro! Acredito que você já deve ter aprendido este conceito na cátedra terrestre onde estudas, ou estaria cometendo um equívoco?

Fiquei impressionado como até o que eu fazia em meu dia-a-dia, na época na faculdade, era de conhecimento dos abnegados seres de luz no astral, ainda assim, respondi:

—  Sim, irmão Carlos! Tenho estudado este conceito com aquele que considero meu professor favorito, em aulas sobre semiologia.

— Isto! Semiologia, a disciplina que estuda a análise dos signos. Segundo ela, o que é significação?

— É uma representação mental do que um signo quer dizer, que fornece um sentido. Uma placa de trânsito isolada, por exemplo, é somente uma conjunção visual de cores e desenhos. É pelo significado que lhe dão que ela se torna um signo, e ganha novo sentido, podendo representar parada de veículos, redução da velocidade automotiva, etc.

— Bem, vejo que não me ludibriam, quando dizem que não é mal aluno, mas vamos ao teu exemplo acerca do envelhecimento da pele. O que você diria se as células humanas fossem aptas a se reproduzirem por um período de dez mil anos, até que começassem a entrar em processo de deterioração? Você acredita que alguém consideraria o tempo enquanto um agente causador do envelhecimento?

 

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— Creio que não. Neste caso penso que, talvez, nem mesmo seríamos preocupados com o tempo.

— Mas como não é assim que ocorre, então o ser humano começou a observar o processo de envelhecimento da pele, desta maneira, pôde considerar que um idoso é aquele que, geralmente, possui uma pele mais flácida e enrugada, ao contrário dos jovens e adultos, desta forma, foi compreendendo que, por exemplo, pele flácida, enrugada e cabelos grisalhos são símbolos representativos de uma pessoa idosa, de alguém que possui muito tempo de vida e, assim deduziu que o indicador de uma pessoa idosa não é o tempo em si, mas sim a sua representatividade, no caso de seu exemplo, a textura da pele, mas também pela mudança na coloração natural dos cabelos, etc.

— Entendo, irmão Carlos.

— Ainda sobre seu exemplo sobre o envelhecimento da pele, podemos dizer que o ser humano começou a observar que este processo, a partir de seu início, ocorre de forma contínua até que a pessoa desencarna. Paralelamente a tal fenômeno, também passou a notar que com o envelhecimento da pele, o ser humano, paulatinamente, também vai encontrando limitações no exercício de suas atividades e, assim, passou a dilatar a compreensão a respeito do conceito cíclico da vida, pois o básico já possuíam, especialmente ao contemplarem o desenrolar dos dias e das noites.

— Seria o tempo, então, irmão Carlos, o período que abrange o desenrolar dos ciclos?

 

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— Depende, filho, pois se considerarmos os preceitos da física clássica, que considera o tempo absoluto, ou seja, um fenômeno que flui de maneira uniforme, independente do observador, podemos até dizer que sim.

— É verdade, irmão Carlos, por que para a física moderna o tempo é relativo, mas, segundo a física, de uma forma geral, o que seria o tempo?

— Conforme a física, de forma geral, não devemos interferir no livre arbítrio passando e informando conceitos que, ainda no estágio espiritual evolutivo em que se encontra a humanidade, seriam muito provavelmente utilizados para destruírem uns aos outros. Só posso dizer que, em não muito tempo, muitos chegarão a conclusões sobre o tempo das quais compreendiam, por exemplo, certos povos ameríndios.

— Tudo bem, irmão Carlos, mas, o que é o tempo?

— O tempo é o veículo pelo qual o Divino Criador se utiliza a fim de que todos os seres sintam o efeito de Suas irradiações, conhecidas como os sete sentidos da vida e que tem o propósito de proporcionar a evolução espiritual das criaturas. Estes sentidos estão representados em sete vibrações: Fé, Amor, Conhecimento, Justiça, Lei, Evolução e Geração.

—  Não compreendo de todo.

— Vou tentar exemplificar por meio do sentido do amor. Podemos definir o amor, por exemplo, como um sentimento de atenção e manifestação de carinho que se expande entre indivíduos que conseguem manifestá-lo. Isto significa dizer que o amor fomenta a necessidade de amparo com a possibilidade de se manifestar de diversas formas, entende?

 

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— Acredito que sim, irmão Carlos. Por exemplo, temos o amor ao país, amor físico, amor à natureza, amor materno, fraterno, paterno, entre outros.

— Exatamente. O amor, prezado irmão, tem sete formas de manifestação e, cada uma delas, com sua finalidade. São elas: conhecimento, justiça, lei, fé, criação, evolução e o próprio amor. Por exemplo, o amor, manifestando-se em forma de conhecimento, fará com que pessoas possam tornar-se próximas em relação a alguma área de aprendizado. Assim são os professores de qualquer disciplina e os alunos que, com esta, têm afinidade, pois o amor provoca este entusiasmo agregador.

— O que você está explicando é muito lógico e esclarecedor, irmão Carlos, mas há a possibilidade de você explicar a manifestação do amor na dimensão do próprio amor?

— Certamente que sim. Poderíamos, por exemplo, falar do amor-próprio ou até mesmo do amor platônico, mas para atingirmos o real objetivo de todo o nosso diálogo sobre o tempo, os sete sentidos da criação divina e sobre o amor, a sua aplicabilidade como fator de compreensão sobre o resgate cármico de nosso irmão Lucas, falemos do amor físico, pois foi devido a desequilíbrios nesta área que ele, quando outrora Efraim, contraiu este débito no tribunal de sua própria consciência.

— Entendo perfeitamente.

— Pois bem. O tempo é um fenômeno incessante e que pode ser expresso, por exemplo, em unidades de medida como horas, minutos e segundos. Certo?

 

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— Correto!

— Quando uma pessoa consegue entender, desenvolver e praticar o amor em uma dimensão de equilíbrio, então todo seu ser está apto a experienciar psicológica, emocional e espiritualmente o tempo como uma dimensão circunscrita ao próprio amor, uma vez que o amor ponderado, equilibrado promove interesse em fazer o bem que não a si próprio, assim a criatura humana vai evoluindo nos caminhos de virtudes como altruísmo, abnegação, humildade e caridade. Pessoas vivenciando tal forma de amor, não sentem a força do tempo, mas sim a força do amor. Sentem como se o tempo fosse submisso ao amor, pois entendem que a emanação do verdadeiro amor, àquele que provem de Deus, a tudo deve perdoar para que, no tempo Dele, possam vir a ser somente luz. Enfim, sentem vibrar o tempo na força do amor.

— Já Efraim, pelo que você pôde acompanhar nas memórias akashicas, àquela época, pouco interesse possuía em aprender e praticar esta forma de amor, muito pelo contrário, já que na grande maioria das vezes possuía extremo interesse em tudo que pudesse promover somente a satisfação de seus próprios interesses. Foi assim que, involuntariamente, provocou o desencarne do ser amado e acabou por contrair graves débitos, em especial, no tribunal de sua própria consciência. Devemos sempre recordar que da mesma forma que a semeadura é livre, mas a colheita obrigatória, praticar o mal também é instantâneo, mas a oportunidade de resgate ao prejuízo provocado, muitas vezes, está atrelada a tantas variáveis que, abaixo de Deus, somente o tempo, através de seu bom uso, na prática do bem, para proporcionar a oportunidade da demonstração de que um indivíduo aprendeu verdadeiramente a amar o outro por meio da reencarnação.

— Entendo, irmão Carlos.

 

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— Pessoas que, assim como Efraim, agem desta forma, sentem que o amor vibra na força do tempo, ou seja, sentem o tempo passar penosamente, tanto durante as reencarnações, quanto nos intervalos entre elas, pois desejam ardentemente resgatar o mal praticado com a prática do amor, mas precisam aguardar o tempo certo para reencarnar e as condições necessárias estarem todas favoráveis para que isto seja possível.

— Entendi. Foi assim que Lucas, embora tenha obtido o perdão de Lílian e Eloah, sentiu-se devedor em relação à vida por haver, ainda que não intencionalmente, ceifado a vida de uma criança e do seu outrora objeto de descontrolada paixão, passando a trabalhar incansavelmente, ao longo dos tempos, para tornar-se meritório de poder reencarnar em uma experiência junto a duas pessoas que, por suas próprias contingências, também sentiam a necessidade de atravessarem pela exata experiência a que passaram Laura e Catarina.

— Perfeito, meu irmão. E também é por isto que Efraim, mesmo tendo escutado de seus mentores sobre o perdão de Levy, ainda assim solicitou à providência divina, antes de voltar à carne enquanto Lucas, a oportunidade de utilizar a atual encarnação para sentir-se moralmente capaz de solicitar, pessoalmente, o seu perdão.

— Mas tal encontro não poderia haver acontecido, entre os dois, antes do reencarne de ambos?

— Sim, poderia, mas Efraim não se sentia digno de pedir perdão a Levy sem ter, ele mesmo, experimentado, em carne, o mal que a causou-lhe um dia. Foi assim que, através de terrível acidente, ele veio também a perder tanto a esposa, quanto a filha.

 

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— Meu Deus! Quanto sofrimento e quanto tempo para esperar colocar em prática o aprendizado do verdadeiro amor!

— Disseste bem, meu irmão! Você possui mais alguma dúvida?

— Não, irmão Carlos.

— Está certo disto? Pois você necessita estar com a mente tranquila e focada para poder auxiliar ao nosso irmão, Lucas.

— Estou, sim, irmão Carlos!

— Muito bem. Antes que retome o seu corpo mental, será necessário realizar certos procedimentos na região mnemônica do seu cérebro.

— Posso perguntar por quê?

— Já perguntou, não é, meu irmão?

Sorri com o comentário espirituoso e ele, então, disse:

—  Toda a história que você observou sobre a encarnação de Lucas enquanto Efraim, foi uma amálgama de memórias akashicas pertencentes a algumas pessoas encarnadas à época e cuja providência divina facultou-lhe a oportunidade de observá-las na intenção de que, sob vários pontos de vistas, pudesse entendê-la de forma global.

— Compreendo.

 

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— Então farei os procedimentos a fim de que tenha melhor oportunidade de usar o seu livre-arbítrio em prol da caridade. Enquanto ele estiver sendo realizado, solicitarei que você mantenha a concentração e, sem pressa, faça uma sentida prece ao Divino Criador, de modo a que despertes serenamente em teu corpo mental.

— Tudo bem, irmão Carlos.

— Enquanto estamos aqui, em diálogo mental, o procedimento está para ser iniciado.

— Está certo.

— Solicito que se concentre em oração, com responsabilidade, mas também com todo o afeto em seu ser. Inspire o ar, profunda e lentamente, e expire-o.

 

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XVIII - MOMENTO PARA O PERDÃO:

 

Iniciei a realização do exercício respiratório proposto e, em pouquíssimo tempo, fui envolvido por uma leve forma de torpor, tal qual estivesse em sedação. Em seguida, comecei a realização de uma sensível prece em nome do entendimento, da paz e do amor entre os seres humanos; então, sem que soubesse como, várias imagens começaram a desfilar em minha tela mental.

Elas passavam em uma incrível velocidade, mas eu não sentia a sensação de que estivesse vendo um vídeo em modo acelerado, pois cada uma daquelas imagens tinha um profundo significado para mim. Em pouquíssimo tempo elas cessaram e eu tive a compreensão de que o procedimento realizado pelo irmão Carlos fizera-me recordar de minha encarnação à mesma época de todos os envolvidos a que assisti anteriormente pelas memórias akashicas.

Confesso que, estranhamente, não fiquei surpreso com o que descobri. Na verdade, muitos dos meus diálogos com o irmão Carlos acabavam de fazer um redobrado significado para mim. Fiz uma prece de agradecimento a Deus, por sua infinita misericórdia e, após rogar serenidade e humildade, abri meus olhos.

Despertei e, ainda sentado, vi subir uma esfera luminosa pulsando uma vibração de amor tão grande que lágrimas começaram a brotar, espontaneamente, do canto dos meus olhos. Ela possuía uma coloração rósea e pulsava, ritmicamente, uma irradiação de mesma cor. Na verdade, era uma esfera similar a que observei quando do desencarne de Lílian, mas esta possuía uma coloração muito mais intensa. Como acordei sem nenhuma espécie de torpor, consegui sentar e levantar-me tranquilamente.

O irmão Carlos aguardava o despertar de Lucas e coloquei-me ao seu lado que, então, disse-me brevemente:

—  Ele está em finalização do mesmo processo mnemônico pelo qual você passou. Aguardemos respeitosamente e em oração.

 

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Fiz o recomendado e, em pouco tempo, Lucas abriu os olhos dizendo:

—  Irmão Carlos, agora eu consigo entender muitas coisas do que você me disse durante o acesso às memórias akhasicas. Posso levantar-me?

— Você está pronto?

— Com certeza! Posso aproximar-me de vocês?

— Sinta-se à vontade!

Ele então abraçou o irmão Carlos e disse:

—  Obrigado por tudo!

Após proferir tais palavras, ele virou-se para mim e falou:

—  Meu irmão, não tenho intimidade, na atual encarnação, para dialogar contigo, chamando-o pelo nome com o qual é agora conhecido na atual roupagem corpórea.

Ainda que estivéssemos em nossos respectivos corpos mentais, Efraim tremia-se totalmente em nervoso ao dialogar comigo. Mesmo assim, respirou profundamente e continuou a dizer-me:

—  Não me sinto à altura de dizer a você o que me é necessário após tanto tempo, assim permita-me ajoelhar para que eu possa sentir-me mais confortável para fazê-lo.

Esta ação, para mim, era totalmente desnecessária, mas aquilo tudo deixou de ser sobre mim já há muito tempo, assim, em benefício a ele, apenas concordei afirmativamente com a cabeça.

Ele, assim, continuou a conversar:

 

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—  Então, permita-me chamá-lo pelo mesmo nome, que era conhecido quando, para mim, foi como meu melhor amigo, meu irmão mais velho e, até mesmo, um pai.

A voz de Lucas já estava totalmente embargada e quase sufocada pela emoção. Talvez sentindo que não fosse conseguir mais dizer algo, ele, então, simplesmente disse:

—  Perdão Levy!!!

E desandou a verter um sentido e soluçante pranto.
Coloquei minhas mãos sobre sua cabeça e fiz uma prece a Deus rogando serenidade e paz a Lucas.

Enquanto escutava aquelas rogativas por perdão, proferidas de maneira tão pungente, entendi um pouco a respeito do que o irmão Carlos explanara acerca da relatividade do tempo e também sobre o fato da condição essencial para sua existência é estar atrelado a algum outro fator, pois eu tinha noção de que tudo que observara nas memórias akashicas era algo que ocorrera há muitos séculos, mas o sofrimento de Lucas em sua rogativa por perdão denotava que, para ele, era como se estes fatos milenares tivessem ocorrido recentemente, ou seja, o fator tempo para ele se encontrava, em muito, enraizado ao desejo de aplacar o remorso no esforço para conseguir o perdão. Era claramente um exemplo do que esclarecera o irmão Carlos sobre a relação do amor na força do tempo.

Alguns minutos após, Lucas ainda chorava e soluçava na mesma intensidade. Todos nós precisamos de Deus, mas naquele momento percebi que Lucas necessitava igualmente de Levy, do abraço de seu melhor amigo. Pedi perdão a Deus, mas abandonei qualquer forma de protocolo que pudesse existir naquele local e ajoelhei a abraçá-lo dizendo:

 

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—  Perdão, Lucas, perdão!

O pedido era sincero e das profundezas de minha alma, todavia também uma estratégia psicológica para que ele pudesse serenar as emoções através da razão.

Inicialmente ele não conseguia nem mesmo escutar-me, mas ainda em oração, com o passar de alguns minutos ele pôde dizer-me:

—  Por qual motivo você está pedindo perdão a mim, Levy?

— Pelo mal que eu te fiz.

— Sobre o que você está falando?

— Você se recorda dos sentimentos que você desenvolvia para comigo, desde o instante que nos conhecemos, mas que foram exacerbados quando olhou para Lílian pela primeira vez?

— Infelizmente lembro, sim, Levy! Era uma admiração mesclada a um despeito e uma inveja terríveis!

— Você nem me conhecia e, ainda assim, manifestava estas sensações aversivas por mim, não é isto?

— Exatamente.

— Agora diga-me, você acredita que isto foi gratuito, ou que há alguma explicação que você não consegue acessar?

 

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— Não creio que tenha sido gratuito.

— Exatamente. Muito provavelmente foi um instinto a algum mal que lhe fiz antes de nos conhecermos naquela encarnação enquanto Levy e Efraim.

— Existe muita coerência em teus argumentos.

— Você sabe o que eu te fiz de mal?

— Não.

— Eu também não sei, ainda assim já compreendi que não preciso saber para te pedir o meu mais profundo e sincero perdão, por tudo que for mais sagrado.

E desta vez fui que o abracei e chorei ao fazer o pedido, pois já havia aprendido a lição e queria usar o tempo de que ali dispunha para que Deus fizesse vigorar entre nós a força do amor. Já entendera que usar o tempo na força do amor é muito mais sábio e caritativo do que posteriormente haver de enfrentar novos ciclos reencarnatórios para dirimir erros cometidos através do amor, ou seja, de usar o amor na força do tempo.

Passado certo tempo que não saberia precisar, ele então falou:

—  Eu o perdoo, Levy! Chega de sofrimento!

Assim, eu pedi a ele:

—  Você poderia ficar de pé, por favor?

— Mas por qual motivo?

 

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— Porque não sou melhor que você e nunca fui, então preciso do seu perdão da mesma forma humilde que você a mim, solicitou.

Ele levantou-se e eu, então, tornei a perguntar:

—  Você me perdoa?

— Sim. Setenta vezes sete vezes.

— Muito obrigado, meu irmão, pois o seu perdão traz paz.

Foi então que ele disse:

—  Vamos, Levy, levante-se para darmos um abraço de verdadeiros irmãos.

— Com certeza, meu amigo. Utilizemos o tempo que temos para que a força do amor possa nos conduzir a um caminho de luz.

— Para não termos de, mais uma vez, vivenciar o amor na força do tempo, não é isso, Levy?

— Exatamente, Lucas. Vejo que o irmão Carlos conversou a respeito disto com você também.

— Com certeza, Levy! Este conceito precisa ficar guardado em nossos corações. Acredito que se todos dele soubessem, então fariam um maior esforço para desenvolverem relações mais harmônicas com o seu próximo, relações em que o perdão, a paz e o amor sirvam como bússola a orientar a navegação do ser humano no grande oceano da vida.

 

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As palavras de Lucas trouxeram um inexplicável júbilo ao meu coração. Um contentamento que só tem razão de ser quando podemos analisar o tempo passado e ver que eu, outrora Levy, não me encontrava em frente a Efraim, uma criança que conheci assustada com malfeitores e sem saber como proceder com o mal, mas sim em frente a Lucas, um ser humano que, tal qual como eu, busca viver em paz com Deus, consigo e com o próximo. Observando tais aspectos, foi que disse a ele:

—  Lucas, somente hoje percebo que você, enquanto Efraim, via a mim como um mestre, mas devo confessar que nunca me vi desta forma e nem a você como um aprendiz, mas sim como a um irmão que eu precisava amparar.

— Voce não está enganado Levy.

— Saiba, Lucas, que somente hoje, ouvindo você manifestar palavras edificantes e provenientes de um duro processo de aprendizado é que percebi em mim um profundo contentamento com o conhecimento adquirido por você. Uma felicidade não comparada a de um amigo para outro, ou entre mestre e aprendiz, mas talvez tal qual a de verdadeiros irmãos. Coisa interessante e inconsciente Efraim, mesmo sabendo que somos, nós todos, aprendizes do mestre dos mestres, o divino mestre Jesus.

— Sinto o mesmo, Levy.

— Lucas, você concorda que hoje nós concluímos uma etapa no nosso desenvolvimento enquanto espíritos imortais?

— Com certeza!

— Se uma etapa foi superada, isto significa que, a partir de agora, nos encontramos em uma nova fase de nossas vidas, não é mesmo?

 

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— Exatamente.

— Então, vamos combinar assim, eu lhe chamo por quem você é, ou seja, Lucas, e você chama-me somente por irmão.

—  Penso que entendo seu ponto de vista. Chamar a você de Levy é como querer ressuscitar uma etapa já ultrapassada.

— Exatamente Lucas! Se já superamos uma lição e estamos em outra, então nada mais coerente do que nós, com Deus, caminharmos em frente.

— Concordo, meu irmão. Sigamos adiante.

O irmão Carlos juntou-se a nosso diálogo e, após certo tempo, disse a mim:

—  Meu irmão, o Lucas necessitará passar por uma terapia fotoenergética e precisará ausentar-se da nossa presença. Vou levá-lo e já retorno, enquanto isto, mantenha-se em oração.

Troquei mais um abraço com Lucas e disse ao irmão Carlos:

—  Assim será feito!

 

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XIX - MOMENTO PARA EXERCITAR O AMOR 

 

Em curto espaço de tempo o irmão Carlos retornou ao recinto e, então, disse:

— Meu irmão, agradeço toda sua boa vontade e disponibilidade na tarefa desta noite, mas precisamos fazer uma prece de agradecimento a Deus e aos amigos espirituais a fim de que ela seja encerrada.

— Irmão Carlos, antes da prece, posso fazer mais duas perguntas?

— Sim.

— Primeiramente, se possível, acredito que seria importante para mim saber se os procedimentos necessários para a convalescença do Lucas, no corpo físico, encontram-se finalizados.

— Mas qual seria a importância de obter tal conhecimento?

— É por que, irmão Carlos, se ainda não tiverem chegado ao término e não for abuso de generosidade, eu gostaria de participar até que sejam concretizados. E esta é a minha segunda pergunta: isto seria possível?

— Mas por qual motivo, meu irmão?

— Irmão Carlos, mesmo sabendo que atualmente não visto mais na carne a roupagem de Levy, não tenho como esquecer de que, quando naquela época, prometi a mim mesmo tudo fazer para direcioná-lo na estrada do bom caminho; então, sempre que me era possível, apesar dos afazeres diários, tanto meus quanto dele, eu agia neste sentido. Muitas foram as oportunidades que Maya agradecia a mim por agir neste sentido.

— Entendo, mas Lucas também não é mais Efraim, nem a criança que de você necessitava naquela época.

 

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— Com certeza, irmão Carlos. Nas memórias acessadas pelo procedimento mnemônico que você realizou em meu cérebro, percebi o quanto de contentamento eu sentia à época, enquanto Levy, em ver Efraim ajudando ao povo com seus procedimentos magísticos. Atualmente entendo que, naquele período, ele também realizava tais procedimentos para prejudicar o próximo, mas isto é coisa de um passado muito, mas muito distante, pois hoje eu o vejo não somente consciente dos erros cometidos, mas trabalhando com notável desvelo para saná-los e evoluir espiritualmente.

— Entendo.

— Digo ainda mais, irmão Carlos. Posso até estar errado, mas hoje posso até dizer que tenho uma alegria completa por nosso irmão Lucas. É justamente tal felicidade que me faz querer auxiliá-lo, no que for possível, para ajudá-lo a retomar a consciência no corpo físico e, assim, despertar do coma. Sei que ele não é mais criança, nem Efraim, mas em meu coração sempre será meu irmão mais novo e é esta a razão da minha súplica. Isto seria possível, irmão Carlos?

— Não poderia esperar outra coisa de você, meu irmão, todavia segundo ordens do astral superior, a resposta à sua rogativa é sim, mas em partes.

— Acredito que não tenha entendido, irmão Carlos.

— Três procedimentos serão necessários para que, em tempo certo, Lucas desperte do estado comatoso. Os amigos espirituais do plano maior autorizaram sua participação em dois destes processos e são justamente os primeiros. Após a realização destes, teu auxílio ao irmão Lucas será através da prece para que tudo ocorra bem na terceira etapa deste processo de despertar.

— Tudo bem, irmão Carlos! Sou grato pela oportunidade, afinal ordens são ordens.

 

156

 

— O primeiro procedimento do qual você participará é estar presente em uma gira de umbanda para onde Lucas será levado a fim de iniciar o processo de convalescença em seu corpo físico.

— E qual seria o segundo procedimento, irmão Carlos?

— Querido irmão, entendo sua curiosidade, mas procure focar na execução de um procedimento por vez, pois tal ação evita o dispêndio de energias desnecessárias, tais como preocupação, agitação e ansiedade. Levemos a realização deste primeiro procedimento muito a sério, pois disso depende o bem-estar de nosso irmão, Lucas.

—  Você está certo, irmão Carlos, mas em relação justamente ao primeiro procedimento preciso perguntar como farei eu, estando encarnado, para ter condições de estar presente nesta gira?

— Veja bem, às sextas-feiras, por conta das reuniões umbandistas que você participa aos sábados,  você já tem o hábito de realizar as preparações corretas para delas participar, não é assim?

— Exatamente. Por iniciativa própria, eu inicio a preparação já na quinta-feira.

— Pois bem, a reunião da qual Lucas participará ocorre nas noites de sexta-feira. Será uma reunião no centro frequentado por ele e sua mãe.

— Mas como saberei a data certa?

— Na noite da antevéspera de tal reunião, você será orientado por seus mentores para, além da preparação habitual, manter-se em espírito de oração ao longo do dia em que ela ocorrerá.

— Compreendo.

 

157

 

—  Quando estiver faltando noventa minutos para o início da gira, por volta das dezenove horas, você será induzido ao sono por seus mentores e dela participará.

— Entendi, mas irmão Carlos, quer dizer que Lucas também é umbandista? Que bom!

— Tal qual você, Lucas é um iniciante na umbanda, mas a mãe dele é uma verdadeira filha de fé já há algum tempo e tem pedido muito pela recuperação do filho.

— Graças a Deus! Mas irmão Carlos, há a possibilidade de você explicar a importância da participação de Lucas nesta reunião?

— Resumindo, meu irmão, posso dizer que, em tal reunião, será finalizado todo um trabalho que já vem acontecendo ha alguns meses e que tem por finalidade a anulação da magia negativa em desfavor de Lucas.

— Magia negativa?

— Sim. Na atual encarnação, Lucas, apesar de não haver cometido adultério, inadvertidamente e com frequência, estimulava os flertes de uma colega de trabalho simplesmente para satisfação de seu ego, pois bem, tentando alcançar o objetivo de ficar com ele, sem se preocupar com o matrimônio do colega, ela foi até um feiticeiro que realizou terrível pacto para acabar com o casamento dele e atá-lo magisticamente a ela.

— Mas por que isto aconteceu com Lucas?

 

158

 

— Pela imprevidência dele, mas solicito que deixe o esclarecimento de qualquer dúvida que possua em relação a esta ação para o dia em que ela for ocorrer, certo?

— Tudo bem, irmão Carlos.

 

159

 

 

XX - MOMENTO PARA A UMBANDA:

 

No dia marcado para a reunião, então eu, Lucas e o irmão Carlos partimos da colônia espiritual em direção à casa de caridade.
À medida que descíamos para o orbe terrestre, observei que Lucas começou a entrar em um estado de torpor, tal qual estivesse alienado de si mesmo, assim como o encontrei da primeira vez na orla da praia. Deduzi a ocorrência de tal fenômeno pela sua aproximação com a dimensão dos encarnados, onde se encontra, em repouso, seu corpo físico.

O irmão Carlos confirmou minha suspeita dizendo que como seu corpo espiritual encontra-se conectado ao corpo físico pelo cordão de prata, então, quando em terra, esta conexão torna-se mais forte e nosso irmão acaba por sentir, na dimensão espiritual, o torpor gerado pelo coma em seu corpo físico.

Ao chegarmos nas proximidades do Centro, um guardião nos esperava para guiar-nos até o local.

Quando estávamos em frente ao centro, observei que Lucas caminhava tal qual um zumbi, sendo então conduzido pelo irmão Carlos.

Já na porta do terreiro, o guardião que nos acompanhava saudou a duas sentinelas que guardavam a entrada do endereço e foi, somente assim, que conseguimos adentrar o espaço.

Chegamos precisamente no momento em que seriam iniciados os trabalhos especiais, ou seja, aqueles que devido a certas complexidades inerentes a pessoa que precisa de auxílio, são executados de maneira mais específica. Temos como exemplos destes os trabalhos de cura, energização e desobsessão.

 

160

 

O irmão Carlos contou-me que uma senhora muito simpática, de pequena estatura, cabelos brancos, usando óculos e que estava sentada em um banco de madeira onde seriam realizados os trabalhos, era Josélia, a mãe de Lucas, que trazia em suas mãos uma peça de roupa do filho.

Sem conseguir compreender o motivo que a fizera trazer a camisa usada pelo filho até o local, então perguntei ao irmão Carlos, que me respondeu assim:

— Meu irmão, as roupas usadas pelos encarnados contêm o magnetismo irradiado por seus usuários, compreende?

— Já ouvi falar algo a este respeito, irmão Carlos.

— Ótimo, pois assim tenho condições de dizer a você que as entidades usarão o magnetismo presente na roupa de Lucas como um instrumento para canalizar as orações e trabalhos realizados na noite de hoje, em benefício dele, até o seu corpo físico.

— Que interessante, irmão Carlos!

— Irmão, sei que possivelmente você possui outras dúvidas que deseja esclarecer, mas solicito que nos mantenhamos em prece a fim de que o irmão Lucas possa ser melhor assistido.

— Entendi, irmão Carlos, e seguirei tua orientação.

Devo dizer que me encontrava positivamente surpreendido com a organização do terreiro e a concentração dos médiuns para a realização dos trabalhos. Dispostos em semi-circulo, os cambones e médiuns em desenvolvimento daquela casa de caridade mantinham-se em prece, aguardando o início do trabalho.

A entidade que chefiava o trabalho, então, aproximou-se de Josélia, agachou-se e disse-lhe:

 

161

 

— Filha, faz um bom tempo que você tem vindo às reuniões pedir pela recuperação do seu filho.

— É verdade, senhor Caboclo.

— De igual maneira, faz o mesmo tempo que estamos dizendo a você que seu filho irá se recuperar, mas que todas as coisas têm o seu tempo, sendo justamente o tempo de Deus.

— Isto também é verdade.

— Pois, filha, saiba que estou sendo autorizado, pelos mentores de seu filho, a dizer para você que este tempo não tarda.

— Graças a Deus, senhor Caboclo!

— Isto, infelizmente, não tem condições de ocorrer agora, nem amanhã, mas, pela misericórdia divina, não tardará.

— Fico muito feliz em escutar estas palavras. Obrigado por elas.

— Agradeça apenas a Deus, minha filha, pois só ele é digno de gratidão.

— É verdade!

— Filha?

— Sim?

 

162

 

— Este caboclo pede que você feche os olhos, mas abra o coração e os sentidos para a realização de preces em favor do seu filho.

—  Sim senhor!

— Enquanto você segura esta peça de roupa, procure mentalizar que as bençãos de Deus e deste trabalho chegarão até a ele, proporcionando paz, equilíbrio, saúde e bem-estar. Filha já é umbandista, então já sabe que não precisa se preocupar com nada do que escutar durante o trabalho, não é mesmo?

— Com certeza. Pode deixar, senhor Caboclo.

— O corpo de seu filho pode até estar em um leito de hospital, mas nunca se esqueça de que longe não existe entre pessoas que se amam.
Aquelas palavras, ditas com tanta humildade e benevolência, fizeram os olhos de Josélia marejarem, todavia ela aproveitou o momento para fechá-los e agir conforme orientação da entidade.

Josélia, como dizem os umbandistas, possui uma firmeza muito grande, o que significa dizer que ela tem uma intensa capacidade de concentração para alcançar vibratoriamente pessoas e locais previamente designados na intenção de irradiar pensamentos e emoções caritativas.

Enquanto realizava as preces em benefício do filho, cujo corpo físico encontrava-se em repouso no leito hospitalar, mal podia ela imaginar que, na realidade, a essência dele encontrava-se ali mesmo, naquela casa de caridade, para receber as bençãos do Alto.

 

163

 

Ainda que o irmão Carlos tivesse orientado o esclarecimento de possíveis dúvidas para outro momento, havia algo em relação ao trabalho que eu via necessidade de esclarecimento. Ele, assim, olhou para mim e, parecendo adivinhar o que me ia na alma, falou-me mentalmente:

— Fale irmão, pois percebo que tua dúvida é pertinente ao trabalho.

—  Irmão Carlos, no trabalho que ocorrerá em favor de Lucas, também acontecerão procedimentos de energização e desobsessão?

— Sim. Visando uma maior eficácia nos objetivos da noite.

— Compreendi.

— Primeiro ocorrerá uma desobsessão em relação ao trabalho realizado pela colega de trabalho do Lucas e do qual já conversamos brevemente.

— Entendo, mas como pode este trabalho, realizado há tanto tempo, ainda estar prejudicando o Lucas ao ponto dele não conseguir sair do coma?

— Querido irmão, como foi explicado a você, o trabalho realizado foi no intuito de destruir o matrimônio de Lucas e atá-lo sexual e emocionalmente à colega de trabalho que ordenou sua realização.

— Entendo.

— Estas energias deletérias têm uma finalidade, mas de qualquer forma, atuando especialmente nos chakras genésico, cardíaco e frontal, acabam por também prejudicar a saúde de nosso irmão, como um todo, e atrapalhando o seu despertar.

— Valei-nos Deus! Mas como os efeitos de tal magia negativa, realizada há alguns anos, ainda podem ser sentidos por Lucas?

— Acontece, meu irmão, que certos tipos de trabalho são realizados para prejudicar o seu alvo por um certo tempo. Neste caso, o pacto foi de sete anos.

— Meu Deus! Ainda faltam dois anos?

 

164

 

— Se nada for feito, sim. Durante o período estipulado, o pacto deve ser renovado anualmente.

—  E tal trabalho tem sido renovado?

— Até o ano passado sim.

— Mas o que aconteceu?

— A colega de trabalho de Lucas perdeu o emprego.

— Compreendi.

— Paralelamente à desobsessão, ocorrerá a finalização da magia negativa.

— Entendi, mas irmão Carlos por que esperar cinco anos para anular tal magia?

— Porque cinco anos foi o tempo necessário para que Lucas pudesse resgatar certos débitos cármicos alusivos ao período em que, como Efraim, praticou o uso da magia para prejudicar o seu semelhante.

— Mas se o pacto não tem mais condição de ser renovado, a magia não terminaria por si própria?

— Meu irmão, estas questões são muito complexas para o nível de conhecimento magistico que você hoje possui, todavia tenho como informar que, sem a renovação, o envio das energias negativas até o alvo seria cessado. É importante que você saiba que Lucas tem a proteção e o amparo de Deus. Muitos malefícios provenientes deste trabalho foram afastados dele e aí está presente a misericórdia divina atuando para que cada um receba conforme às suas obras, mas sem o desamparo do mestre Jesus.

— Compreendo, irmão Carlos.

 

165

 

— Então, como eu dizia, sem a renovação do pacto, foi interrompido o fluxo de energias negativas até Lucas, mas hoje, pela graça de Deus, findado os efeitos cármico-probatórios do nosso irmão, ele terá condições de ser purificado de toda e qualquer energia negativa proveniente desta origem.

— Entendi. Irmão Carlos, observo que muitas situações pelas quais o Lucas tem passado na atual encarnação são derivadas da prevalência na atuação do amor pela força do tempo, não é mesmo?

— É a questão sobre a qual conversamos antes e que diz respeito às consequências das criaturas que, imprevidentemente, usam o período reencarnatório para prejudicarem o próximo, como se no porvir não houvessem que, obrigatoriamente, resgatarem o mal praticado.

— Creio que entendo, irmão Carlos. O mal é semeado na hora que a pessoa quer, mas quando vem o arrependimento e o desejo de repará-lo com a prática do amor, este fica circunscrito a ação do tempo, pois só ele poderá dizer quando o resgate será possível.

— Exatamente, meu irmão. Você acaba de esclarecer a atuação do amor na força do tempo, mas acredito ser a hora de nos colocarmos enquanto auxiliares do amor divino, através de nossas potencialidades e, no seu caso, por meio da oração concentrada e focada, de modo a que nosso irmão Lucas possa receber toda a ajuda da qual seja merecedor.

— Tudo bem, irmão Carlos, percebo que a entidade chefe já está para iniciar o trabalho especial.

A entidade em questão, um caboclo conhecido por Sete Lanças, traçou um ponto riscado no solo e, após, levantou-se dizendo ao corpo mediúnico:

— Meus filhos, hoje vocês estão aqui, em pé, enquanto esta filha está sentada no toco. Hoje vocês são os doadores de energia e ela será a receptora, mas não se enganem, pois a diferença da posição em que vocês e ela se encontram, não os tornam melhores que ela. Tenham sempre a humildade para entenderem isto e vivenciarem a fé e a caridade para que, no porvir, não sejam vocês a trocarem de posição com ela.

 

166

 

— Este caboclo pede a todos os filhos de fé muita firmeza nas orações e nos pontos cantados, mas não porque esta filha é filha de fé do terreiro, assim como o filho Lucas, mas sim porque todos nós somos filhos de Deus e, como irmãos, devemos ofertar a nosso próximo o melhor do que tivermos em nós a fim de que possamos receber, de Deus, o nosso pai, exatamente o que doarmos. Muita atenção e responsabilidade com a concentração e as preces, pois certamente vocês receberão exatamente o que ofertarem.

Preciso dizer ser admirável como aquela entidade falava bem. Suas palavras eram diretas como flechas disparadas, mas também reflexivas sobre o papel do médium enquanto doador de energias para a prática da caridade. Os médiuns ficaram ainda mais centrados ao escutarem àquelas palavras.

Após breve pausa, o caboclo retomou sua prédica dizendo:

—  A atenção de vocês, para este trabalho, também é necessária porque o receptor de suas orações está distante daqui, em leito de hospital, mas com a firmeza e as preces de vocês, as bençãos de Deus haverão de chegar até ele.

— Guardem sua curiosidade para outro momento. Se souberem o ponto cantado, então o entoem, mas se não souberem continuem em oração, pois a vibração não deve cair por um motivo tão pequeno quanto a curiosidade em momento indevido. Agora é a hora de fazer o bem, então, façamos!

Então, após a breve explanação, o caboclo Sete Lanças entoou:

 

167

 

"Andorinha voou, voou, neste gongá pousou

andorinha voou, voou, neste gongá pousou.

Tem pena dele, andorinha. Ajude a ele, andorinha.

Tem pena dele, andorinha. Ajude a ele andorinha."

Conforme a frequência e o ritmo em que o ponto era cantado, observei o ambiente do terreiro ser inundado por uma belíssima espécie de chuva de luzes douradas que precipitavam do Alto e traziam uma enorme sensação de paz e tranquilidade. O irmão Carlos, então, esclareceu-me:

— Esta chuva, meu irmão, é proveniente das esferas superiores e consegue precipitar aqui através de um portal que foi temporariamente aberto pelos espíritos de luz.

— Portal, irmão Carlos? Mas não consigo ver portal algum.

— Este não, meu irmão, uma vez que ainda não preenche os requisitos necessários para tanto, mas conseguirá observar outros que ainda serão abertos para a realização deste trabalho.

— Meu Deus, que incrível, irmão Carlos! Mas que chuva é esta?

— É a chuva proveniente do amor de Deus, por meio dos pontos cantados.

— Como assim? Os pontos cantados provocaram esta chuva?

— Não, mas tornaram-na possível.

— De que forma, irmão Carlos?

— Os pontos cantados, meu irmão, abrem certas vias que permitem a interação do plano físico com o plano astral, orientando forças para diversas finalidades, inclusive facilitando a abertura de portais.
Possivelmente percebendo certa fisionomia de interrogação em meu rosto, o irmão Carlos, então, disse:

 

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— Para que você compreenda de maneira fácil, posso dizer que esta irradiação energética proveniente do Alto e que você denomina enquanto chuva dourada tem a finalidade de preparar o ambiente para a realização do trabalho. Ela funciona como uma espécie de assepsia, mas não se preocupe com conceitos. Permaneça em oração porque o objetivo desta chuva de luz, como você mesmo verá, é autoexplicativo.

— Realmente não entendera, por completo, o que dissera o irmão Carlos, mas permaneci em preces e observando o desenrolar do trabalho em benefício do irmão Lucas.

Talvez observando o efeito positivo da chuva dourada, o caboclo Sete Lanças ergueu a destra e, então, disse:

— Salve o ponto!

Imediatamente o canto do ponto cessou. Passados alguns segundos, já com duas velas apagadas e um rolo de barbante na mão, o caboclo então iniciou a entoação de outro ponto:

"Santo Antônio é ouro fino, Santo Antônio é ouro em pó

Santo Antônio é ouro fino, Santo Antônio é ouro em pó

Desamarra, Santo Antônio, o cordão de sete nós

Desamarra, Santo Antônio, o cordão de sete nós."

Firmeza no ponto, meus filhos!!!

 

169

 

Entendi, assim, que a magia negativa contra Lucas seria eliminada a partir daquele instante.

Um portal, ao nível do solo, então se abriu. Quase que imediatamente adentrou ao terreiro um ser humano bem alto, musculoso, com odor muito fétido e fisionomia mal-encarada, bradando:

— Quem foi o miserável que me trouxe até aqui? Quem foi?
Notei que o ambiente tornou-se denso e uma médium sentiu as vibrações pesadas daquele ser, dando passagem para sua incorporação. Ao incorporar, ele continuou a esbravejar e a questionar, em alto tom, quem o trouxera até ali.

Dois médiuns doutrinadores aproximaram-se do irmão necessitado.
O caboclo Sete Lanças, percebeu a impregnação do ambiente com àquelas energias deletérias e, imediatamente, mudou o ponto, entoando:

"Santo Antônio de pemba, segura o terreiro, segura o gongá

Esta filha de fé não pode cair, não pode parar.

Santo Antônio de pemba, segura o terreiro, segura o gongá

Esta filha de fé não pode cair, não pode parar.

Ogum mareou, meu Pai, Ogum mareou, meu pai

Ogum mareou, meu Santo Antônio, Ogum mareou."

Observei, desta forma, que a chuva dourada intensificou-se, como a neutralizar as energias negativas e acabei por entender sua finalidade de assepsia.

 

170

 

O ser que atravessara o portal, por sua vez, passara a proferir todo o seu destemor:

— Quem vocês estão pensando que são, para tirarem a mim de meu local? Eu sou o dono do meu círculo, eu mando e desmando. Tirem-me daqui, agora!

O doutrinador que aparentava mais experiência com este tipo de situação, então, disse-lhe:

— Mau irmão, por que tanta revolta?

— Irmão? Eu não sou teu irmão! Nunca te vi na vida e não me venha com a conversa de que temos o mesmo pai, porque Deus já deixou de mim há muito tempo.

— Mas quem disse tal coisa? Nós temos nosso livre-arbítrio e podemos abandonar a Deus, mas Ele nunca nos abandona.

— Então sou eu quem te pergunto quem foi que disse tal asneira a você, por que se isto for verdade, então onde estava Deus quando minha mãe morreu vítima de magia negativa?

— Deus está em todo lugar.

— Em todo lugar, uma vírgula, pois com minha mãe ele não estava.

— No passado tua mãezinha veio a óbito como efeito de uma magia negativa e você não viu a Deus. Atualmente você também está utilizando do mesmo sortilégio que vitimou sua mãe para prejudicar outra pessoa. Isto trará sua mãe de volta?

— Você não sabe de nada. Poderia dizer estar fazendo o que faço somente por que fui muito bem pago para fazê-lo, mas não seria verdade.

— Por que não?

 

171

 

— Porque acabar com o filho desta desgraçada é missão de honra para mim, pois foi ele mesmo quem fez o feitiço que vitimou a minha mãe, há muitos séculos. Eu era um nobre egípcio, casado e que vivia com minha mãe. Minha então esposa contratou um desgraçado que a envenenou e depois a mim, para ficar com os bens.

Preciso dizer que me espantei com a revelação escutada. Uma das memórias recuperadas da minha encarnação enquanto Levy, no procedimento realizado pelo irmão Carlos, era justamente sobre este caso muito famoso entre a nobreza daquela época, na região em que vivia. Eu sabia quem era àquele ser e minhas orações em seu benefício foram redobradas.

O doutrinador, então, continuou o diálogo:

— Entendo, mas o motivo que o faz agir contra o filho desta senhora, na verdade, está relacionado com a vingança.

— Dê você o nome que quiser. Eu só sei que ele é meu.

Um portal de luz foi aberto no terreiro e, dele, saiu um ser feminino e com vibração superior de intenso amor. Ela aproximou-se do doutrinador com candura inestimável e, estendendo-lhe a destra, passou-lhe a irradiar um fluxo energético incessante. Parecia desejar transmitir-lhe certa mensagem em benefício daquele ser.

 

172

 

O caboclo Sete Lanças, buscando alternar as vibrações do trabalho, então passou a entoar o seguinte ponto:

"Eu era um grão de areia, perdido nas ondas do mar

Queria ser um rei para meio mundo governar.

Meu Deus, quanta ilusão! Pois nesta gira encontrei a solução.

Meu Deus, quanta ilusão! Pois nesta gira encontrei a solução."

O doutrinador, então, retomou o diálogo:

— Você diz ser o dono do seu círculo, mas, onde estão os seus?

— Aguardando o meu retorno.

— Mas você, ainda, quer retornar para lá? Pode dizer-me a verdade, porque aqui ninguém irá julgá-lo e, lá, ninguém terá condição de escutá-lo.

— Você está chamando a mim de mentiroso? Muito cuidado com o que fala, pois posso direcionar meus esforços para prejudicar a tua vida.

— Em momento algum eu lhe ofendi desta ou de qualquer outra forma. Assim não o fiz, não necessariamente por ter medo de suas ameaças, mas pelo respeito que lhe devo em ser meu irmão por paternidade divina.

O ser feminino que atravessara o portal luminoso continuava a irradiar suas energias ao doutrinador que, em certo momento, fechou os olhos, respirou profundamente e continuou o diálogo:

 

173

 

— Apenas pergunto a você por que desejar retornar a um local onde você se sente cerceado em vibrar e sentir pensamentos e emoções sobre o ser que lhe cala mais fundo no coração, àquela quem lhe deu a vida, tua mãezinha?

Ouvindo o doutrinador falando com sentimento, empatia e candura tão abundantes em um coração de mãe, aquele ser, já há tanto tempo escravo do ódio, iludido pela vingança, mas cheio de saudades, libertou-se do que lhe estava preso na alma por um incontido pranto.

Ainda intuído por aquele sublime ser feminino, o doutrinador disse-lhe:

— Veja, meu irmão, o seu tempo de chorar está para terminar, mas se você ainda desejar fazê-lo, então faça-o junto ao colo de quem te ama. Você vê? Tua mãezinha está aqui, ela veio buscá-lo.

— Sim, eu vejo.

— Então vá, meu irmão! Vá em paz, vá com Deus, vá com ela.

O ser desincorporou e foi levado por sua mãe pelo portal luminoso.
Alguns pontos pertinentes à falange dos preto-velhos foram então entoados pelo caboclo Sete Lanças e os filhos de fé do terreiro, recuperando-se a vibração inicial daquela casa de caridade, antes do início do trabalho.

Algumas orações foram realizadas pelo grupo mediúnico e o trabalho, então, chegou ao seu término.

 

174

 

Necessito dizer o quanto fiquei impressionado com a fundamental importância em relação ao papel do doutrinador para o bom andamento do trabalho. Ele foi tão importante quanto os irmãos de fé em preces e cânticos ao favor do próximo; tão fundamental quanto as entidades trabalhando em favor do bem e quanto aos espíritos superiores que dirigiam àquele trabalho. A partir daquele dia, o papel do doutrinador dedicado, estudioso e proativo, em uma gira de umbanda, ficara muito claro para mim.

Após a realização daquele trabalho, o estado de torpor, em Lucas, diminuíra cerca de quarenta por cento. Sua atenção ainda continuava bem circunscrita aos aspectos interiores, mas rara e ocasionalmente ele, aparentemente, olhava rapidamente para alguma coisa, ou outra que despertava sua atenção.

O irmão Carlos aproximou-se de nós e disse:

—  Em instantes, precisarei retornar com o Lucas para a realização de procedimentos adicionais em benefício de sua convalescença.

— Está certo, irmão Carlos.

— Não há necessidade de você vir conosco, desta vez. Em quatro semanas nos encontraremos para a realização do outro procedimento em favor da recuperação de Lucas e para o qual havia dito que você possui permissão para participar.

 

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— Entendo, irmão Carlos, mas antes de nos encontrarmos outra vez, haveria possibilidade do esclarecimento de duas dúvidas em relação aos trabalhos de que tive a ditosa oportunidade de participar na noite de hoje?

— Sendo pertinentes ao trabalho, certamente que sim.

— Graças a Deus!

 

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XXI - MOMENTO PARA ESCLARECIMENTOS:

 

A primeira dúvida é relacionada ao espírito que prejudicava a Lucas. Gostaria de entender porque tal espírito, contemporâneo a mim e a ele, quando estávamos reencarnados, respectivamente, enquanto Levy e Efraim, não conseguiu vê-lo quando aqui esteve durante a realização do trabalho especial?

— Porque àquele nosso irmão, consciencialmente, encontra-se em outra faixa vibratória. A dor e o sofrimento castigavam-lhe a alma, mas ele ainda não liberou o perdão para Lucas, que se encontra em outra frequência vibracional.

— Aliás, irmão Carlos, se você permite-me dizer, o nosso irmão Lucas, devido ao estado de torpor, encontra-se consciencialmente em frequência muito baixa, não é isto?

— Exatamente e isto também dificultou-lhe a percepção do ser enquanto esteve no recinto.

— Nossa, que impressionante! Isto significa dizer que a criatura humana, ao desencarnar, conseguirá ver somente àquilo que possuir condições vibratórias para perceber, não é isto?

— Correto. Vejamos o exemplo da mãezinha deste nosso irmão contemporâneo a você e a Lucas. Perceba que ela é um ser pertencente às esferas sublimes no entendimento e prática do amor e da caridade. Sua frequência vibratória é altíssima e ele não conseguia percebê-la, mesmo ela estando ao seu lado.

 

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— É verdade.

— Somente quando ela densificou seu padrão vibratório foi que ele, orientado pelo doutrinador, cuja consciência estava por ela influenciada, conseguiu enxergá-la e buscar novo caminho para sua vida.

— Entendi.

— Na verdade, meu irmão, outros trabalhos ainda precisarão ser realizados, aqui no terreiro, a fim de que, pela graça de Deus, este nosso irmão conseguia refletir sobre seus atos, sua vida e perdoar a Lucas. Tudo dando certo em, no máximo, três meses isto estará acontecendo.

— Se Deus quiser, irmão Carlos, estarei em prece para que isto seja possível, mas eu também estava aqui pensando em algo, entende?

— Fale a respeito, meu irmão.

— É que este espírito será mais um para quem o Lucas necessitará pedir perdão de modo a que tenha paz na consciência, não é mesmo?

— Não necessariamente.

— Como assim?

— Veja bem, Lucas, enquanto Efraim, prejudicou a vida deste nosso irmão, mas este também fez o mal para Lucas e não somente por que foi pago para fazê-lo, mas especialmente em nome do revide.

— Acredito que entendi. Foi por isto que a espiritualidade aguardou cinco anos para anular este trabalho feito para prejudicá-lo, não é isto?

— O resgate cármico de um ser humano é algo muito complexo para ser descrito de uma maneira simples, mas podemos dizer que este, certamente, foi um dos fatores.

 

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— Nossa, quanto sofrimento ao longo do tempo, não é mesmo, irmão Carlos?

— Veja bem, meu irmão, que é um sofrimento perfeitamente evitável se a criatura humana, quando encarnada, buscar aprender a viver uma vida cujas diretrizes sejam a amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como Jesus nos amou, pois isto sim é vivenciar princípios que viabilizam uma existência para a prática do bem e, consequentemente, para o recebimento deste mesmo bem.

— É verdade, irmão Carlos!

— Por isto Jesus ensinou a perdoar setenta vezes sete vezes e a reconciliação do ser humano com o seu próximo enquanto ainda estão encarnados a fim de que, no tribunal divino, não se veja sentenciado a cumprir o ciclo carnal de provas e expiações até que pague o último centavo ou, como foi dito anteriormente, enquanto aguarda, no tempo, a oportunidade reencarnatória de praticar o amor a fim de dirimir a dor.

— Esclarecedor, irmão Carlos!

— Mas qual seria sua outra dúvida em relação ao trabalho desta noite?

— Irmão Carlos, se você, eu e Lucas entramos aqui no terreiro passando pelo portão de entrada, porque aquele ser veio participar do trabalho através de um portal?

—  Na realidade, meu irmão, ele não só veio por um portal, mas sim foi conduzido até aqui por dois espíritos do plano maior e que, nesta casa, trabalham enquanto preto-velhos.

— Mas qual o motivo desta diferença?

 

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— Você observou, caro irmão, o tanto de energias deletérias que aquele ser trouxe consigo do local de onde foi trazido? Lembra o quanto necessitou ser intensificada o fenômeno que você denominou chuva dourada, para a anulação de tal negatividade?

— Sim, irmão Carlos. Lembro, com certeza.

— Imagine este tanto de energia negativa sendo espalhada pelos ambientes em que fosse necessário ele passar até chegar aqui.

— Mas não haveria modos de limpar tal negatividade?

— Decerto que sim, mas como é dito entre vocês encarnados, o local limpo é aquele que menos se suja, não o que mais se limpa.

— Entendo. Então esta e a razão!

— Não somente.

— Verdade?

— Com certeza! O ser que recebeu auxílio do Alto encontrava-se em local de difícil acesso e muito bem protegido, não sendo possível dele ausentar-se de maneira desapercebida.

—  Comprrendi, irmão Carlos! Muita coisa aconteceu para que ele pudesse ser conduzido até aqui.

— Exatamente

 

180

 

— Mas, irmão Carlos, desta resposta surgiu mais uma pergunta. Esta casa de caridade não corre perigo de ser invadido por seres trevosos, através de portais?

— Não.

— Por que não?

— Você necessitaria possuir algum conhecimento de magia divina para conseguir absorver completamente conceitos relacionados aos portais magisticos, todavia para poder fazer-me claro, digo que nesta casa de caridade existe uma rede de proteção vibratória contra portais que dariam acesso a seres negativos.

— Como funcionaria isto irmão Carlos?

— Para que o bloqueio vibratório contra estes tipos de portais seja quebrado, alguém necessitaria possuir uma espécie de chave de acesso, que o permita acessá-lo para, então, entrar no terreiro.

— Não entendo.

— Esta rede vibratória emite uma frequência, então para que um portal seja aberto, é necessário que se saiba qual é esta frequência.

— Nossa, mas isto é incrível; parece coisa de ficção científica!

 

181

 

— Mas é um princípio básico no estudo dos portais, pois cada um deles, devido a diferentes fatores, possui uma frequência vibratória especifica, assim para que alguém consiga furar a rede de proteção do terreiro através de um portal, seria a ele necessário saber qual a frequência da rede vibratória que  protege esta casa de caridade a fim de que possa acessá-la; realmente pode parecer coisa de ficção científica, mas em breve, entre vocês e em especial para questões tecnológicas, será comum o conhecimento de que para acessar uma rede é necessário portar uma senha específica.

— Incrível, irmão Carlos, mas o que forma esta rede de proteção de um terreiro, as entidades?

— Meu irmão, as entidades, de fato, formam uma grande rede de proteção, muito potente nesta função, contudo tal rede é alimentada e sustentada por uma rede principal, que é articulada pelo Alto através dos mentores de cada casa de caridade e que utilizam, em especial, suas firmezas, assentamentos e o gongá para construi-la e mantê-la.

— Sabe irmão Carlos, estes conhecimentos teóricos sobre a umbanda são lindos. Aos olhos de um leigo o fumo, as ervas e as velas podem parecer até coisa de gente ignorante, mas é muito gratificante saber que, na umbanda, tudo tem um fundamento e uma razão de ser. É ciência pura!

— Seu entusiasmo é genuíno e cativante, meu irmão e fico muito grato ao Alto, por poder alimentá-lo por meio do amor ao conhecimento às coisas divinas, todavia é chegada a hora de partirmos.

— Entendo, irmão Carlos.

— Com as graças de Deus, tudo acontecendo como deve ser, então daqui a três meses nós teremos um novo encontro com o irmão Lucas, de modo a que possas participar da segunda atividade em prol da recuperação dele.

— Será a última, não é irmão Carlos?

— A última da qual você tem permissão do Alto para participar. Após sua realização, alguns procedimentos ainda serão necessários para que Lucas desperte do estado comatoso. Tua ajuda será a de fornecer a nosso irmão divinas energias salutares, por meio da prece.

— Compreendo perfeitamente, irmão Carlos. Na realidade, vou permanecer em oração para que tudo dê certo e a realização desta segunda atividade possa ocorrer no tempo certo para nosso irmão Lucas.

— Que assim seja!

 

182


XXII - MOMENTO DE PREPARAÇÃO PARA O REENCONTRO:

 

O tempo passou naturalmente e eis que, em certa noite, fui novamente conduzido, pelo companheiro Erasmo, até a presença do irmão Carlos. Ele disse que me transmitiria algumas informações e que depois partiríamos ao encontro de Lucas.

Coloquei-me a disposição dele que, então, falou:

— Querido irmão, de quais fatos relacionados ao acidente que permitiu a Lucas entrar em estado comatoso, você se recorda?

— Irmão Carlos, lembro que, anteriormente, você explicou que Lucas não teve culpa no acidente que vitimou sua esposa, gestante na época, não é isto?

— Correto.

— Ele conduzia o veículo da família, enquanto discutia com ela, até que parou momentaneamente o carro devido à sinalização do semáforo.

— Exatamente.

— Após certo tempo, o sinal indicou que ele poderia seguir em sua viagem. Enquanto isto, no outro semáforo do cruzamento, havia a indicação para parada temporária de veículos, mas um motorista que vinha a alta velocidade, desobedeceu à sinalização e chocou-se frontalmente com o carro onde estava Lucas e sua família.

— Você recordou bem meu irmão. Lucas realmente seguia as leis de trânsito vigentes entre os encarnados quando ocorreu o acidente, todavia, intimamente, ele entende que se não estivesse em discussão verbal com a esposa, certamente estaria mais atento para não ser afetado pela atitude do condutor que avançou a sinalização.

 

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— Lembro disto também, irmão Carlos e é justamente neste fato que ele tem encontrado dificuldades para despertar do coma, não é mesmo?

— Exatamente. É um sentimento de culpa desta encarnação que potencializa a culpa desenvolvida na sua encarnação enquanto Efraim e que, por sua vez, dificulta o despertar de nosso irmão no invólucro carnal.

— Compreendo.

— Uma vez já trabalhado o sentimento culposo proveniente da sua encarnação enquanto Efraim, resta-nos, com Cristo, trabalharmos tal sentimento no que diz respeito a atual encarnação de nosso irmão.

— Que assim seja, irmão Carlos! Mas o Lucas tem boas chances de sucesso na atividade desta noite?

— As probabilidades são consideráveis, meu irmão, até mesmo porque ele aguarda a oportunidade deste encontro já há algum tempo.

— Encontro?

— Sim, companheiro, a nossa tarefa desta noite é facilitar, promover e sustentar, em preces, o encontro de Lucas com Catarina e Laura.

— Nossa, que responsabilidade, hein, irmão Carlos! Mas Catarina e Laura desejam encontrar-se com ele?

— Certamente que sim, companheiro! A lei do livre arbítrio é uma força motriz que fundamenta as relações no mundo espiritual.

— Assim como a lei das afinidades, não é, irmão Carlos?

 

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— Exatamente, meu irmão. Assim como tal e algumas outras, e é justamente por tal motivo que Catarina e Laura desejam encontrar - se com nosso irmão.

— Compreendo.

— Trata-se de pessoas que estabeleceram sólidos vínculos de amizade antes da atual encarnação.

— Que ótimo saber sobre isto!

— Além disto, o estado mental de Lucas encontra-se bem melhor do que relação ao nosso último encontro.

— Graças a Deus!

— Lembre-se, meu irmão, que não temos o direito de prejudicar o momento de encontro destes entes familiares com desatenção e descuidado. Você, certamente, será um observador, mas não se esqueça do foco principal que é a sustentação do encontro por meio da prece, pois como você já sabe, a disciplina antecede a espontaneidade.

— Certamente, irmão Carlos. Estarei atento a este fato.

— Então, partamos ao encontro de nosso irmão, pois estamos sendo aguardados.

Partimos em direção a uma sala localizada na própria colônia onde estávamos. Lucas nos recebeu com genuíno contentamento ao adentrarmos o recinto.

 

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— Olá, meus irmãos! Que Deus nos abençoe na tarefa desta noite!

— Que assim seja!

Respondemos eu e o irmão Carlos, que continuou o diálogo:

— Irmão Lucas, como você está se sentindo esta noite?

— Bem, irmão Carlos! Ansioso, mas bem! Você poderia dizer quando Catarina e Laura chegarão até nós?

— Em breve, mas o reencontro, entre vocês, não acontecerá aqui.

— Não? Pensei que sim, já que aqui encontro-me muito mais desperto e atento.

— Certamente que sim, meu irmão, contudo o seu aspecto mental tem sido foco do nosso atendimento já há algum tempo. Está na hora de focarmos no equilíbrio de suas emoções, por meio do corpo astral, pois ele é mais próximo do corpo físico a quem, afinal, desejamos plenamente desperto.

— Isto é verdade, irmão Carlos.

— Razão e emoção são aspectos indissociáveis. Para tratarmos da resolução de seu caso, como explicado antes, primeiramente trabalhamos os seus aspectos psíquicos por meio do teu corpo mental, assim a tua razão passou a entrar em maior equilíbrio e a influenciar positivamente os seus aspectos emocionais.

— Entendo.

 

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— Agora resta-nos trabalhar suas questões emocionais, via corpo astral, de modo que ele também convalesça em homeostase e facilite teu despertar no corpo físico.

— Então, irmão Carlos, onde acontecerá este encontro?

— No plano físico, já que teu corpo físico encontra-se neste plano. É lá que trabalharemos seu corpo astral, que é justamente o nível espiritual mais próximo do corpo carnal.

— Você estará comigo?

— Certamente. Lá estaremos, eu e este nosso irmão, todavia você não conseguirá perceber nossa presença.

— Mas por que seria isto, irmão Carlos, já que não fico mais entorpecido quando visitamos o plano físico?

— Porque o laço de afinidade entre nós três não deve ser utilizado como justificativa para a indiscrição. O objetivo da atividade desta noite é a cura do teu corpo físico, por meio da cura emocional a ser restabelecida a partir de um reencontro familiar, assim lá estaremos, em frequência vibratória que nos tornará imperceptível aos seus olhos, mas em prece que será sensível ao teu espírito.

— Consigo compreender.

— Todavia, Lucas, é necessário que conversemos sobre alguns aspectos antes de nossa partida, pois apesar de nosso irmão conhecê-lo da época de sua roupagem carnal enquanto Efraim, ele pouco conhece sobre você na atual encarnação, enquanto Lucas.

Parei para refletir sobre a informação passada pelo irmão Carlos e constatei que, de fato, pouco sabia da encarnação atual de nosso irmão Lucas.

 

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XXIII - MOMENTO PARA CONHECER LUCAS:

 

Ele, por sua vez, retomou o diálogo dizendo:

— Irmão Carlos, haveria algum aspecto que você considere essencial a ser abordado?

— Irmão Lucas, por obséquio, diga-nos: se eu solicitar a você que cite um local, no plano físico, que represente um símbolo da união e do amor entre você e Catarina, então o que você diria?

— Com certeza, a praia.

— Então, Lucas, explique, ao nosso irmão, os motivos de sua resposta.

— Bem, acredito que primeiramente precisaria explicar a imensa afinidade que eu tenho com o ambiente marítimo. A praia remete a minha infância, pois jamais esquecerei dos momentos que vivi, nela, junto aos meus pais. Consigo recordar a primeira vez que fui à praia, já que foi paixão à primeira vista. O mar sempre me atraiu bastante e inexplicavelmente. Recordo-me que meus pais passavam alguns momentos de aflição comigo, pois eu jamais temi ao mar. Lembro que sempre desejei ir fundo e mais fundo, tal qual uma atração irresistível. Apesar dos momentos de aflição que isto causava em meus pais, eles faziam tudo para que os nossos momentos de lazer, aos finais de semana, fossem sempre na praia, ainda mais sendo, eu, filho único.

Eu escutava Lucas contar, sua história, bastante admirado em perceber o quanto que suas memórias de infância em relação ao mar, eram próximas às minhas. Ele continuou:

 

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— Quando eu tinha quinze anos, meu pai desencarnou devido à fragilidade de sua saúde em consequência de um tumor maligno no pâncreas e isto foi um baque na minha vida, todavia descobri, naquela idade, que tomar um banho de mar sempre aliviava meu corpo das aflições da vida e renovava minhas emoções com atitudes positivas, além disto, sem que eu saiba explicar como, ao caminhar pela orla ou ao sentar nas pedras, estranhamente eu sentia a presença de meu pai. Parecia que ele dizia estar bem e que o que aconteceu com ele foi simplesmente a oportunidade divina de evoluir espiritualmente. A sensação que eu tinha ao vivenciar estes momentos, em especial na ocorrência de ventos moderados a fortes, era de um extremo reconforto em entender que a vida continua ou, como ele costumava dizer: ninguém fica para semente.

Talvez como que para recuperar a saudade que tais emoções evocavam, Lucas respirou profundamente e, somente após, continuou:

— O tempo passou, mas ainda na juventude jamais deixei de buscar a presença da energia divina e salutar do mar em pelo menos um dos dias do final de semana. Foi assim que, já aos trinta e nove anos, conheci Catarina. Ela sempre foi linda, entende?

Aquiesci com a cabeça em concordância e ele prosseguiu em sua narrativa:

— Fui subir nas pedras por que, naquele dia de verão, as lembranças sobre meu pai estavam um pouco exacerbadas e, então, a encontrei no local, sentada, reflexiva e com lágrimas nos olhos. Sentei-me a cerca de três metros de distância, mas ela estava tão imersa em possíveis recordações que não notou minha presença.

 

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— Não sei esclarecer o porquê, mas ela despertou um carinho, um sentimento, um desejo de cuidar e estar próximo, tão contundentes, que não resisti e dela aproximei-me, sentando e, após, dizendo:

— Eu não sei você, sabe, mas este vento parece falar comigo.

Ela, ao escutar minha voz, pareceu haver despertado de um transe e perguntou:

— O que foi mesmo que você disse?

— Desculpe interromper suas reflexões. Eu disse que este vento parece falar comigo.

Ela abaixou a cabeça com o comentário, mas com um traço de sorriso no canto dos lábios, virou-se para mim e falou:

— Comigo também, por isto que estou aqui.

No que eu respondi:

— Espero ser, para você, uma pessoa tão agradável para conversar quanto o nosso amigo, o vento.

Desta vez o sorriso dela abriu-se por completo e foi exatamente, naquele instante, olhando àquele sorriso mais radiante que o sol, que me apaixonei por completo. Ela retomou o diálogo:

 

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— E o que ele diz para você?

— Basicamente que a vida não para, sabe? Que devo seguir, tornando presente, e em equilíbrio, as recordações felizes do passado e aquecendo, no coração, o fogo do amor construído na relação com àqueles que partiram antes de nós.

— Sinto a mesma coisa. Parece haver uma renovação em minhas esperanças.

— Sabe, moça.

— Catarina.

— Muito prazer, Lucas! Então, Catarina, parece que eu sinto Deus falar comigo através do vento.

— Você é religioso?

— Comecei a frequentar um centro de umbanda há seis meses, então considero-me umbandista.

— Umbanda, já ouvi uma coisa ou outra a respeito. Você faz parte da corrente mediúnica?

— Ainda não, mas acredito que isto ocorrerá naturalmente, em tempo certo. E você? É religiosa?

— Não. Acredito em Deus como criador de todas as coisas e que Ele está comigo em todos os momentos.

 

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— Eu penso a mesma coisa. Tenho certeza que Ele está comigo em todos os instantes, até naqueles em que eu, por algum vacilo, ausente-me da presença Dele.

Contei a Catarina sobre minha relação íntima com o mar desde a infância, sobre os vários momentos felizes vivenciados naquele ambiente, o desencarne do meu pai e como minha relação com este ponto de forças estreitou-se após este evento; após perguntei a ela:

— E você, Catarina, o que o vento conta para você?

— Bem Lucas, sinto-me a vontade com você, então vou narrar um pedaço da minha história.

— Estou na escuta.

— Eu também sempre tive bastante intimidade com o ambiente marítimo, sabe? Minha mãe, devido a problemas em decorrência do parto, faleceu logo após o meu nascimento, assim fui criada por meu pai, que jamais se casou novamente, e por minha tia paterna. Eles, sempre, a tudo fizeram para que eu usufruísse de uma infância feliz, mas em especial, levando-me até o mar em todos os finais de semana. Jamais esqueci tudo o que aprendi com minha tia, mas ela também veio a óbito em minha adolescência.

— Entendo. O vento dialogava contigo, sobre sua tia, por meio destas inestimáveis recordações, quando eu a interrompi, não é isto?

— De forma alguma, Lucas. O vento dialogava comigo sobre o falecimento do meu pai, ocorrido há pouco mais de um ano.

 

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— Sinto muito Catarina. Meus pêsames.

— Obrigado, Lucas, mas também entendo que a vida continua, sabe? Era como ele dizia: ninguém fica para semente.

Surpreendi-me com àquela coincidência e, a recordação de meu pai, aliada com àquela energia cativante de Catarina, fez com que nos entrelaçássemos em abraço enternecedor.

Sorri emocionado em escutar a história daquele casal. Feita de perdas, certamente, mas baseada em profundo afeto. Lucas prosseguiu em diálogo:

—  A partir daquele instante, meu irmão, nós assumimos um compromisso de namoro. Ela conheceu minha mãe e parecia que, na verdade, sempre se conheceram tamanha era a afinidade. Sete anos após, nos casamos, exatamente na mesma praia em que nos conhecemos e a cerimônia foi consagrada pela entidade chefe.

— Puxa, que incrível! O Caboclo sete Lanças, não é mesmo?

— Exatamente. Catarina, sempre que podia, buscava consultar-se, com minha mãe, junto às entidades do terreiro.

— Entendo.

— Um ano antes de entrar em coma, Catarina engravidou de Laura e eu entrei para a corrente mediúnica do centro.

— Gratificante escutar tua narrativa, Lucas, mas seria possível lançar para você uma pergunta que, talvez, possa ser classificada enquanto delicada?

 

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— Fique à vontade, meu irmão.

— É que, conforme descreveu, a relação entre você e sua esposa era pautada no afeto, diálogo e entendimento, certo?

— Certamente. Ela, inclusive, possuía um nível de compreensão ainda maior do que o desenvolvido por mim.

Olhei para o irmão Carlos, manifestando o semblante de quem não tinha o discernimento se a pergunta que desejava fazer era pertinente em relação ao trabalho ou apenas fruto de inoportuna curiosidade. Ele, então, disse:

—  Faça a pergunta para Lucas, meu irmão.

 

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XXIV - MOMENTO PARA ALGUMAS REFLEXÕES:

 

— Com a autorização do irmão Carlos, então procurei refletir um pouco para buscar as melhores palavras e perguntei:

— Lucas, havendo tal nível de compreensão em sua vida conjugal, então por qual motivo você discutia no dia do acidente?

Em consequência de minha pergunta, Lucas, então, olhou para o irmão Carlos, que esclareceu:

— Sílvia, a colega de trabalho de Lucas, já havia realizado o pacto com entidades negativas. Nosso irmão, por sua vez, estava imprevidente em relação à execução de procedimentos necessários para um lar harmonioso; assim passou a rarear na realização do Evangelho no lar, cruzamento e defumação da casa, preparo e uso do banho de ervas, entre outros.

— Entendo.

— O trabalho realizado por Sílvia não seria nada difícil de ser desfeito com preces e busca de atendimento no terreiro, todavia ele também estava descuidado na realização destes dois procedimentos, não é verdade, meu irmão?

Ao que Lucas respondeu:

— Devo confessar que sim. Eu e Catarina não tínhamos o costume de cometer qualquer forma de violência, um para com o outro, então, no dia do acidente, não houve explosão de raiva ou impropérios. Eu apenas, mas infelizmente, descuidei-me de mim mesmo e estava bastante irritado na ocasião.

— Entendo

 

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— Momentos antes de chegarmos ao semáforo fatídico, eu aumentei o volume do carro ao máximo e isto, aliado a irritação, fez com que minha atenção estivesse ainda mais dispersa. O resto da história, você já sabe.

O irmão Carlos complementou o diálogo, dizendo:

— O relacionamento entre nosso irmão e Catarina era deveras equilibrado e baseado no afeto. O entendimento, entre eles, era tão harmonioso que ambos sentiam como se houvessem sido prometidos, um ao outro, antes de reencarnarem.

— Que fantástico!

— Sim, companheiro, mas a fatalidade ocorrida na vida de Lucas precisa servir de alerta para todos os casais.

— Como assim?

— Meu irmão, Lucas, Catarina e Laura trabalharam bastante e com afinco para conseguirem, do Alto, a oportunidade de estarem juntos na atual reencarnação e, assim, resgatarem o necessário para prosseguirem em sua evolução espiritual. O alerta significa dizer que a harmonia entre cônjuges é essencial para conseguirem evoluir em espírito e verdade, todavia ninguém deve olvidar que, não só a harmonia, mas a paz, o amor e todas as virtudes provêm de Deus.

— É verdade, irmão Carlos!

— Assim sendo, o casal tem o dever de manter uma relação de proximidade com Deus, de modo a que consiga viver em proteção e harmonia, independentemente de religião.

— Você tem razão, irmão Carlos!

 

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— Ocorre que se o casal, por exemplo, for umbandista, então deverá manter esta proximidade com Deus através de preces, mas também cuidando do lar com procedimentos que são essenciais aos praticantes desta religião.

— Você fala da realização do cruzamento da casa com sal grosso, defumação com ervas e reunião do Evangelho no lar?

— Exatamente, pois tais procedimentos, entre outros, criam condições vibratórias para que os habitantes do lar percebam e usufruam da presença de Deus por tempo prolongado. Além disto, também é importante que recorram ao banho de ervas regularmente, pois o corpo do ser humano é o templo vivo de Deus.

— Com certeza, mas, irmão Carlos, então o acidente poderia ter sido evitado?

— Certamente.

— Verdade?

— Decerto que sim! Qual o motivo de seu espanto?

— Lucas, Catarina e Laura trabalharam, antes de reencarnarem, para que mãe e filha pudessem desencarnar, simultaneamente, visando o esgotamento de carmas, não é isto?

— Exatamente.

— Mas como isto seria possível sem o acidente?

— O desencarne de ambas foi programado para ocorrer no momento do parto.

— Meu Deus! Isto quer dizer que faltava tão pouco tempo!

 

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— Exatamente. Não estava programado este acidente, nem o nosso irmão Lucas entrar em coma naquele momento.

Lucas retornou ao diálogo dizendo:

—  Na verdade, meu irmão, o acidente ocorrido com minha família foi um somatório de equívocos: meu ego inflado em aceitar e incentivar flertes com uma colega de trabalho, minha imprevidência em deixar de praticar procedimentos necessários para a manutenção de um lar harmonioso e um matrimônio aliançado com Deus através de procedimentos umbandistas e minha resistência em buscar apoio para trabalhar certos aspectos de meu comportamento devido a preconceitos em relação à psicoterapia.

Não consegui esboçar nenhuma palavra, em especial, devido à última informação passada por Lucas. O irmão Carlos, então, disse:

— Mas como já conversamos, irmão Lucas, as três questões, pontuadas por você, estão longe de ser uma exceção a regra.

Ele refletiu brevemente no que diria e retomou:

— Em um mundo ainda machista e patriarcal, poucos homens recusariam o flerte com uma bela colega de trabalho, pois é do senso comum que tal procedimento não seja uma traição, mas sim algo inofensivo e (que triste) com potencial para esquentar o relacionamento. Esta é a primeira questão: práticas de cunho machistas. Ele continuou:

— O flerte, sendo o homem casado, nada mais é do que um antigo mal costume masculino de utilizar-se da figura feminina para satisfação de seu próprio prazer, sem refletir na responsabilidade do matrimônio e na importância do convívio respeitoso entre as pessoas, inclusive no ambiente de trabalho.

 

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No que Lucas complementou:

— Espero que minha desdita e suas terríveis consequências sirvam de alerta para todos aos que esta mensagem alcançar.

O irmão Carlos, então, falou:

— Que assim seja, meu irmão!

E, então, prosseguiu:

— Passemos para a segunda questão. Em um mundo ainda individualista e onde prepondera o preconceito, não é raro a criatura humana olvidar a procura por psicoterapia, a fim de cuidar dos aspectos relacionados a sua saúde mental, por considerar que os profissionais que atuam na área tenham aptidão para cuidar somente de pessoas com um alto comprometimento em sua sanidade mental. Tal é a segunda questão: o preconceito em submeter-se às práticas psicoterápicas.

No que Lucas complementou:

— É verdade, irmão Carlos. Jamais poderia supor que minha dificuldade em manter o equilíbrio emocional, quando contrariado, pudesse ser em decorrência de alguma forma de transtorno mental. Na verdade, faz todo o sentido por que não consigo dar conta, desta limitação, sozinho e justamente por isto acabo sempre por sofrer intensamente quando magoo algum ente querido.

Lucas prosseguiu:

— Espero, honestamente, ter a oportunidade de despertar do coma para buscar o auxílio de um profissional da psicologia.

 

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O irmão Carlos, desta forma, interagiu dizendo:

— Que assim seja, meu irmão! Todavia, a busca por atendimento psicológico, não deve fazer com que a criatura humana olvide a importância da prece e da vivência e prática diária dos ensinamentos do mestre Jesus de modo que, efetivamente, tenha condições de alcançar a possibilidade de experienciar uma vida em equilíbrio mental e emocional.

E, ainda, completou:

—  Na realidade, eu espero, em Deus, que os nossos irmãos de jornada, cada vez mais, possam refletir sobre aspectos comportamentais de suas existências e buscar, justamente, tal equilíbrio que os possibilite viver em paz e harmonia tanto com Deus, quanto consigo mesmos e com o seu próximo.

— É verdade, irmão Carlos.

— Isto por meio da prece e da prática da caridade, mas, se necessário, também através de atendimento psicológico, certo, meu irmão?

Com a pergunta realizada pelo irmão Carlos, eu, então, disse:

— Com certeza! Ainda que seja capacitado para, por atendimentos, ter a possibilidade de prevenir e tratar doenças mentais, o psicólogo também tem atribuição para atender a toda pessoa que esteja em sofrimento psíquico, em busca de autoconhecimento, entre outros.

Lucas, assim, respondeu:

— Gostaria de ter adquirido esta compreensão há muito mais tempo, pois hoje em dia entendo que a nossa mente nos prega peças, já que em muitos momentos eu consigo controlar a explosão de raiva, quando contrariado, mas em outros, não sei por qual motivo, torna-se praticamente impossível.

 

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Foi então que expliquei:

— Provavelmente tua reação, em tais casos de incontrolável explosão, pode ser em consequência da associação com um gatilho emocional do que lhe desperta a contrariedade.

— Ao que o irmão Carlos completou:

— É exatamente isto o que ocorre no caso de nosso irmão Lucas, pois ele, intimamente, encontra-se emocionalmente aliançado com um terrível complexo de inferioridade.

Então complementei:

— Possivelmente ao vê-se contrariado em associação com aspectos mentais que, para ele, evocam ta complexo, ele explode momentaneamente em raiva.

Lucas, assim, confirmou:

— É exatamente desta forma que meu comportamento funciona. No dia do acidente, por exemplo, o gerente do meu local de trabalho chamou-me para uma reunião e, então, disse que eu deveria estimular, um pouco mais, a equipe de vendas que eu supervisiono, a fim de que as vendas pudessem aumentar em cerca de dez por cento. Eu tinha algumas ideias para sugerir, mas nossas condições de trabalho inviabilizariam sua aplicabilidade, assim calei-me e a conversa foi encerrada com eu dizendo que pensaria em alguma forma para atender a requisição dele.

 

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Ao que eu respondi:

— Entendo, Lucas, Tais questões são realmente complexas.

—  Pois é. Aquela fala despertou, logo pela manhã, a sensação desagradável de inferioridade, mas eu pensei haver conseguido administrá-la. No início da noite, contudo, enquanto conduzia Catarina para realização de exames relacionados a gravidez, eu guiava o veículo em velocidade inapropriada para a via, então minha esposa perguntou porque minha atenção estava dispersa, por qual motivo eu estava calado e, aparentemente, descontando o que me atormentava na velocidade que empregava para levar o carro. Como não respondi a tais perguntas, ela, então, solicitou que eu ampliasse minha capacidade de diálogo e reduzisse a velocidade, pois eu seria pai e deveria ensinar para nossa filha a noção de que o afeto e o diálogo a tudo resolvem.

— Entendo.

— Escutar Catarina dizendo tais palavras, como você bem explicou, despertou em mim um gatilho emocional que potencializou a frustração sofrida na manhã daquele dia, em meu local de trabalho. Foi então que eu me exaltei e acabei dizendo algumas poucas coisas a ela, em tom moderado é verdade, mas que também a atingissem emocionalmente. Em seguida aumentei o volume do carro. O que aconteceu, pouquíssimos minutos após, vocês já têm conhecimento.

O irmão Carlos retomou a conversa, dizendo:

— O irmão Lucas, atualmente, consegue falar sobre tal assunto sem castigar a si mesmo com um terrível sentimento de culpa. Graças a Deus!

— De certa forma, sim, irmão Carlos, pois hoje eu entendo que nada do que eu fiz, inclusive os flertes, foi com a intenção de prejudicar a quem quer que fosse. Eu errei, sim, mas em especial comigo mesmo.

 

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No que disse o irmão Carlos:

— Fico feliz em vê-lo centrado ao analisar suas próprias ações, Lucas.

— Até que sim, irmão Carlos, mas necessito, realmente, ter esta oportunidade com Catarina para poder explicar-me e tentar desculpar-me com ela.

— Nós temos conhecimento sobre este fato, meu irmão, mas é pela misericórdia divina, aliada a teu merecimento, que você terá, esta noite, tal oportunidade de reencontro.

— Que assim seja, irmão Carlos! Mas, para ser sincero, nada pesou tanto em minha consciência do que o desleixo que tive com a prática dos procedimentos umbandistas em meu benefício, de minha família, do meu lar e do próximo.

O irmão Carlos, então, disse a mim:

— Gracas ao divino criador que Lucas, atualmente tem este peso, em muito, atenuado pela compreensão de que o passado é certo, uma vez que o que foi escrito não tem condições de ser reescrito, todavia o futuro é uma incerteza, sendo exatamente esta a justificativa perfeita para utilizarmos o momento atual como uma dádiva divina para que, trabalhando com Cristo, encontremos condições de obtermos, ao menos, uma certeza no porvir: a de que colheremos os bons frutos plantados, hoje, com a semente da caridade.

 

203

 

— É verdade, irmão Carlos. Atualmente eu reconheço o hoje como aquilo que ele realmente é: um presente.

O irmão Carlos, assim explicou:

— Mas sendo, efetivamente, a razão da narrativa de sua desdita um alerta para todos que puderem conhecer tua história, então considero pertinente abordar a terceira questão, em sua história de vida, que lhe ocasionou tantos dissabores.

— Concordo, irmão Carlos!

— Tal questão também está relacionada a procedimento comum a muitos religiosos, independentemente da fé que professem, em acreditarem que o simples fato de frequentarem um templo religioso possa garantir-lhes, no dia-a-dia, a plena comunhão com Deus, sem que busquem fazer sua parte para a continuidade de tal conexão fora dos templos. Tomemos o exemplo daqueles que professam a religião de umbanda. Entre alguns de seus adeptos, por vezes, pode ocorrer das tribulações diárias e afazeres cotidianos servirem de justificativa para deixarem de cuidar integralmente de seu lar a fim de que seja um oásis de paz, compreensão, harmonia e onde também possam fazer morada, o divino mestre Jesus e os espíritos de luz.

No que tanto eu quanto Lucas concordamos dizendo:

— Isto é verdade, irmão Carlos!

 

204

 

Ele, assim, prosseguiu:

— Em consequência disto, não defumam os seus lares, não desmagnetizam suas casas de energias negativas cruzando-as com água e sal grosso e não realizam a leitura compartilhada de conteúdos espiritualmente edificantes por meio do Evangelho no lar.

Lucas, então, disse:

— Era exatamente o que eu passei a não fazer, irmão Carlos!

— Sim, Lucas, mas o mais agravante, felizmente, não ocorria em seu lar.

— E o quê seria isto, irmão Carlos?

— O fato de muitas famílias, não só as umbandistas, praticamente não dialogarem mais entre si, não reservarem algum momento de seus dias para trocarem experiências diárias, compartilharem anseios, verbalizarem sonhos e, assim, fortalecer a unicidade familiar.

Foi quando eu disse:

— É triste, mas é verdade, irmão Carlos.

— Triste mesmo, meus irmãos, é ver estes mesmos filhos de fé chegarem em frente das entidades, nos dias de atendimento, e dizerem que tem algo errado em seu lar, em sua família, com esposo, com a esposa, com os filhos, consigo mesmos e por aí vai.

— Complicado, não é, irmão Carlos?

— Complicado, de verdade, meus filhos, é quando as entidades, em atendimento, respondem explicando que não existe trabalho feito, nem demanda, mas que eles precisam realizar cultos no lar, cruzá-lo e defumá-lo.

 

205

 

— Por que, irmão Carlos, o que acontece?

— Muitos começam a ponderar que a entidade é fraca e passam a consultar-se com outras que, naturalmente, acabam por dizer-lhes as mesmas coisas. E é justamente nesta hora que vários começam a avaliar que, na verdade, o templo seja fraco e partem para serem membros de outros terreiros.

Ao que Lucas disse:

— Inacreditável, irmão Carlos!

— Também é difícil acreditar na atitude de nossos irmãos de fé em escutar as entidades sobre o que é necessário para que o divino mestre e seus mensageiros de luz possam fazer, de seus lares, um abrigo e, ainda assim, deixarem o cansaço ou as dificuldades diárias ser um empecilho para que isto ocorra.

— É verdade, irmão Carlos.

— Entendam, meus irmãos, que não digo isto em atitude arrogante ou de superioridade, mas sim de saudável admoestação.

— Nós entendemos, irmão Carlos!

— Vocês ficariam muito surpresos se pudessem constatar o quanto de dores, sofrimentos e mazelas poderiam ser evitadas se nossos irmãos umbandistas realizassem, regularmente, estes procedimentos, pois eles são a base segura para um lar crescer em divinas virtudes e ser um foco de luz com o qual os divinos mensageiros possam contar em sua tarefa para fazer, deste mundo, um lugar de paz, fraternidade e amor.

 

206

 

Foi quando Lucas falou:

— É verdade, irmão Carlos, pois você mesmo disse que, no meu caso, se tais procedimentos fossem realizados, a magia negativa realizada para prejudicar-me poderia ser isolada de mim, ou bem atenuada de modo a  ser anulada no terreiro.

— Exatamente, Lucas! É exatamente por isto que resta-nos manter as nossas preces para que todos aos que esta mensagem alcançarem possam compreender o tamanho de suas responsabilidades enquanto religiosos, independentemente da fé que professem, pois poder congregar-se com os irmãos junto a um templo religioso para clamar, a Deus, proteção e paz para si, sua família e para o mundo é algo de suma importância, mas não diminui sua responsabilidade em fazer-se multiplicador das bençãos recebidas e mantenedor destas junto ao lar e a sua família.

O irmão Carlos continuou:

— Os seres trevosos e seus asseclas também sabem sobre a evolução dos mundos e entendem que o planeta terra está para tornar-se um planeta de regeneração, assim querem evitar o seu expurgo natural para outros orbes através de vários procedimentos, mas o principal destes é a tentativa de perpetuar sua presença neste mundo causando mal às famílias e fazendo, destas, multiplicadoras deste mal. Resta a criatura humana entender tal situação e colocar-se enquanto instrumento de Deus a fim de que o divino mestre e seus mensageiros de luz possam utilizá-los como elementos multiplicadores de sua paz.

— Que assim seja, irmão Carlos!

 

207

 

Afirmamos, eu e Lucas. Ele, por sua vez, retomou o diálogo dizendo:

— Resumindo, Lucas, podemos dizer que o machismo, o preconceito com a psicoterapia e a invigilância religiosa estão longe de ser raridade entre os seres humanos, então não se sinta incapaz e inferiorizado, pois a tua humildade e disponibilidade em compartilhar sua história, com as graças de Deus, fará com que o divino mestre Jesus possa fazer dela um instrumento para a descontinuidade de tais práticas junto a todos que a ela alcançar por meio desta mensagem.

— Que assim seja, irmão Carlos! Eu realmente consigo compreender o quanto estas práticas, ainda que muitas vezes discretas, estavam retardando o meu processo de evolução espiritual. Agradeço a Deus pela oportunidade de aprendizado e tenho muita expectativa na oportunidade de reencontro com Catarina, pois eu necessito conseguir o perdão dela, a fim de que possa liberar perdão a mim mesmo.

Ouvindo-o dialogar tão francamente, o irmão Carlos esclareceu a Lucas de que o reencontro estava prestes a ocorrer, mas que para o bom proveito de todos os envolvidos, deveríamos serenar nossas emoções por meio da prece e confiar em Deus, porque o procedimento aconteceria em acordo com os Seus santos desígnios, não necessariamente conforme esperássemos.

— Eu confio em Deus, irmão Carlos, pois ele sabe o que é melhor para cada um de nós.

A vibração dos sentimentos de Lucas, ao dizer tais palavras, eram absolutamente transparentes. Ele demonstrava um nível de confiança poucas vezes observada por mim.

 

208

 

 

XXV - MOMENTO PARA O REVER O MAR:

 

Observando que apesar da natural ansiedade, havia uma alta vibração de confiança e serenidade, o irmão Carlos nos esclareceu de que o local onde Lucas tornaria a encontrar esposa e filha não seria onde estávamos, além disto reiterou a ele que não conseguiria observar a nossa presença, para que fosse mantida a privacidade e a discrição em momento tão particular.

Em seguida, ele solicitou que eu me mantivesse na realização de preces durante a realização de toda a atividade de modo a que tudo pudesse ocorrer conforme os desígnios de Deus e planejamento dos amigos espirituais.

Após observar que eu e Lucas havíamos compreendido todas as suas orientações, o irmão Carlos realizou uma sentida prece para que Deus e seus mensageiros pudessem abençoar a todos nós com as atitudes de paz, equilíbrio, boa vontade e amor, a fim de que o trabalho evoluísse conforme Seus santos desígnios e também de que fossemos, somente, leais colaboradores de sua seara.

Em sequência, conduzido pelo irmão Carlos, partimos, os três, em direção ao orbe terrestre.

Foi ao nos aproximarmos do local que pude perceber, a certa distância, parecer tratar-se da mesma região litorânea onde começara toda a atividade em benefício do irmão Lucas.

 

209

 

Este, então, disse:

— Meus irmãos, eu conheço este local! É a mesma praia em que conheci Catarina e a mesma onde nos casamos. Eu amo este lugar!

O irmão Carlos confirmou:

— Exatamente, Lucas! Não só por ser um ponto de forcas da natureza, mas também pelo que representa para você e sua esposa, foi que os amigos do plano maior o designaram para ser o local de seu reencontro com ela.

— Puxa, irmão Carlos, fico muito grato pela misericórdia divina e por tamanha consideração!

Ao terminarmos a volitação, pude confirmar que, aquele local tão precioso para Lucas, também era o mesmo onde fora inicialmente chamado para trabalhar em favor dele. Aliás, descobri, ainda, que para a realização daquela tarefa eu encontrava-me em corpo mental, uma vez que pude constatar, surpreso, o meu corpo astral na mesma posição de quando ali estivera pela primeira vez, ou seja, sentado em uma cadeira e ladeado ao corpo astral de Lucas, também na mesma posição.

Talvez observando minha expressão fisionômica de interrogação foi que o irmão Carlos disse:

— Sei que, no começo, causa certo estranhamento sentir-se pleno e completo enquanto ser humano para olhar um pouquinho adiante e ver-se desdobrado, mas em outro nível de consciência.

 

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— Foi exatamente o que senti, irmão Carlos.

— A primeira vez que você se juntou a nós, com o objetivo de acessar memórias akashicas em benefício do irmão Lucas, foi a única em que foi necessário você estar em corpo mental para sua execução e por motivos sobre os quais já conversamos anteriormente.

— Sim, irmão Carlos. Lembro-me de você explicando que o corpo astral de Lucas estava muito comprometido devido ao estado comatoso e aos efeitos da magia negativa realizada em seu malefício.

— Exatamente. Todas as tarefas subsequentes foram realizadas em nível de corpo astral.

— Eu entendo, irmão Carlos, mas é que da outra vez eu tive a consciência no processo realizado em meu corpo astral, de modo a que pudesse acessar o corpo mental, o que não ocorreu esta noite.

— Entenda este processo como consequência natural do desenvolvimento do espírito, quando busca observar e praticar o que a ele é orientado, por determinação divina, através de seus amigos espirituais.

— Parece que você está dizendo que eu estou em um bom caminho, mas não consigo entender qual o motivo da diferença.

— A diferença, meu irmão, está na prática de simples, mas fundamental procedimento para realização de um bom trabalho: a prece.

 

211

 

— Irmão Carlos, quando eu estive aqui, da primeira vez, não tinha o hábito de realizar preces adequadamente antes de deitar-me para dormir e isto não vem ocorrendo mais. Então esta foi a diferença?

— Parece pouca coisa, não é meu irmão? Mas a experiência serve para que jamais te esqueças do poder de uma prece realizada. Você, esta noite, antes de chegar à colônia espiritual e estar junto a mim e Lucas, também passou por aqui e pelo mesmo procedimento executado, da primeira vez em que aqui esteve, para que pudesse acessar o seu corpo mental. A grande diferença foi a realização de prece, pois ela aclara e sutiliza a consciência. Não te esqueças nunca, meu irmão, de que o reino dos céus é dos mais simples.

Senti-me tocado com àquelas palavras tão generosas e reflexivas que pensei um pouco antes de, assim, dizer:

— Eu concordo totalmente com tudo o que disse, irmão Carlos. Acredito que meu espanto ao deparar-me com meu corpo astral, talvez signifique o quanto ainda tenho que aprender sobre os aspectos do espírito.

— De fato, meu irmão, mas para tentar minimizar os efeitos desta situação impactante, posso tecer algumas breves considerações, antes que o companheiro Lucas tenha a oportunidade de vivenciar o tão aguardado reencontro.

Lucas sorriu com a observação enquanto respondi ao irmão Carlos dizendo:

— Sou todo ouvidos, irmão Carlos!

 

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— O ser humano é constituído por sete níveis espirituais, ou sete corpos, entre outras definições. O mais material deles é o corpo físico, já o mais sutil, também conhecido enquanto centelha divina, é o corpo átmico.

— Estou conseguindo acompanhá-lo.

— Desta forma, meu irmão, evoluir espiritualmente significa a criatura humana experienciar, desde o corpo físico até o átmico, a fim de coletar conhecimento que proporcione o equilíbrio e desenvolvimento das emoções e do intelecto e viabilize sua transmutação em pura luz.

— Entendo.

— É uma tarefa que não ocorre instantaneamente, mas a cada experiência que o espírito vai adquirindo em suas experiências corpóreas. A cada ensinamento experimentado, a consciência vai evoluindo gradativamente em direção a Deus. Veja o irmão Lucas, por exemplo:

— Ele, com a lição aprendida, acabou por criar, para si próprio, condições de vivenciar, esta noite, a nível de corpo astral, a última experiência necessária para que, obtendo sucesso, recupere o equilíbrio entre razão e emoção e, desta forma e em tempo certo, desperte em seu corpo físico.

— É verdade, irmão Carlos! Na última tarefa em que tive oportunidade de participar, na gira do terreiro, eu observei que nosso irmão., após a sua conclusão, conseguiu obter importante melhora no aspecto consciencial de seu corpo astral.

— Correto. E desde este dia, até hoje, em muito o nosso irmão tem mostrado considerável recuperação neste aspecto.

— Graças a Deus!

 

213

 

— Resta-lhe a última etapa desta recuperação, o reencontro com sua família.

— Entendi, mas eu, irmão Carlos, auxiliarei na tarefa também em corpo astral?

— Exatamente, meu irmão. Você retomará o corpo astral antes do irmão Lucas. A partir dai, nós trabalharemos aspectos vibracionais em tal corpo espiritual a fim de que sua presença torne-se imperceptível para ele.

— Entendo.

— Em seguida, Lucas despertará para o início dos trabalhos desta noite.
Ao ouvir o irmão Carlos repassando as diretrizes para a execução do trabalho, Lucas, então, perguntou a ele:

— Então meu reencontro familiar vai mesmo acontecer em nível de corpo astral, irmão Carlos?

— É importante que seja assim, companheiro Lucas, conforme conversamos anteriormente. Tenha fé em Deus e confie, pois tais são as atitudes ideais a serem desenvolvidas para sua convalescença.

— Que assim seja, irmão Carlos!

Findadas as orientações, o irmão Lucas, assim como eu, passou a colocar-se em respeitosa atitude de prece.

E foi desta forma, por meio do suporte bondoso do irmão Carlos, que reassumi meu corpo astral. Ele, então, realizou alguns procedimentos junto ao irmão Lucas e solicitou que aguardássemos o seu despertar, o que não tardou a acontecer.

 

214

 

Ao descerrar os olhos, Lucas fitou o imenso mar a sua frente como se o fizesse pela primeira vez. Ele encontrava-se embevecido e admirado em poder rever aquele local, mas ao perceber que seus olhos passariam a marejar, ele, então, iniciou a prática de exercício respiratório.

O irmão Carlos esclareceu:

— Nosso irmão, através deste exercício, sentir-se-a mais sereno, centrado e sintonizado com os mentores do plano maior.

Intimamente, não sei se por, na época, ser um estudante de psicologia, eu ponderei que, talvez, aquela não fosse a melhor hora para que Lucas realizasse o tal exercício, pois ele lutara muito para que tivesse a oportunidade de chegar aquele momento.

Eu conseguia entender que o reencontro de Lucas com sua família era a atividade derradeira para ele assumir plenamente a consciência em seu corpo astral, por meio do equilíbrio de suas emoções, todavia ser equilibrado emocionalmente não significa reprimir as emoções, mas sim controlá-las para poderem se manifestar no momento certo e, ao menos para mim, aquele era justamente o caso.

Então, como conclusão destes pensamentos, eu fechei os meus olhos e fiz uma prece clamando a Deus, aos mentores de Lucas e a mamãe Iemanjá para que o abençoassem com a oportunidade de um choro divino, desanuviador, tranquilizador e equilibrador.

Não sei ao certo por quanto tempo estive em prece, mas em dado momento senti como se alguém a mim, dissesse: "está feito!", assim agradeci a Deus pela oportunidade e abri os olhos.

 

215

 

Após brevíssimo instante, Lucas cessou o exercício respiratório, colocou-se de joelhos na sagrada areia da orla e verteu um sentido pranto. Ele encontrava-se cabisbaixo, mas toda a vez que olhava para o mar, parecia que um choro renovado brotava de dentro do seu ser.

Não saberia justificar plenamente o motivo daquele pranto, mas talvez esteja relacionado a recordações de sua infância, junto aos pais, naquele ponto de forças da natureza, ou lembranças de seu primeiro encontro com a esposa e de seu casamento, que também ocorreram justamente naquele local.

Ainda assim, quaisquer que fossem as motivações para o vertimento daquelas lágrimas, só o que eu consegui perceber é que parecia um choro renovador.

Era como se lágrimas de sofrimento, remorsos, mágoas e decepções, aparentemente, estivessem escoando de seus olhos em direção ao mar, como que para eliminar energias negativas, ao passo que vibrações de paz, equilíbrio e amor fluíam do oceano e penetravam em todo o seu ser mental, transmutando lágrimas de aflição em um pranto de esperança.

O irmão Carlos, então, disse a mim:

— A principal razão para o tocante pranto de nosso irmão é de gratidão a Deus pela oportunidade de assumir uma vida desanuviada de arrependimentos, após um longo processo de resgate através dos séculos, e também por, a partir deste instante, estar apto a assumir, plenamente e após cinco anos, os aspectos cognitivos e afetivos de seu corpo astral e, desta forma, ter a oportunidade de visualizar e interagir com o local da natureza onde ele mais se sente próximo de Deus, o qual é justamente aquele onde agora se encontra.

 

216

 

Ao pronunciar aquelas palavras, pude perceber no timbre de voz e na fisionomia do irmão Carlos a expressão de um sentimento possível de ser esboçado somente por aqueles que alcançam sucesso em alguma etapa da difícil, mas nobre tarefa de orientação espiritual a seu pupilo, ou seja, os mentores espirituais. Possivelmente um sentimento de júbilo em ver o aprendiz sendo aprovado nas lições da vida e, assim, alcançando condições de acessar novas etapas de aprendizado, em busca da evolução espiritual.

Mas com o brilho de uma lágrima parecendo cintilar em seu olhar, ele apenas disse:

— Oremos por nosso irmão!

Realizamos uma prece e, após certo tempo, Lucas tornou a sentar-se na cadeira, fechou os olhos e retomou a prática do exercício respiratório.
Sentindo-se mais sereno, ele olhou de lado a outro, fitou o oceano e então levantou-se em direção a beira do mar. Foi justamente quando observei que ele, realmente, não conseguia notar a nossa presença.

O irmão Carlos, então, aduziu:

—  Nosso irmão não pode nos ver, mas sabe estar sendo amparado pela misericórdia divina. Não devemos interferir em seu livre-arbítrio, mas sim orar e emanar vibrações positivas para que, praticando tudo o que aprendeu, consiga completar a tarefa da noite com êxito.

— Eu entendo.

 

217

 

XXVI - MOMENTO PARA O REENCONTRO:

 

Lucas continuava a olhar de forma esperançosa para o mar, talvez como se, em passe de mágica, Catarina pudesse emergir das águas.
Após algum tempo, ele decidiu subir nas pedras, quem sabe como uma maneira de recordar o local e o momento onde conhecera a esposa.

Já sentado, mas imerso em suas lembranças, ele mal notou quando uma moça perguntou-lhe:

—  Posso juntar-me a você?

O irmão Carlos esclareceu:

—  Esta é Catarina.

Lucas, despertando de seus pensamentos, a ela respondeu:

—  Com certeza, sente-se por favor! Desculpe a distração.

Ela então sentou-se na formação rochosa, mas Lucas parecia não reconhecê-la.

O irmão Carlos esclareceu:

—  Ela encontra-se com a aparência que apresentava antes de reencarnar como Catarina.

Não entendi o motivo para tal situação, mas atalhando possíveis inquéritos de minha parte, ele apenas recomendou:

— Permaneçamos em prece por nosso irmão.

 

218

 

Compreendi a singela admoestação e, entendendo que a disciplina antecede a espontaneidade, apenas respondi:

—  Que assim seja, irmão Carlos!

Percebi que ela retomava o diálogo com Lucas, dizendo:

—  Sabe, há alguns anos conheci uma pessoa incrível aqui, neste mesmo local.

— Verdade? Que inusitado!

— Por que inusitado?

— Porque eu também conheci um ser humano formidável aqui, já há alguns anos.

Ela complementou:

—  Que coincidência, não é mesmo?

Lucas apenas respondeu:

—  Total!

Após refletir brevemente, ele disse:

—  Inclusive, e por favor, não pense ser uma possível cantada, tem algo em você que traz uma forte lembrança dela.

 

219

 

— Verdade?

— Sim! Eu só não saberia dizer o motivo. Mesmo entendendo que as pessoas diferem, eu poderia garantir que tua energia pessoal é idêntica à dela.

— Bondade sua. Talvez seja o fato de estarmos neste local tão abençoado e importante para nós.

— Talvez você esteja certa.

Ela, assim, continuou:

—  Eu sempre gostei muito de vir aqui para recordar momentos bons e ouvir a voz do vento.

Lucas surpreendeu-se com mais aquela coincidência e o sentimento de que a conhecia de algum local tornou-se ainda mais forte, todavia ela prosseguiu a conversar:

—  Contudo, ouvir a pessoa a quem conheci aqui era tão agradável quanto dialogar com o vento.

Lucas sentiu o coração bater de forma mais acelerada e tornou a suspeitar de algo, mas respirou profundamente antes de dizer:

—  Esta é mais uma coincidência entre nós, sabia?

 

220

 

Ela, propositadamente, não respondeu aquela constatação em forma de pergunta e retomou o diálogo dizendo:

—  Foi com esta pessoa que consegui ouvir o vento dizendo que devo seguir, tornando presente, e em equilíbrio, recordações felizes do passado e aquecendo, no coração, o fogo do amor construído na relação com àqueles que partiram antes de nós.

Ao escutá-la repetir as mesmas palavras que dissera a Catarina em seu primeiro encontro, Lucas abandonou os receios e apenas perguntou:

—  Catarina?

— Sim, Lucas, sou eu!

Ele, então, não disse mais nada, somente a enlaçou em um profundo, terno e longo abraço.

Nos olhos do casal transbordava toda a emoção que lhes ia n'alma. Ali, naquele momento, parecia não existir mais o homem preso a um passado de remorso e que tanto lutara para dele se libertar e sair da condição de ser somente um aprendiz do amor na força do tempo.

Estar ali, permutando afeto junto ao ser amado, apenas reforçava sua determinação em continuar na prática de novo aprendizado: o de ser um aprendiz no exercício de utilizar o tempo na força do amor, somente para amar.

Passado algum tempo, Lucas disse a ela:

—  Você está diferente!

— Estou com a aparência que apresentava antes de reencarnarmos, mas minha essência é a mesma.

 

221

 

— Graças a Deus, por isto! E eu bem que pude senti-la!

Catarina continuou o diálogo:

—  Lucas, entendo que você tem certas coisas a falar para mim e que muito se esforçou para conseguir a oportunidade de fazê-lo, mas se for possível, gostaria que, antes, você escutasse algumas palavras que tenho a dizer.

— Certamente, Catarina, eu ainda continuo sendo um cavalheiro: as damas primeiro!

Ela sorriu com o comentário e, em seguida, disse:

—  Lucas, não pense que tenha sido fácil a espiritualidade amiga conseguir encontrar uma pessoa com as características necessárias para a execução de minha tarefa em desencarnar durante o parto.

Ela ponderou um pouco antes de, então, continuar:

—  Haveria de ser uma pessoa forte, de bom coração, amiga e caridosa. Esta pessoa, Lucas, é você!

— Talvez você até não se recorde, mas eu sei muito bem a força que você tem.

— Catarina respirou profundamente e prosseguiu:

—  Desencarnei um mês antes do período traçado por nossos amigos do plano maior? Com certeza, todavia, isto em nada prejudicou o plano traçado por eles, muito pelo contrário! Então, meu bem, não se culpe, pois a vida continua.

 

222

 

— Eu entendo, Catarina, mas é difícil prosseguir em minha tarefa reencarnatória sem você!

— E eu, lucas, como vou conseguir executar minha tarefa sem você?

— Tarefa?

— Sim, Lucas! Em meu plano evolutivo encontra-se a tarefa de auxiliá-lo, no que me for possível, a encontrar condições para a felicidade, você não se lembra?

— Desculpe, mas não me recordo. E Laura, onde está?

— Está lá na orla, vê?

Ela estendeu o indicador da destra na direção desejada e Lucas, assim, respondeu:

—  Sim, eu a vejo! Mas, por que ela não está aqui conosco?

— Porque este aqui é e sempre será o nosso local.

Lucas emocionou-se com aquelas palavras dotadas de intenso afeto e, novamente, abraçou-a.

Catarina, então, levantou-se e, estendo a ele as mãos, disse:

—  Vamos até la!

— Sim, com certeza! Mas fale mais um pouco sobre esta sua tarefa!

— Falaremos lá, pois Laura também faz parte dela.

— Verdade?

— Certamente!

— Então vamos!

 

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XXVII - MOMENTO PARA MAIS UM REENCONTRO:

 

O casal, assim, caminhou até onde estava Laura.

Ela era uma adolescente com a aparência de quem possui cerca de dezesseis anos. Tinha estatura média, cabelos de um lindo louro encaracolado, aparência serena e grandes olhos em sutil tom esverdeado.

Ela estava ansiosa com o encontro, que não tardou a acontecer, mediante a aproximação do casal.

Ao vê-la, tão próxima a si, Lucas, com a voz embargada pela emoção, pediu:

— Antes de qualquer outra coisa, você me permitiria um abraço?

No que ela, tão emocionada quanto, mas descontraidamente, respondeu:

— Mas, só um?

Ele sorriu com a brincadeira e, assim, a envolveu em um abraço acolhedor.

Após algum tempo, disse-lhe:

— Você é linda, minha filha! Então seria esta a aparência que você desenvolveria se estivesse encarnada?

— Fico grata pelo elogio, pai, mas não. Esta e a aparência com a qual mais tenho afinidade, aquela de quando nos conhecemos antes de reencarnarmos, você não se lembra?

 

224

 

— Não devo negar que seus traços me são muito peculiares.

— Mas pai, ainda que tivesse outra aparência, se encarnada estivesse, um fato não mudaria nunca e é justamente sobre isto que preciso falar com você.

— Então diga, minha filha, pois sou todo ouvidos!

— O amor, meu pai! O amor não tem face, então, independente do rosto que desenvolvesse, se encarnada estivesse, a essência do meu amor por você não mudaria nunca.

— Eu também posso dizer o mesmo, com certeza!

— Que bom, pai! Este é o motivo principal para mim, você e a mamãe estarmos aqui reunidos, esta noite.

— Verdade?

Catarina tornou ao diálogo dizendo:

— Certamente, Lucas! Você lembra quando há pouco lhe disse que você é peça principal para a execução de minha tarefa?

— Claro que sim! Você disse ser uma tarefa para auxiliar-me a encontrar a felicidade, não é isto?

— Isto!

Ele, assim, disse:

 

225

 

— Só não sei como isso será possível sem vocês.

Laura, então, falou:

— Mas pai, você não se recorda do que acabei de lhe dizer sobre o fato do amor não possuir face?

— Sim, minha filha.

— Pois saiba que a felicidade é irmã do amor e também não possui aparência definida.

Catarina voltou a participar da conversa, dizendo:

—  Nós duas aqui estamos para, através da misericórdia de Deus, do poder do diálogo e da força de nosso amor, auxiliá-lo a vencer seu temor em retornar ao corpo físico, despertando do coma.

Percebi que aquele núcleo familiar passaria a abordar questões muito delicadas, em especial, para o nosso irmão Lucas, então redobrei o meu estado de prece.

Enquanto isso, Lucas, cabisbaixo, parecia refletir intensamente sobre o que era dito a ele por aquelas mulheres incríveis.

Catarina tornou ao diálogo dizendo:

— Lucas?

Ele, então, deixou o estado introspectivo em que se encontrava e falou:

 

226

 

— Desculpe-me, Catarina, estava pensando no que vocês acabaram de dizer para mim.

— E chegou a alguma conclusão?

— A de que vocês têm razão, mas o que eu vou fazer se, para mim, a felicidade tem o seu rosto?

— Permanecer em preces e pedir a Deus que possa abençoá-lo e retirá-lo do estado de ilusão.

— Ilusão? Mas você não é ilusão, meu amor por você não é ilusão!

— Mas você, enquanto ser humano, foi criado para ser feliz e suas recordações a meu respeito têm trazido mais tristezas do que alegrias.

— Não sei se posso concordar com você, Catarina, pois estas lembranças trazem muita felicidade.

— Felicidade? Lucas, meu bem, a felicidade é força divina que nos impulsiona adiante, então que felicidade é esta que o paralisa a retomar o corpo físico?

Devo confessar que a lógica argumentativa de Catarina era formidável e fazia-me refletir sobre vários aspectos de minha própria vida.
Percebi que Lucas pensava em contra-argumentar, mas a lucidez daquelas ideias era tão latente que só conseguiu respondê-la:

— Devo confessar que você tem razão, mas preciso reafirmar que o meu amor não é ilusão!

— Jamais diria isto a seu respeito meu amor, todavia preciso esclarecer ser ilusório sim, acreditar que a tua felicidade tenha o meu rosto, o de Laura ou o de quem quer que seja, pois como foi dito a felicidade não tem rosto.

 

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— Como assim? Não consigo compreender totalmente o que você me diz!

— Entao rogue a Deus que o faça entender, no tempo Dele, cada parte daquilo sobre o qual estamos conversando.

Desta vez foi Laura quem disse ao pai:

— O que estamos tentando dizer, pai, é que presentes divinos tais quais amor e felicidade são impessoais. São, antes, dádivas que o divino criador nos oportuniza de modo a que tenhamos condições de seguir adiante em nossa jornada evolutiva enquanto espíritos imortais.

Catarina complementou:

— São graças divinas para conseguirmos, por vivências e experiências, vencer as provas da vida e ser aprovados nos testes criteriosos a qual somos submetidos pelo tribunal de nossas próprias consciências.

Lucas, então, conseguiu dizer:

— Mas que motivação teria eu para despertar, se não posso contar com a felicidade de estar junto a vocês?

— A motivação para ser humilde e entender que a felicidade não é um fim, mas um meio. A felicidade não está na pressa para vencer a si mesmo, mas na jornada que conduz a este propósito.

 

228

 

Laura juntou-se à fala de Catarina, dizendo:

— É verdade, pai! Você não deve ter pressa para, ao despertar do coma, vencer a si mesmo, ou seja, tudo aquilo que te traz dor, mas sim em apegar-se com Deus a fim de que Ele o faça um aprendiz do tempo na força do amor, ou seja, para que você utilize todos os momentos diários de sua jornada como ferramentas para a prática do amor: o amor a Deus, a si próprio e ao próximo, através da caridade.

Catarina aduziu:

— Exatamente, querido. Enquanto vivenciamos e praticamos estes gestos de amor, acabamos por nem mesmo sentir o tempo passar e este é um dos grandes mistérios que se abrem para àqueles com humildade suficiente para se tornarem um seu aprendiz: ele altera a nossa percepção sobre o tempo.

— É isto, pai! Acorde do coma, mas também desperte para a vida! Busque ser um assíduo praticante da caridade e serás um aprendiz do tempo na força do amor.

Catarina somou-se à fala da filha, dizendo:

— Exatamente, lucas! Será agindo desta forma que, junto a seus mentores, teremos condição de auxiliá-lo a alcançar aquilo a que nós três nos propusemos antes de reencarnarmos: auxiliá-lo na formação de uma família.

— Não me recordo a respeito disto.

Laura, assim, respondeu:

 

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— Por isto estamos aqui, pai! Para poder recordar do quanto que você é luz!

Catarina complementou:

— Eu e Laura, Lucas, necessitávamos passar pela experiência do desencarne que, para muitos, é considerado precoce. Nós duas somos espíritos que nos conhecemos de longuíssima data, ao contrário de você, que nos conheceu apenas na encarnação atual.

— Isto é verdade.

Ela prosseguiu:

— Você não conseguiria imaginar o quão difícil foi para os nossos mentores encontrarem alguém que se adequasse ao nosso plano reencarnatorio.

— Realmente não sabia disto.

Com toda a espontaneidade e vivacidade, Laura pediu a fala e, então, disse:

— Pai, ainda que soe clichê, não há como não dizer que, para mim, você é o nosso herói!

A naturalidade e o sentimento presentes naquelas palavras eram tão genuínas que acabou por emocionar profundamente a Lucas, ainda assim, com jovial autenticidade, ela prosseguiu em seu diálogo:

— Pai, você bem sabe que, em sua atual encarnação, comprometeu-se a alcançar paz na consciência no que diz respeito a seu relacionamento com Levy, não é isto?

 

231

 

— Sim, filha.

— Então, o que você não sabe é o quanto se predispôs, antes de reencarnar, a trabalhar incansavelmente, em prol da caridade, para conseguir alcançar mérito suficiente que o credenciasse a ser parte de nossa composição familiar quando encarnasse.

— Sério?

— Com certeza, pai! Você fez este gesto altruísta por nós, para nos dar a oportunidade de aproveitarmos o nosso reencarne com o intuito de quitarmos os nossos débitos.

Catarina complementou:

— Você se sensibilizou e simpatizou-se com a história de nossa jornada evolutiva, assim, quando soube desta dificuldade, candidatou-se para colaborar em parte de nossa trajetória na carne.

Lucas estava positivamente surpreso com aquela revelação e, por mais incrível que possa parecer, ainda mais surpreso consigo mesmo.

Observando tal situação, Catarina, então, disse-lhe:

— Não se surpreenda tanto a respeito de si próprio, querido. Tudo o que lhe contamos foi com a permissão de seus mentores espirituais e com a finalidade de que você possa compreender o tanto de bondade, empatia, generosidade e afeto que existem dentro de você.

 

232

 

Ele estava visivelmente emocionado com as palavras que escutava.

Catarina prosseguiu a conversar, falando:

— Nós esperamos que, no exercício desta tua generosidade, você encontre condições de nos dar a oportunidade de, conforme programado antes do reencarne, retribuir tua boa vontade no auxílio para que, pela prática da caridade, vença tuas provas e consiga concluir as tarefas a você destinadas em seu processo reencarnatorio.

—  Vocês fariam isto por mim?

— Sim, não somente por que seja nossa tarefa, mas especialmente por que você nos cativou.

— Mas como seria isto?

— Pelo caminho da fé e da generosidade, ou seja, crendo em Deus, em você mesmo e exercitando a fé por meio da caridade, pois sem ela, não há salvação.

Laura complementou a fala de Catarina, dizendo:

— Você, pai, auxiliou, de todas as formas possíveis, a formar a nossa família. Só o que pedimos é que nos conceda a oportunidade de nos empenharmos para que você construa a sua.

— Outra família? Mas eu não quero esquecer vocês!

Laura então o respondeu:

 

233

 

— E eu acho mesmo bom que não se esqueça de nós, não é mesmo, mãe?

Ela sinalizou uma breve piscadela para Catarina, tal qual uma criança preparando-se para mais uma travessura.

Catarina percebeu a intenção de Laura em manter a harmonização do ambiente e, então, aduziu:

— Exatamente, querido, ou então nós o assombraremos para o resto da vida.

— Isto mesmo, mãe! Puxaremos a coberta por sobre os pés dele todas as noites, a fim de ajudá-lo a lembrar-se de nós.

Os três sorriram genuinamente com a brincadeira das duas.

Após curto tempo, Lucas, então, disse a elas:

Antes de reassumir tão importante compromisso, eu preciso pedir perdão, a vocês, pelo desencarne fora do programado.

— Pai, você percebe que está pedindo desculpas para si mesmo? Ou alguma atitude minha, ou da mamãe deu a impressão de que estaríamos magoadas com você?

Catarina complementou a fala de Laura, dizendo:

— Lucas, você, com Deus, precisa aprender a ter mais compaixão consigo mesmo!

 

234

 

— Como assim?

—  Nós duas desencarnamos há cinco anos, mas a prática da caridade, o estudo sobre as coisas do espírito, a busca do autoconhecimento e a prática do perdão faz parecer que este fato ocorreu há cinquenta anos.

— É pai, não são só palavras: a prática do bem a si mesmo e ao próximo acaba por verdadeiramente nos condicionar a vivenciar o tempo na força do amor.

Ao notar que o sentimento vibrado por suas palavras provocava em Lucas o almejado efeito de reflexão, então Catarina, após certo tempo, completou sua fala dizendo:

— O que estamos tentando explicar, Lucas, é que para aquele que vivencia o tempo na força do amor, e isto em todas as dimensões que o constituem, inclusive o perdão, acaba por sentir-se liberto dos grilhões que o aprisionam ao sofrimento.

— Pai, sabemos que o fato de estarmos libertas do corpo físico facilita, em muito, experienciar e viver a utilização da dimensão temporal para o amor, mas não deixe que isto o desmotive a, pelo menos, tentar, pois, a recompensa é dadivosa: ter a possibilidade diária de encontrar-se com a felicidade.

Catarina complementou:

— É por isto, Lucas, que dizemos não haver o que lhe perdoar, mas só o que lhe agradecer.

 

235

 

— Isto pai! Quando utilizamos o tempo para o amor, não há espaço para remorso e sofrimento. Ao nos libertarmos do tempo da dor, naturalmente nos abrimos para uma nova perspectiva de temporalidade: o tempo da amorosidade!

Lucas refletiu por certo tempo e, após, disse:

— Conseguir viver assim é ser feliz, não é mesmo? Acredito que começo a perceber quando vocês dizem que a felicidade não tem rosto!

— Isto mesmo, pai! A felicidade, se fizermos por onde, não será encontrada ao final de uma jornada, mas em cada etapa da viagem.

— Cada dia é preciosa oportunidade de encontro diário com a felicidade.

— Creio que agora estou entendendo: devo almejar ser um incansável praticante da caridade, pois tal ação irá habilitar-me a ser um aprendiz do tempo na força do amor.

— Exatamente, pai!

— Tornando-me um aprendiz, conseguirei ter a possibilidade de convivência diária com a felicidade.

— Isto!

— Agindo desta forma, eu teria a oportunidade de fazer vocês felizes.

— Sim, querido, mas você não deve tomar qualquer atitude com o intuito de nos trazer alegria, pois é justamente o oposto: vê-lo buscar alcançar a tua felicidade é o que, naturalmente, nos daria imensa alegria.

 

236

 

Laura completou:

— Exatamente, pai! Ver você buscando a sua felicidade nos traria incomensurável alegria e por todos os motivos possíveis, mas especialmente porque tal atitude é que nos permitiria, junto a seus mentores, auxiliá-lo a edificar a tua família.

— Meninas, eu preciso confessar algo a vocês.

Ambas disseram, em uníssono:

— Diga!

— No início de nosso diálogo eu cheguei até mesmo a ficar entristecido quando vocês disseram que me auxiliariam a formar uma nova família, sabiam?

Laura respondeu:

— Sabíamos, sim, pai! Você ficou triste por pensar que nós ainda estávamos chateadas com você e, desta forma, queríamos nos livrar da tua presença, empurrando você para uma nova família.

Lucas encabulou-se com a espontaneidade e perspicácia da filha, mas confessou:

— Foi por este motivo mesmo.

Laura continuou:

— E, se bem lhe conheço, agora você está muito feliz justamente na esperança de constituir esta nova família, todavia está contendo a manifestação deste sentimento por medo de que nós desenvolvamos aquilo que você sentiu: o sentimento de estarmos sendo rejeitadas.

 

237

 

— Meu Deus, minha filha! Quanta sabedoria! É isto mesmo!

— Pai, pai, pai nós já dissemos a você, mas é importante repetir: a felicidade é impessoal. A felicidade não está personificada em alguém ou em coisas, mas nos momentos, nos instantes em que pudermos verificar o fruto do nosso esforço e constatar que, por meio da caridade, pudemos contribuir com a alegria do próximo.

Catarina completou:

— É exatamente assim, Lucas, desta forma nós não podemos levar a felicidade até você, visto que ela não é uma coisa, ou um fim por si mesma, mas podemos, se você permitir fazendo o que lhe couber, tentar conduzi-lo a momentos que conduzam à felicidade.

Laura continuou:

— Isto, pai! Levar as pessoas a vivenciarem estes momentos é o que nos torna,verdadeiramente, felizes. Não é só fazer preces e esperar que o outro seja feliz, mas sim conduzi-lo, com Cristo, até estes momentos.

— E é por isto pai que não haveria a menor possibilidade de nos entristecemos com sua ventura.

Lucas, então, disse:

—  Observo que o raciocínio por trás destes argumentos denota uma prática que é possível a todos, mas que só pode ser vivenciada por aqueles que vivenciam diariamente a prática da caridade. É um aprendizado, mas quero ser um aprendiz do Cristo, pois foi ele que, como nenhum outro, doou tudo de si, em momentos diários de caridade, para que todos pudessem encontrar a felicidade.

 

238

 

Ele continuou a dizer:

—  Tudo sobre o que conversamos nesta noite trouxe uma paz formidável para a construção do meu equilíbrio mental e emocional. Sinto-me mais confiante, pois apesar de saber que quase tudo sobre o que conversamos não terá condição de ser recordado por mim quando reassumir o corpo físico, ainda assim tenho fé que Deus nunca me desamparará.

No que Laura, emocionada, o abraçou e disse:

—  Nem nós, pai, nem nós!

Catarina juntou-se aquele abraço fraterno e os três, unidos em esperança e amor, partiram volitando tal qual um raio de luz.

 

239

 

 

XXVIII - MOMENTO PARA DESCOBERTAS E AUTOCONHECIMENTO:

 

O irmão Carlos, então, disse:

— Todos eles foram para colônia espiritual.

Eu, por minha vez, somente respondi:

— Então é isto, irmão Carlos? O nosso irmão Lucas, graças a Deus e enfim, conseguirá despertar do coma?

— Ele terá condições para tanto, mas o tempo certo de todas as coisas pertence a Deus desde o acordar de uma dor até o despertar de uma flor.

— Nossa, então ainda vai levar mais algum tempo para que isto possa ocorrer?

— Naturalmente, meu irmão, como já conversamos anteriormente, lembra-se?

— Sim, é verdade.

— Ainda faltam alguns pequenos ajustes nos centros de força e em certas áreas do cérebro para que o despertar de nosso irmão ocorra com a eficiência desejada.

— Sabe, irmão Carlos, sinto-me muito grato por haver participado e contribuído, ainda que minimamente, com o processo de recuperação do nosso irmão Lucas, todavia, por incrível que possa parecer, tenho a impressão que eu fui o maior beneficiado, pois me sinto confortavelmente mais leve. Parece até que fui eu o abençoado em receber ajuda divina.

— Esta, meu irmão, é a leveza passível de ser sentida apenas por aqueles que fazem o bem e que traduz fielmente a máxima de que "é dando que se recebe".

 

240

 

— Puxa, irmão Carlos, nem sei se sou merecedor de tamanha ventura.

— Mas é claro que sim, meu irmão, pois do contrário você não a estaria sentindo! Esta sensação de leveza tem uma razão de ser.

— Mas, qual seria ela?

— É que ao longo deste processo você foi realmente beneficiado pela misericórdia divina.

— Puxa, como Deus é bom! Mas este auxílio divino foi em qual sentido, irmão Carlos?

— No sentido do alívio em certo aspecto de seu sofrimento psíquico.

— Você poderia esclarecer tal assunto?

— Vejamos: diga-me o que sentiu ao acessar as memórias akáshicas e, assim, reviver o modo como aconteceu o óbito de Lilian e Eloah?

— Então, irmão Carlos, mesmo sem saber que era eu a reencarnação de Levi, senti uma tristeza profunda, daquelas que produzem um vazio decorrente de uma falta sobre a qual não se consegue explicar a causa.

— Compreendo.

— Todavia, irmão Carlos, eu inicialmente pensei que este fato poderia ser explicado por questões relacionadas a empatia.

Ele, então, respondeu:

— Sabe aquela melancolia profunda e renitente a qual tantas vezes você é inexplicavelmente acometido?

 

241

 

— Sim, irmão Carlos! É um sentimento de profundo pesar, de uma falta sobre a qual nunca consegui esclarecimento.

— Exatamente, então, meu irmão, graças a misericórdia divina, a partir de hoje, ela deixará de existir.

— Suponho que entendi. Esta falta era decorrente do luto sentido por Lilian e Eloah, não é isto?

— Teu raciocínio está correto.

— Mas, irmão Carlos, após o tempo vivido em minha atual encarnação, por que justamente agora foi que Deus e os mensageiros de luz consideraram abençoar-me com este lenitivo?

— Os motivos são variados e não tão simples de explicar, todavia posso esclarecer sobre o principal deles: sua mãe.

— Minha mãe? Como assim?

— Foi ela, enquanto mãezinha dedicada e atenta com as coisas do espírito, a primeira a perceber que aquela melancolia não poderia ser explicada enquanto processo resultante de uma única encarnação.

— Meu Deus, como assim!

— Reconhecendo sua limitação, ela passou a rogar por você, a Deus, de modo a que Ele, que sabe e pode todas as coisas, pudesse abençoá-lo com uma cura.

— Meu pai, eu nunca soube disto. Ela nunca me falou!

— Ela praticou o ensinamento do Cristo: "não sabei sua mão direita, o que faz a esquerda".

 

242

 

— Entendo.

— Ela, enquanto mãe, compreendeu que nada poderia fazer, a não ser preces ao divino criador, rogando por sua cura. Ela vem realizando estas preces há anos e tal ação, aliada a teu merecimento e a outros fatores sobre os quais não tenho permissão para discorrer, facultaram-no a receber prova da misericórdia divina por meio da cura.

— Resumindo, irmão Carlos, você está dizendo que esta melancolia é fruto de uma encarnação remota, de quando eu era Levi?

— Exatamente.

— Nossa, isso é surpreendente!

O irmão Carlos refletiu um pouco antes de responder-me e, então, disse:

— Não se surpreenda tanto, meu irmão, pois considerável parte dos problemas emocionais e psíquicos que nossos irmãos encarnados possuem são consequências de perturbações traumáticas ou demasiadamente intensas que foram por eles vivenciadas em encarnações passadas e que os marcaram, extremamente, em seu inconsciente.

— Mas, irmão Carlos, o inconsciente estudado nas escolas da psicologia não abrange conceitos como reencarnação e vidas passadas.

— Concordo com você, meu irmão, mas tudo tem o seu tempo.

— Não sei se consegui compreender tua observação, irmão Carlos.

— Realmente não é tão simples, mas tentarei explicar. Veja bem, até hoje os cientistas vivem em embates tentando circunscrever a existência da mente, da alma ao aspecto cerebral. Na realidade, a ciência ainda nem chegou, ao certo, a uma conclusão sobre a parte cerebral onde reside a consciência, imagine no que diz respeito aos complexos processos inconscientes relacionados às vidas passadas.

 

243

 

— É verdade.

— Mas chegará o tempo em que será projetada a luz nestes aspectos sobre os quais estamos conversando.

— Muito tempo?

— O tempo necessário para que este planeta seja habitado por pessoas com índole mais voltada para a prática do bem, do que o mal. Com o equilíbrio mental e emocional alicerçado na vivência moral dos preceitos preconizados pelo divino mestre Jesus.

— Nossa, irmão Carlos, mas por que seria necessário o cumprimento de tais exigências para o avanço dos estudos sobre o psiquismo e a alma humana?

— Porque em vosso mundo encontram-se registradas as consequências funestas da utilização e manipulação de princípios psíquicos na intenção de prejudicar um seu semelhante.

— Como assim?

— Você tem algum conhecimento sobre a Atlântida?

— Sim. Nada muito aprofundado, mas já li uma coisa ou outra.

— Pois saiba que não se trata de uma lenda e que o povo atlante atingiu o ápice do entendimento em vários aspectos do conhecimento humano, todavia, com o passar do tempo, o aspecto moral de muitos daqueles que conduziam a evolução do povo foi comprometido por atitudes egoísticas, arrogantes e afrontantes ao excelso amor do divino criador.

 

244

 

— Verdade?

— Com certeza! Nenhuma criatura sobre a face da terra estudou e entendeu sobre os aspectos psíquicos como este povo. Todavia, eles profanaram esta potencialidade divina e, em busca do poder, trouxeram imenso sofrimento a seus habitantes.

— Eu já tive a oportunidade de ler a respeito do que você está dizendo.

— Sim, mas muita informação encontra-se e deve permanecer desconhecida.

— Você teria algum exemplo, irmão Carlos?

— Certamente que sim, pois muito dos avanços tecnológicos obtidos por esta civilização, até hoje, ainda não foram alcançados por vocês. Por exemplo, a utilização de cristais para a geração de energia a ser utilizada de diferentes formas.

— Inacreditável!

— Aliás, estes elementos, associados a utilização de certas faculdades psíquicas, conseguiam realizar coisas que, atualmente, vocês diriam apenas tratar-se de ficção científica.

— Que fantástico, irmão Carlos!

— Sim, meu irmão, mas a utilização desequilibrada e exacerbada destes elementos comprometeu o campo eletromagnético do local onde se encontrava estabelecida esta civilização, provocando um terrível cataclismo que o submergiu.

 

245

 

— Muito triste, irmão Carlos!

— A energia dos cristais catalisava a realização de procedimentos psíquicos, mas ainda que, atualmente, a civilização humana pouquíssimo saiba utilizar-se de tais procedimentos, apenas com o pouco conhecimento que possui, muito prejuízo traz, intencionalmente, ao seu irmão de jornada.

— É verdade, irmão Carlos.

— Se com o parco entendimento que atualmente tem sobre a utilização de forças psíquicas e manipulação de energia cristalina, tanto mal a criatura humana tem praticado contra o próximo, imagine se este nível de conhecimento fosse mais amplo, ou irrestrito.

— Irmão Carlos, pelo que pude entender, desde quando se iniciou esta minha tarefa, se este conhecimento fosse maior, a energia psíquica poderia ser utilizada como uma arma para dominar e subjugar, ao invés de uma força divina para ajudar ao próximo.

— Exatamente, meu irmão, tal qual a humanidade fez com o fogo.

— Sabe, irmão Carlos, estava aqui pensando que a espiritualidade do plano maior tem razão, pois se com o uso de nosso psiquismo, atualmente em desenvolvimento, aliados a projeções vibratórias de ódio, inveja e luxúria, temos potencial enorme para prejudicar o próximo, imagine com estas descobertas!

— Vejo que realmente entendeu o meu exemplo.

— Perfeitamente, irmão Carlos, assim como também pude compreender que a melancolia que me adoecia, em certos aspectos mentais, era fruto da falta, do pesar em ter perdido, ainda tão jovem, enquanto Levi, a companhia de Lilian e Eloah.

 

246

 

— Na realidade, meu irmão, seu estado melancólico era potencializado por tal situação.

— Então a melancolia vai persisirir?

— Será atenuada em cerca de oitenta por cento.

—  Puxa, graças a Deus; mas, irmão Carlos, por que não cem por cento?

— Porque estes vinte por cento precisam ser trabalhados para que você os supere e encontre condições de evoluir espiritualmente.

— Faz parte do meu resgate carmico, não é isso, irmão Carlos?

— Exatamente. Entenda que o sucesso na evolução espiritual do espírito encarnado tem maior probabilidade de ser cumprida integralmente quanto maior for a fé em Deus e a prática da caridade durante o período reencarnatório.

— É verdade, irmão Carlos.

— Não é nada simples de ser alcançado, mas perfeitamente possível se forem seguidos os ensinamentos do divino mestre Jesus.

— Entendo.

— Vejamos no seu caso, por exemplo, o estado melancólico. Ele não é fruto somente do pesar em haver perdido precocemente o convívio diário com Lilian e Eloah, já que na encarnação enquanto Levy você não teve nenhuma culpabilidade na ocorrência do fato.

— É verdade.

 

247

 

— Sendo assim, podemos entender tal resultado como consequência do prejuízo que você causou a Lucas, antes da encarnação dele, enquanto Efraim, pois se assim não fosse, suas, então, esposa e filha desencarnariam de causas naturais.

— Puxa, então aí está a raiz deste sentimento melancólico: a culpa!

— Exatamente. Você mesmo desenvolveu um forte sentimento de culpa.

— A dor que veio da culpa e a culpa que veio do remorso.

— Mas compreenda que tudo poderia ser de outra forma, pois quando encarnado enquanto Levy, você buscou sempre estender a mão amiga a Efraim desde o primeiro momento em que se conheceram, todavia o seu amor e benevolência não foram suficientes para aplacar o desejo de revide em nosso irmão, justamente devido a questões relacionadas a encarnação anterior a esta época.

— Eu compreendo, sim, irmão Carlos.

— Aquela encarnação de vocês, no Egito, foi uma divina oportunidade de reajuste e resgate. O resultado daquela experiência deveria ser o perdão, mas Efraim não conseguiu fazê-lo.

— Eu entendo isto, irmão Carlos, assim como compreendo que a dor sentida por mim, é similar àquela que Lucas vem passando desde a época em que encarnou como Efraim.

— Isto mesmo. Atualmente vocês conseguem compreender intimamente a dor de um e do outro.

 

248

 

— É verdade.

— E foi exatamente tal compreensão genuína que possibilitou a cura de vocês.

— Graças a Deus!

— Mas entenda, meu irmão, que todas as coisas têm o seu tempo, sendo justamente aquele designado por Deus.

— Tanto é que foi em tua atual encarnação que houve a ordenação Dele para que seus mentores o preparassem a fim de que pudesse vivenciar experiências com potencial para promover a superação desta dor.

— Realmente.

— Uma superação através do entendimento e do amor, certamente, mas em especial em consequência da misericórdia divina

—  Não me entenda enquanto um filho mal-agradecido, irmão Carlos, mas por que em especial?

— Porque a tarefa que você realizou em benefício do irmão Lucas e que acabou por beneficiá-lo, deveria ocorrer cerca de quinze anos a frente.

— Então você está dizendo que eu conviveria com esta forma de melancolia por mais quinze anos?

— Exatamente.

 

249

 

— Mas o que ocorreu para que Deus decidisse por me conceder Sua misericordiosa cura antes do tempo determinado?

— O amor de mães foi o que ocorreu, pois se de um lado a mãezinha de Lucas rogava pela cura e recuperação do filho, de outro lado, a tua mãezinha tecia preces ao Criador, ao seu favor e no mesmo sentido.

— Penso que consigo entender, irmão Carlos: vários fatores conduziram a oportunidade do processo de cura para mim e para Lucas, mas o que catalisou esta ação foram as preces de nossas mães alcançando a Deus que, por sua infinita misericórdia, liberou a oportunidade de convalescença para as dores de nossas almas.

— Você compreendeu perfeitamente, meu irmão.

— Gracas a Deus, o futuro parece bem venturoso tanto para mim, quanto para Lucas!

— Verdade. Rogo a Deus que os abençoe de modo a que aproveitem plenamente a oportunidade concedida.

— É verdade, irmão Carlos. Que Deus abençoe a Lucas em seu despertar, reabilitação e na preparação para a formação de nova família.

— Tenha fé, meu irmão, pois creio que o divino criador abençoará a Lucas, mas também a você, em sua jornada.

— Por falar nisto, irmão Carlos, acredito que tanto para mim, quanto para Lucas ou qualquer espírito encarnado, seria muito mais fácil se, ao despertarmos do sono físico, tivéssemos a oportunidade de lembrar das lições aprendidas, junto aos amigos espirituais, durante o sono.

 

250

 

— Fácil talvez, mas certamente não tão proveitoso e valoroso para o resgate cármico de cada ser humano.

— Por que, irmão Carlos?

— Porque as decisões a serem tomadas por vocês, encarnados, precisam ser realizadas pelo caminho da fé em Deus, da prece e da sabedoria, não por interferência do livre arbítrio.

— Entendo.

— Analisemos, por exemplo, o caso do irmão Lucas. Ele deve procurar despertar, reabilitar-se, praticar a caridade e buscar sua evolução espiritual não pela plena consciência do que a ele foi dito por Catarina e Laura, mas sim pela boa impressão que ficará em seu inconsciente devido a este contato.

— Compreendo.

—  Esta impressão, esperançosa e motivadora, foi um presente divino para estimulá-lo a fazer o que necessita ser feito de modo a que consiga cumprir as suas provações e crescer em espírito e verdade.

— Você tem razão, irmão Carlos!

— A mesma coisa serve para você e a qualquer espírito encarnado, meu irmão.

— É verdade, irmão Carlos! Que Deus abençoe o despertar de Lucas, sua reabilitação e a continuidade de sua jornada terrena.

 

251

 

— Que assim seja, meu irmão! Se Deus quiser, ele assim o fará e receberá muitas bençãos, inclusive uma tão aguardada por ele e planejada.

— Verdade?

— Certamente, meu irmão. Após a formação de sua família, Lucas terá o retorno do espírito de Maya, como sua filha.

— Meu Deus, que bom! Como Deus é bom!

— Sempre foi, é e sempre será!

— Puxa, irmão Carlos, mas se Lucas soubesse deste fato seria um incentivo a mais para que ele haja conforme tudo aquilo a que se comprometeu durante a realização das tarefas que foram executadas.

— Mas interferiria em seu livre arbítrio, você não concorda?

— Isto é verdade.

— Fazer o bem a si próprio ou a alguém, deve ser uma atividade desinteressada de recompensa.

— Você tem razão, irmão Carlos.

— A única recompensa almejada deve ser a oportunidade de realizarmos novos atos de caridade.

— Tendo, assim, a oportunidade de aumentarmos o nosso tesouro espiritual, não é isso, irmão Carlos?

— Exatamente, meu irmão, pois como disse um nobre irmão espiritual: "a única ambição válida é a caridade”.

 

252

 

 

XXIX - MOMENTO PARA O EPÍLOGO:

 

— É, irmão Carlos, observo que você tem razão. Sei que, também no meu caso, nada do que vivenciei nas noites em que atuei como pequeno colaborador nas tarefas realizadas em prol do irmão Lucas, terá a possibilidade de ser recordado por mim.

Refleti um pouco e, após, retomei a fala, dizendo:

— Mas eu penso que o mais importante talvez seja o efeito destas ações em mim, pois se aqui, parcialmente livre do corpo físico, eu me sinto tão bem, tão mais leve, imagine, então, a leveza que sentirei ao despertar no corpo físico.

— Você, de fato, também foi beneficiado com a tarefa realizada, meu irmão, assim como lhe dissemos anteriormente. Os efeitos deste benefício serão sentidos por você exatamente da forma como imagina.

— Foi o que deduzi, irmão Carlos.

— Realmente, tudo o que você vivenciou será mantido nas partes mais profundas do teu inconsciente.

— Eu entendo.

— Todavia, se seguirdes cumprindo as tarefas a você designadas, então chegará a hora que a você tudo será permitido lembrar.

— Mas como saberei se estarei cumprindo tais tarefas?

 

253

 

— Tendo Jesus como parâmetro para todas as suas ações, ou seja, amando a Deus, acima de todas as coisas e praticando a caridade.

— Mas, irmão Carlos, se eu conseguir cumprir tais tarefas, em quanto tempo terei condições de recordar esta experiência?

— Continue tendo fé em Deus e humildade, meu irmão, mas seja mais assertivo em tuas colocações: diga quando ao invés de se eu conseguir.

— Você tem razão, irmão Carlos.

— As palavras são poderosas, meu irmão. Têm o poder de concriar.

— Eu entendo, mas corrigindo então a minha fala eu pergunto: em quanto tempo recordarei, quando eu conseguir cumprir tais tarefas?

— Entre vinte e cinco e trinta anos.

— Nossa, tanto tempo assim? Como isto poderia beneficiar-me?

— O teu benefício você já recebeu na paz da consciência e na esperança venturosa do porvir, que se refletem na leveza que você relatou estar sentindo.

— É verdade, irmão Carlos, mas qual seria o sentido desta recordação?

— Relatar e compartilhar.

— Relatar? Como assim? Eu darei palestras?

— Não necessariamente. Falo de escrita.

 

254

 

— Eu escreverei o que vivenciamos: é isto?

— Exatamente.

— Mas minha memória nem é tão boa a este ponto.

— Não possuo autorização para estender-me sobre o assunto, mas não tenha dúvidas de que tua consciência e tuas mãos serão guiadas por nós, em parceria intuitiva, programada e coordenada.

— Entendo.

— Mas não te preocupes com o porvir, pois ele pertence a Deus. Ocupe-se de seguir, vivenciar e praticar os ensinamentos do divino mestre Jesus.

— Você tem razão, irmão Carlos, pois somente assim poderei vivenciar, experienciar o tempo na força do amor.

— Vejo que aprendeu bem sobre a mensagem principal em relação a todas as tarefas às quais participou: viver o tempo para a caridade é a chave para que a humanidade transmute a vivência do amor na força do tempo para experienciar a temporalidade na potência do amor e, assim, ter condições de viver momentos de uma vida plena e feliz.

— É verdade, irmão Carlos.

— Meu irmão, é chegada a hora de finalizarmos os trabalhos desta noite.

— Irmão Carlos, sou imensamente grato por toda a oportunidade, todavia, antes do término da tarefa, haveria a possibilidade de abraçá-lo?

— Decerto, que sim, meu irmão!

 

255

 

Assim, o abracei repleto da mais profunda gratidão. Todo o meu ser pulsava admiração e afeto, talvez como jamais tenha sentido em toda a minha vida e só quis compartilha-los em um abraço, todavia o que eu sentia em nada se comparava a intensidade e frequência dos bons sentimentos que ele vibrava por mim. Lágrimas espontâneas brotavam de meus olhos e eu só pedia a Deus que pudesse carregar um pouquinho daquela paz comigo pelo resto de minha vida. Somente após algum tempo consegui dizer a ele:

— Irmão Carlos, ainda que meu cérebro humano apague, por certo tempo, a experiência que tive, meu coração jamais o esquecerá, nem as experiências vividas. Muito obrigado!

— Não há o que agradecer a mim, meu irmão, só a Deus, pois só Ele é digno de toda a honra.

Ele pensou brevemente e concluiu:

— Mas é fato que sou muito grato a Deus pela oportunidade de haver contribuído um pouquinho em seu processo de aprendizado sobre as coisas do espírito.

— Eu também, mas irmão Carlos, o que devo fazer para ser encerrada a atividade desta noite?

— Sentar- se nesta cadeira e permanecer em oração.

Pensei um pouco e pedi a ele:

—  Haveria a possibilidade de refletir um pouco sobre tudo que vivenciei, antes de sentar-me?

— Certamente, meu irmão. Eu estarei aqui o aguardando, só não se esqueça de que a disciplina antecede a espontaneidade.

— Certo, irmão Carlos, eu não me esquecerei.

 

256

 

Assim, passei a caminhar pela orla daquela praia formidável, antes da realização dos procedimentos finais que me preparariam para despertar no corpo físico, afinal eu necessitava ordenar meus pensamentos, sentimentos e revisitar aprendizados para então voltar ao invólucro carnal.

Em pensamento, mas com todo o meu sentimento, fiz uma prece agradecendo primeiramente a Deus por nunca haver me abandonado em todos os momentos de minha vida, por nunca duvidar de mim, pelo incentivo e proteção para que eu seja, a cada dia, um aprendiz e praticante dos ensinamentos do divino mestre Jesus.

Agradeci, igualmente, a falange de Maria que, através de uma de suas integrantes, em especial no início da tarefa, tanta paz, harmonia e amor trouxe ao meu espírito, fomentando reflexão e mudança de postura no meu proceder com as coisas do espírito.

Agradeci também ao Exu da Praia e a toda a sua guarnição que prepararam vibratoriamente aquele ponto de forças da natureza, a fim de que tivéssemos toda segurança, proteção e amparo para realizar o que nos foi designado pela misericórdia divina.

Agradeci, ainda, ao companheiro Erasmo. Um amigo espiritual que milita na religião de umbanda junto a falange dos marinheiros, por toda a paciência e generosidade para comigo no período preparatório para que eu pudesse participar de toda a tarefa.

Somente após, foi que me pus a observar a beleza irretocável, sublime e divina daquele ponto de forças da natureza.

 

257

 

A lua fulgurava cheia, enorme, dourada e belíssima em um firmamento completamente desanuviado e repleto de brilhantes miríades estelares.
Ventava razoavelmente naquele momento e de uma forma que trazia uma imensa paz.

Já o rebentar das ondas na areia era um natural e dadivoso convite a meditação e, assim, acabei por refletir:

É necessário esperar o advento da primavera para que se possa contemplar a beleza e o perfume das flores. Como a periodicidade de sua ocorrência é anual, então é certo aguardar um ano para que dela possamos usufruir.

É preciso aguardar o amanhecer para que se possa ser beneficiado com o calor terapêutico e benfazejo no raiar do sol. Como tal fenômeno acontece diariamente, assim é certo esperarmos o dia seguinte para podermos aproveitar sua presença.

Da mesma forma, é necessário plantar boas sementes para que se possa ter esperança na colheita de bons frutos.

Ocorre que o homem nada precisa fazer para o brotar das flores, pois elas certamente surgirão na primavera, a cada ano.

Da mesma forma, a criatura humana coisa alguma necessita realizar para o raiar do sol, pois é certo que a rotação planetária fará com que ele aconteça diariamente.

Mas se desejar a coleta de bons frutos, ele deverá fazer bem mais que esperar o seu aparecimento, pois para que a semente possa passar por todas as etapas de seu desenvolvimento e gerar frutos saudáveis, torna-se importante a sua parceria. A natureza sabe o que e como fazer, mas necessita da colaboração humana para que o faça.

 

258

 

De igual maneira, penso ser importante entendermos que experienciar uma vida plena em momentos de felicidade não acontecerá espontaneamente, tal qual os fenômenos naturais da primavera ou da alvorada.

Acredito que isto ocorra pelo fato da felicidade não ser um fenômeno que floresça espontaneamente de uma árvore ou com o surgimento dos primeiros raios de sol.

Na verdade, comparativamente, considero ser ela mais como preciosa semente que necessita de nós para germinar, desenvolver-se, florar e frutificar.

Após tudo o que a misericórdia divina permitiu-me vivenciar enquanto oportuno colaborador nas tarefas realizadas em benefício do irmão Lucas, eu consegui entender que cada atitude nossa para com o próximo é similar ao plantio de sementes na lavoura do tempo.

No momento adequado, cada uma delas germinará até que, como resultado, possamos colher dos seus frutos.

A espécie e qualidade do fruto será diretamente proporcional às das sementes que forem plantadas.

Existem pessoas que preferem frutos agridoces como os morangos, outras têm predileção por frutos adocicados tais quais as mangas.
Uma vez ocorrido o plantio da semente de uma espécie de fruto, será exatamente este tipo de fruto que poderá ser coletado da árvore, quando maduro.

Cada ser humano tem o livre arbítrio para cultivar a semente que melhor lhe aprouver, mas colherá, obrigatoriamente, o fruto congruente ao plantio.
A grande diferença está em entender que passar uma vida plantando as sementes da paz, do amor, da fraternidade e da caridade é tarefa exequível apenas para aqueles que buscam desenvolver a fé e a esperança.

Fé e esperança na transformação de si mesmos e do mundo em pessoas e estrutura cada vez mais perfectíveis.

 

259

 

O solo dos nossos corações encontra-se afetado pelas dores de existir e estar no mundo, mas trabalhar o tempo na força do amor é confiar que enquanto plantamos o bem no mundo, também o estaremos cultivando em nossos próprios corações.

É confiar que Deus, em Seu tempo, nos permitirá e ao mundo coletar os frutos de nossas ações.

É ter a humildade em entender que o plantio da semente é humano, mas o seu germinar é divino.

Eis a magia e o encanto de trabalharmos o nosso tempo na força do amor: libertar-se da pressa e da afobação enquanto evoluímos em calma, paciência e humildade.

Sim, sim, sim: trabalharmos o nosso tempo na força do amor, faz com que Deus e seus mensageiros de luz nos libertem das armadilhas do tempo.
Já para aqueles que utilizam o seu tempo na força dos princípios contrários ao amor, acabam por semear a dor, o ódio e o caos no campo da dimensão temporal.

Eis que quando vier a hora da colheita e, em tempo oportuno, o arrependimento, este incauto cultivador de perniciosas sementes sentirá como se o tempo trabalhasse contra si.

É uma sensação proveniente da urgência que sente em compensar o mal outrora praticado.

Tal pessoa aprendeu a importância de cultivar o amor para ceifar a dor,mas está circunscrito, como todos estamos, a temporalidade para que isto seja possível.

 

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Enquanto o momento do resgate não chega, ela deverá aprender a superar as armadilhas do tempo e que muito envolvem a pressa, a impaciência e o atropelo.

Tais são as circunstâncias de se trabalhar o amor circunscrito à força da temporalidade.

Enquanto tecia mais algumas considerações sobre tudo o que vivenciei, voltei para perto do irmão Carlos e da cadeira que me aguardava.
Assim, olhei uma vez mais para o firmamento e ponderei que, na verdade, se reconhecermos, com humildade e honestidade, que todos estamos reencarnados para o reajuste de débitos cármicos, então só nos restará entender que também nos encontramos condicionados a vivenciar o amor pela força da dimensão temporal.

Todavia, se buscarmos viver uma existência nos esforçando, a cada dia, para amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos, por meio da caridade, então acabaremos por também nos tornar usuários, beneficiários e aprendizes da potência temporal na dimensão do amor.

Porque o bem que praticamos ao outro, torna-se o bem que fazemos a nos mesmos. Da mesma forma, a felicidade que proporcionamos ao próximo é aquela que tornará a nós, assim como o amor a alguém, nos tornará meritórios deste mesmo amor.

Viver nesta ambiência de amor e caridade, traz significativas experiências de felicidade e torna relativa, para nós, a influência da forca do tempo, pois quando se vive para amar, o tempo parece correr ao nosso favor.

Em suma, todos nós reencarnamos para vivenciar o amor na força do tempo e, assim, debitar as nossas faltas pretéritas, mas quando escolhemos, com Cristo e os espíritos de luz, usar este tempo para trilhar a estrada do amor a Deus e ao próximo, então os momentos de amorosidade e felicidade nos capacitarão a sermos aprendizes da utilização do tempo na força do amor, criando condições para que tal potência prevaleça em nossas vidas, em detrimento do tempo.

 

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Assim, como ponderei antes, eu entendo perfeitamente que, como espírito encarnado, tenho pendências cármicas a remir, todavia tenho o propósito de resgatá-las, sejam quais forem, utilizando o meu tempo para o amor praticar, pois tão importante quanto quitar o mal pretérito é utilizar o tempo que tenho, agora, para o grão do amor semear, afinal é exatamente tal atitude que me possibilitará encontrar, nesta e em futuras reencarnações, os prazerosos, formidáveis e ditosos momentos de felicidade.

Tais momentos não serão raros desde que haja o propósito, a resiliência e a persistência de nos mantermos no caminho que leva a prática da caridade, pois ser feliz envolve todo um planejamento.
Isto por que, como disse antes, compreendo não ser, a felicidade, um fruto a ser coletado espontaneamente junto a uma árvore.

Talvez seja mais como inestimável grão que necessita ser completamente cuidado com os adubos da paciência, sabedoria, humildade e compreensão, de modo a que frutifique.

É justamente por tal fato que não consigo visualizar a possibilidade de felicidade plena sem que haja planejamento.

Porque a felicidade não é simplesmente aguardar que a vida nos traga somente instantes de contentamento, já que não é prazeroso pagar dívidas, mas sim satisfatório, na medida que traz paz a consciência.
Contudo, ao coletarmos os frutos da árvore da felicidade, acabamos por entender que estar junto a este sentimento não significa, necessariamente, que tudo em nossa vida acontecerá em acordo com nosso desejo e vontade, mas sim que estaremos em um estado de consciência de satisfação tão genuína e plena que nos sentiremos felizes, independente dos momentos pelos quais estivermos passando, inclusive ao resgatarmos carmas.

 

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Isto requer a compreensão de que a genuína felicidade não é um estado de espírito, no sentido de que não está condicionada pelas forças das circunstâncias. Ela é mais como um tesouro do espírito, um atributo com que Deus facultou a cada criatura para que por meio do amor a Ele e pela prática da caridade, seja multiplicado, melhorando a qualidade de vida, mas especialmente proporcionando a evolução do espírito imortal.
Assim, buscar ser feliz é optar por uma vida de planejamento, plantio e espera em Deus, todavia, ao ser iniciada a coleta dos frutos, estará assegurada a permanência destes conosco, como aquisição espiritual.

Já a ilusória felicidade, circunstancial, brilhante, mas ligeira tal qual estrela-cadente, é uma coisa de momento.

Respirei profundamente, pois senti que já se aproximava o momento do meu despertar no invólucro carnal, então sentei-me na cadeira e olhei para o mar a frente agradecendo a Deus por toda a oportunidade e, por fim, olhei para o irmão Carlos como quem diz: “estou pronto!”.

Então fiz uma derradeira prece de gratidão e obtive a oportunidade divina na elaboração de uma última reflexão.

Por meio dela conclui que todo ser humano tem o seu livre arbítrio.
Assim, se você desejar, tem todo o direito de pensar de forma diversa a mim, mas não esqueça que na vida é muito importante sentir que o tempo está a seu favor e ser verdadeiramente feliz, mas que isto só é realmente possível utilizando-o para a prática do amor.

Então roguemos a Deus por mim, por ti e por todos a fim de que possamos utilizá-lo somente para amar, no entendimento de que momentos são divinas oportunidades de plantarmos os grãos do amor no coração da humanidade, pois do contrário, entre múltiplas possibilidades, nos restará, preferencialmente,experenciar...

… O AMOR NA FORÇA DO TEMPO.

 

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POSFÁCIO:

 

É importante explicar que após o despertar, como esclarecera o irmão Carlos durante o desdobramento, eu não consegui recordar sobre fato algum relacionado a tal experiência.

Cerca de vinte anos após este último desdobramento, eu sonhei estar sendo guiado por um espírito que hoje sei tratar-se do irmão Carlos.

Ele levava-me até uma praia que, atualmente, compreendo ser a mesma que é tão importante para Lucas.

Não me recordo de nada do que foi conversado comigo ou se, de fato, houve alguma conversação. A única coisa que tenho nítida em minha memória foi a cena observada, pois havia um casal que caminhava pela orla e segurava as mãos de uma linda garotinha, com aproximadamente quatro anos, que andava entre eles.

Eu entendi que estas três pessoas estavam encarnadas por que todas possuíam um cordão prateado junto a si, todavia, logo atrás da família e também de mãos dadas, seguiam duas moças radiantes em contentamento, sem a presença de tal cordão e que somente agora compreendo tratar-se de Catarina e Laura.

Todos andavam de encontro onde estávamos eu e o irmão Carlos.

Segurei a emoção o quanto pude, seguindo a orientação do irmão Carlos, mas quando todos passaram perto de nós, aconteceu uma explosão de júbilo tão intensa e, na época inexplicável, que eu conseguia apenas chorar intensamente. E foi assim, vertendo lágrimas em profusão, que despertei em minha cama sem conseguir entender a motivação para a manifestação de tamanha emoção por avistar pessoas “desconhecidas” para mim.

 

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Apenas hoje consigo compreender que este episódio não foi um sonho, mas uma dádiva em poder, junto ao irmão Carlos, entender que Lucas se recuperara do coma, de suas possíveis consequências, que havia constituído uma nova família; além disto pude observar que Maya, realmente, havia reencarnado e também que Catarina e Laura velavam por aquela família como dois anjos bons.

Foi uma experiência, na época, incompreensível para mim. Lembro que na ocasião manifestei intensa gratidão a Deus, mas não conseguia saber precisamente por que agradecia. Somente na atualidade é que consigo entender significativamente o tamanho do amor de Deus em haver me oportunizado tal experiência.

Acredito fortemente que tudo o que nos acontece na vida é derivado de duas possíveis causas: a consequência de nossas ações e a misericórdia divina, assim reconhecendo o quão imperfeito sou, apenas consigo atribuir a vivenciação de tal experiência em consequência da compaixão de nosso divino criador que, por intermédio do mestre Jesus e dos divinos espíritos de luz, consegue dilatar imensamente a aplicabilidade da infinitude de Seu amor na vida de seus humanos filhos.

Reitero, então, que ainda que possam ser incríveis ou fantásticas, a única palavra que consigo expressar em consequência de tudo o que pude vivenciar, em consequência desta misericórdia, é vibrada em um intenso sentimento denominado unicamente por: gratidão!!!

 

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