quinta-feira, 15 de abril de 2010

Oração como instrumento de cura – Parte Final

 Mensagem de um preto-velho canalizada por Pedro Rangel



Marineusa caminhava na direção do preto-velho com um sorriso que a fazia parecer a pessoa mais feliz de todo o mundo.
Ela fizera questão de chegar com bastante antecedência ao terreiro naquela noite com o objetivo de ser a primeira consulente com a entidade em questão: é que o tratamento a ela ministrado pelo preto-velho se encerraria ali, naquela noite e Marineusa estava bastante ansiosa para contar os ótimos resultados obtidos.
Após todo o ritual de abertura da gira chegar ao fim os atendimentos iriam começar e Marineusa foi chamada como a primeira assistência do referido preto-velho.
Ela adentrou a parte religiosa do terreiro e caminhou sorridente até a frente da entidade que, também sorrindo, disse-lhe:
— Pode sentar no toco zifia!
— Obrigado vovô!
— Como é bom sorrir, não é zifia?
— Demais!!!
— Mais bom do que sorrir, só quando a pessoa sorri entendendo verdadeiramente o por que do seu sorriso.
— É verdade!
— Graças a Zambi suncê descobriu zifia, e é por isto que este Nêgo está sorrindo junto com suncê, mas deixa esta prosa pra depois e conta pra Nêgo como foi o seu “conversê” com a filha Marineide.
— Sabe vovô, foi inacreditável!!! Eu roguei a Deus que me mostrasse a melhor forma de ter esta conversa com minha irmã e foi uma benção como tudo se resolveu.
Mostrando uma convincente surpresa, como se não fosse ele mesmo que houvesse atuado junto com outras entidades na resolução do problema de sua assistida pelos bastidores, foi que o pai-velho disse:
— Verdade zifia? Então sacia esta curiosidade de Nêgo e conta como foi porque Nêgo adora compartilhar alegrias.
— Foi assim vovô: certo dia, após minhas orações, senti um desejo incompreendido e muito forte de conversar com o esposo da Marineide sobre as dificuldades com minha mãe.
— Que bom zifia!
— Daí então eu fui até ele e perguntei se ele não poderia auxiliar a mamãe. Olha , falando assim parece até que foi fácil eu tomar esta decisão de procurá-lo, mas só que foi dureza vovô!!!
— Num tinha nem como deixar de ser, não é minha filha?
— É vovô por que a Marineide tem cinco anos de casada e sempre pintou o Paulo para mim como se ele fosse avarento, egoísta e mesquinho.
— Só que o que aparentava ser tinta-óleo pintada num quadro, na verdade era só tinta-guache que se desfez como mágica quando entrou em contato com a água cristalina que vem do poder de Deus: água que lava as mentiras, inverdades e incertezas.
— Pois é vovô e daí foi que o Paulo me disse que ele nunca, desde quando eles se casaram, deixou de passar uma boa quantia em dinheiro para que a Marineide me repassasse afim de que eu tivesse mais recursos para cuidar da mamãe, só que a Marineide não me repassava nada.
— E o que aconteceu depois zifia?
— Eu tive medo, mas enchi-me de fé e contei ao Paulo que os recursos financeiros que ele destinava para mamãe lamentavelmente não estavam chegando até ela.
— Suncê agiu certo zifia!
— O Paulo, mesmo sem ter motivos, desculpou-se comigo, pegou o numero da minha conta no banco e disse que mensalmente depositará a quantia citada anteriormente nesta conta.
— E depois zifia?
— Depois eu agradeci e já estava pronta para ir embora quando algo mais forte do que eu determinou que eu pedisse ao Paulo que não se desentendesse com a Marineide por conta do meu descuido.
— Verdade zifia?
— Verdade vovô! Algo mais forte do que eu me fez assumir a culpa pelo erro da Marineide e daí foi que eu disse a ele que houvera sido negligente até demais com toda a situação.
— E o que o zifio fez?
— O Paulo apenas deu um sorriso de muita sinceridade e, como ele não me pareceu uma pessoa desequilibrada eu acreditei na sinceridade daquele sorriso, despedi-me e fui embora.
— Suncê fez o mais correto zifia Marineusa e “coincidentemente”, três dias após este encontro, as suas dores na região estomacal desapareceram, não é?
— Foi sim vovô e este também é o motivo desta minha felicidade, mas vovô?
— Pode falar zifia!
— É que eu tenho uma curiosidade; na verdade é um quebra-cabeça em que eu não consigo encaixar as peças.
— Então mostra estas peças pra Nêgo zifia por que daí quem sabe nóis dois juntos num acaba conseguindo encaixar estas peças?
— Vovô, se eu não tinha nada no meu estômago por que eu sentia dores neste órgão?
— Zifia, primeiramente, este Nêgo Véio só tem a dizer que a dor não é ruim não! A dor, na medida em que é um sinal de alerta, também não é boa: a dor é ótima!
— Credo!!! Por que vovô?
— Por que é sinal de que algum órgão do corpo não está bem. Suncê já imaginou zifia, se suncês fossem incapazes de sentir dor, como suncês fariam para serem avisados não por exames médicos, mas pelos seus próprios órgãos de que eles não estão bem?
— É vovô, faz todo sentido.
— Antes de um órgão ser o porta-voz do desequilíbrio que um ser humano está causando a ele, suncês escutam esta advertência de muitos outros mensageiros de Zambi-Nosso-Pai: anjos da guarda, protetores, entre outros.
— É verdade vovô.
— Daí, quando se esgotam todos os recursos de advertência , o próprio órgão fala com suncês através da dor.
— Vovô, só uma coisa: o senhor falou do órgão como porta-voz da dor em sentido figurado, não foi?
— Filha, o corpo humano é formado por milhões de seres-vivos que são as células, que por sua vez agrupam-se formando tecidos e que formam os órgãos, que se agrupam formando os sistemas que, por sua vez, podem ser didaticamente agrupados para formarem a complexidade orgânica que é o ser humano.
— Ainda não entendi.
— O estômago, por exemplo: quando ele dói é por que está sendo porta-voz das células estomacais, da mucosa gástrica, do suco gástrico, da cárdia, do piloro; enfim, de tudo que é pertinente a este órgão.
— Nossa, que análise incrível de fisiologia!
— Então zifia, quando Nêgo Véio falou com suncê que o órgão é porta-voz da dor foi no sentido real: ele é o porta-voz das células e dos tecidos.
— É verdade vovô.
— Nêgo Véio está falando estas palavras com suncê por que sabe que suncê faz “estudadô” para poder auxiliar aos médicos, não é isso?
— É. Estou no meu último ano do curso de Técnica em Enfermagem.
— Então, suncê devido a estes estudos consegue entender estes termos médicos que Nêgo Véio está falando.
— Entendo sim senhor. Só que o senhor está falando de problemas nos órgãos físicos, o que não era a causa da minha dor como o senhor mesmo me disse anteriormente.
— E suncê acha que o órgão perispiritual tem a fisiologia diferente do órgão carnal?
— Órgão perispiritual?
— Todo espírito encarnado tem uma “cópia espiritual” do corpo físico denominada perispirito.
— Então o meu estômago perispiritual estava com problemas,é isso?
— Exatamente zifia Marineusa. Suncê alimentou ele muito mal, engolindo inadvertidamente todo o descaso que sua irmã lhe ofertava nos cuidados com sua mãezinha.
— Deus do céu!
— Os seus protetores pediram que suncê não aceitasse mais este tipo de alimento tão ácido e prejudicial a saúde dos seus órgãos, mas só que suncê não os escutava.
— É verdade!
— E eis que apareceu a bendita e sagrada dor como porta-voz do seu estômago perispiritual.
— Meu Deus vovô, agora eu compreendi tudo!
— Entendeu mesmo zifia?
— Olha vovô depois das nossas conversas anteriores eu comecei a pensar que se eu estava com dores na região do estômago é por que eu estava com algum problema.
— Isto mesmo zifia.
— Pensei também que se os exames médicos não detectaram nenhum distúrbio no estômago era porque minha alimentação não estava incorreta.
— Raciocínio correto zifia.
— Daí eu conclui que se o problema não estava no plano físico, só poderia estar no espiritual e que eu mesmo o teria provocado.
— Muito boa lógica zifia Marineusa.
— Daí, apartir desta conclusão que tirei, eu comecei a fazer preces pedindo a Deus que me ajudasse a resolver este problema causado por mim, ainda que eu não soubesse qual seria este.
— E foi daí, num é zifia, que suncê descobriu a oração com santo remédio.
— Desculpe, mas como é vovô?
— Oração como santo remédio não é só pedir cura a Deus, mas também pedir a Ele que auxilie suncês a encontrar a razão destas dores terem sido geradas em suncês.
— Deus, que coisa mais linda!!!
— Suncê descobriu a oração como santo remédio e só assim, com o medicamento mais adequado para o tratamento da sua moléstia prescrito por Zambi, foi que suncê pôde tornar-se ótima enfermeira de si mesma,de sua própria dor.
— É verdade vovô!
— E toda esta benção só pôde ser recebida a partir de quando zifia?
— Quando?
— É zifia!
— Não me recordo vovô!
— Então Nêgo ajuda suncê a lembrar: desde quando suncê entendeu que a onisciência, onipresença e onipotência de Zambi não eximia, não exime e jamais eximirá suncê de abrir o seu espírito, o seu coração e a sua consciência para Ele no momento da prece.
— Estou entendendo.
— Suncê agindo assim libertou o seu espírito de pensamentos formatados pelos julgamentos de valor.
— Como assim?
— Suncê desde criança se permitiu ser menosprezada por sua irmã: se achava menos inteligente, menos bonita e menos capaz.
— É verdade.
— Suncê cresceu fisicamente, tornou-se adulta.
— É verdade.
— Mas o seu sentimento em relação a sua irmã continuou o mesmo: inferiorizado.
— É verdade.
— Reconhecer a onipotência, a onisciência e a onipresença de Deus é uma desculpa muito utilizada pelos seres humanos para que não busquem desenvolver a prática das orações enquanto santo remédio, por que se Ele é Todo-Poderoso, pra que rezar?
— É verdade.
— Mas na verdade filha, cada um destes zifios que assim procedem tem o espírito preso na formatação dos julgamentos de valor.
— Entendo.
— No seu caso era o seu sentimento de inferioridade em relação a sua irmã, como se só ela merecesse ser feliz e suncê não, como se Zambi só quisesse pra suncê as dores.
— Meu Deus é verdade! Era assim que eu raciocinava mesmo!!!
— Muitos zifios neste mundo de terra não sabem o quanto seriam abençoados se realizassem a oração como santo remédio: doenças seriam curadas, sofrimentos seriam sanados, lágrimas seriam enxugadas e consciências seriam esclarecidas.
— É verdade vovô!
— Zifia, Nêgo está vendo que suncê não tem mais nada a dizer.
— É verdade vovô.
— Mas antes de liberar suncê Nêgo pode pedir um favor?
— Claro vovô!!! Com certeza!!!
— Zifia, toda vez que uma pessoa que estiver com problemas chegar até suncê para pedir ajuda, suncê pode falar pra esta pessoa sobre os benefícios de se buscar a oração enquanto santo remédio e da importância da busca desta descoberta?
— Com certeza vovô!
— Suncê fez a oração enquanto remédio e a luz do sol banhou o seu espírito, refletindo neste sorriso lindo que está no seu rosto.
Os olhos de Marineusa marejaram de agradecimento a Deus, mas a entidade prosseguiu:
— Nunca permita que nenhuma situação, pessoa ou suncê mesma possa retirar esta luz do seu espírito e este sorriso dos seus lábios!!! Vá na força e na luz de Zambi-Nosso-Pai!!!
— Que assim seja!!!



Fim

sábado, 3 de abril de 2010

Oração como instrumento de cura – 2º parte

Mensagem de um preto-velho canalizada por Pedro Rangel




Marineusa escutou a cambone chamar o seu nome e levantou-se feliz do banco da assistência daquele terreiro tomando a direção onde o Pai-velho prestava suas consultas.
Fazia uma semana que acontecera a última consulta e ela estava ansiosa para contar-lhe as novidades.
Sentou-se frente ao preto-velho e por ele foi saudada da seguinte maneira:
— Salve Zambi-Nosso-Pai, minha filha!
— Salve vovô!
— E como é que vai suncê?
— Eu tomei o chá e o sumo que o senhor me prescreveu.
— Que bom minha filha! E as orações suncê têm feito?
— Com certeza vovô! Penso que, de alguma forma, as orações amenizaram um pouco a minha dor no estômago por que antes doía até quando eu respirava mais profundamente e agora já estou conseguindo respirar com maior naturalidade.
— Que bom não é minha filha?
— É sim vovô! Eu estou rezando para Deus com muito mais sinceridade depois da última conversa que tive com o senhor.
— Sinceridade zifia?
— É vovô, por que pouco adianta fazer preces a Deus querendo nos enganar a nós mesmos a respeito de quem verdadeiramente somos. Então eu passei a fazer assim em minhas orações: coloco-me diante do Pai imperfeita como sou, mas com a atitude de quem busca a perfeição.
— Foi mesmo zifia?
— Foi vovô! Daí eu me entregava a Deus em minhas preces: orava como se Ele estivesse em minha frente e entregava-O todo o meu sofrer.
— Muito formoso o que suncê fez zifia, mas como nóis conversou na gira passada: cada ser humano é enfermeiro no tratamento de sua própria dor.
— Como assim vovô?
— Zambi é grande médico filha e prescreve medicamentos para os seus filhos mediante o merecimento de cada um, mas acontece que são suncês que devem cuidar de tomar o medicamento prescrito na posologia divina se quiserem encontrar lenitivo para os seus sofrimentos.
— Acho que entendi em parte o que o senhor disse.
— Zifia, como vai a sua irmã?
— Minha irmã? O senhor me desculpe, mas o que ela tem a ver com esta minha enigmática dor estomacal?
— Esta semana suncê fez preces e o Criador a dotou de forças para tomar certa atitude, não foi assim minha filha?
— Isto até que foi, mas o que é que minha dor física tem a ver com conflitos emocionais relacionados à minha irmã?
— A tua dor não está no plano físico filha, ela apenas é sentida neste referido plano.
— Não?
— Não, se não os exames médicos feitos por você acusariam alguma disfunção gástrica, não é verdade?
— Meu Deus!!! É verdade!!!!
A entidade sorriu discretamente para sua consulente e esta continuou:
— Mas então o que eu devo fazer para melhorar vovô?
— Parar de fazer o que suncê tem feito há anos.
— Mas o que é vovô?
— Uma má alimentação.
— Má alimentação? Mas minha alimentação é nutritivamente balanceada, eu pratico atividades físicas e o senhor também me disse que o meu problema não está no plano físico, então eu não consigo entender.
— Má alimentação emocional, minha filha!
— Emocional?
— Zifia este Nêgo Véio consegue ver que já faz quase cinco anos que suncê cuida de sua mãe acamada, não é assim?
— Sim ,mas minha mãe não me provoca problemas emocionais e...
— ... Zifia?
— Sim vovô?
— Este Nêgo pode continuar a nossa prosa?
— Pode sim vovô, desculpe-me!
— Não há o que desculpar zifia, pois este Nêgo sabe do amor incondicional que suncê sente por sua mãe. Este Nêgo está falando é da sua irmã!
— A Marineide?
— Sim filha, sua aura chega a mudar de cor quando suncê fala nela.
Marineusa desandou a chorar na frente da entidade que, em respeito a este sincero pranto, baixou a cabeça e começou a estalar os dedos em torno da vela acesa firmada em seu ponto enquanto aguardava a serenidade chegar novamente no coração de sua consulente.
Não levou muito tempo, pois alguns minutos após a entidade disse a Marineusa:
— Este Nêgo precisa ser sincero com suncê minha filha: sua irmã ainda é um espírito muito arraigado na materialidade.
— Infelizmente é verdade vovô!
— Há quanto tempo suncê vem engolindo os desaforos que ela lhe oferta como se fosse um apetitoso prato de um jantar faustoso?
— Ela casou-se por dinheiro e vive na mansão dela...
— ...Suncê desculpe, mas Nêgo não está falando disso, pois estas foram opções que ela desejou seguir na atual existência, não cabe a este Nêgo e nem a suncê julgá-la.
— Entendo.
— Nêgo Véio está falando é do fato desta sua irmã permitir que suncê cuide sozinha da sua mãe sem lhe ofertar nenhum tipo de auxilio: emocional ou material.
— É verdade vovô!
— Este “prato” ofertado por sua irmã é saboroso?
— Não vovô: é indigesto!
— Pois então pare de se alimentar dele.
— Mas como é que eu vou pedir apoio a ela se ela só costuma pensar nela mesma?
— Suncê não sabe, mas Zambi é onisciente, não é minha filha?
— Meu Deus, é verdade!!!
— Onde a mão do homem não alcança só Deus pode tocar!
— Vovô, então quer dizer que agindo deste jeito que o senhor me fala esta minha dor acabará?
— Só Zambi é onisciente, não é minha filha?
— É verdade!
— Suncê, esta semana todinha que fez preces, rogou ao Divino Criador que lhe fornecesse o medicamento que sanasse as suas dores, não foi?
— Foi sim, vovô!
— E, após realizar estas preces, sentia uma vontade muito forte de resolver este problema com sua irmã; isto também não é verdade?
— Também é, sim senhor!
— Só que, por estar tão concentrada em sua dor gástrica, suncê não pôde relacionar este desejo de resolver o problema familiar como uma resposta de Deus a sua oração: Deus é o médico dos médicos, agora cabe a suncê cuidar de fazer o uso correto do medicamento prescrito por Ele, cabe a suncê ser boa enfermeira!
— Farei de tudo para ser esta enfermeira, vovô!
— Nêgo fica feliz de ouvir isto zifia!
— Continuarei tomando o sumo, o chá e fazendo as minhas preces e na próxima gira, se Deus quiser, sentarei na frente do senhor já curada destas dores.
— Então este Nêgo fica aguardando suncê na semana que vem, já em relação ao que suncê acabou de dizer Nêgo só tem a falar uma coisa.
— O que vovô?
— Que assim seja!!!






Continua...