domingo, 25 de dezembro de 2011

BENÇÃOS DE DEUS




O filho de um rico comerciante romano encontrava-se terrivelmente enfermo.
Tratava-se de moléstia desconhecida aos médicos da época e que parecia incurável. O mancebo encontrava-se em estado de prostração terrível, não sentia fome e perdia muito peso em ritmo acelerado; sendo que por vezes era acometido por estranho estado febril que o fazia entrar em delírio.
O pai aflito, então, determinou ao funcionário em que depositava maior confiança que trouxesse a sua moradia os melhores médicos do império.
Tempos depois o fiel escudeiro retornou com os quatro melhores médicos de Roma.
O primeiro deles possuía a alcunha de “ médico do Norte”, pois em toda região norte raríssimos foram os doentes que não encontraram a cura por meio do exercício de sua profissão. O segundo era denominado “médico do Sul” por que os casos de restauração de saúde dos enfermos em sua região beirava os 100%.
O terceiro era conhecido como “médico do Leste” e o quarto como “médico do Oeste” por motivos similares aos de seus outros dois colegas de profissão.
O primeiro médico não conseguiu curar o filho do comerciante. O mesmo deu-se com o segundo e terceiro médicos.
O comerciante já estava aflito com a situação e o pranto escorria incontido de seus olhos quando o quarto médico saiu do quarto de seu filho. Este também não conseguiu curá-lo, após semanas de tentativas, e ainda disse-lhe que a cura seria impossível.
Muitos dias se passaram após e, junto com eles, aproximava-se o momento possível de desencarne do jovem que,assim,pediu ao pai que realizasse o seu último desejo: passear pelas ruas de Roma.
O desejo foi atendido prontamente e já nas ruas o sol, em pouco tempo, começou a fazer mal ao filho do comerciante que passou a orar que os deuses cuidassem bem de sua alma.
E foi neste exato instante de desespero que uma figura de semblante sereno aproximou-se da liteira onde se encontrava o moribundo. Estava acompanhado por três homens: todos com sandálias gastas e roupas sujas com bastante pó, como se houvessem andado bastante tempo a pé de uma região para outra.
Pensando tratar-se de malfeitores um soldado fez intenção de desembainhar a espada, mas uma candura inexplicável e tamanha brotava do líder daqueles homens, o que não permitiu a conclusão do ato.
Pressentindo que estava em momento crucial de sua existência o jovem pediu que abaixassem sua liteira. O pai contrariou-se com a situação, mas o mancebo pediu para conversar com o tal homem em particular; então, vociferando palavras de ameaça àqueles homens, o genitor andou poucos metros a frente de onde se encontravam e levou o soldado consigo.
O líder dos homens maltrapilhos também solicitou que seus companheiros de jornada o deixassem a sós com o jovem e, no instante que isto ocorreu disse a ele:
− Venho aqui por parte do Alto do Altíssimo!
− É estranho! Você está imundo, pelas vestimentas parece apenas mais um no meio da plebe, entretanto não sei se estou mais uma vez em febre delirante, mas o vejo rodeado por seres luminosos com halos dourados, não sei quem você é ,mas sei que não é mais um na multidão, você poderia ajudar-me, pois sinto a morte bem próxima?
−Você quer a cura?
−Sim!
−Só você pode curar a si próprio!
− Mas como vou curar a mim mesmo se os melhores médicos não conseguiram?
−Não humilhando mais sua esposa, sendo um pai mais presente ao seu filho, não usurpando mais as economias do seu pai sob hipótese alguma, nem mesmo para ostentar aos amigos levianos um poder que não possui.
−Agora estou certo que não és mais um na multidão, pois como poderia saber sobre particularidades da minha vida?
−Eu, por mim, nada sei! É o Pai que habita em mim Quem tem a ciência de todas as coisas!
−Qual o nome do seu deus de devoção?
−Deus, simplesmente Deus! Deus é um só!
−Eu tenho devoção a Júpiter!
−Júpiter é uma divindade de Deus, é o fogo equilibrador de toda a criação, mas não é o próprio Deus!
−Homem estranho e de fala estranha eu lhe digo: em todo este tempo que me encontro adoentado tenho, de fato, repensado bastante em toda minha vida e sei que não tenho sido bom pai, esposo e nem filho, mas do jeito que me encontro como poderia curar a mim mesmo?
−Deus irá curá-lo, você somente se esforçará para manter a cura.
−Mas você disse que não poderia curar-me!
−E não posso, mas Deus em mim pode e assim o fará! A tua hora ainda não chegou, mas para mim já é chegada a hora!
−Você está para morrer? Não entendo do que fala!
−Não falo de morte, pois morte não existe, falo de fé!
− Não o entendo!
−Depois que eu me for você será chamado a dar testemunho de sua fé. Poucos o entenderão, mas Deus estará contigo.
−Homem estranho saiba que cuidarei de ser um homem melhor para mim mesmo e para os meus, e se você realmente conseguir me curar passarei a seguir o teu Deus com todo o meu ser.
−Você não seguirá o meu Deus, pois Deus é um só e, além disto, só dará testemunho de sua fé quando for chegada a minha hora e entenda que o poder do Altíssimo é tão grandioso que você passará a desejar ser um homem melhor não somente para sua família, mas para todo ser vivente, pois verá a todos como irmãos e filhos de um mesmo Pai:Deus.
−Sinto tudo o que me diz como real, mas não sei como será possível!
− Não te preocupes, pois assim como já é chegada a minha hora, a tua também virá: pés de árvores que geram frutas diferentes fazem com que amadureçam em tempos diferentes, mas uma pêra é irmã de uma maçã assim como um único homem o é de toda a humanidade. De repente ele se calou. Baixou a cabeça, fechou os olhos e levantou os braços aos céus como se fizesse uma oração. Um vento muito forte passou brevemente pelo local e ele,então, clamou: Pai, seja feita a vossa vontade!
Instantes após o homem já estava curado e, desta forma, aquela terna figura tomou a direção dos seus companheiros para continuarem a prosseguir jornada, entretanto o ex-enfermo aproximou-se daquele homem e perguntou-lhe:
−Bom homem, antes de prosseguir em sua viagem eu gostaria que você dissesse qual moléstia era esta que obstruía meu coração, minha mente e que nem os melhores médicos conseguiram diagnosticar, é possível?
Aquela figura, que tanto amor e paz transmitia, virou-se calmamente e respondeu à pergunta com apenas uma palavra:
− Egoísmo!
Em seguida irmanou-se com os companheiros de jornada e continuaram a seguir em direção ao norte onde um indivíduo de nome Nicodemos também esperava pelas bênçãos de Deus!






Mensagem do espírito M.M. canalizada por Pedro Rangel

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

VIDA




Enquanto aguardava a chegada da namorada em sua casa Bruno, cansado pelo dia de trabalho intenso que tivera, cochilou no sofá.
Enquanto isso Júlia embarcava em condução que tinha como destino a casa do seu namorado Bruno.
Ela estava muito ansiosa para chegar ao encontro que combinara com ele, entretanto sua ansiedade não era maior do que a notícia que daria a ele: ela estava grávida.
Só o que Júlia não sabia é que seu namorado intuitivamente já tinha uma noção de qual conversa ela queria ter com ele e, apesar de freqüentar um terreiro de umbanda há nove meses, Bruno estava decidido que se sua intuição estivesse correta ele a pediria que interrompesse o desenvolvimento da gestação.
Bruno a amava verdadeiramente, mas era filho de uma família da alta sociedade paulistana; tinha vinte e três anos de idade e um enorme potencial para fazer o bem dentro de si, mas era muito inseguro e preocupado com o que sua família faria se descobrisse a gravidez de sua amada.
Ele era descendente de uma família de médicos, mas trabalhava como advogado havia dois anos. Era um moço esforçado mesmo, que nunca quis utilizar o nome e o prestigio da família para obter qualquer tipo de vantagem em seu ramo de profissão.
Havia quatro meses que o caboclo a quem Bruno cambona dissera-lhe que se preparasse para tomar uma nova direção em sua vida, por que em breve um vento bom logo iria soprar no caminho dele para indicar novos rumos.
Inclusive na época do ocorrido Bruno não entendera muito bem o recado e levou sua vida calmamente até ali naquele dia em que sua amada Eliana solicitara o encontro na casa dos pais dele.
Pelo vidro da janela do seu quarto Bruno via que caia uma chuva torrencial, mas mesmo com todos os raios e trovões ele sentia que a tempestade climática não era maior do que aquela que desabava em seu íntimo.
Aflito pela intensidade de suas emoções ele resolveu sair de dentro da fazenda dos seus pais e respirar um pouco de ar puro. O relógio marcava quinze horas de um dia de novembro do ano de 1910, mas as nuvens estavam tão carregadas e enegrecidas que já aparentava ser quase noite naquele horário; justamente por este fato foi que ele acendeu a lamparina antes de sentar-se na rede.
Algo como um que desconhecido hipnotizava-o fazendo com que olhasse incessantemente para os raios que rasgavam o céu. A cada relâmpago que clareava o firmamento ele sentia como se um peso enorme saísse de seu peito.
Fascinado pelos raios ele levantou-se da rede e foi tomar um banho de chuva. Os pingos da chuva desciam grossos e pesados, mas em seu corpo não causavam nenhum tipo de dor ou incômodo: só um grande alivio em sua ansiedade.
Encantado que estava pela chuva ele foi atraído até um pequeno bambuzal existente no local e lá, inexplicavelmente, ajoelhou-se ao solo; de repente, como se viesse de dentro do bambuzal, apareceu uma linda mulher com cabelos ruivos como fogo e vestes estranhas que disse a ele:
  Nós pedimos que você se preparasse antecipadamente a este evento.    
─ É verdade!   
  Você se preparou? 
  Racionalmente sim,mas não de forma emocional. 
  Em você vejo dúvidas, o que deseja tanto perguntar-me?!? 
  Será que eu enlouqueci?  
  Por que você diz isto?  
  Ora, mas isto é óbvio! Parece que estou louco, em alguma espécie de pesadelo.  
  Mas por que você diz isto? 
  Estamos no ano de 1997 e, no entanto, aqui nesta localidade é 1910, isto não é loucura? Outra coisa estranha é que eu moro no Rio de Janeiro, mas aqui estou em São Paulo, como pode ser isto?
  Atualmente encontramo-nos no ano de 1997 e você efetivamente reside no estado do Rio de Janeiro.  
─ Aqui onde estamos os meus pais moram neste fazendão e, na realidade, eu moro mesmo no meu barraquinho no Vidigal, como é que pode?     
Você não deve preocupar-se com estes fatos que você vê como discrepância, mas sim com aquilo que é principal em sua vida.  
  Como assim? 
  O que você vê em comum tanto na sua vida no Rio quanto aqui em São Paulo? 
Deus do céu, parece papo de doido, não parece?  
Responda-me, por favor!  
Tudo bem, desculpe! Bom, a única coisa igualzinha no Rio e aqui em Sampa é o fato de que eu vou ser pai.  
Exatamente!  
Só que na “real”, no Rio de Janeiro, a minha namorada não se chama Eliana: o nome dela é Júlia!  
O nome também é algo secundário, procure focar no que deve ficar guardado em ti nesta experiência.  
Mas eu estou focado!  
Será que está mesmo?  
Claro!  
Mas você não está esperando a Júlia chegar à tua casa para um encontro que ela mesma solicitou?  
Estou.  
Você, intuitivamente, sabe que ela lhe dirá neste encontro que está grávida, certo?  
Correto!  
E você hoje, como há oitenta e sete anos atrás, não está pensando em pedir que ela aborte?    
Deus, como a senhora pode saber disto!??!  
Você é umbandista Bruno, você sabe!  
Espere ai, então quer dizer que a senhora é uma entidade que milita na umbanda! É isto?  
Exatamente!  
Agora entendo porque os meus joelhos se dobraram diante da senhora antes mesmo que eu soubesse deste fato, não é isto?  
Exatamente!  
Bem, se nós na realidade estamos em 1997 e aqui estamos em 1910, então isto quer dizer que este tal bruno ricaço de 1910 sou eu mesmo, o pobretão de 1997, não é isto?  
Exatamente!  
E este tal Bruno era mesmo umbandista?  
Não, o umbandista há nove meses é você Bruno! O fato de você vê-lo como umbandista se deve pela necessidade da prática da caridade para a evolução do seu espírito.  
Como assim?  
Você enquanto o Bruno do passado deveria ter advogado também gratuitamente em favor do próximo; atualmente você não é o advogado abastado de outrora, mas deve buscar a evolução do teu espírito pela prática da caridade através da religião de umbanda.  
E esta Eliana de 1910 é a minha Júlia de 1997, não é isto?  
Exato, assim como o seu filho abortado há oitenta e sete anos é o mesmo que agora pede oportunidade para reencarnar.  
Meu Deus, quanto tempo perdido!!!  
Hoje você, umbandista, vê como tempo perdido, já em outra época você não pensava desta maneira.  
É verdade, graças a Deus que hoje eu sou umbandista!!!  
Então, por caridade, haja como umbandista e faça como o Caboclo Ventania lhe determinou há quatro meses lá no terreiro que você freqüenta: prepare-se para sua vida mudar de direção!!!  
Deus, é incrível como a senhora sabe até do que o Caboclo Ventania disse para mim!  
Nossos campos de atuação são diferentes, mas nós servimos a mesma senhora.  
A divina mãe Yansã.  
Exatamente.  
Puxa, seria errado pensar que, pelo fato de a senhora estar aqui conversando comigo sobre aborto, o nascimento do meu filho é importante?  
Sim, mas não somente por que será teu filho, mas principalmente pelo fato de que todo ser concebido merece ter a divina oportunidade de ser gestado e parido.
Entendo.  
Eu sou uma Cabocla Sete Ventos que atua no direcionamento de um dos aspectos do sentido da geração, então o trabalho que realizo em benefício do seu vindouro filho é o mesmo que faço pelo direcionamento no desenvolvimento de espíritos encarnados que se encontram na condição biológica fetal.  
Deus, o trabalho da senhora é lindo!  
Linda é a vida Bruno! Lindo é fazer o que for possível pela continuação da manifestação da vida!  
É verdade.  
Então faça Bruno! Quando você acordar pouco se lembrará deste “sonho”, mas terá material suficiente para não só permitir a manifestação da vida do seu filho, mas para direcioná-lo pelos caminhos do bem.  
Assim eu farei senhora Cabocla dos Sete Ventos, assim eu farei!!!
Bruno acordou do seu “sonho” com o som de pancadas na porta: era Júlia que vinha lhe trazer a boa nova.
Júlia entrou com passos inseguros e sentou-se no sofá da sala, próxima a Bruno. Ela já amava aquele ser em seu ventre que possuía apenas dois meses de vida com muita intensidade, mas também amava fortemente e de forma recíproca a Bruno e se este lhe pedisse que abortasse ela, mesmo sofrendo muito, não hesitaria em atender ao pedido do seu amado, entretanto ela não queria isto, ela desejava demais aquela criança.
Assim, pôs as mãos de Bruno entre as suas e já iria dar a noticia quando notou grossas e pesadas lágrimas deslizando pelo rosto dele de forma insistente. Sem entender o porquê daquela atitude Júlia perguntou-lhe:  
O que foi amor?  
Você veio me contar que está grávida não é?   
Sim, mas quem lhe disse?  
Eu já estava com uma intuição que foi confirmada pela senhora Cabocla dos Sete Ventos.  
E você está chorando por que não quer este filho, é isto?  
Não, eu estou chorando de alegria por que já estamos esperando esta criança há muito tempo e é tudo que consigo lembrar de um sonho muito maluco que acabei de ter.    
Sério?  
Sério. Na minha mente só tem uma mensagem bem imperativa, mas de forma direcionadora, que diz bem assim: “ Você será pai! Cuide bem do seu filho! Cuide dele!”
Atualmente Luciano, filho do casal, tem quatorze anos de idade, mora no Rio de Janeiro, é umbandista como seus pais e tem tudo para tornar-se um homem de bem.
Mais sobre este ocorrido eu não posso dizer tanto para não ferir a intimidade da família, quanto por que a Lei Divina não me permite.
E é só isto que esta Cabocla pode contar e contou não em nome da curiosidade ou da fofoca, mas em nome da vida.
Você que conseguiu aprender algum tipo de ensinamento com esta história não agradeça a mim e nem ao médium que inspirei para passar esta mensagem: agradeça somente a Deus!!!
Agradeça-O lutando com as armas da paz, do amor e da sabedoria pelo direito de preservação e manutenção de toda a forma de vida!!!
Que Tupã abençoe a todo vocês!!!!  


Sra. Cabocla dos Sete Ventos.







Obs: o nome das pessoas envolvidas nesta história foram trocados para que fossem preservadas suas identidades.


Mensagem recebida por Pedro Rangel

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

MAGIA FORTE







César freqüentava aquela casa de umbanda havia dois anos: um ano enquanto assistência e outro como cambone de Pai Josias. Era um jovem que amava tanto a religião que professava que, nos últimos três meses, resolveu participar das reuniões de desobsessões daquela casa de caridade.
Naquela gira, entretanto, César demonstrava um semblante preocupado e pesaroso.
Percebendo as emoções de seu pupilo Pai Josias chamou-o a sentar-se diante de si.
─ Como é que vai suncê meu fio?
─ Eu até que estou bem vovô, graças a Deus!
─ Então por que este “até” zifio? Tem algo preocupando suncê?
César ficou desconcertado, como se estivesse procurando as palavras certas a serem ditas, mas a entidade reforçou o pedido dizendo:
─ Pode falar sem acanhamento nenhum zifio, pois qualquer dúvida no coração não é sinal de vergonha, mas desejo de saber melhor as coisas e o conhecimento é algo muito lindo meu fio, pode fazer perguntador pra nêgo!
César sorriu com aquele jeito tão curioso e perspicaz que só os preto-velhos têm de dizer as coisas e falou:
─ O senhor acha que estou bem vovô?
─ Depende meu fio, o que é estar bem para você?
César sorriu enquanto seu olhar marejava e foi quando a entidade disse-lhe:
─ O que é que tá trazendo tanta preocupação a suncê meu fio? Pode contar porque nêgo só vai escutar sem julgar!
─ O senhor me desculpe vovô, mas acho que estou necessitando de uma magia forte de proteção.
─ Mas por que zifio, o que é que tá acontecendo com suncê?
─ Como o senhor sabe faz três meses que comecei a participar dos trabalhos de desobsessão desta casa.
─ Isto, nêgo se alembra meu fio.
─ Então, acho que o senhor vê que eu procuro fazer este trabalho com todo o meu coração.
─ Nêgo não tem dúvidas disso meu fio!
─ Pois bem, mas desde quando eu entrei nestes trabalhos a cada mês que passou após um membro de minha família adoeceu seriamente: há três meses foi minha esposa, mês retrasado foi minha filha e este mês foi minha mãe que está passando um tempo conosco.
─ Nêgo tá entendendo zifio.
─ Como eu tenho vindo ao terreiro penso que deva ser mais difícil para as forças do baixo-astral atingir a mim tentando impedir-me de vir às reuniões de desobsessão, assim, acho que as trevas estão tentando atingir-me por meio de minha família.
─ E suncê acha que o terreiro não está fornecendo a devida proteção que suncê e família carecem pra viver sem estes ataques e fazerem o bem com menos preocupação, e justamente por isto estava todo envergonhado de vir conversar com este nêgo, não é?
César cambonava aquela entidade já há certo tempo, mas a forma como ela demonstrava conhecimento e compreensão acerca do seu atual estado mental sem que ele precisasse verbalizar muita coisa deixou-o boquiaberto.
─ Suncê não precisa se sentir envergonhado, pois como nêgo disse antes a busca do conhecimento no bem traz é luz para o espírito.
─ O senhor está certo vovô!
─ Zifio, eu entendo sua preocupação, mas antes de passar uma magia forte suncê permite nêgo contar uma história?
─ Claro vovô, suas histórias são sempre ótimas, fique a vontade!
─ Zifio, certa vez acabou a comida no esgoto e uma ratazana se viu obrigada a sair de sua morada para habitar noutro canto. Saindo de sua morada o animal observou que poderia entrar em duas casas: uma era asseada, limpa e organizada; a outra era uma imundice só, pois a não era varrida há meses, os móveis estavam cobertos de pó e havia inúmeros entulhos espalhado pelo chão, suncê tá entendendo zifio? 
─ Estou sim senhor!
─ Então nêgo pergunta: se suncê fosse esta ratazana em qual destas moradas escolheria habitar?
─ Com certeza que seria a casa suja!
─ Por que zifio?
─ Por que se parece mais com o antigo habitat da ratazana.
─ Muito bem zifio, afinal na casa limpa não há nada que desperte afinidade na ratazana, não é isso?
─ Isso vovô, é isso mesmo, é tudo questão de afinidade!
─ Muito bem meu fio! Nêgo gostou desta sua ultima percepção.
─ Zifio, nêgo pode fazer mais uma pergunta?
─ Claro vovô, não precisa nem pedir!
─ Fio, tem muito tempo que suncê não defuma sua casa?
─ Tem sim vovô, por volta de dez meses.
─ Mas suncê não é umbandista?
─ Graças a Deus!
─ E o que tem impedido suncê de fazer defumador no seu casuá?
César encabulou-se e baixou a cabeça. A entidade continuou:
─ São as tarefas, as atividades, as dificuldades e os problemas do dia-a-dia não é meu fio?
─ É isso mesmo vovô, minha vida é muito atribulada e ai eu acabo me acomodando com a situação.
─ Pois é meu fio, realmente nêgo sabe que a vida de suncês no corpo de carne é realmente bastante difícil, mas, ainda assim, devo pedir que você retorne a defumar sua casa. Suncê verá como as coisas ficarão diferentes.
─ Pode deixar vovô, farei tudo como o senhor pede, mas e aquela magia forte, o senhor pode me ensinar?
─ A magia forte que nêgo falou antes zifio?
─ Isto vovô!
─ Então zifio, este preto-velho acabou de passar pra suncê.
─ A defumação?
─ É zifio! Por que a cara de espanto?
─ Ora vovô a defumação não funciona para afastar permanentemente espíritos perturbados, não é verdade?
─ Fio tá sabido hein!
─ Até onde sei, na realidade, a defumação serve mais para limpeza energética dos lugares, não é verdade?
─ Fio recordando o que conversamos ainda agorinha: onde que é mais provável de uma ratazana morar? Numa casa limpa ou numa casa suja?
─ Na casa suja vovô, mas mesmo que a casa estivesse limpa o rato poderia entrar.
─ Mas não é mais fácil expulsar o rato de uma casa se ela estiver limpa?
─ Puxa vovô ou o senhor não está entendendo ou não está querendo entender!
─ Desculpa a ignorância deste nêgo meu fio, mas explica mais um pouquinho para que suncê perceba que talvez seja suncê que num tá entendendo este véio.
─ Não vovô eu entendi tudo que o senhor falou: o senhor determinou que eu voltasse a defumar minha residência a fim de que “ratos” não a invadam e assim eu o farei, mas só que enquanto eu não defumava a casa ratos aproximaram-se de minha esposa, minha filha e minha mãe causando doenças e eu gostaria de saber o que fazer para espantar estes ratos.
─ Fio a cada vez que suncê vem em terreiro tais ratos são afastados de suncê e todo seu familiador sempre, é claro, de acordo com o merecimento de cada um! Acontece que ao longo dos dias que sucedem as giras no terreiro suncês tudo se emporcalham tanto a si mesmos quanto o casuá em que vivem que daí acabam atraindo novos ratos para perto de suncês.
A entidade amiga deu algumas baforadas em seu cachimbo e continuou:
─ Suncê com problemas no local de trabalho e sua companheira com os vizinhos, absorvendo estas energias e espalhando-as em cada canto de cada cômodo do seu lar: e tome reclamação contra a vida, contra o chefe, contra os colegas de trabalho, contra as contas a pagar!
Pai Josias continuou:
─ Aí surgem as desavenças com a esposa e suncês acabam, quase sempre, por discutir na frente da criança pela roupa amarrotada, pelo café amargo, pelo baixo salário, por que o vizinho não respondeu ao seu “Bom dia”!
─ Compreenda zifio que por conta da falta de defumação e de outras medidas energeticamente profiláticas e umbandistas como o hábito de cruzar semanalmente a casa, pode-se dizer que onde suncês moram não está devidamente asseado, mas só que suncês acabam por piorar ainda mais a situação com todo este lixo mental, emocional, psicológico e energético.
─ Defume seu casuá, mude seu padrão vibratório e consciencial que suncê, nas forças de Deus-Nosso-Pai, verá mudanças prodigiosas em sua vida. Pode deixar que dos ratos nós, segundo o merecimento de cada um, cuidamos. Preocupem-se apenas em manter as vossas duas casas higienizadas: seu casuá, onde mora suncê e os seus familiares e seu vaso corporal, onde reside vosso espírito.
─ Sei que você crê na onipotência de Deus, só não descreia jamais que grande parte do poder Dele está nas coisas simples: Gandhi venceu a intolerância por meio de simples jejuns, Moisés venceu faraó com um simples cajado e Jesus venceu o mundo com a Lei de Amor. Viver na carne não é simples, amar também não, mas creia na simplicidade das coisas de Deus, da Umbanda e dos fundamentos a ela pertinentes que suncê verá os instrumentos de que se servem as trevas para semearem discórdias, desgraças e maldades serem desativados diante de si.
─ Creia meu fio e chame as bênçãos de Deus pra junto de suncê, acredite na simplicidade das coisas de Deus e o mal, assim, da sua vida se desarmará.
─ Uma flor pode desarmar o mais bélico dos exércitos, o perdão pode desarmar o ódio mais feroz, pensamentos vibrados em paz e amor podem desarmar a mais potente magia negra, da mesma forma que uma “mera” defumação desarma a casa, a família e a vida de suncês de toda a sujeira astral com que vocês a municiam por conta das reclamações e impropérios resultantes das vicissitudes de vossas existências corpóreas; vicissitudes estas que, na realidade, são instrumentos que podem guiá-los a angelitude se corretamente manejados, mas que suncês ainda, infelizmente, não conseguem percebê-los enquanto tal.
E a entidade, que tinha diante de si um consulente aos prantos, aguardou que César serenasse as emoções. Instantes após pediu um abraço apertado e, posteriormente, disse-lhe olhando fixamente nos olhos:
─ Nêgo acredita em Deus meu filho, mas não descrê de suncê! Creia mais na simplicidade das coisas de Deus e vá na força e na luz de Zambi-Nosso-Pai! 

Mensagem canalizada por Pedro Rangel


segunda-feira, 25 de julho de 2011

SETE ESPADAS


Há dez anos comecei a sentir a presença de um homem enigmático ao meu lado.
Não entendia e não sabia o porquê, apenas podia vislumbrá-lo freqüentemente.
Veio o nascimento de minha filha e foi quando ele enterrou sua primeira espada em meu ser e denominou-a: vida.
Meses após, meu pai desencarnou por obra de magia negra e ele enterrou uma segunda espada em mim, denominando-a: justiça.
Vários meses depois do ocorrido nova magia negra foi ativada, só que desta vez para destruir meu matrimônio e este ser enterrou uma terceira espada em meu espírito, denominando-a: amor.
Três anos passaram-se e cursos magísticos surgiram em minha vida no exato momento em que este ser introduziu-me a espada de nome: conhecimento.
Um ano após este fato rompeu-se o vinculo empregatício que possuía no momento e este ser, de forma enigmática, instalou em mim a espada denominada: lei.
Quatro anos se seguiram a este acontecimento e minha mãe veio a desencarnar no preciso momento em que foi introduzida em mim a espada de nome: evolução.
Seis dias atrás este ser segurava uma espada nas mãos. Olhou-me de cima a baixo e introduziu-a em mim sem retirar a mão do cabo, depois a levantou com a mão esquerda enquanto com a destra retirava, uma a uma, todas as espadas que estavam dentro de mim para amoldá-las, num encaixe perfeito, àquela que ele mantinha no alto.
A espada que ele sustentava no alto tornou-se diferente e ele, assim, enterrou-a em mim, mas não sem antes denominá-la: fé.
Deu as costas para mim e senti que pela primeira vez, após dez anos, não o sentiria mais ao meu lado; então corri aceleradamente até ele.
Senti que não deveria tocá-lo e também não sabia seu nome, assim, ajoelhei-me à sua frente e disse:
─ Senhor, por favor, não se vá!
─ Por que você me quer ao seu lado?
─ Por que me sinto protegido.
─ Minha proteção você sempre terá sempre que se fizer merecedor, não se preocupe!
─ Mas são dez anos de companhia! Por que o abandono? Fiz algo de errado?
─ Algo de errado, infelizmente, vocês sempre fazem, entretanto não é por isto que estou indo embora, mas pelo desejo de meu Pai!
─ Seu Pai?
─ Sim, àquele que está assentado no Trono Sete Espadas!
─ Então o senhor é um Sete Espadas, não é?
─ Exato.
─ Sei que o senhor é um cumpridor da Lei e deve partir, mas eu poderia fazer algumas perguntas?
─ Seja breve!
─ Espadas cortam e sei que cada uma que introduziu em mim cortou algo inadequado à minha evolução, acontece que como o senhor estava sempre do meu lado eu nuca preocupei-me com estas espadas em meu interior, só que agora o senhor vai embora e estas espadas dentro de mim, como ficam?
─ Ficam exatamente onde estão, até que chegue a sua hora!
─ Que hora?
─ Você só saberá quando chegar, mas não se preocupe porque estas espadas não fazem o mal, apenas cortam o medo.
─ Medo?
─ Sim, o medo: instrumento das trevas que obscurece a fé!
─ Mas apenas a última espada introduzida em mim possuía o nome: fé!
─ Exatamente. As outras espadas instaladas só serviram para esta tornar-se mais forte.
─ O senhor poderia explicar?
─ Parcialmente. Tua filha nasceu e em você foi introduzida a espada da vida, preciosa aliada contra o medo da morte.
─ Entendo.
─ Teu pai desencarnou e foi-lhe introduzida a espada da justiça, companheira na luta contra o medo de que outra injustiça, pelo menos em sua forma de ver na época, acometesse outro membro da sua família.
─ Teu matrimônio foi atacado e a espada do amor, valorosa amiga contra o ódio, foi colocada em você.
─ O medo do conhecimento não deveria impedi-lo de entrar em contato com cursos magísticos e a espada do conhecimento foi o instrumento a auxiliá-lo neste sentido.
─ O medo do desemprego foi combatido com a espada da Lei e o medo de não saber como viver sem tua companheira na hierarquia divina fez com que fosse introduzida em ti a espada da evolução.
─ O senhor fala em combate, mas as espadas não estavam em minhas mãos!
─ Uma espada não precisa estar necessariamente nas mãos para se travar o bom combate. Aquele que a tem nas mãos é o ajudante, o que a recebe é o ajudado.
─ O teu maior medo sempre foi a fé. Fortalecer tua vida, teu senso de justiça, teu amor, teu desejo de conhecimento, teu sentido de lei e evolução, foi a forma encontrada por meu Pai para fortalecer tua fé.
─ Entendo.
─ Por isso todas as seis espadas anteriores foram encorpadas numa só.
─ Mas seria muito bom se o senhor pudesse permanecer ao meu lado!
─ Já disse que de seu lado jamais sairei enquanto for permitido pelo teu merecimento. Tudo está na intensidade do teu coração e na força da tua mente. Tudo está certo como Deus o quer. Você já está devidamente fortalecido.
─ O senhor desculpe se for ousadia, mas se estou assim fortalecido por que as espadas ainda estão em mim?
─ Isto também já lhe disse, mas também posso repetir: uma espada não precisa estar necessariamente em mãos para que se possa travar o bom combate.
─ Mas se o senhor é o combatente e eu sou o ajudado, quem manipulará as espadas com o senhor não estando mais ao meu lado?
─ Pense no que conversamos e você entenderá! Que a força de Pai Ogum lhe guarde!
─ Que assim seja!


Mensagem recebida por Pedro Rangel em 24/07/11