Oração como instrumento de cura – 2º parte
Mensagem de um preto-velho canalizada por Pedro Rangel
Marineusa escutou a cambone chamar o seu nome e levantou-se feliz do banco da assistência daquele terreiro tomando a direção onde o Pai-velho prestava suas consultas.
Fazia uma semana que acontecera a última consulta e ela estava ansiosa para contar-lhe as novidades.
Sentou-se frente ao preto-velho e por ele foi saudada da seguinte maneira:
— Salve Zambi-Nosso-Pai, minha filha!
— Salve vovô!
— E como é que vai suncê?
— Eu tomei o chá e o sumo que o senhor me prescreveu.
— Que bom minha filha! E as orações suncê têm feito?
— Com certeza vovô! Penso que, de alguma forma, as orações amenizaram um pouco a minha dor no estômago por que antes doía até quando eu respirava mais profundamente e agora já estou conseguindo respirar com maior naturalidade.
— Que bom não é minha filha?
— É sim vovô! Eu estou rezando para Deus com muito mais sinceridade depois da última conversa que tive com o senhor.
— Sinceridade zifia?
— É vovô, por que pouco adianta fazer preces a Deus querendo nos enganar a nós mesmos a respeito de quem verdadeiramente somos. Então eu passei a fazer assim em minhas orações: coloco-me diante do Pai imperfeita como sou, mas com a atitude de quem busca a perfeição.
— Foi mesmo zifia?
— Foi vovô! Daí eu me entregava a Deus em minhas preces: orava como se Ele estivesse em minha frente e entregava-O todo o meu sofrer.
— Muito formoso o que suncê fez zifia, mas como nóis conversou na gira passada: cada ser humano é enfermeiro no tratamento de sua própria dor.
— Como assim vovô?
— Zambi é grande médico filha e prescreve medicamentos para os seus filhos mediante o merecimento de cada um, mas acontece que são suncês que devem cuidar de tomar o medicamento prescrito na posologia divina se quiserem encontrar lenitivo para os seus sofrimentos.
— Acho que entendi em parte o que o senhor disse.
— Zifia, como vai a sua irmã?
— Minha irmã? O senhor me desculpe, mas o que ela tem a ver com esta minha enigmática dor estomacal?
— Esta semana suncê fez preces e o Criador a dotou de forças para tomar certa atitude, não foi assim minha filha?
— Isto até que foi, mas o que é que minha dor física tem a ver com conflitos emocionais relacionados à minha irmã?
— A tua dor não está no plano físico filha, ela apenas é sentida neste referido plano.
— Não?
— Não, se não os exames médicos feitos por você acusariam alguma disfunção gástrica, não é verdade?
— Meu Deus!!! É verdade!!!!
A entidade sorriu discretamente para sua consulente e esta continuou:
— Mas então o que eu devo fazer para melhorar vovô?
— Parar de fazer o que suncê tem feito há anos.
— Mas o que é vovô?
— Uma má alimentação.
— Má alimentação? Mas minha alimentação é nutritivamente balanceada, eu pratico atividades físicas e o senhor também me disse que o meu problema não está no plano físico, então eu não consigo entender.
— Má alimentação emocional, minha filha!
— Emocional?
— Zifia este Nêgo Véio consegue ver que já faz quase cinco anos que suncê cuida de sua mãe acamada, não é assim?
— Sim ,mas minha mãe não me provoca problemas emocionais e...
— ... Zifia?
— Sim vovô?
— Este Nêgo pode continuar a nossa prosa?
— Pode sim vovô, desculpe-me!
— Não há o que desculpar zifia, pois este Nêgo sabe do amor incondicional que suncê sente por sua mãe. Este Nêgo está falando é da sua irmã!
— A Marineide?
— Sim filha, sua aura chega a mudar de cor quando suncê fala nela.
Marineusa desandou a chorar na frente da entidade que, em respeito a este sincero pranto, baixou a cabeça e começou a estalar os dedos em torno da vela acesa firmada em seu ponto enquanto aguardava a serenidade chegar novamente no coração de sua consulente.
Não levou muito tempo, pois alguns minutos após a entidade disse a Marineusa:
— Este Nêgo precisa ser sincero com suncê minha filha: sua irmã ainda é um espírito muito arraigado na materialidade.
— Infelizmente é verdade vovô!
— Há quanto tempo suncê vem engolindo os desaforos que ela lhe oferta como se fosse um apetitoso prato de um jantar faustoso?
— Ela casou-se por dinheiro e vive na mansão dela...
— ...Suncê desculpe, mas Nêgo não está falando disso, pois estas foram opções que ela desejou seguir na atual existência, não cabe a este Nêgo e nem a suncê julgá-la.
— Entendo.
— Nêgo Véio está falando é do fato desta sua irmã permitir que suncê cuide sozinha da sua mãe sem lhe ofertar nenhum tipo de auxilio: emocional ou material.
— É verdade vovô!
— Este “prato” ofertado por sua irmã é saboroso?
— Não vovô: é indigesto!
— Pois então pare de se alimentar dele.
— Mas como é que eu vou pedir apoio a ela se ela só costuma pensar nela mesma?
— Suncê não sabe, mas Zambi é onisciente, não é minha filha?
— Meu Deus, é verdade!!!
— Onde a mão do homem não alcança só Deus pode tocar!
— Vovô, então quer dizer que agindo deste jeito que o senhor me fala esta minha dor acabará?
— Só Zambi é onisciente, não é minha filha?
— É verdade!
— Suncê, esta semana todinha que fez preces, rogou ao Divino Criador que lhe fornecesse o medicamento que sanasse as suas dores, não foi?
— Foi sim, vovô!
— E, após realizar estas preces, sentia uma vontade muito forte de resolver este problema com sua irmã; isto também não é verdade?
— Também é, sim senhor!
— Só que, por estar tão concentrada em sua dor gástrica, suncê não pôde relacionar este desejo de resolver o problema familiar como uma resposta de Deus a sua oração: Deus é o médico dos médicos, agora cabe a suncê cuidar de fazer o uso correto do medicamento prescrito por Ele, cabe a suncê ser boa enfermeira!
— Farei de tudo para ser esta enfermeira, vovô!
— Nêgo fica feliz de ouvir isto zifia!
— Continuarei tomando o sumo, o chá e fazendo as minhas preces e na próxima gira, se Deus quiser, sentarei na frente do senhor já curada destas dores.
— Então este Nêgo fica aguardando suncê na semana que vem, já em relação ao que suncê acabou de dizer Nêgo só tem a falar uma coisa.
— O que vovô?
— Que assim seja!!!
Continua...
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