Oração como instrumento de cura
Mensagem de um preto-velho canalizada por Pedro Rangel
Marineusa sentou-se diante do preto-velho esperançosa em receber um lenitivo para as suas dores.
O Pai-velho, por sua vez, estava cabisbaixo a estalar os dedos enquanto fitava uma vela firmada em seu ponto riscado e pronunciava certas palavras ininteligíveis para a linguagem e fonética humana.
Apenas uns poucos minutos depois foi que a entidade ergueu a cabeça e disse a sua consulente:
— Nêgo Véio pede desculpa por ter feito suncê esperar um bocadinho, mas é que ele tava tratando do seu próprio caso.
— Verdade? Meu Deus, que bom, pois já não agüento mais estas dores!
— Como é o nome seu minha filha?
— Marineusa.
— Pois então filha Marineusa, os seus próprios mentores espirituais acabaram de comentar com este Nêgo que o seu problema não é tão difícil assim de ser resolvido.
— Fico feliz em ouvir isto vovô, pois eu já fiz todos os exames possíveis para ver se algum médico descobria o porquê destas dores estomacais tão lancinantes, mas em todos os exames realizados os médicos não observaram nenhuma anomalia no estômago, como pode ser isto?
— Filha, Nêgo vai passar para suncê um tratamento de duas semanas com o sumo de saião e boldo tomado em jejum.
— Pode deixar que eu vou seguir o tratamento direitinho.
— Suncê também deve tomar três copos pequenos de chá de agrião por dia durante este mesmo período.
— E estas ervas vão me curar vovô?
— Vão ajudar filha, pois o remédio principal para o seu tratamento é outro.
— Verdade? E o senhor poderia me dizer que outro remédio seria este?
— Oração!
— Hein! Eu ouvi direito vovô?
— Suncê ouviu Nêgo Véio dizer “oração”?
— Isto.
— Então suncê escutou direito filha Marineusa.
— Mas quem ouve o senhor falar assim pode até pensar que eu não sou uma pessoa de fé.
— Engano seu filha! Nêgo não está aqui fazendo julgamento de valor! Nêgo está prescrevendo a suncê o remédio da oração como um santo remédio, suncê já tomou deste remédio para aliviar estas suas dores?
— ???
— Nêgo Véio tenta explicar melhor: suncê já tentou se beneficiar da oração enquanto um santo remédio para o seu espírito?
— Mas eu faço preces todos os dias!
— Suncê tem feito preces a Deus simplesmente pedindo que ele a cure de suas dores?
— Com certeza e com muita dedicação!
— Então, deste jeito suncê só demonstra que ainda não descobriu a oração enquanto um santo remédio.
— Por que vovô?
— Filha Deus é o maior médico de todos, mas até mesmo Ele não pode prescindir de uma leal enfermeira que possa aplicar a medicação ministrada por ele.
— Enfermeira?
— Sim filha! Enfermeira esta que, no seu caso, é suncê mesma!
— Vovô, está difícil entender o que o senhor quer dizer!
— Abra o seu coração e deixe o amor de Deus adentrá-lo minha filha, pois cada espírito gerado pelo Divino Criador é o agente causador, o paciente e o enfermeiro de sua própria dor.
— Ainda não consegui compreender por que do jeito que o senhor está falando parece até que só existe uma forma de se fazer preces a Deus!
— Filha, formas existem várias e é importante que assim seja o sentimento é que deve ser um só.
— Vovô Deus é onisciente! Sabe tudo sobre todos e, portanto sobre mim!
— Suncê chegou justamente no ponto que este Nêgo estava esperando.
— Verdade?
— Certamente! Filha, suncê acha que só por que Zambi é onisciente torna-se desnecessário suncê fazer uma explicação minuciosa, carinhosa e racional sobre tudo aquilo que suncê está rogando a Ele em uma oração?
— Carinho eu tenho e até que procuro utilizá-lo com razão em minhas preces, mas não entendi a ênfase na necessidade de uma explicação minuciosa sobre o que é pedido em uma oração a Deus, sendo que Ele, além de onisciente, é onipotente e onipresente.
— Filha, por caridade, responda para Nêgo: se suncê desejar aproveitar a benevolência dos raios solares para bronzear o corpo qual seria o local mais adequado? Seria dentro dos cômodos de uma residência onde até mesmo são refletidos parte dos raios solares ou no lado externo desta casa?
— Certamente que seria do lado de fora da casa!
— Pois então minha filha: fazer uma prece a Deus com todo o carinho do seu coração e sobre o crivo da razão é a base de uma boa comunicação em toda oração direcionada ao Criador, mas ainda é banhar-se com os raios do sol dentro de casa.
— Como assim?
— Zambi está em tudo e em todas as coisas, inclusive dentro de suncê, não é minha filha?
— Exato.
— Então filha, é justamente esta essência divina dentro de suncê que está necessitada de receber os raios de sol: o seu espírito.
— Acho que começo a entender.
— Só que para ele receber as bênçãos destes raios suncê precisa permitir que ele saia de dentro de casa.
— Casa? O senhor está falando do corpo físico?
— Não filha!
— Ah vovô, acho que complicou tudo de novo!
— Esta casa que Nêgo Véio está falando é a casa dos pensamentos formatados no meio humano onde existem os cômodos dos julgamentos de valor.
— Julgamentos de valor?
— Sim filha! Quantas e quantas vezes suncês deixam de pedir algo a Zambi em uma oração por considerar este algo como muito grande ou imerecido para suncês?
— É verdade!
— A prece ideal filha é aquela realizada sem o julgamento de valor. Só Deus é juiz e, portanto, só Ele pode julgar com isenção.
— Teria como o senhor explicar como isto se aplica ao meu problema estomacal?
— Filha isto Nêgo inté poderia fazer, mas tal ação por parte de Nêgo retiraria de suncê a oportunidade de desenvolver os seus níveis de sabedoria.
— Como assim vovô?
— Filha, por caridade, Nêgo pede que suncê faça assim: como este Nêgo disse antes, nós faremos um tratamento de duas semanas com suncê e, antes que este prazo se encerre, suncê ainda vai conversar com este Nêgo por mais duas giras, então Nêgo pede que suncê tome o chá e o sumo receitados e que continue a fazer suas rogativas a Zambi só que com um diferencial.
— Qual?
— Em suas orações comece a pedir ao Divino Criador que lhe mostre, da forma que for a mais adequada para o seu crescimento espiritual, onde estão os julgamentos de valor que fazem com que seu espírito não consiga receber os raios de sol, qual seja, a cura para o seu problema de saúde.
— Eu farei isto vovô!
— Faça isto e venha na próxima gira contar pra Nêgo as observações decorrentes das ações que peço, encarecidamente, que suncê pratique, tudo bem?
— Sim senhor!
— Então este Nêgo vai liberar suncê por hoje: Vá na força e na luz de Zambi-Nosso-Pai.
E Marineusa respondeu:
— Que assim seja!
Continua.....