quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Pano branco - o pano da fé ( parte final )



Posteriormente os cunhados de Gonçalo chegaram até o local e, querendo uma segunda opinião, ele contou sobre as características da cobra por ele avistadas. Nenhum de seus cunhados teve dúvidas de que se tratava de duas jararacuçus.
Gonçalo disfarçou, mas perdeu o chão: saiu da água e foi pensar sobre o ocorrido no conforto da sombra amiga das árvores.
O caboclo apareceu no local e perguntou-lhe mentalmente:
− E então filho? Descobriu se as cobras eram peçonhentas?
− Descobri sim. Eram jararacuçus e são cobras muito peçonhentas e com um bote de longo alcance como o senhor disse.
− Mas você está bem, não foi picado, por que está aí amuado no canto?
− Ontem à noite eu poderia ter morrido!
− Se fosse picado por uma destas, com certeza!!! Elas costumam caçar a noite e tomar banho de sol durante o dia.
− Meu Deus, o senhor me desculpe, mas o que o vovô e o senhor fizeram eu considero de uma irresponsabilidade desmedida!
− Ora filho, não era você que hoje pela manhã chegou a pensar que não existiam cobras por estas bandas?
− Então foi por isto que vocês fizeram as duas cobras aparecerem hoje para mim no meio da estrada? Para me dar uma lição?
− Longe de nós filho! É como lhe disse: elas estavam na estrada para tomar banho de sol, mas nós o influenciamos para que passasse no local exatamente neste momento para que possa acreditar mais em Deus, haja vista que você tem o costume de só acreditar naquilo que seus olhos podem ver.
− Então saiba que, de fato, você correria risco de morte se fosse picado por elas ontem à noite, mas nós lhe dissemos que nada de ruim lhe aconteceria durante a trajetória e, graças a Deus, foi o que ocorreu, então onde está a irresponsabilidade? 
− E todo este risco foi para que? Para banhar meu pano branco na cachoeira quando estivesse sem ninguém por perto, me desculpe, mas me parece muito pouco pelo risco que corri!
− Gonçalo o que teus olhos não vêem, só o coração pode sentir.
− Como assim?
− Como você pode menosprezar o cuidado, a energização de um objeto tão sagrado?!?  
− Eu não tenho este menosprezo, só não entendo por que os senhores não me levaram para a cachoeira em outro horário.
−Não o levamos por que aquele era o dia e aquela era a hora, a hora de preto-velho, lembra que lhe dissemos isto no meio do caminho na noite de ontem?
 − Nunca soube que 19:00hrs era horário de preto-velho!
 19:00hrs não filho: eram 18:00hrs, pois no funcionamento do plano espiritual não existe horário de verão!
− Mas no terreiro que freqüento as giras de preto-velho começam as 18:00hrs, inclusive no horário de verão, isto não é um contra-senso?
− Não, pois uma casa religiosa existente no plano terreno funciona pelo horário corrente neste plano e nós também devemos nos enquadrar neste horário de funcionamento se quisermos trabalhar pela Umbanda sagrada nestes templos religiosos.Entretanto, o local onde você esteve ontem a noite em nossa companhia não foi construído por nenhuma mão humana! O próprio Criador foi quem criou aquele templo natural e nós queríamos que você compartilhasse conosco, no nosso tempo, da misericórdia e do amor divinos neste sagrado local.
 − Mas por que banhar aquele pano naquele horário?
− O que seus olhos e sua lógica não conseguirem alcançar, você deve ter humildade e fé suficientes para alcançar com o coração: isto é fé raciocinada na Umbanda sagrada!
− E se não for assim?
− Se não for assim vocês, os umbandistas, começarão a julgar que nós, as entidades, somos doidas e que não falamos coisa com coisa! Duvidarão de si mesmos , de nós e, se não acordarem a tempo, duvidarão da existência do próprio Deus
 − Por que Jesus, no alto de sua glória, aceitou reencarnar se sabia do tanto de sofrimento que passaria durante sua existência terrena? Fé é a resposta! Fé “somente” em Deus? Não somente, mas também fé na humanidade, fé de que seu exemplo, ao longo dos séculos, serviria como uma mola a nos impulsionar rumo a evolução. “ Vós sois deuses”, disse o mestre divino, para complementar “se tiverdes fé do tamanho de um grão de mostarda poderão dizer a qualquer montanha: lança-te daqui para cá e ela assim o fará”  
− Quando o apóstolo, seguindo o exemplo de Jesus, começou a andar sobre as águas primeiramente ficou feliz de sua fé o ter levado a realizar aquela proeza posteriormente, quando o raciocínio começou a afugentar a fé, também pela distância a que estava do barco, o apóstolo do Cristo passou a afundar. Isto é fé raciocinada na Umbanda sagrada: o equilíbrio entre a emoção e a razão! Só a razão ou só a emoção pode fazê-los afundar no mar do desespero e da desesperança!
− Toda vez que sentir Deus falando contigo por qualquer um de seus meios insondáveis ( intuição, premonição, sonhos, etc ) inclusive por meio de nós que vocês umbandistas denominam entidades é muito importante que passem tal fala pelo crivo da razão, do bom senso, da lógica e do conhecimento: isto é fé raciocinada na Umbanda sagrada! Fé não é só acreditar, fé é ter certeza! Mesmo que os conhecimentos terrenos, a lógica terrena e o bom senso terreno queira empurrá-los para a descrença ,a emoção equilibrada, divina, amiga e benfazeja, irmanada com a razão,deve empurrá-los para a crença em Deus Pai Todo-Poderoso e em toda a misericórdia e justiça que ele representa. Entende filho?
 − Sim senhor!
− Então vá meu filho! Pois já é hora de retornar ao seu lazer uma vez que já lhe chamam! Fique na paz de Deus!
− Que assim seja!
− Hein? O que você disse?
Era seu cunhado que o havia chamado para retornar para a água e obtivera um “ que assim seja!” como resposta. Gonçalo respondeu-lhe:
− Só se for agora e o último que chegar à água é mulher do padre!
E foi-se Gonçalo a correr com o cunhado sem ao menos suspeitar que na noite anterior houvesse sido instrumento da misericórdia e da justiça divina no encaminhamento de três espíritos desencarnados  para seus lugares de merecimento. O pano branco, o tal pano de cabeceira, houvera sido um meio para que os desígnios do divino Criador pudessem ser cumpridos na vida daqueles três espíritos.
Mas as entidades não necessariamente deveriam abrir tal informação para Gonçalo, pois o seu livre-arbítrio seria influenciado e a sua fé, a fé raciocinada que deve guiar os passos de todo umbandista, não seria fortalecida. Para Gonçalo tudo não havia passado de um teste de fé o que, aliás, também não deixa de ser verdade.

Mensagem recebida por Pedro Rangel

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Pano branco - o pano da fé ( parte 2 )

 

 − Sou eu mesmo que estou aqui filho! Não incorporado, mas irradiando minha energia para que você possa cumprir a tarefa que lhe foi designada pelo preto-velho que lhe assiste nas incorporações
− Por isto estranhei meu pavor de cobras haver sumido, na verdade eu dei foi graças a Deus, pois o que estranhei mesmo foi todo o amor que passei a sentir por elas, como se fossem minhas irmãs, minha família!
− O que você sentiu foi um pouquinho do amor que este caboclo tem por toda a criação e criatura Divina: umas são altas, outras baixinhas, umas magras e peludas, outras escamosas e despenadas, mas todas filhas do mesmo Criador.
− O amor que o senhor tem é tanto que me comove imensamente!
− Chorar é compreensível filho, mas o esperado por nós é que procure guardar dentro de si todo este amor de Deus para que jamais volte a temer a nenhum dos seus irmãos ou irmãs: as divinas criaturas.
A poucos metros do local indicado Gonçalo ainda pôde escutar o Caboclo dizendo ao preto-velho:
− Toma meu mano, este caboclo agradece pela oportunidade do trabalho, mas agora o cavalinho é todo seu. 
Neste exato instante Gonçalo percebeu o afastamento do caboclo e ainda tentou argumentar com o preto-velho pedindo que ele permitisse a presença do caboclo uma vez que, no seu ponto de vista, a mata é lugar de caboclo. 
O preto-velho respondeu ao caboclo, mas permitiu que Gonçalo escutasse:
− Está vendo Mano? No entender de cavalinho a mata é lugar só de caboclo! E o lugar de preto-velho? Será que ainda é nas senzalas?
Ambos sorriram gostosamente e Gonçalo envergonhou-se pela estreiteza de seu raciocínio relativo às coisas espirituais.
O preto-velho retomou o diálogo:
− Não se envergonhe das brincadeiras deste velho não meu filho, é que Deus designou a mim para coordenar este trabalho com você.
− Tudo bem vovô, eu é que peço desculpas!
Chegando ao local indicado Gonçalo espantou-se por ele estar completamente vazio.
O preto-velho determinou que ele subisse em cima de um lajedo as margens do rio e que lá depositasse seu pano de cabeceira. Foi-lhe ordenado que fizesse certas preces enquanto entoasse pontos de vibração nas linhas de Oxósse, Xangô e Oxum.
Gonçalo envolveu-se nestas tarefas do plano físico enquanto no plano espiritual aconteciam outros fenômenos: três espíritos de pessoas que se afogaram naquelas águas e que se encontravam mentalmente pressas àquele local foram alcançados por espíritos socorristas e levadas para próximo de Gonçalo. Neste exato momento, enquanto Gonçalo continuava a entoar os pontos, o preto-velho pediu-lhe que mentalizasse um portal de acesso a um corredor formado por todas as cores do arco-íris que desembocasse no amor de Deus. Mesmo sem entender o por que Gonçalo assim o fez, e isto sem ter a menor noção de que seriam estes três espíritos socorridos que atravessariam tal corredor.
No exato instante em que a travessia estava quase no fim Gonçalo irrompeu-se num pranto incontido, sentido e, para ele inexplicável. Gonçalo naquele exato instante bebia, sem perceber, nas águas do amor mais profundo que existe, ou seja , o amor de Deus e tudo por que aqueles três espíritos lhe endereçaram sentimentos de gratidão como se entendessem que ele colaborou para o seu resgate.  
Foi-lhe determinado que fechasse o portal e que dobrasse o pano e o segurasse pelas duas mãos.
Gonçalo o fez e, então, o preto-velho disse-lhe:
 − Agora é a hora de voltar para sua casa.  
− Sim senhor.
Gonçalo caminhou até o início da subida da ladeira quando cessou o passo. Olhou para o firmamento e viu que a lua e as estrelas fulguravam com todo o seu esplendor; olhou para um lado e para o outro, e foi quando o preto-velho tornou a dizer:
− Vamos filho!
− Sabe o que é vovô?
− Diga filho!
− Sem nenhum desrespeito ao senhor, mas tem como o senhor solicitar que o caboclo “encoste” em mim outra vez?
− Por que filho?
− Por que quando ele irradiava em mim o medo de cobras sumiu completamente, mas agora  está tudo como antes.
− Filho, nós o trouxemos em segurança até aqui e vamos levá-lo de volta da mesma forma. Nada de ruim acontecerá com você, nem formiga irá lhe morder, muito menos cobra.
− Sim senhor, e este pano de cabeceira eu posso guardar?
− Por que filho se será ele, no plano físico, que o livrará de qualquer mal!
− Este paninho de cabeceira?
− Ele mesmo filho! Caminhe com ele aberto e seguro pelas pontas dos dedos de sua mão até atingir a região urbana e somente neste momento guarde-o com você.
− Mas o que este pano de cabeceira tem que o fará levar-me em segurança até o lar?
− Não é o que este pano tem, é o que este pano é!
−E o que este pano é?
−Aquilo que sempre foi!
− ???
− O seu pano é Umbanda! Você é Umbanda! Esta mata é Umbanda tanto quanto os seres que nela habitam! No trajeto de volta ao lar procure recordar-se pelo mental e sentir novamente com o coração todo o amor que sentia pela natureza e pelos animais quando estava irradiado pelo caboclo.
−Sim senhor!
− Entenda que enquanto você estiver andando por esta mata com este pano esticado, todas as plantas, rochas, minerais e animais o verão enquanto um igual, pois verão em ti Umbanda: Você, Deus, a natureza e os seres como uma só banda – Umbanda.  
Gonçalo assim o fez e retornou seguro ao lar.
Na manhã do dia seguinte ao acordar, e por ser sujeito com a fé um tanto quanto enfraquecida, ele passou a desenvolver os seguintes pensamentos: “ Já fui àquela cachoeira dezenas de vezes e nunca, ao menos, vi uma cobra!”, “Será que não fantasiei tudo ontem a noite e que, de fato, não existe cobra nenhuma por lá e que por isto eu nada vi?”, “ Bom, seja como for, pelo menos meu pano de cabeceira foi banhado na cachoeira!”.
No período vespertino deste mesmo dia, Gonçalo foi até a cachoeira mais uma vez onde sua esposa e sua cunhada o aguardavam.
Quando estava na mata que dá acesso ao local ele viu duas cobras negras e de tamanho mediano ao longo da estrada. Estavam eqüidistantes por poucos centímetros. A primeira correu para dentro do mato, mas a segunda ficou imóvel no local como se estivesse morta. Gonçalo achou curioso a imobilidade do réptil e intencionou aproximar-se quando foi advertido mentalmente pelo amigo espiritual da seguinte maneira:
− Afaste-se!
− Mas por que? Ela aparenta estar morta!
− É só aparência e o bote dela é um de maiores alcance entre as cobras.
− Então ela é venenosa?
Gonçalo não obteve resposta e, usando de seu livre-arbítrio, decidiu se afastar e ir para a cachoeira. Entretanto teve certeza que eram apenas duas cobrinhas inofensivas tomando banho de sol.
Ao chegar a seu destino Gonçalo contou para sua cunhada sobre as características da cobra avistada, esta arregalou os olhos de pavor, mas tentou disfarçar o semblante ao dizer que era uma das cobras mais venenosas que existe naquela região: uma jararacuçu. Disse também que sempre que ele avistasse uma cobra com estas características, que era para afastar-se o mais rápido possível, pois o bote dela era um dos mais altos que existe............. ( continua )


Mensagem recebida por Pedro Rangel