Certa noite após fazer minhas orações, e enquanto me deitava para dormir, senti um amigo espiritual solicitando que fizesse preces de agradecimento a Deus firmando o pensamento em uma cachoeira.
Quando
dei por mim já estava em frente a uma queda d’água ainda mais bela da que eu
imaginara. Estava dentro do rio e em frente dela, que era muito linda e
bastante caudalosa.
O
tempo foi passando e eu percebi que não conseguia sair de onde estava. Olhei ao
redor para verificar se via alguém, mas sem sucesso.
Procurei
pensar como tudo começara e tive uma idéia: só havia parado ali porque firmara
meu pensamento como pedira o amigo espiritual, assim se continuasse a firmar,
talvez fosse possível sair daquela situação.
Fechei
os olhos e firmei meu pensamento por tempo indefinido, mas quando descerrei os
olhos minhas pernas ainda se encontravam imóveis.
Comecei
a ficar preocupado não devido à imobilidade, pois confio nos amigos espirituais
servos de Deus, mas por não estar entendendo àquela situação.
Procurei
recordar as lições que os amigos espirituais sempre procuram me passar a
respeito de tudo que se refere às cachoeiras e assim, lembrei que as águas
deste sítio de forças da natureza têm propriedades altamente renovadoras, que
renovam tudo aquilo que já não tem mais razão de ser.
Procurei
refletir sobre esta minha recordação e entendi que, se ali estava, era por que
precisava de renovação em um ou mais aspectos de minha vida. Sem conseguir
buscar explicação racional, o que me angustiou muito, senti vontade irrefreável
de por as duas mãos nas pedras sob a queda d’água e assim o fiz.
Senti
meu corpo astral vibrar com uma energia muito forte, as batidas do meu coração
aceleraram e lágrimas incessantes e inexplicáveis passaram a escorrer de meus
olhos.
Passei
a sentir o meu corpo a pulsar uma energia multicolorida como se eu fosse apenas
luz. Intui que deveria permanecer de olhos fechados e em prece e não procurei
questionar.
Então
senti que meu corpo permanecera na cachoeira do jeito que estava, mas também
senti que já não estava mais lá, estava muito, muito leve. Olhei para minha
esquerda e vi um arco-íris como a indicar uma direção e procurei segui-la.
Fui
parar de frente a outra cachoeira onde várias crianças brincavam
silenciosamente. Foi interessante porque lá eu conseguia movimentar-me
livremente.
Uma
alegria enorme, incomensurável inundou todo o meu ser e, de tão feliz que
estava, também me deu vontade de brincar igual uma criança, mas antes que assim
eu fizesse uma delas chamou-me.
Aparentava
ter uns três anos de idade. Tinha o cabelo todo encaracolado de um
castanho-claro, a pele branca e as bochechas eram, por falta de um melhor
vocabulário, muito proeminentes, fofas e rosadas.
Não
sei como explicar, mas sentia como se estivesse diante de um saudoso amigo e
devo confessar que, se no plano físico ele existisse, eu tudo faria para
adotá-lo.
-
Obrigado tio!!!
Foi
o que ela disse a mim.
-
Obrigado pelo que?
-
Pelo afeto tio! Pelo carinho!
-
Você pode escutar meus pensamentos?
- Só
aquilo que for importante!
-
Importante para que?
-
Pra ajudar você titio!
-Você?
Ajudar a mim? Como assim? Você não é uma criança?
-
Tio, se hoje sou criança, então um dia eu serei adulto, não é?
-
Isto!
- E
se hoje você é adulto, um dia tornará a ser criança, não é?
-
Isto! Suas observações são muito sábias, você nem parece uma criança!
-
Mas você sim tio!
- Eu
o que?
-
Meu tio tá parecendo uma criança, e daquelas bem birrentas!
-
Acho que começo a entender: você é uma criança espiritual!
-
Puxa! Demorou, hein tio!?!?!?
Ri
bastante daquela observação e senti uma alegria quase incontida. Nisto, algumas
lágrimas que julguei inoportunas desprenderam-se dos meus olhos. Procurei
disfarçá-las e perguntei:
- De
que teimosia você está falando?
-
Por quê? São tantas assim meu tio? Credo!!!!
Não
tive como conter as gargalhadas outra vez! E observei que novas lágrimas
deslizaram, mas só desta vez notei que um peso saía de dentro de mim enquanto
escorriam. Tentei disfarçá-las novamente e a escutei dizer:
- Eu
tô brincando com você meu tio! Eu to falando só da teimosia que meu tio tem de
não querer deixar a vida correr.
-
Como assim?
-
Tio, o que passou é passado. O que passou só tem utilidade se servir para uma
coisa: renovar seu presente de esperanças num futuro melhor!!! Se não for
assim, meu tio, o passado só vai paralisar você!!! Como já tem feito!!!
- A
vida meu tio é um presente! As experiências, difíceis ou não, são para fazer
você mais forte moral, consciencial e emocionalmente. Deixe as águas da
renovação banharem você meu tio, pois é sua melhor chance de desempacar e
seguir a vida com mais liberdade. Liberte-se meu tio! Deixe o passado para
trás!
- Da
mesma forma que um dia uma criança vira adulto e este se torna uma criança, um
dia seus pais renascerão e você desencarnará.
-
Mas é que muitas vezes ainda dói!
- A
dor provoca sofrimento, mas quando se busca a força em Papai-do-céu e na força
interior que cada um possui, a dor passa e torna-se esperança, mas se isto não
ocorre o meu tio entra num ciclo vicioso em que o sofrimento provoca a dor que
vai causar mais sofrimento.
-
Como assim?
-
Meu tio o que acontece se você sofrer um corte profundo na pele?
- Eu
vou sangrar!
-
Vai ficar sangrando pra sempre!
-
Não se eu buscar socorro!
-
Meu tio busca o socorro e o que acontece depois?
- Um
profissional vai suturar o corte.
-
Com o tempo não vai parar de sangrar? Não vai parar de doer?
-
Sim
- Mas a cicatriz permanece, não é assim, meu
tio?
-
Isto. Exatamente!
- E
se você ficar cutucando a ferida antes dela sarar?
- Ai
ela não vai sarar nunca!
-
Então tio! O corte provoca dor na pele e esta dor leva ao sofrimento, mas se
você não ficar cutucando a pereba o sofrimento passa e a dor vai embora. Se
você cutucar a ferida o sofrimento vai alimentar sua dor, que lhe causará mais
sofrimento. Nada vai sarar, entende tio???
-
Estou entendo sim, tudo está ficando mais claro!
- A
vida do meu tio tá paralisada no passado, é preciso renovação tio! Renovação
verdadeira, sem aprisionar-se ao passado. Vem tio, deixe a gente ajudar você!!!
Tudo na sua vida será renovado, menos a falta de cabelos na sua careca, isto aí
só na próxima encarnação!!
Não
pude mais conter meu riso ao escutar a última observação! Gargalhava sem parar
e nem me faltava o fôlego! Lágrimas abundantes deslizavam pelo meu rosto
enquanto gargalhava, mas desta vez não tive a mínima vontade de contê-las.
Enquanto tudo isto acontecia àquelas crianças, que já formavam um círculo ao
meu redor, batiam palmas e cantavam louvores em uma língua desconhecida para
mim.
A
criança que conversara comigo acenou pedindo que eu fechasse os meus olhos e eu
assim o fiz.
Os
louvores e palmas continuaram. Por dentro eu explodia de felicidade e gratidão
a Deus por toda àquela oportunidade. Os risos que vinham das lágrimas ( ou
lágrimas que vinham dos risos ) continuaram insofreáveis, mas observei que
àquele canto tinha o poder de provocar nova disposição em mim, novos
pensamentos, sentimentos, possibilidades.
A
criança com quem dialogara tocou em direção ao chacra cardíaco e olhou-me como
quem dissesse:
-
Pratique o que conversamos!
E
eu, ainda gargalhando com lágrimas incontidas nos olhos, respondi-lhe com todo
respeito que aprendi a lhe dedicar:
-
Muito obrigado!
Ele
gesticulou pedindo que eu tornasse a fechar os olhos.
Com
olhos fechados senti novamente toda aquela vibração em meu corpo e voltei numa
velocidade inimaginável para àquela cachoeira em que, anteriormente, não
conseguia mover as pernas. Era como se minha consciência tivesse retomado meu
corpo espiritual.
As
lágrimas cessaram de jorrar, mas a alegria incontida ainda permanecia imutável
dentro de mim.
Recebi
mentalmente a orientação daquela criança espiritual que em outro plano se
encontrava:
-
Tio esta alegria é um presente que Papai-do-céu mandou que entregássemos a
você. Foi nosso dever entregá-la e é seu dever conservá-la! Vá com Deus
titio!!!
Quando
abri os olhos pude observar que já havia sido transportado para o corpo físico!
Olhei para o lado e vi minha esposa que dormia! A cama era a mesma, o colchão
era o mesmo e até a coberta era a mesma, quanto a mim, que naquele momento não
lembrava nada que vivenciara no plano astral, acordei “inexplicavelmente” com
um enorme sentimento de gratidão a Deus,
sentia e pensava como se fosse
uma nova pessoa.
Somente
hoje pude recordar de todo o ocorrido e, com um sorriso de alegria nos lábios e
lágrimas de gratidão nos olhos, é que assim digo:
Muito
obrigado meu Deus!!! Muito obrigado pela Cachoeira divina, pelo Arco-íris
sagrado, pela falange das Crianças espirituais e por minha vida!!!
Muito
obrigado pela Umbanda sagrada!
Saravá!!!!!!
Mensagem recebida por Pedro Rangel