domingo, 18 de janeiro de 2009

Lágrimas do sol


Sentado na orla marítima eu pude ver uma tensa jovem praguejando contra o intenso calor. Ela estava acompanhada de um rapaz que, provavelmente, deveria ser seu companheiro.
Passaram por mim e prosseguiram a caminhada pela beira-mar; eu continuei sentado na areia no mesmo lugar em que estava.
É interessante por que eles passaram por mim, mas as palavras da jovem ficaram reverberando em meu íntimo.
Coloquei meus óculos escuros e deitei-me a pensar nas épocas de minha infância e juventude e em quanto, a esta época, o sol podia ser, por nós, aproveitado por um espaço de tempo bem maior e, mais importante, com menos malefícios a saúde.
Fiquei pensando em como as coisas esquentaram com o passar do tempo em conseqüência de desmatamentos, poluições de toda e qualquer espécie e tantas outras barbáries cometidas por mãos humanas.
Estava refletindo sobre estas questões quando algo espantoso chamou minha atenção: alguma coisa como um que desconhecido fez com que eu fixasse minha visão no astro solar.
Mesmo com óculos de sol fiquei preocupado com o estado de saúde de minhas vistas devido a uma longa exposição às radiações solares.
Apesar do temor escutei algo impreciso pedindo que me acalmasse e firmasse ainda mais a minha atenção no sol.
Depois de um tempo que não sei precisar vislumbrei algo que só poderia ser incrível: várias lágrimas caiam da face do astro-rei e vinham deslizando do mais alto ponto da atmosfera até tocarem a superfície da terra.
Achei que estava ficando louco e fiz menção de fechar os olhos quando algo ainda mais inacreditável ocorreu: o sol olhou para mim e pediu-me que desse um recado à espécie humana.
Porém, antes que ele pudesse dizer qualquer sílaba, pedi licença e perguntei se estava enlouquecendo ou se realmente de seus olhos estavam gotejando pesadas lágrimas.
Ele, por sua vez, fixou o seu majestoso olhar sobre mim e disse que eu não estava louco, disse também que eram aquelas lágrimas que eu via descer de seus olhos a grande causa do aumento do calor e da sensação térmica por todas as partes do globo terrestre.
Disse também o astro solar que toda e qualquer lágrima gerada por todo e qualquer ser capaz de gerá-la tem a mesma temperatura do ser que a produziu e que ele, por ter a natureza incandescente, só poderia gerar lágrimas desta natureza.
Fiz então a pergunta mais óbvia possível: perguntei se as lágrimas eram derivadas da tristeza provocada pelo desmatamento e poluição humana.
Qual não foi minha surpresa ao ouvi-lo dizer que o motivo do seu pranto era maior que este; e começou a explicar o sol que todos os seres humanos têm em sua constituição básica, infinitas substâncias que são encontradas em todas as partes da natureza desde plantas e animais até substâncias como pedras e cristais.
Explicou o astro-rei que quando um ser humano destrói um pedaço da natureza, na realidade, está cometendo suicídio por que, com essas atitudes, está esgotando estoques naturais de substâncias que deve recompor diariamente se quiser continuar vivendo.
Disse o sol que ver este nosso suicídio constante sem nada poder fazer para evitar era o único motivo para ele verter suas lágrimas incandescentes; já a explicação de suas lágrimas deslizarem pesadas ele esclareceu que isto se dá não pelo desmatamento em si, mas pelas motivações e sentimentos que levam o homem a cometer este suicídio que são; o egoísmo, a ganância, a vaidade, o orgulho e a intolerância.
E, após todas estas coisas explicar, o sol pediu que eu passasse o seu recado à raça humana e foi logo pedindo, com toda seriedade, que desenvolvêssemos atitudes ecológicas equilibradas a fim de que, desta forma, pudéssemos, tanto estancar o seu pranto que, segundo ele próprio, já dura mais de um milênio, quanto, e principalmente, sobrevivermos harmoniosamente com todas as espécies.
E, após passar sua mensagem, a visão se foi e eu só pude enxergar o sol com as vistas do senso comum; eu ainda queria perguntar a ele como um ser incandescente poderia gerar lágrimas, mas não houve tempo.
Então, levantei-me de onde estava e prometi a Deus e a mim mesmo que a cada dia de minha vida tudo eu faria, no que me coubesse, pela manutenção de todo ser vivo, pela preservação da natureza e pelo estancamento das já plurisseculares lágrimas do sol.
Ah, já ia me esquecendo!!! O sol disse a mim que suas lágrimas eram conhecidas aqui no planeta Terra como radiações ultravioletas.