quarta-feira, 29 de setembro de 2010

MULHER INVISÍVEL

 Mensagem da Sra. Pomba-Gira Sete Rosas 


Maria era possuidora de uma beleza raríssima, sendo provavelmente um dos mais belos seres humanos já criados por Deus.
Ela caminhava a passos rápidos por uma das ruas que margeavam a beira-mar na bela cidade de Vitória.
Já era noitinha e ela precisava retornar ao lar para tomar um bom banho antes de ir para a faculdade.
Chegando às proximidades do portão de entrada da sua residência Maria avistou uma senhora maltrapilha e com vestes mal cheirosas. Esta senhora aproximou-se dela e pediu um trocado para inteirar um valor a fim de comprar uma passagem de volta ao seu lugar de origem.
Maria então retirou do bolso uma nota em dinheiro e entregou à senhora, sendo agradecida por esta de maneira bastante calorosa.
Algumas horas depois Maria já estava retornando com o seu automóvel da faculdade para a casa quando, em um destes semáforos da vida, um homem apareceu à janela do seu veiculo pedindo dinheiro para se alimentar com alguma coisa.
Ela, assim, olhou para o lanche que havia comprado na cantina da faculdade e depositado no banco do carona e, sem pensar duas vezes, entregou-o ao homem dizendo:
— Dinheiro eu não tenho, mas o senhor aceita este lanche?
— Mas é claro dona, quem tá com fome não escolhe o que comer!!! Muito obrigado!!! Obrigado mesmo!!!
O sinal de trânsito abriu e Maria tornou a guiar o carro em direção a sua residência.
Chegando ao seu local de destino ela fez um mexido com as sobras do almoço, tomou uma ducha e foi dormir.
Maria dormiu e seu espírito desprendeu-se do invólucro carnal. Quem pudesse ver a sua fisionomia aparentando serenidade no corpo carnal não conseguiria acreditar que, em espírito, ela pudesse estar tão transtornada.
Maria chorava e chorava muito, chorava tanto que chegava a soluçar. Sentindo uma angústia terrível em seu intimo ela se pos a correr ritmadamente como se estivesse correndo em um calçadão a beira-mar.
Maria corria, corria e corria, mas alguma coisa estranha acontecia por que ela não conseguia se cansar e nem suar: o único líquido que escorria do seu corpo eram as lágrimas que desciam sem cessar dos canais lacrimais pertencentes aos seus belíssimos olhos azuis.
Maria não estava cansada de correr, mas estava cansada de chorar e talvez tenha sido justamente por isto que ela estancou os seus passos nas proximidades de uma encruzilhada.
As lagrimas ainda deslizavam desenfreadamente dos seus olhos quando ela avistou uma mulher ao longe que caminhava em sua direção. Maria achou curioso, mas a medida que a mulher se aproximava, as lágrimas começavam a diminuir dos seus próprios olhos na mesma proporção.
Quando estava a uma distância de três passos de Maria a mulher em questão perguntou a ela:
— Boa noite moça! Tudo bem?
Maria não soube o que responder, mas demonstrando honestidade, disse:
— Mais ou menos.
— É difícil ser invisível, não é?
— Você me desculpe discordar, mas penso que, talvez infelizmente, eu seja visível de uma maneira até exacerbada!!!
— A invisibilidade a tem feito sofrer bastante. No corpo de carne você até que consegue disfarçar bastante o seu sofrer, mas aqui neste plano o espírito não consegue usar máscaras de forma alguma.
— Máscara? Desculpe, mas não entendo nada do que você está me dizendo!
— Quando a mulher tem uma excessiva beleza física, como é o seu caso, é difícil fazer-se visível, não é verdade?
— Como assim?
— Os homens, que vivem no seu mundo cada vez mais materializado, não conseguem vê-la por que têm, de forma geral, os seus olhares fixos nos seus atributos físicos como se visibilidade fosse essencialmente questão de fartura de carnes bem distribuída ao longo da estrutura corpórea.
—Já as mulheres, geralmente, devido à intensa competitividade, não conseguem lhe ver como você realmente é pela excessiva fixação na sua beleza externa, fixação esta que por muitas vezes chega a ser maldosamente invejosa.
— Entendo o que você me diz.
— As belas mulheres geralmente têm que fazer um esforço terrível para que possam ser vistas pelos homens não por aquilo que têm como atributo físico, mas por aquilo que realmente são: simples, verdadeira e poderosamente mulheres.
Maria sentiu o coração bater descompassadamente quando ouviu aquelas palavras que tanto falavam verdadeiramente do que ia em seu intimo e procurou chorar, mas as lágrimas não vieram.
— Não adianta tentar produzir lágrimas dos seus olhos moça.
— Por que não?
— Por que a produção destas está momentaneamente desestimulada por mim.
— Isto que você me diz é estranho! Como assim?
— Estou aqui para estimular sua razão por meio da renovação de suas emoções.
— Desculpe, mas por quê?
— Para que os seus níveis de razão possam ficar equiparados aos níveis de emoção ou não é verdade que você está com o emocional instável?
— É verdade sim!
— Esta invisibilidade está ficando perigosa.
— Perigosa?
— Sim, Ela a está restringindo do seu convívio social, por que você não sabe se as pessoas se aproximam de você pelo seu interior ou pelo seu exterior.
— Eu só tenho atraído pessoas desagradáveis para a minha vida.
— Ultimamente você tem até mesmo considerado sua beleza física como uma maldição a cada vez que se olha no espelho.
— É verdade.
— A beleza é algo lindo de se ver, mas para se enxergá-la verdadeiramente é muito importante a religiosidade.
— Então quer dizer que terei de esperar que a religiosidade dos outros seja despertada afim de que, assim, eles vejam a mim verdadeiramente?
— Não, você terá somente que despertar a sua própria religiosidade.
— O despertar da religiosidade em mim fará com que os outros me vejam como sou? Não vejo como isso possa ser possível!!
— Eu sei que você conhece o significado do termo religião.
— Sei sim. Significa religar, tem a função de ligar o ser humano a Deus.
— Você sabe como o ser humano pode realizar este religar?
— Freqüentando uma religião?
— Não necessariamente.
— Então como?
— Amando ao Divino Criador acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.
— Fazendo isto eu deixarei de ser invisível aos olhos de todos?
— Você não é invisível aos olhos de Deus, mas a realização destas ações dará a você visibilidade aos olhos do próximo.
— Você me desculpe, mas será?
— Você quer mesmo descobrir?
— Com toda a certeza do meu coração!
— Eu lhe disse que desestimulei a produção de suas lágrimas, certo?
— Certo.
— Disse também que, aqui neste plano, a produção de lágrimas por suas glândulas está exacerbada por conta do desequilíbrio emocional dentro de ti que, por sua vez, é conseqüência de sua condição de invisibilidade aos olhos do próximo, correto?
— Correto.
— Então agora pedirei forças ao Divino Criador para fazer com que sua condição lacrimal volte a ficar como antes.
Assim, lagrimas incontidas, caudalosas e incessantes voltaram a brotar dos belíssimos olhos de Maria.
— Suas lágrimas estão rolando Maria; será que gestos caridosos podem fazer com que este fluxo lacrimal diminua? Se você quer de fato descobrir, então feche os olhos.
Maria obedeceu prontamente.
— Colocarei minha destra em sua fronte para permitir que você veja, com os olhos espirituais, os efeitos balsamizantes dos gestos de amor ao próximo.
E foi assim que Maria pôde ver o que pensou e sentiu tanto a senhora maltrapilha que estava de frente ao portão de sua casa quando recebeu um apoio financeiro para viajar, quanto o homem que dela recebeu um lanche saborosíssimo para aplacar sua fome.
Eram sentimentos de uma pungente gratidão associada à beleza física de Maria: “ Meu Deus o senhor fez este anjo tão lindo de sua criação de forma perfeita, por que se ela é linda por fora, também é belíssima por dentro!!! Obrigado por sua bondade meu Deus!!! Guie os passos desta moça pelos caminhos da bondade onde quer que ela vá!!!”
A moça tirou a mão direita da testa de Maria e as visões cessaram com este gesto; Maria então abriu os olhos e, surpresa, descobriu que as lágrimas haviam cessado de seus olhos. A moça, então, disse a ela:
— E então, você foi invisível aos olhos destas duas pessoas que a misericórdia divina lhe permitiu auxiliar?
— Não, de forma alguma!
— Reconhecer-se como verdadeiramente visível aos olhos do próximo, mostrando sua beleza interior, trouxe paz ao seu emocional e fez com que as lágrimas cessassem.
— É verdade, mas eu não precisei estar como membro de nenhuma religião para poder praticar tais gestos.
— E, como lhe disse antes, isto não é obrigatório.
— Por quê?
— Por que pertencer a alguma religião não faz necessariamente com que um ser humano ame ao próximo como a si mesmo, pois é a essência divina dentro dele que faz com que este gesto seja possível; entretanto, à medida que esta essência vai se ligando mais fortemente ao Divino Criador este gesto vai sendo cada vez mais praticado de forma natural como, aliás, deve realmente ser praticado. A religião torna a religiosidade mais prática e funcional.
— Prática e funcional?
— Sim! Você dedica um tempo da sua vida para dormir e se alimentar?
— Sim!
— Para higiene, estudo e lazer?
— Sim!
— E para realizar gestos sistemáticos que demonstre o seu amor a Deus e ao próximo?
— Agora entendi o que você quer me dizer.
— A religiosidade não está somente dentro de uma casa de religião, mas esta ajuda a desenvolver aquela de maneira impar.
— Entendo.
— Buscando desenvolver sua religiosidade você ganhará a visibilidade que traz paz e reconforto, atraindo para si pessoas que possam vê-la como verdadeiramente é.
— Entendo.
— E é assim, de caridade em caridade, que você há de encontrar, quando for da sua hora e merecimento, homens que a verão essencialmente com os olhos do espírito, com a visão do genuíno amor.
— Nossa você me emociona falando assim!
— Procure ao senhor teu Deus e a Sua obra que todas as demais coisas vos serão acrescentadas.
— Puxa, mas você fala desta questão da invisibilidade feminina com tanta propriedade que me faz até pensar se você também não é uma mulher invisível!!!
— Sim moça! Eu, assim como você, também sou uma mulher invisível.
— Olha, em termos de beleza física, eu sinceramente não sou nada perto de você: a tua cintura consegue ser mais afinada que a minha: teus cabelos negro, sedosos, ondulados fazem com que eu me sinta calva; tuas roupas são de uma beleza que nunca pude encontrar em minha vida e o seu rosto, com destaque para teus olhos fascinantes, misteriosos, e insondáveis, parece que foi minuciosamente criado por Deus.
Será que eu poderia saber o que há para ser trabalhado dentro de ti para que o ser humano possa enxergá-la verdadeiramente?
— Olha moça perfeito mesmo só Deus, mas não é por nenhuma imperfeição minha que grande parte dos seres humanos não me vê como realmente sou.
— Verdade?
— Certamente.
— Então isto se dá assim por quê?
— Primeiramente por que cada um só dá do que tem para oferecer.
— Como assim? Do que você está falando?
— Dos sentimentos das pessoas que vivem a atacar a religião que servimos e a nós por meio do desconhecimento, despropósito e desrespeito.
— Verdade?
— Sim. Muitos dizem que somos mulher de sete maridos, que servimos para desfazer matrimônios, promover adultérios, induzir a prostituição, amarrar sexualmente uma pessoa a outra e muitas outras barbaridades que prefiro nem falar!
— Credo, mas isso é muito triste!!!
— Não moça, triste mesmo é ver centenas e centenas de pessoas que se dizem pertencentes à religião que servimos falarem, elas próprias, que fazemos tudo isto que a Lei Maior, a Justiça Divina, nosso estado consciencial e evolução espiritual não nos permitem realizar.
— Todos os conselhos, assertivas e apontamentos que ouvi de ti esta noite fazem com que eu tenha a plena convicção de que você não faz nada destes absurdos que lhe querem atribuir.
— Fico integralmente feliz e satisfeita moça!
— E eu poderia saber o por quê?
— Por você ser mais um espírito esclarecido e menos ignorante sobre nossas atribuições que são essencialmente estimuladoras não do ódio, da separação e da discórdia, mas da renovação de todo sentimento de amor virtuoso aos olhos do Divino Criador.
— Puxa, você me auxiliou tanto consciencialmente para que eu venha a sair da minha condição de invisibilidade que eu gostaria de poder fazer o mesmo por você! Teria como?
— Certamente.
— Verdade? E o que eu poderia fazer?
— Fale sempre o que você escutou sobre nós a toda pessoa que se mostrar aberta a nos conhecer como realmente somos.
— Por que você vem falando tanto em “nós”, se eu só estou vendo você!
— Você só vê a mim, mas saiba que represento uma coletividade!
— Mas eu poderia saber quem é você?
— Na religião que servimos, a Umbanda, não existe o “eu”, então eu só posso falar de nós: Nós somos uma parte da luz de Deus que ilumina as trevas, somos a sexualidade divinamente aplicada, somos mantenedoras do relacionamento sexual sadio e fraterno, nós somos amor, somos mulher, somos pomba-giras.


Mensagem recebida por Pedro Rangel