sexta-feira, 20 de abril de 2012

CARIDADE É AÇÃO




Reginaldo era um promissor advogado trabalhista que praticava a caridade em um centro de umbanda como cambone há onze meses, entretanto aquela gira estava sendo a primeira oportunidade dele cambonar um preto-velho conhecido como Pai Antônio.
No final da reunião, quando estava defronte ao gongá e prestes a desincorporar de seu médium, a entidade amiga disse a Reginaldo:
− Filho. Não é falando e nem perguntando, mas sim dando que recebe. Nêgo agradece por todo seu auxilio ao próximo através dos trabalhos nesta casa de caridade. Que Deus dê em dobro na sua vida por toda boa ação praticada! Fique na força e na luz de Deus Nosso Pai!
− Que assim seja!
No final de semana seguinte podemos encontrar Reginaldo cambonando a mesma entidade em mais uma gira de umbanda. Ele não entendera claramente qual a mensagem que Pai Antônio quis lhe passar no fim da última reunião e, meio sem jeito, disse a ele:
− Vovô, eu poderia perguntar uma coisa?
− Claro zifio, os trabalhos ainda estão longe de começar!
− É que gostaria de entender melhor o motivo do senhor ter me falado na última gira que não é falando e nem perguntando, mas sim dando que se recebe.
− Filho, faz quanto tempo que suncê botou o branco?
− Quase um ano!
− Na gira passada foi quando te vi mais concentrado neste terreiro, sem o pensamento fixo em suas dificuldades particulares, mas sim em auxiliar e aliviar o sofrimento do próximo. Eu até que tinha algumas coisas a falar com suncê, mas suncê estava tão formoso que não foi preciso!
− Estou entendendo vovô. De fato eu costumo mesmo ficar perguntando as coisas para as entidades durante as giras.
− Então deixa Nêgo velho explicar melhor por que suncê ainda não está entendendo!
− Não?
− Não zifio! As dúvidas foram feitas para serem esclarecidas na medida do entendimento e do merecimento daquele que pergunta. Entenda meu filho, que é felicidade muito grande quando este Nêgo pode contribuir no esclarecimento das dúvidas e questionamentos de suncês médiuns, mas um terreiro de umbanda é prioritariamente um hospital.
− Como?
− Um hospital zifio! Um hospital para os que aqui vêm buscar ajuda, para o corpo mediúnico e mesmo para nós, que suncês chamam de entidades. Em um hospital deve-se buscar prioritariamente a cura, já em uma escola a prioridade é a promoção do conhecimento.
− A assistência está em primeiro lugar não é vovô?
− O enfermo está em primeiro lugar zifio e às vezes quem está dodói são suncês mesmos: os cavalinhos de umbanda, já em outras são os filhos da assistência. Quando a enfermidade está companheira de suncês a prioridade de atendimento deve ser para suncês, quando o enfermo é um assistido da casa a prioridade do atendimento deve ser fornecida a ele e não aos problemas pessoais dos cavalinhos, pois numa gira de umbanda atende-se primeiro o que é mais urgente.
− Uma casa de umbanda, zifio Reginaldo, é uma casa de oração. O silêncio respeitoso, que vibra prece e amor ao próximo, deve ser prática constante. A firmeza na vibração harmônica dos pontos cantados deve ser realizada sempre que solicitada, mas sem gritos estridentes.
− É verdade vovô!
− Se as pessoas não quiserem ser reconhecidas como excêntricas ou inadequadas devem saber se comportar em adequação ao local e as regras de onde se encontram. Suncê já pensou se dentro das escolas os professores falassem palavrões com seus alunos? Ou se os funcionários de uma instituição bancária só trabalhassem quando sentissem vontade? Ou, ainda, se um estudante de direito, muito tímido e sem oratória, não corresse atrás de meios que o fizesse vencer suas limitações, haveria possibilidades deste ser um advogado tão promissor?
− O senhor está falando de mim, não é vovô?
− Suncê foi um estudante tímido entre milhares que existem no planeta. Nêgo velho está falando de forma geral e suncê se identificou com um dos meus exemplos, por tê-lo vivenciado mais intimamente.
− Entendi.
− Conta pra Nêgo zifio: existe forma de um advogado ganhar o seu pão de cada dia e crescer na carreira se não for de falar e nem perguntar nada as pessoas? Se não desenvolver sua capacidade argumentativa? Se não souber escrever direito ao fazer suas petições?
− Seria praticamente impossível vovô!
− Nêgo véio sabe disto meu filho!
− Como Pai Antônio, o senhor foi advogado em alguma encarnação passada?
− Não zifio, mas é por que nós, entidades, temos um advogado a trabalhar por nós!
Espantado com a revelação Reginaldo perguntou:
− Os senhores têm um advogado? Mas por quê?
− Precisa ficar espantado não zifio, pois Nêgo explica. De forma geral, o advogado não é um intercessor entre o cliente e uma autoridade, um juiz?
− Sim.
− Pois então zifio, quando nós vemos que um cavalinho de umbanda está fraquejando na fé recorremos a este advogado, quando um cavalinho está com dificuldades para engravidar a ponto de estremecer o sagrado matrimônio também é a ele que recorremos, assim como em muitos outros casos.
− E o que este advogado faz, o senhor poderia esclarecer?
− Posso sim meu filho, o advogado leva o nosso pedido até o juiz e este, por meio da análise do merecimento despacha uma sentença que é direcionada a uma ou mais das sete linhas de umbanda.
− Nossa que interessante todo este trâmite jurídico-religioso! Mas de que merecimento o senhor está falando?
− Do merecimento marcado na ficha cármica do encarnado em questão, mas como este Nêgo véio estava dizendo, quando a sentença chega à linha ou linhas de umbanda o Trono ou os Tronos que as regem se encarregam do cumprimento desta sentença juntamente com os espíritos e entidades que estão ligadas ao encarnado em questão.
−Pai Antônio se o juiz determinar que a moça citada como exemplo pelo senhor não deve engravidar nesta encarnação, isto significa uma decisão em última instância?
− Filho, o grande apóstolo Pedro ensinou: “ o amor cobre uma multidão de pecados”. Este preto-velho só complementa: a caridade também!
− E em quanto tempo o encarnado tem atendido o seu pedido, se a sentença do juiz lhe for favorável?
− O tempo do merecimento de cada um zifio, pois só o tempo é o senhor da razão.
− É verdade vovô, mas....
− Pode perguntar meu filho!
− Eu estou percebendo que o senhor está falando por meio de parábolas em que o juiz é Deus e os Tronos são os Orixás, mas ainda não consegui descobrir quem é este advogado, o senhor poderia esclarecer?
− Posso sim zifio é Jesus, mestre, irmão, amigo e maior advogado do mundo.
Reginaldo vibrou emoção e disse:
− É verdade mesmo, não é Pai Antônio? Não esqueço nunca de como, com pouquíssimas palavras e vasto amor no coração, conseguiu interceder pela mulher adúltera livrando-a de morte por apedrejamento.
− Zifio?
− Pode falar vovô!
− Não precisa ficar acanhado não! Faça a última pergunta que suncê está ai matutando pra este Nêgo véio!
− Bem vovô eu só gostaria de saber o que o senhor disse que gostaria de conversar comigo na última gira, seria possível?
− Claro zifio! Na última gira suncê observou que tinha três cavalinhos querendo conversar com Nêgo, não é?
− Isto, exatamente.
− Então zifio, Nêgo véio só ia pedir a suncê pra deixar nóis conversar primeiro com aqueles três filhos que estavam muito esculhambados antes de prosear com suncê, mas graças a Deus não foi necessário, pois suncê sentiu tal necessidade com o tamanho da generosidade do seu coração.
Reginado segurou a emoção para responder a entidade:
− Somente o senhor vovô para fazer com que eu me sinta um ser humano melhor do que realmente sou.
− Somente Deus meu filho! Somente sua fé em Deus para fazê-lo endereçar seus pedidos prioritariamente a Ele antes de qualquer entidade. E como suncê percebeu na última gira que não haveria tempo hábil para conversar com este Nêgo sobre as dificuldades de relacionamento com seu filho adolescente, suncê acabou por endereçar seus pedidos tão somente a Ele.
− É verdade. Não sei como o senhor poderia saber disto, mas é verdade!
− Suncê observou como o relacionamento de suncês melhorou na última semana?
− Era o que eu mais queria vovô!
− E suncê nem precisou falar com este Nêgo, nem precisou pedir, só precisou usar a caridade e ceder a sua vez para outros mais necessitados conversarem com este véio e foi neste instante que Zambi abençoou suncê meu filho, pois como reza ditado famoso entre suncês encarnados: “ Uma ação vale mais do que mil palavras”!





Mensagem recebida por Pedro Rangel

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Pano branco - o pano da fé ( parte final )



Posteriormente os cunhados de Gonçalo chegaram até o local e, querendo uma segunda opinião, ele contou sobre as características da cobra por ele avistadas. Nenhum de seus cunhados teve dúvidas de que se tratava de duas jararacuçus.
Gonçalo disfarçou, mas perdeu o chão: saiu da água e foi pensar sobre o ocorrido no conforto da sombra amiga das árvores.
O caboclo apareceu no local e perguntou-lhe mentalmente:
− E então filho? Descobriu se as cobras eram peçonhentas?
− Descobri sim. Eram jararacuçus e são cobras muito peçonhentas e com um bote de longo alcance como o senhor disse.
− Mas você está bem, não foi picado, por que está aí amuado no canto?
− Ontem à noite eu poderia ter morrido!
− Se fosse picado por uma destas, com certeza!!! Elas costumam caçar a noite e tomar banho de sol durante o dia.
− Meu Deus, o senhor me desculpe, mas o que o vovô e o senhor fizeram eu considero de uma irresponsabilidade desmedida!
− Ora filho, não era você que hoje pela manhã chegou a pensar que não existiam cobras por estas bandas?
− Então foi por isto que vocês fizeram as duas cobras aparecerem hoje para mim no meio da estrada? Para me dar uma lição?
− Longe de nós filho! É como lhe disse: elas estavam na estrada para tomar banho de sol, mas nós o influenciamos para que passasse no local exatamente neste momento para que possa acreditar mais em Deus, haja vista que você tem o costume de só acreditar naquilo que seus olhos podem ver.
− Então saiba que, de fato, você correria risco de morte se fosse picado por elas ontem à noite, mas nós lhe dissemos que nada de ruim lhe aconteceria durante a trajetória e, graças a Deus, foi o que ocorreu, então onde está a irresponsabilidade? 
− E todo este risco foi para que? Para banhar meu pano branco na cachoeira quando estivesse sem ninguém por perto, me desculpe, mas me parece muito pouco pelo risco que corri!
− Gonçalo o que teus olhos não vêem, só o coração pode sentir.
− Como assim?
− Como você pode menosprezar o cuidado, a energização de um objeto tão sagrado?!?  
− Eu não tenho este menosprezo, só não entendo por que os senhores não me levaram para a cachoeira em outro horário.
−Não o levamos por que aquele era o dia e aquela era a hora, a hora de preto-velho, lembra que lhe dissemos isto no meio do caminho na noite de ontem?
 − Nunca soube que 19:00hrs era horário de preto-velho!
 19:00hrs não filho: eram 18:00hrs, pois no funcionamento do plano espiritual não existe horário de verão!
− Mas no terreiro que freqüento as giras de preto-velho começam as 18:00hrs, inclusive no horário de verão, isto não é um contra-senso?
− Não, pois uma casa religiosa existente no plano terreno funciona pelo horário corrente neste plano e nós também devemos nos enquadrar neste horário de funcionamento se quisermos trabalhar pela Umbanda sagrada nestes templos religiosos.Entretanto, o local onde você esteve ontem a noite em nossa companhia não foi construído por nenhuma mão humana! O próprio Criador foi quem criou aquele templo natural e nós queríamos que você compartilhasse conosco, no nosso tempo, da misericórdia e do amor divinos neste sagrado local.
 − Mas por que banhar aquele pano naquele horário?
− O que seus olhos e sua lógica não conseguirem alcançar, você deve ter humildade e fé suficientes para alcançar com o coração: isto é fé raciocinada na Umbanda sagrada!
− E se não for assim?
− Se não for assim vocês, os umbandistas, começarão a julgar que nós, as entidades, somos doidas e que não falamos coisa com coisa! Duvidarão de si mesmos , de nós e, se não acordarem a tempo, duvidarão da existência do próprio Deus
 − Por que Jesus, no alto de sua glória, aceitou reencarnar se sabia do tanto de sofrimento que passaria durante sua existência terrena? Fé é a resposta! Fé “somente” em Deus? Não somente, mas também fé na humanidade, fé de que seu exemplo, ao longo dos séculos, serviria como uma mola a nos impulsionar rumo a evolução. “ Vós sois deuses”, disse o mestre divino, para complementar “se tiverdes fé do tamanho de um grão de mostarda poderão dizer a qualquer montanha: lança-te daqui para cá e ela assim o fará”  
− Quando o apóstolo, seguindo o exemplo de Jesus, começou a andar sobre as águas primeiramente ficou feliz de sua fé o ter levado a realizar aquela proeza posteriormente, quando o raciocínio começou a afugentar a fé, também pela distância a que estava do barco, o apóstolo do Cristo passou a afundar. Isto é fé raciocinada na Umbanda sagrada: o equilíbrio entre a emoção e a razão! Só a razão ou só a emoção pode fazê-los afundar no mar do desespero e da desesperança!
− Toda vez que sentir Deus falando contigo por qualquer um de seus meios insondáveis ( intuição, premonição, sonhos, etc ) inclusive por meio de nós que vocês umbandistas denominam entidades é muito importante que passem tal fala pelo crivo da razão, do bom senso, da lógica e do conhecimento: isto é fé raciocinada na Umbanda sagrada! Fé não é só acreditar, fé é ter certeza! Mesmo que os conhecimentos terrenos, a lógica terrena e o bom senso terreno queira empurrá-los para a descrença ,a emoção equilibrada, divina, amiga e benfazeja, irmanada com a razão,deve empurrá-los para a crença em Deus Pai Todo-Poderoso e em toda a misericórdia e justiça que ele representa. Entende filho?
 − Sim senhor!
− Então vá meu filho! Pois já é hora de retornar ao seu lazer uma vez que já lhe chamam! Fique na paz de Deus!
− Que assim seja!
− Hein? O que você disse?
Era seu cunhado que o havia chamado para retornar para a água e obtivera um “ que assim seja!” como resposta. Gonçalo respondeu-lhe:
− Só se for agora e o último que chegar à água é mulher do padre!
E foi-se Gonçalo a correr com o cunhado sem ao menos suspeitar que na noite anterior houvesse sido instrumento da misericórdia e da justiça divina no encaminhamento de três espíritos desencarnados  para seus lugares de merecimento. O pano branco, o tal pano de cabeceira, houvera sido um meio para que os desígnios do divino Criador pudessem ser cumpridos na vida daqueles três espíritos.
Mas as entidades não necessariamente deveriam abrir tal informação para Gonçalo, pois o seu livre-arbítrio seria influenciado e a sua fé, a fé raciocinada que deve guiar os passos de todo umbandista, não seria fortalecida. Para Gonçalo tudo não havia passado de um teste de fé o que, aliás, também não deixa de ser verdade.

Mensagem recebida por Pedro Rangel

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Pano branco - o pano da fé ( parte 2 )

 

 − Sou eu mesmo que estou aqui filho! Não incorporado, mas irradiando minha energia para que você possa cumprir a tarefa que lhe foi designada pelo preto-velho que lhe assiste nas incorporações
− Por isto estranhei meu pavor de cobras haver sumido, na verdade eu dei foi graças a Deus, pois o que estranhei mesmo foi todo o amor que passei a sentir por elas, como se fossem minhas irmãs, minha família!
− O que você sentiu foi um pouquinho do amor que este caboclo tem por toda a criação e criatura Divina: umas são altas, outras baixinhas, umas magras e peludas, outras escamosas e despenadas, mas todas filhas do mesmo Criador.
− O amor que o senhor tem é tanto que me comove imensamente!
− Chorar é compreensível filho, mas o esperado por nós é que procure guardar dentro de si todo este amor de Deus para que jamais volte a temer a nenhum dos seus irmãos ou irmãs: as divinas criaturas.
A poucos metros do local indicado Gonçalo ainda pôde escutar o Caboclo dizendo ao preto-velho:
− Toma meu mano, este caboclo agradece pela oportunidade do trabalho, mas agora o cavalinho é todo seu. 
Neste exato instante Gonçalo percebeu o afastamento do caboclo e ainda tentou argumentar com o preto-velho pedindo que ele permitisse a presença do caboclo uma vez que, no seu ponto de vista, a mata é lugar de caboclo. 
O preto-velho respondeu ao caboclo, mas permitiu que Gonçalo escutasse:
− Está vendo Mano? No entender de cavalinho a mata é lugar só de caboclo! E o lugar de preto-velho? Será que ainda é nas senzalas?
Ambos sorriram gostosamente e Gonçalo envergonhou-se pela estreiteza de seu raciocínio relativo às coisas espirituais.
O preto-velho retomou o diálogo:
− Não se envergonhe das brincadeiras deste velho não meu filho, é que Deus designou a mim para coordenar este trabalho com você.
− Tudo bem vovô, eu é que peço desculpas!
Chegando ao local indicado Gonçalo espantou-se por ele estar completamente vazio.
O preto-velho determinou que ele subisse em cima de um lajedo as margens do rio e que lá depositasse seu pano de cabeceira. Foi-lhe ordenado que fizesse certas preces enquanto entoasse pontos de vibração nas linhas de Oxósse, Xangô e Oxum.
Gonçalo envolveu-se nestas tarefas do plano físico enquanto no plano espiritual aconteciam outros fenômenos: três espíritos de pessoas que se afogaram naquelas águas e que se encontravam mentalmente pressas àquele local foram alcançados por espíritos socorristas e levadas para próximo de Gonçalo. Neste exato momento, enquanto Gonçalo continuava a entoar os pontos, o preto-velho pediu-lhe que mentalizasse um portal de acesso a um corredor formado por todas as cores do arco-íris que desembocasse no amor de Deus. Mesmo sem entender o por que Gonçalo assim o fez, e isto sem ter a menor noção de que seriam estes três espíritos socorridos que atravessariam tal corredor.
No exato instante em que a travessia estava quase no fim Gonçalo irrompeu-se num pranto incontido, sentido e, para ele inexplicável. Gonçalo naquele exato instante bebia, sem perceber, nas águas do amor mais profundo que existe, ou seja , o amor de Deus e tudo por que aqueles três espíritos lhe endereçaram sentimentos de gratidão como se entendessem que ele colaborou para o seu resgate.  
Foi-lhe determinado que fechasse o portal e que dobrasse o pano e o segurasse pelas duas mãos.
Gonçalo o fez e, então, o preto-velho disse-lhe:
 − Agora é a hora de voltar para sua casa.  
− Sim senhor.
Gonçalo caminhou até o início da subida da ladeira quando cessou o passo. Olhou para o firmamento e viu que a lua e as estrelas fulguravam com todo o seu esplendor; olhou para um lado e para o outro, e foi quando o preto-velho tornou a dizer:
− Vamos filho!
− Sabe o que é vovô?
− Diga filho!
− Sem nenhum desrespeito ao senhor, mas tem como o senhor solicitar que o caboclo “encoste” em mim outra vez?
− Por que filho?
− Por que quando ele irradiava em mim o medo de cobras sumiu completamente, mas agora  está tudo como antes.
− Filho, nós o trouxemos em segurança até aqui e vamos levá-lo de volta da mesma forma. Nada de ruim acontecerá com você, nem formiga irá lhe morder, muito menos cobra.
− Sim senhor, e este pano de cabeceira eu posso guardar?
− Por que filho se será ele, no plano físico, que o livrará de qualquer mal!
− Este paninho de cabeceira?
− Ele mesmo filho! Caminhe com ele aberto e seguro pelas pontas dos dedos de sua mão até atingir a região urbana e somente neste momento guarde-o com você.
− Mas o que este pano de cabeceira tem que o fará levar-me em segurança até o lar?
− Não é o que este pano tem, é o que este pano é!
−E o que este pano é?
−Aquilo que sempre foi!
− ???
− O seu pano é Umbanda! Você é Umbanda! Esta mata é Umbanda tanto quanto os seres que nela habitam! No trajeto de volta ao lar procure recordar-se pelo mental e sentir novamente com o coração todo o amor que sentia pela natureza e pelos animais quando estava irradiado pelo caboclo.
−Sim senhor!
− Entenda que enquanto você estiver andando por esta mata com este pano esticado, todas as plantas, rochas, minerais e animais o verão enquanto um igual, pois verão em ti Umbanda: Você, Deus, a natureza e os seres como uma só banda – Umbanda.  
Gonçalo assim o fez e retornou seguro ao lar.
Na manhã do dia seguinte ao acordar, e por ser sujeito com a fé um tanto quanto enfraquecida, ele passou a desenvolver os seguintes pensamentos: “ Já fui àquela cachoeira dezenas de vezes e nunca, ao menos, vi uma cobra!”, “Será que não fantasiei tudo ontem a noite e que, de fato, não existe cobra nenhuma por lá e que por isto eu nada vi?”, “ Bom, seja como for, pelo menos meu pano de cabeceira foi banhado na cachoeira!”.
No período vespertino deste mesmo dia, Gonçalo foi até a cachoeira mais uma vez onde sua esposa e sua cunhada o aguardavam.
Quando estava na mata que dá acesso ao local ele viu duas cobras negras e de tamanho mediano ao longo da estrada. Estavam eqüidistantes por poucos centímetros. A primeira correu para dentro do mato, mas a segunda ficou imóvel no local como se estivesse morta. Gonçalo achou curioso a imobilidade do réptil e intencionou aproximar-se quando foi advertido mentalmente pelo amigo espiritual da seguinte maneira:
− Afaste-se!
− Mas por que? Ela aparenta estar morta!
− É só aparência e o bote dela é um de maiores alcance entre as cobras.
− Então ela é venenosa?
Gonçalo não obteve resposta e, usando de seu livre-arbítrio, decidiu se afastar e ir para a cachoeira. Entretanto teve certeza que eram apenas duas cobrinhas inofensivas tomando banho de sol.
Ao chegar a seu destino Gonçalo contou para sua cunhada sobre as características da cobra avistada, esta arregalou os olhos de pavor, mas tentou disfarçar o semblante ao dizer que era uma das cobras mais venenosas que existe naquela região: uma jararacuçu. Disse também que sempre que ele avistasse uma cobra com estas características, que era para afastar-se o mais rápido possível, pois o bote dela era um dos mais altos que existe............. ( continua )


Mensagem recebida por Pedro Rangel

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Pano branco: o pano da fé ( parte 1 )





Gonçalo encontrava-se radiante por haver conseguido tirar suas aguardadas férias do trabalho: iria, juntamente com a esposa e a filha, viajar para a casa dos sogros em região interiorana de estado localizado no sudeste brasileiro.
As malas estavam prontas e a grande viagem aconteceria no inicio da tarde do dia seguinte; Gonçalo já estava fechando a bolsa de viagem quando alguém conhecido disse-lhe mentalmente:
− Falta o pano branco filho!
− Pano branco? Qual?
− O seu paninho de cabeça!
− Meu pano de cabeceira?
− Isto filho!
− É para eu levar meu pano de cabeceira?
− Isto filho! Qual o espanto?
− O pano não é um instrumento para uso no terreiro?
− O pano é um instrumento que viabiliza a conexão dos médiuns com a energia de Deus e de seus mentores independente de onde quer que estejam.
− Verdade?
− Sim, entretanto só existem duas regiões em que este pano é reenergizado: um centro de Umbanda ou um espaço da natureza ( rios, cachoeiras, matas, etc ). Leve o paninho filho, por caridade!
O amigo espiritual retirou-se e Gonçalo foi tomar uma ducha, mas não sem antes pensar: “ será que estou ficando maluco?”, “Isto foi, de fato, uma determinação espiritual ou será que estou endoidando?”, “ Bem, já que não custa nada, eu vou levar”.
O grande dia chegou e a viagem transcorreu tranqüila com todos chegando bem ao local de destino.
Como Gonçalo gostava de estar naquele lugar! Era coisa secreta no coração dele, mas a sensação que tinha era a de que já vivera ali séculos atrás em encarnações pregressas. A estadia de todos no local duraria cerca de duas semanas e Gonçalo não perdeu um segundo no desfrutar de todas as possibilidades de lazer que o mesmo oferecia: era uma região muito rica em matas, rios e cachoeiras – cada uma mais linda que a outra.
Fã de jogos eletrônicos, Gonçalo também não deixou de se divertir juntamente com os familiares de sua esposa neste tipo de lazer. Os dias pareciam que não tinham fim.
Em um dia de quarta-feira pela manhã, assim que acabara de despertar e enquanto cuidava de sua higiene bucal, o mesmo alguém conhecido disse-lhe mentalmente:
− Filho, hoje levar pano de cabeceira na cachoeira quando não houver ninguém!
− Desculpe, mas como é?
− Levar hoje pano de cabeceira na cachoeira quando não houver ninguém!
− Mas como é que eu vou saber quando não haverá ninguém se aquela cachoeira vive cheia de gente não só pelo dia, mas também pela noite quando muitos acampam para pernoitar,pescar, fazer lual ou outras atividades de lazer?
− Não esqueça filho!
A entidade foi embora e Gonçalo tornou a pensar: “ Meu Deus, acho que estou ficando doido mesmo, pois é impossível adivinhar quando aquela cachoeira está vazia, até mesmo porque ela não é tão perto assim de onde estou para que eu fique indo e voltando até ela a todo instante para ver se está vazia”. “Bem, deixa pra lá por que se for coisa de entidade mesmo, Deus que me desculpe, mas elas que arranjem um jeito, pois o que eu quero hoje é jogar até dizer chega!”.
Gonçalo divertiu-se com jogos eletrônicos até o horário do almoço. Após o almoço, novamente na hora da higiene bucal, o amigo espiritual tornou a lembrá-lo, mentalmente, do compromisso.
Gonçalo tornou a achar que era coisa da sua cabeça e voltou a divertir-se com o sobrinho através de jogos eletrônicos. Por volta das 19:00hrs, no intervalo entre um jogo e outro, a entidade disse a ele mentalmente:
− Está na hora filho: levar pano de cabeceira na cachoeira em hora que não tem ninguém!
− Mas como é que eu vou saber a hora que ela estará vazia?
− Agora filho! Na hora que não tem ninguém, levar pano seu pra lá!
− Então o senhor está me dizendo que agora não tem ninguém?
− Está na hora filho! Agora!
− Mas é que estou com fome, o senhor concede permissão para comer alguma coisa rapidamente?
− Sim, mas não demore filho, pois está na hora!
Sentindo a veracidade daquela informação Gonçalo voltou para casa onde estava hospedado, lanchou, pegou o pano de cabeceira e dirigiu-se à cachoeira. Eram aproximadamente 19:00hrs.
A cachoeira ficava a vinte minutos de distância andando a pé. Gonçalo pensou em apertar o passo, mas recebeu a determinação por meio de seu mental:
− Ande naturalmente e não tenha pressa, essa hora é boa por que é hora de preto-velho.
− Hora de preto-velho? Como assim?
Gonçalo não obteve resposta e já estava quase chegando à região de mata quando começou a pensar que estava enlouquecendo, que aquelas vozes que ouvia eram as de si próprio e não de entidade alguma, pois não haveria possibilidades da cachoeira estar vazia naquele horário.
A entidade amiga retomou o diálogo:
− Diga a verdade filho! Fale que está morrendo de medo em entrar na mata porque já está anoitecendo e você tem pavor de cobras!
− Morro de medo mesmo, como o senhor sabe e disse.
− Estou vendo que você não para de pensar nelas desde quando começou a sua trajetória.
− O senhor sabe que sou capaz de sair no braço com a maior onça que houver, se for para defender a vida, mas que paraliso por completo se avistar a menor cobra que existir no mundo.
− Pare de pensar nelas Gonçalo, pois seu temor está as atraindo em sua direção.
− Mas eu não estou pensando nelas, estou pedindo a Deus que não aviste nenhuma ao longo da trajetória.
− A sua oração é fruto do temor.
− Mas o que é que posso fazer?
− Não se preocupe eu vou me afastar um pouco!
− Não, por favor!
Gonçalo passou a pensar: “Meu Deus e agora? Estou perdido!”
Entretanto, sem que notasse, Gonçalo cerrou o punho esquerdo impensadamente e foi levando-o em direção ao peito. A noite havia chegado, mas sem que Gonçalo pudesse explicar, todo o seu temor de cobras havia desaparecido: ele sentia-se perfeitamente integrado a natureza como se ela fizesse parte de todo o seu ser, cantigas indígenas antigas e totalmente desconhecidas eram entoadas mentalmente por ele aumentando a entronização entre o ser e o meio ambiente.
Mais adiante ele passou a sentir todo o seu ser integrado a natureza e vice-versa. Faltava descer à ladeira que dá acesso a cachoeira quando ele notou que sua boca estava torta assim como acontece quando está incorporado com o caboclo que lhe assiste nas incorporações; percebeu também que seu punho esquerdo estava cerrado no peito assim como tal entidade se manifesta quando incorporada. Entretanto Gonçalo não estava incorporado e estranhava aquela situação percebida por ele.......( continua )


Mensagem recebida por Pedro Rangel

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

INGRATIDÃO





Certa noite, enquanto meu corpo repousava na cama, fui atraído para uma região de mata onde havia um campo coberto por gramíneas tão verdejantes e alinhadas que mais parecia um gramado de campo de futebol. Em todo aquele vasto campo só existia um pé de árvore: era uma jabuticabeira e eu recordei-me que já estivera no local em outra ocasião.
Um preto-velho baforava um cachimbo e estalava os dedos ao redor de uma vela posicionada no chão enquanto analisava uma pequena tela translúcida disposta à sua direita. O sol brilhava forte no céu, mas a entidade amiga trabalhava no aconchego provocado pelas sombras da árvore amiga.
Ele olhou para mim e, mentalmente, pediu-me respeito e oração pelos acontecimentos que ali se sucederiam. Calei minha curiosidade e fui para a esquerda do amigo espiritual, após haver recebido dele a determinação para isto.
Então, como que por um encanto, apareceu um homem que se sentou a frente da entidade depois de já tê-la saudado respeitosamente.
Não posso enganar a ninguém e devo confessar que minha curiosidade ficou aguçada com aquela situação, entretanto, a empatia emanada pelo assistido era tamanha que passei a sentir sua dor e sua angústia como se fossem minhas. Assim, calei minha bisbilhotice e coloquei-me a orar piedosamente por aquele espírito que sabia ser encarnado pelo cordão prateado que trazia junto a si.
O diálogo iniciou-se quando Pai Josué perguntou ao assistido:
− Como vai suncê meu filho?
− Estou muito cansado vovô!!
E, dizendo isto, passou a chorar copiosamente. Chorou tanto e tão sentidamente que, enquanto orava, chorei também junto com ele como se também fossem meus o cansaço e a dor que ele sentia. Pai Josué estalava serenamente os dedos da mão direita em torno da vela enquanto o homem acalmava as emoções. Somente após foi que disse a ele:
− Chorar faz bem pra alma zifio, suncê tá melhor?
− Desde que nasci só faço passar por ingratidão vovô, muita ingratidão!
− Na verdade eu me sinto mesmo é muito sozinho. Sei que é melhor estar só do que mal acompanhado, mas como dói quando a solidão vem de braços dados com a ingratidão! Estou cansado vovô!
− Mas o que tá acontecendo zifio?
− O que sempre acontece desde que nasci vovô: ingratidão em cima de ingratidão.
− Preto-velho sabe zifio, mas conta pra nêgo sobre a última ingratidão, por caridade!
− Eu e meus irmãos estávamos com fome dentro de uma mata e bem distantes do lar. Para tentar aplacá-la todos passamos a procurar algum pé de frutas comestíveis, mas não conseguíamos encontrá-lo.
− Todos se ajoelharam na mata e deram as mãos enquanto faziam orações para que Deus me abençoasse a encontrar as tais frutas, pois já estávamos cansados da procura e indicaram-me para tal tarefa. Enquanto também orava sai a procura e encontrei uma mangueira repleta de frutos maduros.
− Louvado seja Deus zifio!
− Retornei para junto dos irmãos e contei sobre a descoberta. Todos exultaram em alegria, mas observaram que o pé de manga era muito alto e passaram a questionar como fariam para tirar as frutas do pé. Como não chegaram a um consenso sugeri que eu e meus três irmãos passássemos a procurar alguma vara para tirar os frutos uma vez que nenhum de nós tinha condições de subir na árvore que, de fato, era imensa.
− E depois, meu filho?
− Alguns minutos depois cada um de nós trouxe uma vara, mas só uma possuía altura suficiente para atingir as frutas mais próximas ao solo sendo as demais descartadas por nós.
− Como entre todos eu era o mais alto, fui escalado para tirar os frutos com a vara. O sol estava muito forte e cegava minhas vistas, mas consegui atingir um galho que estava repleto de mangas; entretanto atingi junto uma casa de marimbondos que veio ao chão espatifando-se em três pedaços. Os insetos vieram atrás de nós com toda a força e corremos velozmente em direção a um rio que havia ali por perto.
− Suncês conseguiram escapar?
− Dos maribondos sim, mas não sem antes nós todos levarmos algumas ferroadas.
− E depois?
− Após, retornamos a mangueira e degustamos de seus frutos. Tal gesto deu-nos força e sustento para retornarmos ao lar. Entretanto, quando isto se deu,de uma forma que não sei explicar, uma diarréia terrível atacou a cada um de nós.
− Mas graças a Zambi que suncês venceram a fome e conseguiram retornar ao lar!
− Eu também penso assim Pai Josué, mas meus irmãos culparam e ainda me culpam por tudo: pelas ferroadas dos insetos, por quase haverem se afogado no rio, por eu haver encontrado uma mangueira ao invés de outro fruto e por tudo mais que suas fantasias conseguem alcançar.
− E esse é o tal motivo do seu cansaço atualmente zifio?
− Desculpe-me por minha imperfeição vovô, mas é isto mesmo!
− Imperfeitos somos todos nos zifio, só Deus é perfeito!
− Eu sei, mas o senhor é muito mais elevado espiritualmente do que eu vovô, ao senhor este cansaço pode até mesmo parecer coisa pequena!
− Engano seu zifio! Como nêgo pode apequenar algo que está trazendo tanta dor pra suncê?!? Apequenar não ajudará suncê a entender sobre o amor de Deus!
− Amor de Deus?
− É zifio: a caridade! De mais a mais, este nêgo apanhou muito pra conseguir entender uma coisinha ou outra na atualidade.
− Verdade vovô?
− Claro zifio, suncê quer ver?
− Ver vovô, mas como?
− Nesta tela que suncê ta vendo aqui do lado de nêgo!
− Puxa vovô se não for violar sua intimidade e trazer a lembrança antigas dores eu gostaria sim.
− Zifio, se suncê tiver fé e muito amor de Deus no coração acabará entendendo um dia que a verdadeira dor sente mais aquele que inflige o açoite do que aquele que o recebe. E como dói esta dor zifio! Como ela pode durar quase que infinitamente!
− Como assim Pai Josué?
− Vamos assistir as imagens?
− Sim senhor!
O preto-velho estalou os dedos e imagens passaram a suceder-se na tela.
Foram dois episódios aparentemente diferentes com os mesmos personagens:
No primeiro episódio, apareceu um homem muito parecido com Pai Josué que trazia nas mãos uma sacola de pano, de tamanho médio, cheia de moedas. Chegando em frente de um outro homem ele entregou-lhe todas as sua moedas e este, então, deu-lhe um pedaço de tesouro ínfimo.
No segundo episódio, o mesmo homem que se assemelhava a Pai Josué, trazia na mão uma única moeda e entregou-a ao mesmo homem do primeiro episódio que, assim, entregou-lhe um grande e bonito tesouro; após as imagens apagaram-se da tela. Pai Josué perguntou para seu assistido:
− Entendeu zifio?
− As moedas eram de valor diferente vovô?
− Não zifio, eram moedas mágicas que possuíam o mesmo valor.
− Moedas mágicas?!? Como pode ser isto? Como uma porção de moedas mal deu para comprar uma minúscula jóia enquanto que uma só moeda comprou uma jóia fabulosa?
− Suncê observou o nome da unidade monetária cunhada na moeda?
− Não vovô!
Então observe mais uma vez!
Dizendo isto o vovô voltou as imagens dos dois episódios em cenas especificas e seu assistido observou que, de fato, as tais moedas mágicas tinham realmente o mesmo valor em ambos.
A entidade perguntou-lhe:
− E agora zifio, suncê observou o nome da moeda?
− Sim senhor: é INGRATIDÃO!
− E o que suncê entendeu?
− Muito pouco: quer dizer que muita ingratidão não compra quase nada e pouca ingratidão compra quase tudo?
− Mais ou menos, mas pense: o que e quem dá valor às moedas?
− Deus?
− Então suncê está dizendo que Deus fornece ingratidão para a vida de seus filhos, é isso?
− Não, Deus é justo!
− Então quem valora as moedas?
− A própria pessoa que recebe?
− Exatamente zifio. Estas moedas são mágicas por que tem a propriedade de fazer o seu portador entender que o verdadeiro lucro vem não por fazê-las render mais, mas sim menos.
− Elas são um exemplo daquela situação em que menos é mais, vovô?
− Exatamente zifio, mas por meio de que suncê acha que o portador das moedas pode e deve desvalorizá-las fazendo com que rendam menos e aumentem a possibilidade de que recebam os mais valorosos tesouros?
− O merecimento e o carma?
− Explica pra nêgo zifio, por caridade!
− No primeiro episódio a pessoa em questão estava com a sacola cheia de ingratidão devido ao seu carma de reencarnações pretéritas, já a pessoa do segundo episódio ( apesar de ser muito parecida com o do primeiro )tinha menos carma a quitar nos campos da ingratidão e assim só era portadora de uma única moeda.
− Zifio, e se nêgo veio contar que as pessoas dos dois episódios são uma só?
− Bem que eu desconfiei Pai Josué!
− São uma só na mesma encarnação!
− Como assim Pai Josué? Como aquela pessoa ficou com uma só moeda ao término de uma encarnação se no inicio da mesma possuía várias?
− Então zifio, é justamente isto que nêgo quer saber!
E, dizendo isto, deu “aquela” risada gostosa como só os preto-velhos sabem fazer. O assistido da entidade riu efusivamente junto com ela.
− Olha vovô anteriormente em nossa conversa o senhor falou no amor de Deus, a caridade, seria isto?
− Uma parte da resposta sim, zifio, mas conta pra este preto-velho como foi que Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou à que se resumia a Lei e os profetas?
− Amar ao senhor teu Deus, incondicionalmente, acima de todas as coisas e ao próximo com a si mesmo!
− Nêgo véio gostou de ver meu filho! E o que aquele que ama a Zambi e ao seu próximo faz com a ingratidão que lhe é ofertada?
− Perdoa?
− Não seria aprende a perdoar, zifio?
− É difícil perdoar vovô, só Deus ajudando mesmo!
− Por isso que Nêgo véio disse que suncês tem de aprender a perdoar! Pra suncês num é muito fácil, mas se suncês tiver humildade, é só clamar a Deus que Ele ensina direitinho.
− Agora estou entendendo vovô!
− Quanto mais amor ao próximo, mais suncês vão tendo condição de receber a ingratidão deste como uma preciosa moeda que pode levar suncês a adquirir os tesouros espirituais, e à medida que suncês vão adquirindo tais tesouros estas moedas vão sumindo das suas existências e suncês vão enriquecendo em espírito e verdade. Tendo humildade e amor suficientes, suncês podem chegar ao fim da encarnação até mesmo sem nenhuma destas moedas.
− Incrivel vovô!
− A moeda da ingratidão é mágica também por que é a mais valiosa para se adquirir humildade e sabedoria, tornando-os pobres de suncês mesmos e mais ricos da presença de Deus-Nosso-Pai. É aprendendo e exercitando o amor ao próximo que suncês diminuem a cotação da moeda da ingratidão; quando uma só moeda perde seu valor ela deixa de existir e suncês adquirem um tesouro espiritual. Quanto maior o valor da ingratidão, perante a Lei Maior e à Justiça Divina, maior deve ser o esforço no aprendizado do perdão a esta; uma vez alcançado esta condição o valor de tal moeda é anulado e um tesouro mais valoroso aos olhos do Divino Criador é acrescentado no patrimônio espiritual de suncês.
− Incrível vovô, mas a sensação que tive quando vi os dois episódios na tela era que as moedas estavam sendo trocadas pelos tesouros.
− Não foi sensação zifio,ao longo de uma encarnação a possibilidade de aquisições de tesouros espirituais são imensas, entretanto o que suncê viu representa simbolicamente a troca inicial e a derradeira de toda uma encarnação!
− A hora do reencarne e a do desencarne?
− Exatamente meu filho! A primeira imagem que suncê viu retrata a quantidade de moedas de ingratidão adquiridas por este nêgo véio em encarnações pretéritas e o parco tesouro espiritual recebido por mim no reencarne devido ao grande valor que dava a elas. Já na segunda imagem, o que suncê observou é o símbolo final do quanto conseguimos desvalorizar de ingratidão ao longo de uma existência no plano físico e do tesouro espiritual final que adquirimos por conta desta desvalorização. Como suncê viu, apesar do esforço deste preto-velho, ele não consegui desvalorizar uma última moeda ao longo daquela referida encarnação, na época que o Império Assírio era o mais poderoso na face da terra. Na atualidade tal moeda, graças a Zambi, não é mais propriedade minha!
− Que linda foi tua luta, tua perseverança, tua história vovô!
− Lindo é Deus zifio! Linda é toda a oportunidade que Zambi tem lhe dado de enriquecer dos tesouros do espírito. Se suncê diz pra Nêgo que sua atual existência é só ingratidão, imagine o quanto que Deus-Nosso-Pai considera que suncê é capaz e merecedor de enriquecer numa única encarnação!
− Olhando desta forma, Pai Josué, eu me sinto até mesmo um felizardo!
− Até mesmo não zifio: suncê é um felizardo, assim como os seus irmãos de sangue e aqueles por paternidade divina também o são. Quanto menos suncês sentirem ingratidão, mais condições terão de adquirir os mais belos tesouros do espírito. Perdoe seus irmãos e todos aqueles que suncê julgou haverem sido ingratos com suncê.
− Assim farei vovô, muito obrigado por tudo!
− Agradece a Nêgo véio não zifio, agradece a Zambi-Nosso-Pai!
− Que assim seja!
− O assistido da entidade amiga desaparecera da mesma forma que chegara até ali e ela, assim, virou a cabeça para onde eu estava posicionado, em prece, e perguntou-me:
− Aprendeu filho?
Eu chorava muito de gratidão a Deus e aquela entidade tão, simples, tão humilde, mas tão rica em sabedoria pelo aprendizado daquela noite, mas respondi-lhe:
− Sim senhor!
  E ela, com semblante amável,mas também sério disse-me:
− Então faça! Faça acontecer, seja realmente rico, você é capaz e Zambi julga-lhe merecedor que enriqueça espiritualmente pela mesma moeda evolutiva que ofertou ao assistido que até pouco se encontrava sentado neste banquinho; é a mesma moeda que serviu de evolução espiritual para todos os preto-velhos que militam nesta Umbanda Sagrada e de Todos Nós, a mesma que está presente nas Sete lágrimas de Pai Preto: a ingratidão!







Mensagem de Pai Josué, recebida por Pedro Rangel.