Edu estava ansioso em participar de uma gira de esquerda.
Seria sua primeira vez e ele estava aflito em pedir auxílio para suas questões.
Foi mostrada a ele a lista de quais entidades prestariam
consultas naquela gira. Edu escolheu o nome que para ele mostrava mais força:
Exu Tiriri.
Após certo tempo seu nome foi chamado e ele foi conversar
com a entidade.
- Boa noite, cabra!
- Boa noite Sr. Exu Tiriri!!! Escolhi consultar com o
senhor, por que senti muita força em seu nome.
- Você teve a sensação errada cabra!!! Exu é tudo igual, só
muda a forma de atuação!
- É que seu nome me pareceu forte. Parece que tem poder.
- No nome de Deus é que reside todo poder!
- Estou com a sensação que o senhor não gosta de elogios!
- Nem de bajulação!
- Mas não o estou bajulando!
- E nem eu disse que estava! Apenas lhe esclareci em sua
própria dedução!
- E por que você não gosta de elogio e nem de bajulação?
- Por que nenhum elogio ou bajulação é capaz de fazer com
que alguém receba aquilo que não tenha merecimento para receber. Ou dar aquilo
do que não pode oferecer.
- Não entendi!!!
- Não se preocupe, cabra! Faça seu pedido!
- Gostaria de subir de cargo no meu local de trabalho!
- Vejo que você gostaria de outra coisa.
- Outra coisa? E o que seria?
- Na sua linguagem?: “Calar a boca de seu pai e de sua irmã!”
Edu engoliu seco, mas disse:
- É isto mesmo o que eu quero. Eles precisam aprender a não
me menosprezar! Fica ele adulando a ela e ela se achando melhor do que eu.
- Pelo que posso perceber você tem uma maneira distorcida de
enxergar as coisas.
- Distorcida?
- É cabra! O que seu pai diz é que as atitudes de sua irmã
são mais responsáveis que as suas.
- Mas não sou obrigado a ver as coisas como ele! Nós temos
profissões diferentes, mas ela é sub-gerente tanto quanto eu! Só por que ela
trabalha de carteira assinada e eu não o meu “velho” vive enchendo minha
paciência. Só porque ela tem curso superior e eu terminei no ensino médio, ele
também me aporrinha. Que saco!!!
- É cabra, somente quando você descobrir sua real força
interior conseguirá sentir o amor a sua volta. Quando isto acontecer você vai
querer sentar em minha frente só para dizer uma palavra: Obrigado! Mesmo que
seja absolutamente desnecessário, uma vez que só o Divino criador é que é digno
de toda gratidão!
- Já vi que não vou receber o que vim pedir, então, se você
puder me dar licença, gostaria de ir embora.
- É o contrário, cabra! Você, por ter merecimento, receberá
o que veio buscar!
- Puxa, que bom! Obrigado por me ajudar!
- Eu não vou lhe ajudar e nem prejudicar, pois sou Exu! Só
vou executar aquilo que a Justiça divina me pede e ponto! Espero que faça bom
proveito do que lhe disse, pois só assim poderá usufruir com sabedoria de tudo
aquilo que receberá.
- Obrigado!
- Não me agradeça ainda! Tome, conserve isto no porta-luvas
do seu carro!
- o que é isto?
- Uma semente conhecida como olho de boi. É para sua
proteção!
- Muito obrigado!
Edu foi para a casa. O tempo passou e ele recebeu a promoção
que esperava: tornara-se gerente. Passou a receber uma maior renumeração.
Passou a andar com vários amigos e, como gostava de dizer, arranjou uma “deusa”
para namorar. Passou a ingerir bebida alcoólica em muita quantidade e com mais
freqüência que o habitual.
O tempo passou e em uma madrugada quando dirigia de volta
para a casa, após passar a noite em uma boate, um carro surgiu a sua frente em
uma curva bem fechada. Ele tentou desviar-se, mas como seguia em alta
velocidade, um leve toque foi suficiente para jogá-lo ribanceira abaixo. O
carro capotou diversas vezes e ninguém poderia dizer que, naquele acidente,
alguém poderia haver sobrevivido.
Mas foi o que aconteceu com o Edu, contudo não sem deixar
seqüelas, pois ele perdera o movimento das pernas e só conseguiria retomá-lo,
talvez, com muita fisioterapia.
Foi demitido de seu emprego sem benefícios a que teria
direito se tivesse a carteira assinada.
Ficaria sem ter como arcar com despesas para sua recuperação
se não fosse o apoio financeiro do pai e da irmã, sendo esta, inclusive que
realizou o tratamento fisioterápico, uma vez que tinha formação para tanto.
Seu dinheiro acabou, seus amigos sumiram e sua “deusa”
desaparecera.
Edu nunca imaginara que poderia suportar tamanha falta de
consideração, mas não se deixou abater. Com o apoio do pai e da irmã, e com o
passar dos meses, Edu passou a recuperar lentamente o movimento dos membros
inferiores.
Jamais pensou que pudesse receber tanto apoio e afeto de sua
família. Refletiu bastante em sua vida e implorou o perdão a eles, que não
tiveram nenhuma dificuldade em concedê-lo.
Mais alguns meses correram e Edu já conseguia andar quase
que “ normalmente”. Resolveu, assim, buscar sua participação em nova gira de
esquerda.
Voltou ao Terreiro e escolheu consultar-se novamente com Exu
Tiriri.
Aguardou a sua vez e foi chamado para a consulta.
Diante do Exu ele recordou-se de tudo que vivera até ali e
seu olhar mareou. Foi com o brilho de lágrimas em seus olhos que Edu disse a
entidade:
- Não sei como, mas eu sei que você sabe tudo que aconteceu
comigo nos últimos meses. Quando cheguei no hospital, após haver sido retirado
das ferragens, os médicos disseram que tiveram muita dificuldade para tirar
alguma coisa que eu segurava com toda a força em meu punho esquerdo: era a
semente de olho de boi! Nem sei como ela foi parar comigo, por que ela estava
dentro do porta-luvas.
- Hoje entendo o que você me disse quando estivemos juntos
da última vez. Sei que meu pai me ama e que minha irmã me tem amor, mas talvez
o mais importante de tudo isto é ter a consciência que hoje em dia eu só
consigo sentir isto por parte deles, por haver aprendido a amar a mim mesmo.
- Foi meu desamor, meu sentimento de inferioridade, que
quase tirou a minha vida.
Edu já não conseguia mais impedir que as lágrimas gotejassem
de seus olhos e nem que sua emoção lhe embargasse a voz, na realidade seu
pranto já era incontido, mas reunindo todo fôlego que ainda lhe restava, foi
que ele disse a entidade:
- Sei que da outra vez o senhor disse que não era
necessário, mas eu só vim aqui esta noite para dizer uma coisa:
- Muito obrigado!!!!
Um comentário:
Como duvidar do improvável se o.que e provavel está diante dos nossos olhos....
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