terça-feira, 23 de dezembro de 2014

O valor da ação



Reginaldo é conceituado advogado trabalhista que cambonava o caboclo Araribóia há quase um ano, em um terreiro de Umbanda do nosso Brasil. Era casado e pai de um adolescente com quem vinha se relacionando de maneira bem conflituosa. Na realidade o relacionamento dos dois estava quase insustentável.
A gira seguia naturalmente com a entidade prestando consultas a toda assistência que a ela acorria.
Reginaldo estava bastante ansioso para ter a oportunidade de conversar com a entidade, quando as consultas com a assistência terminassem.
Percebeu que não adiantaria ficar olhando para o relógio ou torcer que as consultas pudessem ser aceleradas. Já que estava em uma casa de Deus para a prática da caridade, então agiria neste sentido da melhor forma possível.
Procurou desligar-se de todos os problemas exteriores e firmar o pensamento nos trabalhos que aconteciam. Entoava os pontos cantados com muita firmeza e mantinha o coração em prece em todas as atividades. A cada oportunidade que tinha não se esquecia de pedir a Deus  que o abençoasse em seus pedidos, firmando especialmente no relacionamento com seu filho.
O tempo passou de forma que ele nem pôde perceber. O Sr. Araribóia já havia consultado toda a assistência e não haveria como consultar muitos médiuns, pois a gira já estava quase encerrando.
Um casal de médiuns da casa solicitou que ele, enquanto cambone da entidade, perguntasse ao Caboclo se poderia atendê-los. Ele, de bom grado, assim o fez, mesmo sentindo necessidade urgente de uma conversa fraterna com o Sr. Araribóia.
A consulta foi feita e a gira já estava para terminar quando a entidade disse a ele:
- Caboclo tinha até necessidade de trocar um dedinho de prosa com você, mas como não foi preciso, vamos ao encerramento!
- Antes, contudo Araribóia fala com você que muitas vezes não é falando e nem perguntando, mas sim dando que se recebe!!!
Sete dias depois Reginaldo participava de outra gira. Já quase em seu fim o caboclo Araribóia disse a ele:
- Sua vez de sentar no toco filho!
Reginaldo assim o fez e disse a entidade:
- Sr. Araribóia, teria como saber por que você me disse àquelas palavras ao término da última reunião?
- Filho na última gira foi quando percebi você mais concentrado nas atividades do terreiro. Como disse a você, naquela oportunidade, eu tinha até uma coisinha ou outra para lhe dizer, mas sua vibração e firmeza estavam tão formosas que não foi preciso.
- Entendi.
- Como o filho sabe, Caboclo não é de falar muito; então seria só um dedinho de prosa mesmo.
- Entendi.
- Afinal filho, quem deve falar e perguntar muito, se quiser crescer na profissão, são vocês advogados! Onde já se viu um advogado ganhar uma causa sem falar nem perguntar nada a quem de direito, não é meu filho?
- É verdade Sr. Araribóia!
- Caboclo está falando isto com certo conhecimento de causa por que nós, entidades, também fazemos uso constante de advogados!
- Advogados? Vocês?
- Sim! Porque o espanto?
- Mas qual a necessidade de advogados?
- Deus é o grande juiz! Só ele pode dar aquilo que vocês nos pedem! Somos apenas facilitadores!
- Então, quais são os advogados?
- Os divinos orixás que a tudo sustentam na criação divina.
- Como assim?
- Um filho chega até Caboclo com problemas espirituais provocados por fechamento de caminhos, devido a existência de magia negra. Ogum é quem abre os caminhos e, neste caso, seria o advogado deste Caboclo. Com a autorização de Deus Caboclo fornecerá subsídios para que a atuação de Ogum se faça na vida deste filho.
- Impressionante!
- Mas vamos deixar estes assuntos sobre direito e advocacia espiritual para outro momento, afinal você perguntou a este caboclo o que ele queria falar com você no fim da última gira, mas que não houve necessidade, não é ?
- Isto.
- Caboclo viu que você estava passando por momentos de dificuldade no relacionamento com seu filho, não é isto?
- É verdade.
- Mas àquele casal de médiuns da casa, seus irmãos de fé, necessitavam de um pouco mais de urgência no atendimento para o caso que apresentavam.
- É verdade, magia negra é mesmo o fim da picada, Sr. Araribóia.
- Caboclo iria pedir a você que cedesse a vez no atendimento para àquele casal, mas graças a Deus não foi necessário, pois você sentiu tal necessidade com a generosidade do seu coração.
- Muito obrigado, Sr. Caboclo, por estas palavras que até me emocionam, mas acho que a generosidade foi toda sua quando me disse estas palavras.
- Você observou filho Reginaldo, que mesmo sem se consultar para pedir auxílio no relacionamento com seu filho, como houve uma sensível melhora neste aspecto?
- Era o que eu mais queria Sr. Araribóia!
- E você nem precisou de consulta, apenas cantar os pontos com firmeza, auxiliar nos trabalhos que aconteciam, realizar preces e, por último, mas não menos importante, exercer a caridade e dar a sua vez para que pessoas mais necessitadas pudessem ser consultadas por Caboclo; e foi  nesta hora filho que Deus o abraçou e deu o que lhe era merecido, por que como dizem vocês encarnados: “ Uma ação vale mais do que mil palavras”!