quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Pano branco - o pano da fé ( parte 2 )

 

 − Sou eu mesmo que estou aqui filho! Não incorporado, mas irradiando minha energia para que você possa cumprir a tarefa que lhe foi designada pelo preto-velho que lhe assiste nas incorporações
− Por isto estranhei meu pavor de cobras haver sumido, na verdade eu dei foi graças a Deus, pois o que estranhei mesmo foi todo o amor que passei a sentir por elas, como se fossem minhas irmãs, minha família!
− O que você sentiu foi um pouquinho do amor que este caboclo tem por toda a criação e criatura Divina: umas são altas, outras baixinhas, umas magras e peludas, outras escamosas e despenadas, mas todas filhas do mesmo Criador.
− O amor que o senhor tem é tanto que me comove imensamente!
− Chorar é compreensível filho, mas o esperado por nós é que procure guardar dentro de si todo este amor de Deus para que jamais volte a temer a nenhum dos seus irmãos ou irmãs: as divinas criaturas.
A poucos metros do local indicado Gonçalo ainda pôde escutar o Caboclo dizendo ao preto-velho:
− Toma meu mano, este caboclo agradece pela oportunidade do trabalho, mas agora o cavalinho é todo seu. 
Neste exato instante Gonçalo percebeu o afastamento do caboclo e ainda tentou argumentar com o preto-velho pedindo que ele permitisse a presença do caboclo uma vez que, no seu ponto de vista, a mata é lugar de caboclo. 
O preto-velho respondeu ao caboclo, mas permitiu que Gonçalo escutasse:
− Está vendo Mano? No entender de cavalinho a mata é lugar só de caboclo! E o lugar de preto-velho? Será que ainda é nas senzalas?
Ambos sorriram gostosamente e Gonçalo envergonhou-se pela estreiteza de seu raciocínio relativo às coisas espirituais.
O preto-velho retomou o diálogo:
− Não se envergonhe das brincadeiras deste velho não meu filho, é que Deus designou a mim para coordenar este trabalho com você.
− Tudo bem vovô, eu é que peço desculpas!
Chegando ao local indicado Gonçalo espantou-se por ele estar completamente vazio.
O preto-velho determinou que ele subisse em cima de um lajedo as margens do rio e que lá depositasse seu pano de cabeceira. Foi-lhe ordenado que fizesse certas preces enquanto entoasse pontos de vibração nas linhas de Oxósse, Xangô e Oxum.
Gonçalo envolveu-se nestas tarefas do plano físico enquanto no plano espiritual aconteciam outros fenômenos: três espíritos de pessoas que se afogaram naquelas águas e que se encontravam mentalmente pressas àquele local foram alcançados por espíritos socorristas e levadas para próximo de Gonçalo. Neste exato momento, enquanto Gonçalo continuava a entoar os pontos, o preto-velho pediu-lhe que mentalizasse um portal de acesso a um corredor formado por todas as cores do arco-íris que desembocasse no amor de Deus. Mesmo sem entender o por que Gonçalo assim o fez, e isto sem ter a menor noção de que seriam estes três espíritos socorridos que atravessariam tal corredor.
No exato instante em que a travessia estava quase no fim Gonçalo irrompeu-se num pranto incontido, sentido e, para ele inexplicável. Gonçalo naquele exato instante bebia, sem perceber, nas águas do amor mais profundo que existe, ou seja , o amor de Deus e tudo por que aqueles três espíritos lhe endereçaram sentimentos de gratidão como se entendessem que ele colaborou para o seu resgate.  
Foi-lhe determinado que fechasse o portal e que dobrasse o pano e o segurasse pelas duas mãos.
Gonçalo o fez e, então, o preto-velho disse-lhe:
 − Agora é a hora de voltar para sua casa.  
− Sim senhor.
Gonçalo caminhou até o início da subida da ladeira quando cessou o passo. Olhou para o firmamento e viu que a lua e as estrelas fulguravam com todo o seu esplendor; olhou para um lado e para o outro, e foi quando o preto-velho tornou a dizer:
− Vamos filho!
− Sabe o que é vovô?
− Diga filho!
− Sem nenhum desrespeito ao senhor, mas tem como o senhor solicitar que o caboclo “encoste” em mim outra vez?
− Por que filho?
− Por que quando ele irradiava em mim o medo de cobras sumiu completamente, mas agora  está tudo como antes.
− Filho, nós o trouxemos em segurança até aqui e vamos levá-lo de volta da mesma forma. Nada de ruim acontecerá com você, nem formiga irá lhe morder, muito menos cobra.
− Sim senhor, e este pano de cabeceira eu posso guardar?
− Por que filho se será ele, no plano físico, que o livrará de qualquer mal!
− Este paninho de cabeceira?
− Ele mesmo filho! Caminhe com ele aberto e seguro pelas pontas dos dedos de sua mão até atingir a região urbana e somente neste momento guarde-o com você.
− Mas o que este pano de cabeceira tem que o fará levar-me em segurança até o lar?
− Não é o que este pano tem, é o que este pano é!
−E o que este pano é?
−Aquilo que sempre foi!
− ???
− O seu pano é Umbanda! Você é Umbanda! Esta mata é Umbanda tanto quanto os seres que nela habitam! No trajeto de volta ao lar procure recordar-se pelo mental e sentir novamente com o coração todo o amor que sentia pela natureza e pelos animais quando estava irradiado pelo caboclo.
−Sim senhor!
− Entenda que enquanto você estiver andando por esta mata com este pano esticado, todas as plantas, rochas, minerais e animais o verão enquanto um igual, pois verão em ti Umbanda: Você, Deus, a natureza e os seres como uma só banda – Umbanda.  
Gonçalo assim o fez e retornou seguro ao lar.
Na manhã do dia seguinte ao acordar, e por ser sujeito com a fé um tanto quanto enfraquecida, ele passou a desenvolver os seguintes pensamentos: “ Já fui àquela cachoeira dezenas de vezes e nunca, ao menos, vi uma cobra!”, “Será que não fantasiei tudo ontem a noite e que, de fato, não existe cobra nenhuma por lá e que por isto eu nada vi?”, “ Bom, seja como for, pelo menos meu pano de cabeceira foi banhado na cachoeira!”.
No período vespertino deste mesmo dia, Gonçalo foi até a cachoeira mais uma vez onde sua esposa e sua cunhada o aguardavam.
Quando estava na mata que dá acesso ao local ele viu duas cobras negras e de tamanho mediano ao longo da estrada. Estavam eqüidistantes por poucos centímetros. A primeira correu para dentro do mato, mas a segunda ficou imóvel no local como se estivesse morta. Gonçalo achou curioso a imobilidade do réptil e intencionou aproximar-se quando foi advertido mentalmente pelo amigo espiritual da seguinte maneira:
− Afaste-se!
− Mas por que? Ela aparenta estar morta!
− É só aparência e o bote dela é um de maiores alcance entre as cobras.
− Então ela é venenosa?
Gonçalo não obteve resposta e, usando de seu livre-arbítrio, decidiu se afastar e ir para a cachoeira. Entretanto teve certeza que eram apenas duas cobrinhas inofensivas tomando banho de sol.
Ao chegar a seu destino Gonçalo contou para sua cunhada sobre as características da cobra avistada, esta arregalou os olhos de pavor, mas tentou disfarçar o semblante ao dizer que era uma das cobras mais venenosas que existe naquela região: uma jararacuçu. Disse também que sempre que ele avistasse uma cobra com estas características, que era para afastar-se o mais rápido possível, pois o bote dela era um dos mais altos que existe............. ( continua )


Mensagem recebida por Pedro Rangel

2 comentários:

Hugo Gabriel M. de Carvalho disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Hugo Gabriel M. de Carvalho disse...

Ihhhhh Pedro, eu passei essa história para o pessoal do meu Centro, pessoal tá nervoso para saber o final - hehehehe. Continua postando, as histórias são ótimas!

Um forte abraço, Hugo.